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7.1 SUPERAÇÃO DOS ÓBICES TRADICIONALMENTE OPOSTOS À

7.1.6 Afronta à coisa julgada

7.1.6.2 Limites da coisa julgada material

É lição fundamental em Direito Processual que a coisa julgada pode ser compreendida sob dois prismas. De um lado, como coisa julgada formal, assim entendida aquela que representa a preclusão máxima num processo judicial, a inviabilizar o reexame do mérito da causa naquele mesmo processo. Trata-se da conclusão da prestação do serviço jurisdicional. De outro, como coisa julgada material, ou seja, aquela que inviabiliza a rediscussão da causa não apenas no próprio processo, mas também projeta efeitos para fora dele, tornando imutável – a princípio – o comando nela contido105. O CPC disciplina o instituto da coisa julgada material a partir do seu art. 467, identificando-a como “a eficácia, que torna imutável e

103 LIEBMAN, Enrico Tulio. Eficácia e autoridade da sentença. Traduzido por Alfredo Buzaid e Benvindo

Aires. Tradução dos textos posteriores à edição de 1945 e notas relativas ao direito brasileiro vigente de Ada Pellegrini Grinover. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 54.

104 TALAMINI, Eduardo. Partes, terceiros e coisa julgada (os limites subjetivos da coisa julgada). In: Aspectos polêmicos e atuais sobre os terceiros no processo civil (e assuntos afins). DIDIER JUNIOR, Fredie;

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (org). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 193-246. p. 201.

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MOREIRA, José Carlos Barbosa. Ainda e sempre a coisa julgada. Revista dos Tribunais, São Paulo, ano 59, vol. 416, p. 9-17, jun./1970. p. 14.

indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário106”. A controvérsia, no que tem pertinência ao tema deste trabalho, portanto, reside na coisa julgada material, uma vez que a coisa julgada meramente formal não obsta a rediscussão do mérito da causa em processo posterior.

De logo, cabe registrar que, ainda que se aceitasse que a coisa julgada material fosse um óbice à rediscussão da questão da responsabilidade por danos por ela causados, isto não seria bastante, por si só, para fundamentar uma geral irresponsabilidade do Estado por atos praticados no exercício da jurisdição. Diversas são as razões para tal assertiva.

Nem todo ato jurisdicional se reveste ou tem aptidão para se revestir da qualidade de coisa julgada material, a exemplo das inúmeras decisões interlocutórias, despachos de expediente, sentenças proferidas em procedimentos de jurisdição voluntária e atos jurisdicionais executivos. São atos que, em tese, podem gerar dano, de modo que, ainda que se admitisse que a coisa julgada fosse um óbice, o máximo que se poderia concluir seria pela limitação da irresponsabilidade a alguns atos107, nunca pela vedação geral108. Ademais, nenhum obstáculo haveria à responsabilidade pelas omissões judiciais (que constituem negação do acesso à justiça), pois, não agindo, não há o que transitar em julgado.

Hodiernamente, inclusive, não se pode mais defender que a coisa julgada material seja uma garantia absoluta, uma vez que se trata de uma norma de direito fundamental, de natureza principiológica e, portanto, ponderável diante das circunstâncias do caso concreto109. O próprio ordenamento pátrio já consagra de há muito institutos que permitem o afastamento da coisa julgada em determinadas situações: a ação rescisória, no âmbito cível, e a revisão criminal, no âmbito penal110. Assim, qualquer interpretação no sentido de que a coisa julgada fosse uma garantia absoluta levaria, por coerência, à conclusão de que os artigos 495 do CPC e 622 do Código de Processo Penal (CPP) não teriam sido recepcionados pela CF/88.

Ademais, o ordenamento jurídico pátrio também admite a impugnação de sentenças transitadas em julgado por outros meios processuais, a exemplo da ação anulatória, sobretudo

106 BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Subchefia para

Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República: Brasília, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869compilada.htm>. Acesso em: 05 maio 2012.

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DUEZ, Paul. La responsabilité de la Puissance Publique (en dehors du contract). Nouvelle édition entiérement refondue. Paris: Dalloz, 1938. p. 254.

108 Vale notar que Mário Guimarães estendia a irresponsabilidade estatal aos atos preparatórios e executórios da

sentença, entendendo que tais atos “formam, com a sentença, um todo que não se deve cindir”, pois “permitir o seu reexame seria abrir fendas na sentença, destruindo os elementos que a formaram ou que surgiram na fase executória, em cumprimento do julgado” (GUIMARÃES, Mário. O juiz e a função jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 1958. p. 246). Mas, como demonstrado, se sequer a própria sentença enseja tal conclusão, quanto menos os atos que não a integram, pelo que resta facilmente refutado tal entendimento.

