• Nenhum resultado encontrado

O princípio do pluralismo e a atuação dos partidos políticos

CAPÍTULO II ELEIÇÕES E PARTICIPAÇÃO POPULAR

2.3 O papel dos partidos políticos no processo eleitoral

2.3.4 O princípio do pluralismo e a atuação dos partidos políticos

A democracia contemporânea timbrou o termo pluralismo.

O pluralismo pode apresentar várias abordagens; do ponto de vista histórico,330 é quase um consenso associar suas raízes analíticas à teoria dos corpos intermediários de Montesquieu.331

329 SILVA, Luis Virgílio Afonso da. Op. cit., p. 142.

Confirma Nicola Matteucci que o pluralismo tem suas origens

330 Huntington explica que a sociedade ocidental tem sido marcadamente pluralista, em toda sua história,

desde os grupos autônomos que se firmavam sem ter relação de sangue ou de casamento, passando pelos grupos surgidos nas ordens monásticas, os quais se expandiram para o pluralismo associativo, suplementado pelo pluralismo de classes. “O pluralismo social logo levou ao surgimento de assembleias, parlamentos e outras instituições para representar os interesses da aristocracia, do clero, dos comerciantes e outros grupos. Esses órgãos proporcionavam formas de representação que, no

[...] na defesa que Montesquieu faz dos corpos intermediários, como elementos de mediação política entre o indivíduo e Estado, ou na exaltação feita por Tocqueville das associações livres, consideradas como as únicas capazes de tornar o cidadão apto a se defender da maioria soberana e onipotente.332

Assis Brasil compreendeu de forma clara a importância do constitucionalismo e do pluralismo político para a democracia,333

O Estado democrático contemporâneo é um Estado de partidos.

abordando, no início de sua obra Democracia representativa, o conceito de liberdade como autonomia do cidadão em participar das decisões políticas, decidindo, dessa forma, seu destino.

334

O vínculo entre pluralismo e democracia é forte. Este último reivindica a ampla participação nas decisões coletivas, porém, não garante a ampliação da atuação dos diversos grupos intermediários de poder. É o pluralismo que redefine constantemente as relações entre Estado e sociedade civil, ao reconhecer a legitimidade da diversidade e ao criar mecanismos de regulação da ação do Estado, no que tange à proteção social.

Os partidos políticos devem retratar vários segmentos da sociedade, promovendo o enquadramento dos eleitos e a educação política do eleitor. O partido robusto tem o monopólio das eleições e da cadeia parlamentar.

335

curso do processo de modernização, evoluíram para as instituições da democracia moderna. Em alguns casos, esses órgãos foram abolidos ou seus poderes ficaram muito limitados durante o período do Absolutismo. Contudo, mesmo quando isso aconteceu, eles puderam, como na França, ser ressuscitados para ampliar o meio para uma participação política ampliada. Nenhuma outra civilização contemporânea tem um legado comparável de corpos representativos que exista há um milênio.” HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997, p. 85.

331 Montesquieu é usualmente considerado como um dos precursores do pensamento pluralista no

âmbito da política, já que procura explicar a ineficiência do absolutismo e propõe um governo com liberdade e autonomia, no qual os poderes se controlam mutuamente. Cf. MONTESQUIEU, Op. cit.

332 MATTEUCCI, Nicola. Verbete: Soberania. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola;

PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1986, p. 1186.

333 ASSIS BRASIL, Joaquim Francisco. Op. cit. Livro I, cap. I, p. 89-101.

334 Nesse sentido, ver a obra de Kelsen, que já afirmava: “Só a ilusão ou a hipocrisia pode acreditar que

a democracia seja possível sem partidos políticos.” KELSEN, Hans. A democracia. Op. cit. p. 40. Ou, ainda, Ferreira Filho: “Os partidos são, pois, meios indispensáveis de formação da democracia.” FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Os partidos políticos nas constituições democráticas. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1966, p. 57.

