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2.2. Drenagem urbana e manejo de águas pluviais

2.2.4. Legislação, drenagem e manejo de águas pluviais

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) (BRASIL, 1988) define normas para coibir as interferências do uso inadequado dos recursos naturais, da excessiva extração de água, do uso e ocupação do solo irregulares, da implantação de obras e uso de tecnologias impactantes, e do emprego de substâncias com potencial de degradação ambiental que diretamente afetam a preservação da qualidade dos recursos hídricos. São metas que sugerem o dever de instituir o envolvimento de grupos sociais em programas de conscientização e educação. A redução das desigualdades regionais e sociais remete ao direito, entre outros, de um meio ambiente equilibrado a todos os cidadãos, direito intimamente conectado ao acesso aos serviços públicos de saneamento básico, entre eles drenagem e manejo de águas. A CF/88 é considerada a principal referência legal, por dispor sobre a norma geral que ampara a formulação das leis específicas, delegada aos municípios.

Um exemplo claro de competência do Município na formulação da legislação e da sua fiscalização se refere ao uso e ocupação do solo e à função social da propriedade. A violação dos limites da propriedade causando agressões ao meio ambiente, a eliminação de vegetação e a impermeabilização do solo, a canalização de cursos d‟água, o descarte de resíduos sólidos e o lançamento de esgoto in natura de maneira inapropriada, entre outras agressões que afetam a drenagem urbana, passam, então, à competência do Município. Aí se inclui promover programas de construção de moradias e de melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico (CF/88, Art. 23, incisos VI, VII e IX).

21 Disponível em http://www. Asfpmfoundation. Org/forum/GFW_Forum_Report%202050.pdf Último acesso em

Passadas mais de duas décadas da promulgação da CF/88, a Lei Federal 11.445 de Saneamento Básico (BRASIL, 2007) veio legislar sobre os serviços públicos de abastecimento de água; esgotamento sanitário; limpeza pública e gestão de resíduos sólidos; e drenagem urbana e manejo de

águas pluviais.

Um dos os princípios que estabelece a Lei 11.445 (Box 3) é a exigência da disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais. Estes se referem ao conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas (Art. 3º, inciso I, parágrafo d).

Também é de interesse direto desta pesquisa o princípio do controle social, definido pela Lei como o conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações, representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de saneamento básico. Em que medida este princípio, assim como o princípio da transparência das ações, baseada em sistemas de informação estão presentes na área para as quais intervenções de drenagem estão programadas pelo Poder Público?

A despeito da relevância atribuída à participação social na prestação de serviços de saneamento básico, a Lei Federal não deixa claro como esta deve se realizar. É o Decreto Federal 7.217 de 2010 (BRASIL, 2010), portanto, três anos após a instituição da Lei, que vem regulamentar os procedimentos formais para a participação social e estabelecer os mecanismos de controle social nas atividades de planejamento, regulação e fiscalização dos serviços. Em seu Art. 34, este Decreto Federal estipula que o controle social dos serviços públicos de saneamento básico poderá ser instituído mediante adoção, entre outros, dos seguintes mecanismos: I - debates e audiências públicas; II - consultas públicas; III - conferências das cidades; ou IV - participação de órgãos colegiados de caráter consultivo na

I - universalização do acesso;

II – integralidade entre todas as atividades do saneamento básico e sua eficácia, dando acesso à população de acordo com suas necessidades;

III - abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente;

IV - disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e de manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado;

V - adoção de métodos, técnicas e processos que considerem as peculiaridades locais e regionais; VI - articulação com as políticas de

desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde e outras de relevante interesse social voltadas para a melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja fator determinante;

VII - eficiência e sustentabilidade econômica;

VIII - utilização de tecnologias

apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas; IX - transparência das ações, baseada

em sistemas de informações e processos decisórios institucionalizados; X - controle social;

XI - segurança, qualidade e regularidade; XII - integração das infra-estruturas e

serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos.

