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Levantamento das informações sobre os estagiários e alunos da turma a

6 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

6.1 AS ETAPAS DA INTERVENÇÃO

6.1.1 Levantamento das informações sobre os estagiários e alunos da turma a

Primeiramente, seria realizada uma análise de perfil e avaliação diagnóstica acerca da experiência prévia dos professores no ensino de LE e de PLA; suas percepções cerca das diferenças entre o contexto de ensino de LE na graduação e em aulas de cursos livres de idiomas (bem menos heterogêneo e em grau bem menor de pluralidade linguística e cultural entre alunos e entre alunos e professores); suas noções de interculturalidade e sobre a existência de choque cultural vivenciado pelos alunos e professores em aulas para estrangeiros.

A necessidade desse levantamento se justifica pela possibilidade de variação contínua na formação do corpo docente do curso. Apesar de boa parte dos professores participantes serem diferentes ano a ano, por se tratar de alunos da mesma instituição, pressupõem-se perfis não muito díspares dos encontrados no estudo de caso apresentado, não surpreendendo a ocorrência de situações análogas relacionadas a sua formação no tocante a questões de interculturalidade e desenvolvimento da CCI de alunos de LE. Assim, com esses dados, pode- se modular a densidade teórica e a complexidade com que serão abordados os tópicos selecionados para a intervenção, ficando livre o ministrante para adaptar o material já preparado ou criar novos materiais, que sejam condizentes com esses achados sobre as crenças dos professores em formação.

Neste primeiro contato com os estagiários, o levantamento diagnóstico seria menos complexo do que o feito para a problematização da pesquisa – planeja-se um questionário com poucas questões abertas ou sua substituição por uma entrevista mais breve com transcrições de trechos mais relevantes ou simples preenchimento, pelo entrevistador, de formulários pré- elaborados (checklists). Sugere-se que seja enviado aos estagiários com no mínimo uma semana de antecedência, para que o professor ministrante possa ter as informações a tempo de fazer os ajustes necessários. Pode-se contar com a ajuda do(a) coordenador(a) ou de outros professores envolvidos no processo de seleção para o fornecimento de informações complementares também.

Nesta proposta, é apresentado um exemplo de questionário (Apêndice H) para a coleta desses dados. Em sua primeira parte (itens 1 a 6), ele versa sobre o perfil dos professores e algumas de suas crenças sobre ensino de cultura em aulas de LE. Como se pode ver, não há complexidade maior nas perguntas e suas respostas já são suficientes para prover um mínimo de informações para o desenho das aulas.

Como sugestão, na segunda parte (itens 7 a 9), aproveita-se para adiantar alguns dos assuntos a serem abordados durante o curso. Diferentemente das primeiras perguntas, estas não precisam ser respondidas por escrito, pois têm por objetivo principal incitar-lhes as primeiras inquietações acerca das diferenças culturais e suas consequências para a vida dos alunos em seus primeiros momentos vivendo no ambiente de imersão. Elas versam sobre a adaptação deles e sua relação com aspectos culturais que muitas vezes têm sua importância ignorada pelos professores, mas que, depreende-se dos depoimentos dos próprios estudantes nos questionários e entrevistas realizados, são sensíveis para que se sintam abertos a interagir com os falantes brasileiros e para se colocar em contextos de produção e recepção de insumos linguísticos e culturais.

Pelos depoimentos analisados no capítulo anterior, assuntos como alimentação, roupa, demonstração de afetividade em público, o toque ao se cumprimentar (pode ocorrer mais de uma vez, com a mesma pessoa, no mesmo dia), comportamentos em sala de aula são objetos de surpresa pelos estagiários quando são informados pelos alunos sobre as diferenças e o impacto negativo que essa percepção causa em boa parte deles e em sua motivação para interagir com nossos falantes e nossa cultura. Outros tópicos podem ser apresentados (acrescentados ou em substituição a esses), dependendo de outros levantamentos mediante instrumentos de coletas de dados aplicados ano a ano com os novos alunos ou das informações coletadas pelos próprios professores durante as aulas ou em conversas informais com eles, como a posição da mulher em sociedade, elogios, despedidas e o “jeitinho brasileiro”.

Com o adiantamento dessas informações, objetiva-se contribuir para a ocorrência de um estranhamento e uma instabilidade no sistema de crenças dos futuros docentes mediante a reflexão sobre aspectos que poderiam parecer invisíveis naquele contexto de ensino ou, ainda que perceptíveis, pouco relevantes para quem ministra aulas para estrangeiros pela primeira vez, sem ter noção das peculiaridades dessa tarefa. Além disso, ao responder as questões dessa segunda parte, exercita-se a noção de alteridade, de visualização de sua cultura como se fosse o outro, importantíssimo para o despertar de uma consciência intercultural nos futuros docentes. Em relação aos alunos do período letivo que se inicia, a pesquisa sobre suas informações pessoais pode dar ensejo ao resgate e utilização de dados de anos anteriores, caso sejam de países que já tenham enviado estudantes, sempre levando-se em consideração uma posição avessa a estereótipos e generalizações imprecisas e respeitando as diferentes culturas presentes em todas as nações. Essa pesquisa pode ser feita informalmente com a coordenação,

pois ela recebe uma lista com os alunos, sua identificação pessoal, o curso e a universidade que vão frequentar no PEC-G.

Outra utilidade desses dados refere-se à possível antecipação do grau de heterogeneidade da turma, quais línguas e culturas estarão em contato em sala de aula, bem como à previsão de um eventual isolamento de alunos que não contarão com compatriotas naquela turma – nas turmas de 2018 e 2019, havia só um aluno ganês (o único anglófono) e uma única aluna proveniente da República do Congo, respectivamente, e eles ficaram bastante isolados nos primeiros meses de aula – ao final, não obtiveram a aprovação no Celpe-Bras. Por último, mas não menos importante, com base nessas informações, os professores (estagiários ou não) devem proceder à realização de pesquisas sobre informações relevantes sobre os países e culturas de origem dos alunos, criando condições para um melhor acolhimento nos primeiros dias de aula.