335 Kelsen afirma que “[...] a participação no governo, ou seja, na criação e aplicação das normas gerais

e individuais da ordem social que constitui a comunidade deve ser vista como a característica essencial da democracia.” KELSEN, Hans. Op. cit., p. 142. A participação política (mais próxima ao

Aprofunda o tema Bobbio,336 ao asseverar que “[...] a teoria democrática e a teoria pluralista têm em comum o fato de serem duas propostas diversas, mas não incompatíveis (ao contrário são convergentes e complementares) contra o abuso do poder.”337 Para a democracia, o fundamento de validade do poder é a vontade popular. E o pluralismo permite a disseminação do poder entre as várias instâncias sociais. Na democracia, as liberdades individuais e as coletivas devem ser, obrigatoriamente, respeitadas, assim como a garantia de participação política. Por isso é que “[...] a democracia de um estado moderno nada mais pode ser que uma democracia pluralista.”338

O pluralismo, ademais, é essencial para explicar uma característica da democracia dos modernos: a possibilidade de dissenso. A sociedade plural se vê diante do antagonismo e do conflito de interesses, que não destroem a sociedade, muito pelo contrário, promovem o debate e estimulam a participação,339

Tudo portanto se completa: refazendo o percurso em sentido contrário, a liberdade de dissentir necessita de uma sociedade pluralista, uma sociedade pluralista permite uma maior distribuição do poder, uma maior distribuição do poder abre as portas para a democratização da sociedade civil e finalmente a democratização da sociedade civil alarga e integra a democracia política.

fatores que permitem a transformação política e a mudança social sem que se recorra à violência. Isso fortalece a democracia, pois um de seus maiores méritos é a resolução dos conflitos de forma pacífica:

340

sentido da liberdade positiva) adquire em Kelsen sentido diferente do de Rousseau. Para Kelsen, não há um abstrato interesse geral; o povo ativo se identifica com o partido político, capaz de organizar e afirmar os interesses individuais.

336 BOBBIO, Norberto. Verbete: Pluralismo. In: BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola;

PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1986, p. 928.

337 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. 8. ed. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 2002, p. 72.

338 BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, p. 70.

339 “[...] uma sociedade em que o dissenso não seja admitido é uma sociedade morta ou destinada a

morrer. BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia, p.74.

Segundo Robert Dahl, a democracia341 sustenta-se a partir de um equilíbrio de forças entre os grupos sociais, que impede a eliminação uns dos outros. Esse jogo de forças pode ser sinalizado como o componente básico da ideia geral de pluralismo societal, configurando uma realidade em que a pluralidade dos grupos e partidos políticos só tem razão de ser se propicia, no regime democrático, as alternâncias de poder, ao mesmo tempo em que se constituem como fontes de poder alternativo ao governo, agindo de forma a limitá-lo e direcionando-o a escolhas e interesses.342

Esse modelo que entende as instituições políticas como mecanismos de dispersão de poder e de garantia à liberdade de expressão das demandas sociais já está presente no estudo feito por Alexis de Tocqueville sobre a democracia americana, bem como nas elaborações teóricas de James Madison, estendendo-se às análises contemporâneas de Robert Dahl e sua poliarquia.

Na perspectiva de Dahl, preservar o binômio participação X oposição é condição primeira para a efetivação de um regime político democrático pluralista, embora a abertura para a contestação e a oposição pública não seja a garantia de uma democratização plena e maximização das condições de igualdade e participação. Nos moldes da poliarquia de Dahl, a influência plural e sucessiva dos grupos existentes na sociedade prevalece mediante uma competição política estável e relativamente aberta, institucionalmente garantida, não havendo igualdade de influência para todos os grupos, nem a isenção de conflitos.

Com isso, o autor rompe com uma tradição de análise desenhada entre os democratas, que condiciona o desenvolvimento e avanço da democracia aos avanços econômicos das sociedades. Sob a perspectiva de Dahl, o parâmetro de distinção das sociedades deve ser o seu grau de pluralismo.

341 Dahl ensina que democracia é a prática de eleições com instituições e instrumentos fortes, em que

processo e procedimento já estão previstos e definidos. A dúvida que surge é com relação ao resultado, já que não se pode prever quem conquistará o poder. DAHL, Robert A. On democracy. New Haven: Yale University Press, 1998.

