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Legislação e expansão sobre corpos hídricos e áreas verdes

2.1. A cidade, os rios e as planícies inundáveis

2.1.5. Legislação e expansão sobre corpos hídricos e áreas verdes

O exemplo mais notório de avanço sobre corpos hídricos é a ocupação junto às represas Billings e Guarapiranga na Região Metropolitana de São Paulo, e às áreas de morros, como a Serra da Cantareira, no Município. Entre 1974 e 1989, favelas e loteamentos clandestinos expandiram-se 580% apenas no complexo Billings – Guarapiranga (LIMA, 1990)

A ocupação „sobretudo em áreas de proteção aos mananciais – APMs, e Áreas de Proteção Permanente – APPs‟ revela a omissão de moradores e comerciantes e a ineficiência do Poder Público para coordenar a ordenação do território e a implementação de política pública

habitacional condizente com as necessidades básicas de seus moradores, do meio ambiente em equilíbrio e a proteção ambiental (PASTERNAK, 2010). Por outro lado, cabe notar que a Lei Estadual 9.866 de 1997 de Proteção dos Mananciais (SÃO PAULO. Estado, 1997) estabelece que a ocupação em áreas de proteção e recuperação de mananciais deve obedecer a três tipos de áreas de intervenção na Área de Proteção de Recuperação de Mananciais - APRM: Área de restrição à ocupação – ARO; Área de ocupação dirigida – AOD e Área de recuperação ambiental – ARA.

Áreas verdes foram sendo ocupadas. No início da década de 1990, do total de 1800 favelas cadastradas junto à Prefeitura do Município, 65% ocupavam áreas municipais originalmente destinadas à implantação de áreas verdes. É vasta a Legislação sobre uso e ocupação de terrenos que dispõe sobre a preservação de áreas verdes e em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações. Planos são sugeridos para o equilíbrio entre expansão da ocupação por edificações, inclusive por equipamentos sociais, e a preservação ambiental (KLIASS & MAGNOLI, 1967 apud PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2002a). Entretanto, na prática isto não se deu. Um exemplo é o não cumprimento de normas de parcelamento, tal como estabelecido pela Lei Federal no 6.766 de 1979, a Lei Lehman, (BRASIL, 1979), que em seu Art. 3º, estipula que não será permitido o parcelamento do solo em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas. Alterada pela Lei 9.785 de 1999 (BRASIL, 1999), ficou estabelecida a necessidade do esgotamento das águas pluviais, tema também da Lei de Saneamento Básico 11.445 de 2007 (BRASIL, 2007). Esta estipula, em seu Art. 2o , parágrafo 5, que „todo loteamento ou desmembramento urbano deve ter ... o escoamento fluvial ou drenagem como infraestrutura básica indispensável‟. O parcelamento, o uso e a ocupação do solo no Município de São Paulo em sua relação com a preservação de áreas verdes são objeto de legislação específica: Lei Nº 9.413, de 30 de dezembro de 1981 (SÃO PAULO. Município, 1981) que elabora sobre os loteamentos e áreas livres para escoamento superficial; Estatuto da Cidade, instituído pela Lei Federal 10.257 de 2001, já mencionada; Plano Diretor Estratégico, instituído pela Lei Nº 13.430, de 13 de setembro de 2002 (SÃO PAULO. Município, 2002b) que possui capítulo (III) dedicado à política ambiental e dá as diretrizes sobre a ampliação das áreas integrantes do Sistema de Áreas Verdes do Município e a drenagem de águas pluviais (Subseção IV); Lei 13.885 de 2004 (SÃO PAULO. Município, 2004) que estabelece normas complementares ao Plano Diretor Estratégico, institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dispõe sobre o parcelamento, e disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São

Paulo. O Município conta, ainda, com o Código de Obras e Edificações instituído pela Lei 8.266 (SÃO PAULO. Município, 1975) que em 1975 já dispunha sobre construções junto a cursos d‟água, e a Lei 13.276 (SÃO PAULO. Município, 2002), conhecida como a Lei das Piscininhas, esta que vem recebendo sugestões para que, nos lotes com área superior a 500 m2, edificados ou não, sejam adotadas medidas de controle do escoamento superficial com o objetivo de não agravar a ocorrência de alagamentos e inundações como condição para a obtenção de alvará e habite-se. Ainda como minuta de projeto de lei, outra recomendação é a incorporação de um zoneamento de inundação à Lei Municipal de Zoneamento, por meio da definição de um conjunto de regras para a ocupação das áreas de risco de inundação, para minimizar as perdas materiais e humanas resultantes.

