Consumo e Títulos de Crédito
4.2 Atributos dos títulos de créditos
4.2.3 Letra de Câmbio
As letras de câmbio e as notas promissórias são legalmente regulamentadas pelo Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966, conhecido como Lei Uniforme de Genebra, pois é fruto da adesão do Brasil à Convenção de Genebra de 1930.
A letra de câmbio é uma espécie de título de crédito, que representa uma declaração unilateral de vontade de uma pessoa (sacador), o qual firmará que determinada pessoa (sacado) pagará, pura e simplesmente à outra (tomadora), certa quantia num local e numa data.
Trata-se de um título de modelo livre ou não vinculado, de modo que, para que a letra de câmbio tenha valor jurídico, a cártula deve conter os seguintes elementos, conforme o artigo 1º, do anexo 1, do Decreto 57.663/66:
• A palavra “letra” inserta no próprio texto do título e expressa na língua
portuguesa
• O mandato puro é simples de pagar uma quantia determinada; • O nome daquele que deve pagar (sacado);
• A época do pagamento;
• A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; • O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;
• A indicação da data em que foi emitida e do lugar onde a letra é passada; • A assinatura de quem passa a letra (sacador).
Observem este exemplo de uma letra de câmbio: Anverso da letra de câmbio
Ilmo.(a) Sr(a)., no vencimento, pagará Vossa Senhoria, por esta LETRA DE CÂMBIO,
o valor de
à sua ordem, na praça de
Sacado: Valor: Vencimento: Nº A c e i t e d o s a c a d o Endereço: CPF: Data e local do saque:
Assinatura do sacador:
a ou
10/12/2011 dez mil reais
Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2010
José de Alencar C a s t r o A l v e s Machado de Assis Rio de Janeiro / RJ Castro Alves
Rua do Comércio, 132 - Rio de Janeiro / RJ
101.011.010-10
1 R$10.000,00
Neste caso, José de Alencar (sacador), emitiu uma ordem de pagamento à Castro Alves (sacado), em favor de Machado de Assis (tomador), para que pague a este, a quantia de dez mil reais, com vencimento em 10 de dezembro de 2011.
Assim, o sacador é quem dá a ordem de pagamento dirigida ao sacado para que pague determinada quantia em favor do tomador. O saque é o ato da cria- ção do título e, a partir disso, o tomador estará autorizado a procurar o sacado para receber a quantia determinada na letra.
Especificamente na letra de câmbio, o saque produz um importante efei- to, qual seja, o de vincular o sacador ao pagamento do título. A ordem, como vimos, é para o sacado pagar; porém, se o sacado recusar a aceitar a ordem ou, aceitando, deixa de pagar no vencimento, o tomador poderá cobrar o título do próprio sacador.
No exemplo acima, caso Castro Alves, ao receber a ordem de José de Alencar, a recusa ou, em aceitando, deixa de pagar Machado de Assis no vencimento, este poderá cobrar o título do sacador, ou seja, de José de Alencar.
Como visto, o aceite na letra de câmbio não é uma obrigação, de modo que, o sacado, ao ser procurado pelo tomador para informá-lo da ordem de pagamento, apenas se vincula como devedor ao título se desejar, sendo ato livre de sua vontade. O aceite será uma simples assinatura do sacado no anverso (frente) do títu- lo. No exemplo, percebe-se claramente que Castro Alves aceitou a letra de câm- bio, pois assinou no anverso do título.
Portanto, ao ser sacada uma letra de câmbio, haverá duas situações para o tomador: (i) o título é aceito pelo sacado e o tomador deverá cobrar deste no ven- cimento estipulado na cártula ou; (ii) ocorrendo a recusa do sacado, o tomador poderá cobrar imediatamente o título do sacador. Isto porque o artigo 43, do ane- xo 1, do Decreto 57.663/66, estabelece que o portador da letra poderá exercer o direito de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados, no venci- mento se o pagamento não for efetuado pelo sacado ou, antes do vencimento, se houver recusa total ou parcial de aceite, assim como a falência do sacado.
O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da im- portância sacada (aceite limitativo) ou alterar as condições fixadas na cártula (aceite modificativo). Em ambos os casos, o sacado fica obrigado nos termos do seu aceite, mas se opera o vencimento antecipado da letra de câmbio, que poderá ser cobrada de imediato do sacador.
Uma medida a ser adotada pelo sacador para evitar o vencimento antecipa- do do título pela recusa de aceite é inserir a cláusula “não aceitável, sendo que neste caso, o tomador somente poderá apresentar o título ao sacado na data do vencimento. Do mesmo modo, é possível o sacador fixar um prazo futuro de
Outra consideração importante é que o tomador possui o prazo de um ano após o saque para apresentar o título para aceite do sacado e, ao ser apresenta- do, o sacado tem o direito de pedir que lhe seja reapresentado no dia seguinte (prazo de respiro), tempo este razoável para que faça consulta ou medite sobre a conveniência de aceitar ou recusar o aceite.
4.2.4 O endosso
A letra de câmbio, por regra, é um título sacado com a cláusula “à ordem”. Esta cláusula permite o titular negociar o seu crédito, transferindo-o para terceiro a titularidade mediante endosso. Assim, endosso é ato cambiário com a finalida- de de realizar a transferência do crédito representado por título com cláusula “à ordem”. Na letra de câmbio, a cláusula “à ordem” já está implícita, pois so- mente haverá impeditivo de endosso se contiver expressamente a clausula “não à ordem”.
O credor que realiza a transferência do crédito é chamado de endossante e o adquirente do crédito é chamado de endossatário. O endosso pode ser “em branco” quando não identifica o endossatário e “em preto” quando o identifi- ca. O endosso é feito através da simples assinatura do tomador no verso do títu- lo. Aproveitando o exemplo acima de letra de câmbio, Machado de Assis, como tomador do título, poderá transferir o seu crédito da seguinte forma:
Verso da letra de câmbio
Pague-se a Carlos Drumont de Andrade
Machado de Assis
identificou Carlos Drumont de Andrade como seu endossatário. Caso fosse um endosso “em branco”, bastaria a simples assinatura de Machado de Assis no verso da letra de câmbio.
O endosso produz dois efeitos: (i) transfere a titularidade do crédito do en- dossante para o endossatário e (ii) vincula o endossante ao pagamento da le- tra de câmbio, na condição de coobrigado, a não ser que o endosso tenha sido dado com cláusula “sem garantia”.
Assim, ainda no exemplo que estamos trabalhando, caso o sacado Castro Alves, não pague a letra de câmbio em 10 de dezembro de 2011, Carlos Drumont de Andrade (endossatário) poderá exigir o crédito do próprio sacado, assim como de José de Alencar (sacador) e de Machado de Assis (endossante), na con- dição de coobrigados.
4.2.5 O aval
O aval é a obrigação dada em título de crédito para garantir o pagamento do título. Assim, por este ato, uma pessoa, chamada avalista, garante o pagamen- to da letra de câmbio em favor do devedor principal ou de qualquer um dos coobrigados. O obrigado em favor de quem foi prestada a garantia por aval, é denominado de avalizado.
A simples assinatura do avalista no anverso do título, acompanhada de al- guma expressão identificadora do aval, como por exemplo, “por aval”, é o sufi- ciente para constituir o aval. Nada obsta que se faça no verso do título, desde que devidamente identificado que se trata de aval.