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Setores da Engenharia, forças propulsoras do desenvolvimento

2.5 A evolução do ensino de Engenharia no Brasil

2.5.2 Setores da Engenharia, forças propulsoras do desenvolvimento

A motivação econômica para o desenvolvimento da comunicação por via férrea foi um dos grandes impulsionadores do ensino de Engenharia. Esforços neste sentido vinham sendo feitos desde as primeiras décadas do século XIX com o intuito de interligar regiões por estradas de ferro em substituição ao transporte por lombo de burro e carroças, sobretudo para a exportação do café. Em 1854 foi inaugurada a primeira estrada de ferro, interligando o centro do Rio de Janeiro até o Porto de Estrela na Baía de Guanabara. Entre 1858 e 1872 foram implantadas 5 e já ao final do século XIX outras 8 ferrovias.

Diversos cursos de aperfeiçoamento para engenheiros, promovidos em 1938/39 pelo Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional em S. Paulo, abrangendo os assuntos gerais de Locomoção, Tráfego, Via Permanente da Ferrovia Centro-Atlântica e Construção (TELLES, 1994 v. 2). Estes foram assuntos também tratados pelo Instituto Politécnico Brasileiro do Rio de Janeiro, sem função de ensino, mas, sim, de discussão sobre o papel da Engenharia para o avanço do progresso do país. Criado em 1862, o Instituto teve grande importância econômica, política e social. Seu corpo técnico era formado por pessoas de destaque da Engenharia da época e a discussão girava em torno dos aspectos administrativos, financeiros e da falta de estudos mais aprofundados. Exerceu, durante o Império, influência nas decisões de natureza técnica, como aquelas relacionadas à construção de portos, ferrovias, distribuição de águas e saneamento, revelando o poder do que chamavam Engenharia do Império. Suas atividades resultaram em importante contribuição para a organização dos engenheiros em torno de uma associação profissional e da regularização da profissão. Existiu até 1920, já enfraquecido após a declaração da República em 1889 (MARINHO, 2003).

A motivação de uma sociedade de maior bem estar social e econômico teve na urbanização outra força propulsora do progresso da Engenharia e do ensino de Engenharia no Brasil. A inovação nas técnicas da construção civil e o emprego de novos materiais, inclusive para evitar o impacto de inundações e enfrentar a força das águas, exigiram novos cursos. No curso de Materiais de Construção do professor André Rebouças na Escola Politécnica do Rio de Janeiro foi introduzida a disciplina de fabricação de tijolos em olarias e, na Escola Politécnica de São Paulo, houve a introdução da pesquisa tecnológica de materiais no Gabinete de

Resistência dos Materiais, embrião do futuro Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, em 1903, e da cadeira de Concreto Simples e Armado, em 1914 (TELLES, 1994: v.1 e v.2). Também a industrialização merece atenção como força econômica propulsora para o desenvolvimento da Engenharia e sua influência na evolução do ensino. A indústria do século XIX, incipiente e que não exigia intervenções importantes da Engenharia, já no início do século XX passa por transformações que trazem renovação do ensino de Engenharia. No período do Pós II Guerra Mundial, em 1945, o crescimento industrial respondia a programas desenvolvimentistas que resultaram na ampliação do número das escolas de Engenharia para suprir as demandas da indústria brasileira (SANTOS & SILVA, 2008). Progressivamente, sobretudo em São Paulo, houve um aumento no número de indústrias, passando o Brasil, em 1953, a possuir o maior parque industrial da América Latina. Entretanto, a construção de obras públicas foi o ramo da Engenharia que absorvia a grande maioria dos profissionais em detrimento da indústria (TELLES, 1994, v.2).

A indústria siderúrgica passou por momentos de grande atividade seguidos de intervalos de declínio. Na época do Brasil Colônia, um incentivo do Governo Português para o estabelecimento da siderurgia no Brasil não progrediu, entre outras razões, dada a falta de profissionais habilitados. Importante siderúrgica nacional foi criada em 1808, junto à Floresta Nacional de Ipanema, no estado de São Paulo, em razão da presença do minério de ferro. O principal objetivo era a criação de munição de armas, portanto motivação política de defesa do território. De baixa produção, passou a produzir também utensílios das mais variadas espécies, inclusive para fins domésticos. Inicialmente gerenciada por estrangeiros, após a saída destes passou por várias administrações. Por problemas relacionados à má qualidade do minério disponível, problemas administrativos, controvérsias quando às técnicas a serem utilizadas, mudanças na direção da fábrica, contratação de empregados sem a qualificação necessária, altos custos de produção e a fracassada tentativa de sua transferência para o estado do Mato Grosso, em 1860 foi finalmente abandonado qualquer esforço para dar continuidade à produção de ferro nesta fábrica. Sua reativação deu-se para atender às demandas da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), sob a direção de engenheiro formado pela Escola Central com curso de especialização em metalurgia na Alemanha, tendo havido ainda a importação de pessoal qualificado e novas máquinas. Esta fábrica chegou a fornecer a maior parte do que consumiam as oficinas da Estrada de Ferro D. Pedro II e o Arsenal da Marinha da Corte. A fábrica foi extinta em 1895. Outras siderúrgicas surgiram, sobretudo no estado de Minas