A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto a preocupação com o pluralismo, na sociedade brasileira. Essa característica do Estado Democrático de Direito pode ser encontrada em quatro passagens da Carta Magna.

Já no preâmbulo, os constituintes garantem os valores supremos de uma “[...] sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.”343

Em seguida, dispõe o art. 1º, inc. V, da Constituição brasileira, que dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil estão a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Com isso, fica evidenciada a exigência de que todos os demais textos legais brasileiros respeitem esses fundamentos.

Ao tratar da disciplina constitucional dos partidos políticos, a CF/88 resguarda o pluripartidarismo, alocado em conjunto com o regime democrático, os direitos fundamentais e a soberania nacional, todos eles como princípios a serem observados pelos programas e ações partidárias (CF, art. 17).

Por fim, o art. 206, III da Lei Maior refere-se ao pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, um princípio que norteia o ensino no país.

A preocupação em definir o pluralismo político como princípio fundamental da República é de um pioneirismo ímpar e afirma a vontade que teve o legislador de incentivar e promover a participação popular e o estímulo à manifestação das mais diversas doutrinas e ideologias existentes na sociedade, assim como o incentivo à livre criação de partidos que pudessem satisfazer a todas essas manifestações de diferença. Sem dúvida, isso reflete o espírito democrático que dominava a elaboração da Constituição cidadã.

O legislador constituinte apresentou dois significados para o termo pluralismo político. Um deles é mais amplo e se refere à pluralidade de ideologias e centros de poder. A segunda acepção equipara os termos pluralismo político e pluralismo partidário.

No entender de Fávila Ribeiro, o pluralismo político é gênero, do qual o partidário é espécie. O pluralismo é indispensável, pois

[...] os conflitos subjacentes na sociedade precisam encontrar formações grupais mais identificadas e vinculadas aos seus específicos interesses, assumindo posições que reflitam os antagonismos que precisam encontrar válvulas institucionais descompressoras, revelando-se o sistema do pluralismo político como o componente da mais rica eficácia social, através dos diálogos, entendimentos e transações recíprocas.344

Vale lembrar que, malgrado a ênfase dada ao papel dos partidos políticos, no fortalecimento desse pluralismo, outras associações e grupos de interesse foram igualmente agraciados com essa função, como as entidades sindicais, a garantia do direito de associação, a atuação dos Conselhos Sociais Municipais, além do Conselho Tutelar. A presente análise, no entanto, mantém o foco apenas sobre os partidos políticos.

Os partidos são a porta de entrada para o exercício político, pois escolhem os candidatos e identificam soluções para os anseios do eleitor. Todavia, o que se percebe cada vez mais é uma relação verticalizada, em que os partidos formam uma aristocracia eletiva.345

Não obstante os partidos serem tão mal vistos e receberem tantas críticas, eles acabaram se firmando no cenário político. O que eles oferecem?

O partido possui funções claras, exercidas com muita habilidade ao longo dos tempos. Ele começou como patrocinador de candidaturas, mas depois passou a promover o enquadramento do corpo eleitoral, servindo de canal de comunicação entre a comunidade e o polo decisional, função exercida com esmero durante o período

344 RIBEIRO, Fávila. Direito eleitoral. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 88.

345 Desde sempre o partido foi visto com grande hostilidade. Rousseau, paladino da democracia direta, já

demonstrava sua angústia diante das sociedades parciais, na clássica obra O contrato social. O pensador genebrino estabeleceu a doutrina da vontade geral, que era a decisão política fundamental, o resultado da soma de cada uma das vontades individuais. A Assembleia na qual se reúnem todos os cidadãos é única e soberana, consagra a noção de confiança na decisão coletiva e fundamenta seu modelo democrático de participação direta, sem intermediações de qualquer corpo político. As sociedades parciais que podem ser tranquilamente equiparadas aos partidos políticos, destarte, não eram vistas com bons olhos. Cf. ROUSSEAU, Jean Jacques. Op. cit.

eleitoral. Por isso, o partido é ainda considerado o mais perfeito lócus de participação política. Outros há, como as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), ONGs e Igrejas, mas só o partido político influencia o poder, e o faz porque detém o monopólio da candidatura.