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V. a respeito a seção 6.4.1, supra.

no que se refere às sentenças inconstitucionais, em fenômeno que se convencionou chamar de relativização da coisa julgada111. Seu fundamento reside na necessidade de ponderação entre os valores de segurança (que fundamenta a coisa julgada) e justiça, que constitui o ideal próprio do Direito112. Há mais de três décadas, Cretella Júnior já vaticinava que “elevar a res

judicata à categoria de muralha sacrossanta, absolutamente impenetrável, é admitir a

infalibilidade do julgamento humano, ou a intransigência obstinada e incompreensível, mesmo diante do erro manifesto113”.

Em todo caso, entende-se aqui que mesmo as decisões transitadas materialmente em julgado, que não possam ser relativizadas, são aptas a gerar dano. Para fundamentar devidamente tal assertiva, são válidas algumas considerações acerca da coisa julgada material. Em sede de Direito Processual, costuma-se abordar o regime jurídico da coisa julgada material a partir dos seus limites, classificados em limites subjetivos e limites objetivos.

Os limites subjetivos da coisa julgada referem-se à identificação das pessoas que estão abrangidas pelos efeitos da referida decisão. A regra em nosso sistema é a coisa julgada intra

partes, à luz do art. 472, primeira parte, do CPC: “a sentença faz coisa julgada às partes entre

as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros114”.

A lição de Barbosa Moreira acerca da coisa julgada, referida linhas atrás115, é de destacada relevância para fins da fixação dos seus limites subjetivos. Veja-se que é inegável que a sentença transitada em julgado gera efeitos perante terceiros. Mas, ante a distinção entre efeitos da sentença e coisa julgada, não se pode falar que a coisa julgada torna os efeitos da sentença inatacáveis por terceiros.

Entender que a coisa julgada vincula terceiros implicaria em admitir a vulneração das garantias fundamentais do contraditório, ampla defesa, devido processo legal e

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CLÈVE, Clèmerson Merlin; FRANZONI, Júlia Ávila. Responsabilidade civil do Estado por atos jurisdicionais. Revista de Direito Administrativo e Constitucional, Belo Horizonte, ano 12, n. 47, jan./mar.

2012. Biblioteca Digital Fórum. Disponível em:

<http://www.bidforum.com.br/bid/PDIexibepdf.aspx?tipoConteudo=Normal&vw=S&pdiCntd=78312>. Acesso em 12 jul. 2012. p. 4; 14.

112 Assim, por exemplo, já decidiu o STJ: "a coisa julgada existe como criação necessária à segurança prática

das relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça não há liberdade" (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial n. 226.436 - PR, da

Quarta Turma. Recorrente: Júlio César Moreira. Recorrido: Ivanir Otávio Becker. Relator: Min. Sálvio de

Figueiredo Teixeira. Brasília, 28 jun. 2001. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/IMG?seq=34284&nreg=199900714989&dt=20020204&for mato=PDF>. Acesso em: 01 mai. 2012. p.1).

113 CRETELLA JÚNIOR, José. O estado e a obrigação de indenizar. São Paulo: Saraiva, 1980. p. 265.

114 BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Subchefia para

Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República: Brasília, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869compilada.htm>. Acesso em: 05 maio 2012.

inafastabilidade da tutela jurisdicional, já que a pessoa teria uma decisão em seu desfavor que sequer poderia ser questionada, por não ter participado do processo no qual ela adveio. Como bem expressou Talamini, “apenas é constitucionalmente deferível a coisa julgada à decisão proferida em processo desenvolvido em regime de contraditório entre as partes – o qual será efetivo ou potencial, conforme o grau de disponibilidade dos interesses em disputa116”. Nesse sentido, somente aqueles que tiveram a oportunidade de participar do processo e influir na decisão podem ser enredados pelo comando irreversível nele gerado.

Verifica-se que o citado autor abebera-se em Liebman, que já havia estatuído que só as partes “puderam fazer ouvir e valer as suas razões no processo que se ultimou com o julgado, e é essa possibilidade, que tiveram, que justifica praticamente a necessidade em que se puseram de conformar-se com o resultado alcançado e de já não poderem esperar modificá- lo117”. De fato, nenhum sentido haveria em assegurar às partes tais garantias, e, ao mesmo tempo, estabelecer a decisão daí proveniente como imutável e vinculante a terceiros que, por não terem participado do processo original, ficariam impedidos de postular a sua reforma. Vedar-se-lhes-ia, com isso, o próprio acesso à justiça118 – pressuposto lógico do próprio direito fundamental à boa jurisdição, já que sequer se poderá qualificar de bom ou mau aquilo que não se obtém.