Gerais. São indústrias que muito contribuíram para a formação de engenheiros de minas, metalurgistas e geólogos, haja vista a criação da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876, já mencionada

Em meados do século XX, as estradas de rodagem voltaram a ter papel predominante frente ao que havia sido o progresso trazido pelas linhas férreas. A instalação de fábricas norte- americanas para a montagem de automóveis, e mais tarde a fabricação de peças e partes no país, representaram um dos fatores a impulsionar as especializações no ensino de Engenharia para setores que atendessem à indústria automotiva. Mecânica, Elétrica, Informática, Eletrônica, entre outras especialidades, fizeram com que o ensino de Engenharia favorecesse mais a técnica do que questões mais gerais que rodeiam o modelo de desenvolvimento do país. A alta motivação para o progresso econômico a ser alcançado com a fabricação de automóveis deu origem, em 1960, ao curso de Engenharia de Operação, com a duração de apenas três anos, que deveria atender, e urgentemente, o setor automobilístico (SANTOS & SILVA, 2008). A grande expansão industrial verificada na década de 1970 exigiu um ensino de Engenharia que se adaptasse para atender às novas técnicas e novos métodos de produção introduzidos nas indústrias. Assim, a formação do Engenheiro satisfazia as necessidades da industrialização e do progresso e, paulatinamente, se compartimentalizava em especializações. Seu conteúdo técnico-científico passa a trazer uma resposta para satisfazer necessidades concretas do progresso com a expectativa de atender o bem-estar social e econômico.

Cabe aqui menção especial ao desenvolvimento da indústria de Informática no Brasil. A Política Nacional de Informática (PNI), instituída em 1984, teve por objetivo a capacitação nacional nas atividades de informática, em proveito do desenvolvimento social, cultural, político, tecnológico e econômico da sociedade brasileira (BRASIL, 1984). Pesquisa e desenvolvimento são atividades cruciais para este desenvolvimento (PNI, Art. 3º), sendo um de seus instrumentos (Art. 4º) a formação, o treinamento e o aperfeiçoamento de recursos humanos para o setor. A instituição da Fundação Centro Tecnológico para Informática - CTI, com a finalidade de incentivar o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica nas atividades de informática (Art. 32º) é alvo de destaque pela PNI. Esta garantia, ainda, reserva de mercado para empresas de capital acional durante oito anos, para a quase totalidade dos produtos e serviços relacionados às atividades de informática. Foram importantes os reflexos da PNI no desenvolvimento do setor industrial eletroeletrônico do país e o consequente

desenvolvimento de capacitação nacional. Não é este o espaço para expressar louvores e críticas à PNI, que teve reformulação em 1991 e regularização em 1993, quando foram eliminadas as restrições anteriormente formuladas ao capital estrangeiro, e definida uma nova política de estímulo centrada na obrigatoriedade de esforços mínimos em P&D (GARCIA & ROSELINO, 2004). O interesse, aqui, é simplesmente chamar a atenção para políticas que beneficiam o desenvolvimento industrial e seu reflexo no ensino de Engenharia. Neste aspecto, também predominam conflitos de interpretação. Enquanto Garcia e Roselino (2004) consideram insuficientes os reflexos diretos para a formação de capacitações no setor, é evidente o aumento de formandos nesta área. A primeira turma de graduação em Ciência da Computação formou-se na Unicamp em curso criado em 1969. O primeiro programa de pós- graduação em Informática já havia sido criado em 1968 na PUC - Rio, seguido rapidamente pelo segundo programa, em 1970, na COPPE-UFRJ em Engenharia e Sistemas de Computação, anos antes da instituição da PNI. O crescimento do número de Mestres e Doutores formados após a instituição da PNI é bastante expressivo. No triênio 1998-2000 foram formados 1350 Mestres e 174 Doutores, e no triênio 2007-2009, estes números passaram para, respectivamente, 2.705 e 409. Também é expressivo o aumento do número de publicações em periódicos por docentes cadastrados nos programas de pós-graduação no Brasil: de dois artigos em 1966, este número chega a 840 em 2009 e, desde 1966, este número chegou a 8819 publicações (MEDEIROS, 2011).