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Lei 12.034/09 – Minirreforma política e eleitoral

CAPÍTULO I – O PAPEL DO DIREITO ELEITORAL NA CONSOLIDAÇÃO

1.2 Tratamento legal brasileiro

1.2.6 Lei 12.034/09 – Minirreforma política e eleitoral

A Lei nº 12.034/2009 representa um passo fundamental para a adequação da propaganda política, no Brasil, com as inovações trazidas na última década do século XX. Regras claras sobre o uso da Internet nas campanhas políticas foram estabelecidas. As propostas foram amplamente – e rapidamente112

A autoria do projeto é do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), coordenado pelo deputado Flávio Dino (PCdoB/MA). Ao ir para o Senado, o projeto recebeu 67 emendas; todavia, ao voltar para a Câmara, 64 delas foram rejeitas, tendo sido mantidas apenas as três que se referiam às regras para a Internet.

– debatidas e houve intensa participação dos parlamentares de todos os partidos, recuperando, de certa forma, a imagem do Poder Legislativo, que atuou de maneira enérgica para conseguir analisar as sugestões enviadas por todos os partidos.

A primeira delas foi a redação do art. 57-D da Lei nº 9.504/97, que privilegiou a manifestação de pensamento pela Internet, vedando o anonimato e garantido o direito de resposta. Esse artigo deixa claro que censura na rede virtual não é aceita.

111 Para Ribeiro, “[...] por abuso de poder econômico, para efeitos da lei eleitoral, pode-se entenderas

infrações às normas de arrecadação e aplicação de recursos em campanha eleitoral, que configurem o uso ilegal de dinheiro, bens e serviços, para auxiliar determinado ou determinados candidatos, tentando influenciar ou influenciando na normalidade e legitimidade das eleições. RIBEIRO, Renato Ventura. Lei eleitoral comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 194.

112 O projeto de lei que deu origem à lei ordinária em questão foi o de nº 5.498/2009, tendo sido

apresentado em tempo recorde, apenas 8 dias. A tramitação na Câmara dos Deputados foi também muito ágil, no intuito de aprovar o projeto com pelo menos “um ano e um dia” de antecedência às eleições de 2010, respeitando a exigência do art. 16 da CF. A tramitação do projeto de lei está

disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=440269>. Acesso em:

O art. 7º da Lei nº 12.037/2009 dá permissão ao uso da Internet até mesmo no dia da eleição, não se aplicando a restrição prevista no parágrafo único do art. 240 do Código Eleitoral que trata de propaganda em geral.

E a redação do art. 57-F da Lei nº 9.504/97, dada pela Lei nº 12.034/2009, eliminou o prazo de 24 horas que era antes estabelecido para que o provedor de Internet retirasse do ar propaganda considerada irregular pela Justiça Eleitoral. O prazo passa a ser fixado pela própria Justiça Eleitoral, de acordo com a análise do caso concreto.

Como essas alterações se referem à propaganda eleitoral na Internet, elas serão analisadas de forma mais detalhada em item próprio, no Capítulo 3.

Além disso, outras mudanças na lei partidária merecem menção.

O art. 41-A, §1º, passou a definir: “Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir”. Com isso, o pedido de voto, ainda que implícito, caracteriza uma conduta ilícita, de forma que foi consagrada a “participação indireta do candidato”. Todavia, para a tipificação dessa conduta, é imprescindível que o candidato seja o autor da ação, ou que tenha dela participado ou anuído. A alteração trazida pela Lei nº 13.034/2009 à Lei nº 9.504/97 tem respaldo no entendimento assentado no TSE, como aduz o Min. Sálvio de Figueiredo, em seu voto no Acórdão nº 19.566:

Não fosse isso, em face da costumeira criatividade dos candidatos e de seus colaboradores, correr-se-ia o risco de tornar inócua a citada norma, mantendo impunes e até mesmo estimulando os candidatos na prática de abusos e ilícitos que a sociedade, notadamente a mais próxima dos fatos, repudia com justificada veemência.

Se, por um lado, a negociação do voto para determinado candidato pode ser feita diretamente ou por interposta pessoa, por outro lado, ela tem que ser, necessariamente, dirigida a um eleitor, individualmente identificado. Uma promessa de campanha ou uma propaganda institucional do governo, como a propaganda do Programa Bolsa-Família, por exemplo, caracterizam-se como propostas impessoais e genéricas.

Visando a ampliar a participação política das mulheres, essa lei garantiu reserva de recursos do Fundo Partidário e do tempo de propaganda na TV às mulheres.

O número de mulheres no Brasil equivale a 51% da população. Apesar de representarem 51% da população, sua participação no Poder Legislativo ainda padece de uma sub-representação que, no espírito da mudança trazida pelo art. 44, V, merece ser revista. Assim, programas que incentivem e proporcionem maior participação feminina nessa seara devem ser criados, e os partidos devem reservar 5% das verbas do fundo para tanto. Caso isso não aconteça, o § 5º do inciso V desse artigo 44 impõe uma sanção ao partido, que deverá, no ano seguinte, “[...] acrescentar o percentual de 2,5% do Fundo Partidário para essa destinação, ficando impedido de utilizá-lo para finalidade diversa.”