Não só a preservação de áreas verdes, como também a necessidade de implantação de infraestrutura básica em equipamentos urbanos, inclusive para a drenagem de águas pluviais, são vítimas de negligência em sua implantação. Cruciais para a qualidade de vida da metrópole e para a manutenção da biodiversidade, preservação e necessidade de infraestrutura, as leis são ignoradas e a ocupação se dá, em geral, em desobediência à legislação urbanística que exige parcela destinada às áreas verdes e a não edificação em áreas de proteção permanente, as APPs, dada a proximidade de corpos hídricos e topos de morros. Exigência da Constituição Federal de 1988, em seu Art. 225, a proteção ambiental engloba a necessidade do uso adequado dos recursos naturais em quaisquer atividades humanas. Neste contexto da ocupação e deterioração de recursos naturais, tema tratado também pelo Art. 170 da Constituição Federal, inclui sua defesa entre os princípios da Ordem Econômica (GRANZIERA, 2006).

É importante deixar claro que não só as moradias ocupadas pelos mais pobres se apropriam das áreas verdes e das áreas de preservação. O número de shopping centers, centros empresariais e condomínios fechados ocupados pelos mais ricos teve aumento considerável já a partir da década de 1970, e um processo contínuo de avanço durante as décadas de 1980 e 1990 (ROLNIK, s.d. circa 2004). São edificações que se instalam em áreas próximas a cursos d‟água e pistas são construídas para dar fluência ao tráfego de automóveis e ao transporte de carga. Atualmente, nos bairros residenciais da cidade, as casas que ainda preservam jardins vêm se transformando em condomínios urbanos fechados ou as chamados townhouses, que ocupam quarteirões inteiros, com a destruição de jardins das áreas privadas e até mesmo de

pequenas praças dos arredores, contribuindo para a impermeabilização do solo. O mesmo vem ocorrendo com a região da Serra da Cantareira, área de preservação ambiental, coberta de florestas secundárias em estado avançado de regeneração, áreas próximas a corpos hídricos, encostas íngremes e topo de morro, sendo que tanto moradias irregulares quanto as regularizadas pelo Poder Público compartilham a responsabilidade pelo seu desmatamento. Estudos realizados em 2010 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, revelam que nos últimos três anos desses estudos a Serra da Cantareira havia perdido 1,4 milhão de metros quadrados de área verde, sendo a maior parte do desmatamento realizado para a implantação de casas regulares e condomínios (MACHADO, 2011).

A Organização Mundial de Saúde tem como um de seus indicadores de saúde urbana o acesso a espaços verdes, tanto nas áreas „formais‟ quanto em favelas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012). Sugestões deste indicador variam entre um mínimo de 9 m2 e um ideal 15 m2 de áreas verdes por pessoa13 para o equilíbrio ambiental, a saúde da população e o combate ao aumento acentuado da temperatura, da poluição do ar e de micro-organismos (CAMPELLO, 2008). É, ainda, medida que contribui para a drenagem de águas pluviais e sua infiltração no solo, evitando o excessivo escoamento superficial.

Em informação de 2011, a Prefeitura de São Paulo constatou a existência de 2,6 m2 por habitante de área verde pública de lazer, ou seja, praças e parques, e 12,50 m2de área verde por habitante no total. Ainda que, em média, o Município de São Paulo apresente esse índice razoável frente ao recomendado, existem grandes diferenças entre as 31 subprefeituras da administração municipal. Destas, apenas nove apresentam índices acima dos 9 m2 mínimos recomendados, sendo Parelheiros o que eleva o índice paulistano, dados seus 312,82 m2 de área verde por habitante. Vinte subprefeituras apresentam índices inaceitáveis, sendo os piores índices constatados na Mooca (0,35), em São Mateus (0,41), em Cidade Ademar (0,62), em Guaianazes (0,63) e em Campo Limpo (0,90) (OBSERVATÓRIO CIDADÃO, s.d.).

A baixa qualidade de vida que acompanha a ocupação urbana é caracterizada:  Pela falta de acesso a serviços e infraestrutura;

13 Sustainable Cities International Blog, Disponível em

http://blog.sustainablecities.net/2011/07/13/how-many-metres-of-green-space-does-your-city-have/ Acesso novembro de 2013.

 Pela incapacidade de implantação generalizada de medidas de captação e infiltração da água de precipitação;

 Pela ausência de acompanhamento da implantação da legislação que, direta ou indiretamente, deveria proteger os munícipes de inundações;

 Pela ausência de fiscalização e coibição do uso e ocupação do solo em áreas vulneráveis e de proteção ambiental;

 Pelo controle não só da quantidade, mas também da qualidade da água em corpos hídricos.

Este é o quadro que completa a degradação ambiental com consequências para a drenagem e o manejo de águas pluviais, característico das bacias hidrográficas na cidade de São Paulo.