Ademais, o partido se mostrou extremamente eficaz na execução de outra tarefa: ele é o melhor amortecedor das paixões e tensões sociais. A partir do momento em que a crítica recai sobre o partido, o candidato é esquecido. O partido absorve as tensões, agressões e condenações. Isso tem feito com que, ao longo dos séculos, o partido continue sendo um ator coadjuvante indispensável para o sucesso das eleições democráticas.

A fidelidade partidária, fruto do ativismo judiciário, provocou, entretanto, uma mudança no cenário eleitoral, dando maior destaque à figura do partido, que tem assumido papel de ator principal nesse cenário. O instituto da fidelidade partidária impõe um grau de moralidade, de confiabilidade do eleitor, representa um atestado de que o candidato personifica uma ideologia, a qual será mantida ao longo do mandato. Isso produz estabilidade no colorido dos blocos do parlamento.

Por outro lado, a fidelidade atribui primazia ao partido, que acaba por se tornar mais importante do que o candidato. Ora, se o candidato se torna um soldado a serviço do partido, e não mais do grupo social que ele, em tese, garantiu defender, durante a campanha eleitoral, isso provoca uma crise na democracia e é o grande efeito colateral da fidelidade partidária.346

O STF decidiu que o voto pertence ao partido político, e não ao candidato, o que é um paradoxo, se comparado ao comportamento do eleitor

347

346 Por isso mesmo é que alguns países, como a Espanha, não admitem a adoção desse instituto, por

privilegiar o partido, e não o candidato, que é o representante legítimo do povo.

brasileiro, que vota

347 O comportamento eleitoral passa a ganhar relevância em número de estudos e análises a partir da

segunda metade do século XX. Destacam-se os estudos feitos pelas Universidades de Michigan e Columbia, pioneiras na aplicação das técnicas de coleta de dados para a análise política e eleitoral. O Modelo de Columbia visava a compreender o comportamento eleitoral individual, focando, inicialmente, no indivíduo, para daí estudar sua integração na sociedade e como isso afetava sua participação eleitoral. De acordo com esse modelo, quanto mais integrado o cidadão, mais exposto ele estaria aos estímulos sociais e políticos e às múltiplas fontes de informação, o que proporciona maior participação política. Portanto, o voto pode ser individual, porém, ele é diretamente influenciado pelos grupos sociais.

no candidato – e não no partido. A motivação do eleitor é múltipla; ele pode votar em um candidato por efetivamente concordar com seu programa político, ideias e princípios; por ele ser menos corrupto do que o outro candidato da disputa; por ter recebido alguma vantagem financeira para tanto; por influência de algum meio de comunicação; dentre outros. A verdade é que brasileiro gosta de votar e se sente obrigado a votar. Mesmo que reclamando da fila de votação ou dos escândalos que invadem a mídia diariamente, há uma responsabilidade do papel de cidadão nesse momento, o que pode ser interpretado como um pequeno amadurecimento político. Não se pode nem mesmo dizer que o cidadão está obrigado a votar, afinal, as sanções são ínfimas e não intimidam. Contudo, vislumbra-se que, mesmo com apenas 25 anos de democracia e as críticas à falta de consciência política, o fato de o país inteiro mobilizar-se para ir às urnas denota amadurecimento do cidadão.

Insta salientar que os partidos políticos também têm que suportar as demandas e exigências oriundas da atuação dos grupos de pressão que atuam nos bastidores.

Os grupos de pressão são organizações bem estruturadas que defendem interesses específicos, com o objetivo de formar relações privilegiadas entre o grupo pelo qual advoga e o partido político.348 Para eles, a política é um jogo de filiações e ideologias partidárias, no qual suas reivindicações são apresentadas de maneira direta e contundente, valendo-se de informação e persuasão.349

Como se vê, a despeito do consenso de que os partidos são fundamentais para a democracia – até por deterem o monopólio da representação –, é inegável que eles

A Escola de Michigan, por sua vez, possui uma orientação que privilegia a dimensão psicológica do indivíduo. As decisões dos eleitores são tomadas, assim, em função do compromisso psicológico de cada um com a política, o dever cívico, a responsabilidade individual. Aqui, a identidade partidária ganha importância, porque está ligada a uma lealdade em relação ao partido, um fator que tende a apresentar estabilidade ao longo do tempo. PEREA, Eva Anduzia. ¿Indivíduos o sistema? Las razones de la abstención en Europa Occidental. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas/Siglo XXI, 1999.