A minirreforma eleitoral, entretanto, trouxe algumas situações preocupantes, como a aprovação das doações ocultas e das doações pela Internet, neste último caso, seguindo o sucesso do modelo das eleições presidenciais norte-americanas que levaram à eleição de Barack Obama.

Nesse sentido, pessoas físicas, e somente elas, podem fazer doações pela Internet para o seu candidato. Elas devem ser feitas mediante formulário eletrônico, nos limites legais que correspondem a 10% do rendimento bruto da pessoa física, no ano anterior às eleições, dispensando a assinatura do doador (art. 23, § 2º da Lei nº 9.504/97). E o partido apenas indicará os doadores da Internet 30 dias após a eleição, no final da prestação das contas. Esse procedimento facilita a fraude e dificulta a investigação, de sorte que deveria ter sido coibido.

Ademais, a antiga lei eleitoral fixava o prazo inicial que possibilitava a doação por pessoa física, autorizado a partir do registro dos Comitês Financeiros. A nova lei não colocou esse marco explicitamente, mas ele deve ser mantido, em função do princípio da moralidade, previsto constitucionalmente.

O artigo 23, III, inovou também, ao permitir que essa doação pela Internet seja feita por cartão de crédito,113

A lei fez a questionável previsão das doações ocultas (art. 23, § 2º, da Lei nº 9.504/97, c.c. art. 39, § 5º, da Lei nº 9.096//97), que autoriza aos doadores colocar dinheiro no partido, e não diretamente no candidato, podendo essa doação ser realizada antes ou durante o período eleitoral. Agrava essa previsão legal o fato de a Lei Partidária não obrigar o partido a comprovar a origem dos recursos usados para saldar dívidas de campanha dos candidatos, na prestação de contas anual subsequente (art. 32). Tudo isso amplia as chances de fraude nas contas da campanha eleitoral de candidatos.

sendo, nesse caso, obrigatória a identificação do doador, cuja responsabilidade é do partido político, e a emissão de recibo eleitoral.

Por fim, convém lembrar que a minirreforma política introduziu uma mudança polêmica na Lei nº 4.737/65: o voto em trânsito para eleitores em território nacional que queiram exercer seu direito de voto nas eleições para Presidente e Vice-Presidente (art. 223-A, acrescentado ao Código Eleitoral).

A intenção da lei era assegurar a universalidade do voto, contudo, ela não previu a forma como esse voto seria viabilizado. Ora, para que o TSE permita que o eleitor brasileiro vote mesmo estando fora de seu domicílio eleitoral, é necessário um cadastro prévio desse eleitor, para que o nome dele conste do programa da urna eletrônica do local onde ele vai votar. O eleitor, portanto, tem que se programar para fazer esse cadastramento e saber onde estará nesse período. A urna eletrônica não pode ser colocada em rede, pois haveria a possibilidade de ela ser invadida por hackers ou crackers,114

O TSE editou a Resolução 23.215/2010, inovando a Lei nº 12.034/2009, ao criar as condições para esse voto. Como a Lei nº 9.504/97 proíbe o TSE de restringir direitos por resolução, esta medida não poderia ter criado regras limitadoras, mas o fez.

interferindo na segurança do processo eleitoral. Não é simples!

113 A Resolução nº 23.216/2010 proíbe o uso de cartão de crédito emitido no exterior, corporativo ou

empresarial, para esse fim.

114 “Há um certo sensacionalismo no uso da palavra ‘hacker’. Seu sentido original refere-se a ‘gênios’

da computação. Figuras como Steve Jobs ou Bill Gates começaram como ‘hackers’. Existe até um código de ‘ética hacker’ (bit.ly/9DmAgw). Quem não segue é chamado de ‘cracker’, que é a palavra para quem usa o conhecimento da rede para causar danos.” LEMOS, Ronaldo.

Reação ao WikiLeaks põe Internet em risco. Disponível em:

Assim, para que o eleitor possa votar fora de seu domicílio eleitoral, ele terá que se habilitar em um cartório eleitoral do Brasil, entre 15 de julho e 15 de agosto do ano em que ocorra eleição para Presidente ou Vice-Presidente; com isso, ele não poderá votar na sua seção de origem; se não estiver na capital de sua indicação, terá que justificar o voto, mesmo se estiver no seu próprio domicílio eleitoral.

O fundamento desse artigo foi a equiparação com o brasileiro que está em situação análoga no exterior. Como existe previsão legal para essa situação, abriu-se uma nova oportunidade de voto para o eleitor no Brasil. Todavia, a lei só dá essa autorização para o eleitor da capital, enquanto o eleitor no interior fica sem essa proteção, o que leva a uma inconstitucionalidade da lei.

Essa questão, com sorte, terá um final mais simples, quando se completar em todo o país o sistema de identificação especial eleitoral (biometria),115