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Capítulo IV – REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS DE LIDERANÇA NUMA ESCOLA SECUNDÁRIA

DISPOSITIVO METODOLÓGICO

3. As técnicas de recolha e tratamento da informação

3.1. A observação não participante

A literatura aponta para vários modos de observar a que correspondem diferentes tipos de observação, que não importa aqui analisar, cabendo ao investigador, face aos objetivos do estudo e perante as vantagens e desvantagens de cada tipo, decidir por qual enveredar. No nosso estudo optamos pela observação não participante, que consiste numa “ (…) técnica de recolha de dados particularmente útil e fidedigna, na medida em que a informação obtida não se encontra condicionada pelas opiniões e pontos de vista dos sujeitos, como acontece nas entrevistas e nos questionários” (Afonso, 2005: 91).

Não obstante esta nossa opção e na medida em que fazemos parte do contexto, nem sempre operacionalizamos eficazmente, e de forma ‘pura’, esta técnica, pois apesar do nosso esforço com vista à auto-imposição do silêncio nas reuniões em que participávamos na qualidade de observador não participante, nem sempre o conseguimos, sendo mesmo, algumas vezes, convocados a intervir por parte dos outros elementos. Logo, subscrevemos a afirmação de Lima, segundo a qual

o investigador é sempre participante, na medida em que a sua presença, mesmo silenciosa,[o que nem sempre aconteceu],89 interfere no contexto social analisado, e na medida, ainda, em que ao familiarizar-se com o contexto e com as pessoas, ao estabelecer relações sociais e ao interactuar com muitos actores, vai-se aproximando, por vezes do ponto de vista afectivo e emocional, daqueles que a investigação convencional tende a reduzir ao estatuto de “objectos” de pesquisa . Aceitámo-lo e, na medida das nossas possibilidades, procurámos distinguir os planos, controlar e relativizar as interferências que sempre admitimos e que, em certos casos, pudemos comprovar (1998: 31-32).

A nossa pesquisa envolveu um conjunto diverso e heterogéneo de participantes, pois estivemos presente em reuniões de órgãos e estruturas diferentes, Conselho Geral e Conselho Pedagógico, Conselho de Diretores de Turma, Departamento Curricular e ainda em reuniões com Representantes dos Alunos e da Associação de Estudantes, com Representantes dos Pais e Encarregados de Educação e com alguns Coordenadores de Grupo/Departamento; à exceção das do Conselho Geral, Conselho de Diretores de Turma e de Departamento, as restantes foram convocadas e presididas pelo diretor. Esta estratégia revelou-se muito enriquecedora e muito útil para o nosso trabalho, pois permitiu-nos observar a forma como os diferentes atores interagiam, as diferentes

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interpretações dos assuntos e a forma como eles eram discutidos, bem como as démarches envolvidas no processo de tomada de decisão.

A aplicação desta técnica obedeceu a algumas decisões pessoais, subjacente às quais estavam os objetivos da nossa investigação, nomeadamente no referente às reuniões em que queríamos participar, sem que estivesse definido um número90 mínimo ou máximo, procurando, no entanto, estar sempre que possível, o que se veio a traduzir num número bastante significativo; decidimos, também, que a nossa observação estaria próxima da não estruturada (Afonso, 2005), não significando que não sabíamos o porquê e o para quê da nossa presença, pois tínhamos como ponto de partida as próprias questões da pesquisa investigativa. Porém, não nos tínhamos imposto uma matriz de observação a ser aplicável a todas as reuniões, registando sim todas as notas que considerávamos úteis para a nossa investigação, fazendo interpretações de discursos verbais ou não verbais, mas sem nos preocuparmos em fazer uma descrição detalhada dos acontecimentos, concentrando-nos, sobretudo, no líder, procurando perceber, entre outras coisas, que tipo de liderança era praticada, se havia participação e envolvimento de todos no tratamento dos assuntos em análise. Parece ser possível afirmar que seguimos as orientações de Bogdan & Biklen que dizem

(…) registe insights importantes que vai tendo durante a recolha de dados para não os perder. Sempre que considerar que um acontecimento a que assistiu ou um diálogo em que se envolveu é relevante, anote as imagens que estes lhe despoletam. (…). Sempre que palavras, acontecimentos ou circunstâncias sejam recorrentes, mencione-os nos comentários do observador e especule sobre o seu significado. Se achar que se fez luz na compreensão de alguma coisa que previamente não estava clara para si, registe este facto. Se se der conta que há sujeitos que têm algo em comum, saliente estas semelhanças nos comentários do observador. O objectivo é o de estimular o pensamento crítico sobre aquilo que observa e o de se tornar em algo mais que uma mera máquina de registo (1994: 211).

Enquanto observador não participante estivemos presente num total de 20 reuniões, assim distribuídas: 6 do Conselho Pedagógico; 3 do Conselho Geral; 2 do Conselho de Diretores de Turma; 2 do Departamento de Ciências Sociais e Humanas; 2 com os Representantes dos Alunos e da Associação de Estudantes da escola; 2 com os Representantes dos Pais e Encarregados de Educação; 3 com Coordenadores de Grupo/Departamento. A realização da observação não participante teve início a 27 de janeiro, reunião do Conselho Pedagógico, e terminou a 20 de setembro, reunião do Conselho Geral.

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Eisner (1991), Patton (1985, 1990), entre outros, referem que cabe ao investigador decidir, de acordo com a natureza e objectivos do estudo, o número de observações a realizar, não havendo na literatura consenso quanto a esse número.

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No relativo à minha presença nas reuniões de órgãos/estruturas de coordenação específicos, a mesma foi precedida dum pedido informal, meramente verbal aos presidentes das respectivas reuniões; de acrescentar que a realização da investigação na escola já estava autorizada pelo diretor91. Na primeira reunião de cada órgão/estrutura de coordenação, o presidente da mesma informava os restantes elementos sobre o porquê da minha presença, tendo sido natural e unanimemente aceite.

Os dados recolhidos nestas reuniões, traduzidos na forma de excertos significativos, de descrições de factos tidos como pertinentes, ou de interpretações pessoais despoletadas por palavras, acontecimentos, etc., serão mobilizados para cruzamento com os que resultaram da aplicação de outras técnicas, de modo a permitir a aferição das informações recolhidas.