Box 3 - Princípios estabelecidos pela Lei do Saneamento Básico.

formulação da política de saneamento básico, bem como no seu planejamento e avaliação. Estabelece as formas de uso desses mecanismos de participação, além de outras medidas (BORBA et al., 2011).

No Estado de São Paulo, a Política Estadual de Saneamento Básico, instituída pela Lei Estadual 7.750 de 1992 (SÃO PAULO. Estado, 1992), obedece às diretrizes da Constituição do Estado de São Paulo (SÃO PAULO. Estado, 1989). Estas dispõem sobre a obrigatoriedade do estado de criar planos plurianuais contendo as ações pretendidas em saneamento básico para assegurar os benefícios da salubridade ambiental à totalidade da população do estado. As comissões regionais de saneamento ambiental asseguram a participação da sociedade civil organizada para garantir a participação comunitária (Art. 16 da Lei Estadual). Em consonância com a Lei Federal 11.445, a lei paulista estabelece a competência dos municípios quanto à gestão das instalações e serviços de saneamento essencialmente municipais, coordenando as ações pertinentes com os serviços e obras de expansão urbana horizontal e vertical, pavimentação, disposição de resíduos, drenagem de águas pluviais, uso e ocupação do solo e demais atividades de natureza tipicamente local (Art. 14, inciso II). Os usuários dos serviços públicos de saneamento compõem, juntamente com os demais órgãos públicos e o setor privado, o sistema estadual de saneamento. Entretanto, não deixa claro quem são esses usuários dos serviços públicos de saneamento, esclarecimento necessário para entender os mecanismos de controle social e transparência de informações, princípios da Lei Federal 11.445. Dada a competência do Município para legislar no que tange ao interesse local, foi formulado o Plano Municipal de Saneamento Básico, previsto pela Lei Municipal 14.934 de 2009 (SÃO PAULO. Município, 2009). Esta autoriza a realização de contratos e convênios ou outras formas de cooperação entre o Estado, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo - ARSESP e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, para regulamentar o serviço compartilhado de abastecimento e esgotamento. Ainda que não esteja explicitamente incluída a drenagem urbana, trata-se de iniciativa de cunho integrador, ao apoiar a cooperação entre as ações do município em nível de sua competência quanto ao saneamento ambiental.

Atenção especial à drenagem urbana é dada pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2002a). Estabelece a necessidade do zoneamento ambiental compatível com as diretrizes para a ocupação do solo, aumento de áreas permeáveis, conscientização da população quanto à importância do escoamento das águas pluviais, a adoção de

pavimentos drenantes, a adoção de programas de pavimentação de vias locais que permitam a drenagem de águas pluviais para o solo, de infiltração em outras áreas públicas e nos lotes.

Outro exemplo é o Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (PDMAT) área coincidente com a área da Região Metropolitana de São Paulo, já em sua terceira edição, encomendado pelo DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo 22. Concomitantemente ao PDMAT e para atender à especificidade da drenagem urbana no município, em 2010 a Prefeitura do Município de São Paulo encomendou à Fundação Centro de Tecnologia Hidráulica – FCTH a elaboração do Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais de São Paulo (PMAPSP) (FCTH, 2011) e do Manual de Drenagem Urbana e Manejo de

Águas Pluviais, este já publicado (FCTH e PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2012) 23. O PMAPSP

contempla o desenvolvimento de programas de drenagem para cada bacia hidrográfica do município, iniciando com um diagnóstico do atual sistema de macrodrenagem e sugerindo um conjunto hierarquizado de soluções estruturais e não-estruturais, capazes de reduzir os efeitos das cheias com resultados para horizontes de curto, médio e longo prazo. Contém um programa de capacitação para gestores e técnicos que incorpora as questões sociopolíticas, e um programa de envolvimento de moradores e comerciantes junto com representantes do governo local em programas de comunicação social e educação ambiental. Espera-se que tais programas subsidiem o sistema de gestão em consonância como planejamento territorial e os demais serviços de saneamento ambiental.