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Práticas abusivas

No documento Direito Comercial (páginas 120-124)

Consumo e Títulos de Crédito

4.1 Conceito de consumidor

4.1.12 Práticas abusivas

Sem querer conduzir o tema a exaustão no que tange as práticas abusivas, elegemos após análise perfunctória do artigo 39 e seus incisos, bem como artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor, alguns comportamentos dos fornecedores presentes em nosso cotidiano e que devem ser evitados, para dar espaço a uma forma de gestão ética e que prima pelo bom atendimento do consumidor e se evitem comportamen- tos antijurídicos que possam trazer consequências desastrosas às corporações. No dizer de Tupinambá Miguel Castro Nascimento, práticas abusivas “são práticas co- merciais, nas relações de consumo, que ultrapassam a regularidade do exercício de comércio e das relações entre fornecedor e consumidor” (ALMEIDA, 2009).

4.1.12.1 Venda casada  Artigo 39, inciso I, do CDC:

(...) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro pro- duto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos (...)

Objetiva-se preservar o direito básico da livre escolha do consumidor, pois, se tem ele interesse na aquisição de determinado produto ou serviço, não pode ser obrigado, para lograr tal intento, a adquirir o que não lhe interessa, mas lhe é condicionalmente impingido (ALMEIDA, 2009).

É preciso, no entanto, entender que a operação casada pressupõe a exis- tência de produtos e serviços que são usualmente vendidos separados. O lo-  jista não é obrigado a vender apenas a calça do terno. Da mesma maneira, o

chamado “pacote” de viagem oferecido por operadoras e agências de viagem não está proibido. Nem fazer ofertas do tipo “compre este e ganhe aquele”. O que não pode o fornecedor fazer é impor a aquisição conjunta, ainda que o pre- ço global seja mais barato que a aquisição individual, o que é comum nos “pa- cotes” de viagem. Assim, se o consumidor quiser adquirir apenas um dos itens, poderá fazê-lo pelo preço normal (NUNES, 2009).

Também é proibido ao fornecedor estabelecer limites quantitativos à venda de produtos, sem justa causa. Cabe ao fornecedor, nesse sentido, demonstrar o  justo motivo a ensejar a limitação quantitativa, sendo que, isso poderá ocorrer,

por exemplo, em casos de estoques limitados, ou mesmo, diante de escassez de determinado produto no mercado.

4.1.12.2 Recusa de atendimento às demandas  Artigo 39, inciso II, do CDC:

(...) condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro pro- duto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos (...)

O fornecedor não pode recusar-se a atender à demanda do consumidor. Desde que tenha, de fato, em estoque os produtos ou esteja habilitado a prestar o serviço. É irrelevante a razão alegada pelo fornecedor (GRINOVER, 2007). 4.1.12.3 Entrega de produto ou serviço sem solicitação prévia

 Artigo 39, inciso III, do CDC:

(...) enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou for- necer qualquer serviço (...)

Nesse sentido, é proibido ao fornecedor, o envio de qualquer produto ou serviço, sem solicitação prévia do consumidor.

O fornecimento não solicitado é uma prática corriqueira – e abusiva – do mer- cado. Uma vez que, não obstante a proibição, o produto ou serviço seja fornecido,

fornecimento como mera amostra grátis, não cabendo qualquer pagamento ou ressarcimento ao fornecedor, nem mesmo os decorrentes de transporte. É ato cujo risco corre inteiramente por conta do fornecedor (GRINOVER, 2007). 4.1.12.4 Abuso diante da fraqueza e ignorância do consumidor

 Artigo 39, inciso IV:

(...) prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços (...)

Busca a lei impedir que o fornecedor inescrupuloso tire proveito da situação de fragilidade e hipossuficiência do consumidor idoso ou menor, doente, rude ou com reduzidas condições de discernimento, com isso objetivando preservar os direitos à higidez física e patrimonial e da livre escolha (ALMEIDA, 2009).

O Novo Código Civil também trouxe como um dos seus princípios funda- mentais, a boa-fé entre as partes em uma relação comercial. Assim, as partes, em qualquer relação comercial ou contratual, devem agir com boa-fé, com leal- dade, sem qualquer prática abusiva ou ilegal.

4.1.12.5 Vantagem excessiva  Artigo 39, inciso V:

(...) exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva (...)

O próprio CDC em seu artigo 51, parágrafo primeiro, descreveu as vanta- gens consideradas abusivas ou excessivas, como sendo as que:

I. ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II. restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

III. se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando- se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circuns- tâncias peculiares ao caso.

Aliás tal como ocorre nas relações regidas pelo Código Civil, não é possível se admitir, por exemplo, cláusulas potestativas ( aquelas que comportam apenas os interesses de uma das partes, ao passo que a outra permanece como um mero expectador daquela relação contratual) que promovem o desequilíbrio da relação contratual.

4.1.12.6 Serviços sem orçamento e autorização do consumidor  Artigo 39, inciso VI:

(...) executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes (...)

Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contratantes e somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes (parágrafo 2º, art. 40 do CDC).

 Vale ressaltar, por fim, que o consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previs- tos no orçamento prévio (parágrafo 3º, art. 40 do CDC).

4.1.12.7 Informação depreciativa  Artigo 39, inciso VII:

  (...) repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos (...)

Nenhum fornecedor pode divulgar informação depreciativa sobre o consumi- dor quando tal se referir ao exercício de direito seu. Por exemplo, não é lícito ao fornecedor informar seus companheiros de categoria que o consumidor sustou o protesto de um título, que o consumidor gosta de reclamar da qualidade de produ- tos e serviços, que o consumidor é membro de uma associação de consumidores ou que já representou ao Ministério Público ou propôs ação (GRINOVER, 2007).

4.1.12.8 Da Cobrança de dívidas  Artigo 42:

Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Ciente dos constantes abusos que se perpetravam nessa área, com ofensa à dignidade do devedor, exposição a ridículo e utilização de práticas violentas como ameaça e constrangimento, é que o legislador procurou restabelecer o império do direito, ou, no dizer de um doutrinador, “o modo civilizado de se cobrar”. Colima-se, como o tratamento legislativo da questão, fazer com que o exercício regular do direito do credor se compreenda dentro dos limites legais, não os extrapolando para atingir contornos abusivos. Não se procura obstar o recebimento do crédito, o que era e continua a ser exercício regular de direito (CC, art. 160, I), mas a utilização de métodos condenáveis e ofensivos à dignida- de humana, que se procura extirpar do meio social (ALMEIDA, 2009).

Cabe ao Magistrado, nestes casos, analisar cada situação em específico, ou seja, se a forma da cobrança efetuada pelo credor trouxe um constrangimento ou expôs o devedor ao ridículo, sendo que, em caso positivo, cabe a este pleitear indenização pelos danos morais sofridos, de acordo com o disposto no artigo 6o, inciso VI do Código de Defesa do Consumidor.

No documento Direito Comercial (páginas 120-124)