348 Como ressalta Meynaud, essa tarefa não é muito simples no sistema pluralista, contudo, pode

fortalecer o grupo de pressão, se o objetivo for alcançado. Assim, o cenário “[...] consiste à former des relations privilégiées entre un groupe et tel ou tel parti. Si la question est solvente assez simple dans les régimes bi-partisans, ele apparaît plus complexe dans les systèmes à partis multiplex. Toutes choses égales, la concurrence entre partis de tendances voisines pour une même clientèle, renforce la puissance du groupe”. MEYNAUD, Jean. Les groupes de pression. Paris: Presses Universitaires de France, 1962, p. 45.

atravessam uma longa crise, a qual prejudica a intermediação entre Estado e sociedade e faz com que sua centralidade seja sistematicamente questionada.

O distanciamento entre representante e representado350 é observado em várias questões. Uma delas é a falta de proporcionalidade parlamentar, já que o número de deputados estabelecido pela Constituição Federal contradiz a igualdade de voto. Além disso, a manutenção dos chamados partidos nanicos351 não aprimorou o sistema. A pluralidade de ideias, princípios e interesses é um desideratum da democracia, porém, na verdade, a proliferação desses partidos não levou à multiplicidade de ideologias ou projetos políticos, mas à homogeneização das plataformas, partidos que se tornam legendas de aluguel, constituindo negócios privados. Isso leva a um impasse, pois a proximidade ideológica atrapalha a capacidade de renovação e de mobilização popular, em caráter permanente. E não se pode deixar de mencionar que a debilidade dos partidos políticos tem incentivado o surgimento de grupos de pressão352

350 “Porque a outra característica-chave do sistema não é econômica, mas política. Trata-se da ruptura do

vínculo entre cidadãos e governantes. “Não nos representam, dizem muitos. Os partidos vivem entre si e para si. A classe política tornou-se uma casta que compartilha o interesse comum de manter o poder dividido entre si mesma, através de um mercado político-midiático que se renova a cada quatro anos. Auto-absolvendo-se da corrupção e dos abusos, já que tem o poder de designar a cúpula do Judiciário.” (sic) CASTELLS, Manuel. Não é crise. É que não te quero mais. Disponível em: <

que atuam nos bastidores do poder sem qualquer regulamentação ou responsabilização pelos seus atos. Nesse sentido, é importante que o lobby seja regulamentado, para que a atividade do lobista, a qual influencia a autoridade pública no atingimento de interesses privados, que são, muitas vezes, legítimos, não se confunda com o tráfico de influência, proibido pelo ordenamento brasileiro.

http://outraspalavras.net/posts/nao-e-crise-e-que-nao-te-quero-mais/>. Acesso em: 08 ago. 11.

351 Em dezembro de 2006, o STF tornou inconstitucional a cláusula de barreira, abrindo espaço para os

nanicos. Essa decisão teve como base o princípio do pluralismo, que consta no art. Da CF do Brasil. O argumento lembrado foi o de que, se há competição, há pluralismo. Todavia, essa foi, no fundo, uma decisão prejudicial para a estabilidade das instituições democráticas no país, pois levou a uma situação de ingovernabilidade da base governista. Hoje em dia, há 32 partidos políticos no Brasil, com a permanente necessidade de barganha e negociações, mas que, a rigor, garante liberdade de criação de partidos políticos.

352 Para aprofundamento do tema, indica-se: J. Berry (“The interest group society”) e V. O. Key

(“Politics, parties and pressure groups”), e a tese de doutoramento de Alexandre Sanson, intitulada

Dos grupos de pressão na democracia representativa: os limites jurídicos”, defendida na