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LÍDER E LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES ESCOLARES

5. A Liderança nas organizações educativas

5.1. Liderança e gestão

Consideramos que uma melhor compreensão da liderança reclama a sua diferenciação do conceito de gestão, com o qual tende a ser confundida, para o que Santos evoca Locke que afirma que esta diferença “no solo es válida e importante, sino también muy sencilla” (2007: 29). Começamos por um apontamento, segundo o qual todos os líderes são gestores mas nem todos os gestores são, necessariamente, líderes.

A distinção que muitos investigadores fazem destes conceitos assenta na ideia de que o gestor se ocupa mais da complexidade da organização, enquanto o líder se concentra mais nas mudanças que nela podem ser implementadas. Parece existir uma diferença básica entre o gestor e o líder, pois “O líder sabe o que é necessário fazer, enquanto o gestor sabe como fazer bem” (Crozier & Sérieyx, 1994: 110)22

. Ainda a este propósito Bothwell afirma que a “liderança é a capacidade de levar os outros a fazer, com gosto, aquilo que não querem” (1991: 17), entendendo-se por tal que o verdadeiro

21 Referimo-nos ao Decreto-Lei n.º 75/2008. 22

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líder sabe influenciar, sabe motivar, inspira confiança e por isso tem seguidores. O mesmo autor acrescenta que “os gestores não são (...) líderes (capazes de fazer com que os outros os sigam) por definição ou por categoria profissional” (1991: 17).

Assim, enquanto o gestor se centra mais na administração da organização, na resolução de problemas numa perspetiva de curto prazo, procurando realizar as tarefas e controlar os outros, busca os melhores meios para responder ao ‘como?’ e ‘quando?’, o líder volta-se para a inovação, para o desenvolvimento da organização, refletindo sobre a sua ação, questionando sobre ‘o quê?’ e ‘o porquê?’, numa tentativa de inspirar, de motivar e conseguir o envolvimento de todos na definição do rumo da organização, e, por isso, perspetiva a sua ação a longo prazo (Santos, 2007). Logo o autêntico líder, aquele que é capaz de influenciar, tem que conjugar carisma com visão, tem que ser persuasivo e inspirador.

Na linha defendida por Southworth, Pina considera que

a liderança distingue-se da gestão pois esta última, genericamente, refere-se ao assegurar a vivência diária de uma escola, dentro de níveis razoáveis de ordem, estabilidade e funcionalidade, isto é, “fazer com que a escola caminhe” , enquanto que a liderança é pensada em termos de fazer com que a escola caminhe “para algum lado” , isto é, com um sentido e orientação (2003: 48).

Parece-nos, no que às organizações educativas diz respeito, que os termos gestão e liderança, ainda que diferenciáveis, se sobrepõem, são indissociáveis, motivo pelo qual o atual diretor pode ser percecionado simultaneamente como gestor e líder, ainda que a proporcionalidade com que desempenha um ou outro papel seja variável de acordo com as situações, a começar pelas próprias orientações normativas, mas nunca esquecendo os contextos. Assim, talvez faça sentido utilizar a designação de liderança estratégica (Davies, 2004), enquanto capacidade para pensar de forma coerente e integrada a posição da organização na relação presente-futuro, decidindo sobre as medidas a tomar num curto/médio prazo, para atingir os objetivos a longo prazo, para percorrer o rumo definido.

Chegamos assim a uma ideia de liderança integral que concilia liderança com gestão e direção com administração23. Com efeito, os atuais líderes escolares têm que simultaneamente dar conta do ‘como e quando?’ e do ‘quê e porquê?’. Veja-se, a propósito do ‘como e quando?’, o diretor enquanto presidente do Conselho

23 Ainda que os termos liderança, gestão, direção e administração surjam, muitas vezes, associados, eles

têm significados diferentes. Visto que não é objeto deste trabalho o estudo específico de todas estas temáticas, aconselha-se, para aprofundar os conceitos indicados, a consulta de autores como Barroso (1995, 1997), Lima (1998), Sá (1997), Estêvão (1998).

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Administrativo e as responsabilidades que lhe estão, superiormente, imputadas, e a propósito do ‘quê e porquê?’, o diretor enquanto responsável máximo pelas orientações pedagógica e cultural da escola, pois ele é, obrigatoriamente, o presidente do Conselho Pedagógico. Esta liderança integral também faz sentido na ótica de Leithwood (1992), pois separar a liderança educacional da administração educacional conduziria à fragmentação, devendo o líder integrar todas as áreas da escola, a saber, as educacionais, pessoais, culturais, financeiras e administrativas. Tal pressupõe a existência de uma relação de implicação entre eficiência e eficácia da organização escolar e o exercício efetivo desta liderança integral.

Entendemos, no entanto, que liderança e gestão se revestem de características diferentes e que só com muito empenho e com a participação dos vários elementos da comunidade educativa o diretor, percecionado como o ‘primeiro rosto da escola’, o primeiro responsável, segundo os normativos24 agora em vigor, conseguirá desempenhar a multiplicidade de papéis que lhe estão incumbidos, ainda que estes sejam complementares.

Os estudos sobre liderança em contexto educativo, dada a complexidade e a especificidade que a caracteriza, deixam perceber que uma gestão top-down25, que pressupõe uma liderança autocrática, hierárquica e centralizadora, subjugada aos princípios da eficiência e eficácia do gerencialismo burocrático, deve dar lugar a uma gestão de empoderamento26, que envolva os diferentes atores, e que, ao invés da primeira, pressupõe uma liderança distribuída e transformacional, ela mesma promotora do envolvimento dos diversos agentes educativos e da comunidade em geral, na perspetiva de que a organização peculiar que é a escola interessa a todos, pois, em última análise, ela ‘encerra’ o futuro da Humanidade, já que é o centro de formação por excelência do ser humano.

24 Referimo-nos em particular ao Decreto-Lei n.º 75/2008.

25 Modelo tipo taylorista-fordista, onde a organização é estruturada nos moldes de uma pirâmide. 26

A revisão da literatura permite-nos concluir que, sobretudo a nível das organizações escolares, a boa gestão não é algo que possa ser implementado de forma puramente top-down ou, inversamente, de forma puramente bottom-up; a boa gestão pressupõe o envolvimento de todos os agentes que participam na consecução dos objetivos organizacionais, para o que é fundamental que os resultados a alcançar sejam suficientemente atrativos, e por isso valorizados e estimados por cada uma das partes.

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