Nesse sentido, nenhum óbice haveria à posterior ação de reparação de danos, fundada em decisão judicial passada em julgado. Enquanto naquela decisão controvertem duas partes, permanecendo o Estado-juiz como desinteressado, na ação de reparação de danos o Estado aparecerá no polo passivo. Ele não está acobertado pela autoridade da coisa julgada anterior, por não ter tomado parte na discussão que antes se travou119. Em nenhum momento terá sido apreciada a pretensão do lesado perante o Estado, que poderá ser chamado a responder, inclusive judicialmente, oportunidade em que terá garantido o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal.

Por outro lado, fala-se ainda em limites objetivos da coisa julgada, assim entendida a abrangência do conteúdo da decisão passada em julgado. Sua previsão básica está no art. 468 do CPC, ao dispor que “a sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei

116 TALAMINI, Eduardo. Partes, terceiros e coisa julgada (os limites subjetivos da coisa julgada). In: Aspectos polêmicos e atuais sobre os terceiros no processo civil (e assuntos afins). DIDIER JUNIOR, Fredie;

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (org). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 193-246. p. 202.

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LIEBMAN, Enrico Tulio. Eficácia e autoridade da sentença. Traduzido por Alfredo Buzaid e Benvindo Aires. Tradução dos textos posteriores à edição de 1945 e notas relativas ao direito brasileiro vigente de Ada Pellegrini Grinover. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p. 56.

118 TALAMINI, op. cit., p. 203. 119

No mesmo sentido: HENTZ, Luiz Antonio Soares. Indenização do erro judiciário. São Paulo: Leud, 1995. p. 73.

nos limites da lide e das questões decididas120”. O artigo seguinte exclui, expressamente, da autoridade da coisa julgada os motivos de fato e de direito que fundamentam a decisão, bem como as questões prejudiciais, salvo, quanto a estas, quando forem objeto de pedido específico da parte, a fim de que seja decidida principaliter tantum121.

O CPP, a seu turno, traz disposições sensivelmente distintas em relação à coisa julgada, quanto aos limites objetivos122. Apesar de não trazer um conceito tal qual o fez o CPC, disciplinou-a em alguns dispositivos, a exemplo do art. 110, § 2º, do qual se pode dessumir que somente faz coisa julgada o fato principal – ou seja, a conduta do agente – que tiver sido objeto da sentença, já que, quanto aos demais, não se pode opor a respectiva exceção123. E o art. 386, ao determinar que o motivo de absolvição do réu deve integrar o dispositivo124 – parte da sentença que transita, tradicionalmente, em julgado – também reveste da autoridade da coisa julgada a referida causa.

Na esfera penal, assim como na cível, tampouco se pode sustentar que a coisa julgada anterior impediria o consequente ajuizamento de ação de reparação de danos causados pela decisão transitada em julgado, que em nenhum momento terá se manifestado acerca da reparabilidade dos danos que ela mesma tiver causado (até porque de ordinário lhe serão futuros). Tratar-se-á de uma nova demanda, estando, pois, fora dos limites da coisa julgada do processo anterior, do qual o dano foi originado.

A ação de indenização não busca – nem visa buscar – a desconstituição da sentença lesiva transitada em julgado. “A decisão continua a valer para ambas as partes; a que ganhou e a que perdeu continuam vinculadas aos efeitos da coisa julgada, que permanece inatingível125”. Trata-se de ação com pedidos e causa de pedir diversos: pleitear-se-á uma

120 BRASIL. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Subchefia para

Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República: Brasília, 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869compilada.htm>. Acesso em: 05 maio 2012.

121 “Art. 469. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte

dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte o requerer (arts. 5º e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide” (Ibid.).

122 Quando aos limites subjetivos, vale a regra geral já exposta, sem as exceções, em face do princípio da

intrancendência da ação penal: nem a conexão entre crimes enseja a extensão da coisa julgada penal a terceiros (SERRANO JÚNIOR, Odoné. Responsabilidade civil do Estado por Atos Judiciais. Curitiba: Juruá, 1996. p. 135).

123 “Art. 110. [...] § 2º A exceção de coisa julgada somente poderá ser oposta em relação ao fato principal, que

tiver sido objeto da sentença” (BRASIL. Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República: Brasília, 1941. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acesso em: 05 maio 2012).

124 “Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: [...]”

(Ibid.).

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Responsabilidade do Estado por atos jurisdicionais. Revista de Direito

indenização por danos causados pela sentença judicial, em virtude de ter sido fruto de uma jurisdição que não se poderá caracterizar como boa. “Se danos advierem em decorrência do provimento estatal imperfeito, nada mais justo que se promova a responsabilização do Estado e o dever ressarcitório lhe seja imposto, como modo de restabelecer a harmonia rompida126”. Na indenizatória, averiguar-se-á a conduta estatal geradora do dano, os danos causados à parte, e o nexo de causalidade entre eles. Em nenhum momento, tal discussão afronta a coisa julgada anterior.

A razão para a imutabilidade e indiscutibilidade da sentença passada em julgado é a estabilidade e a segurança jurídicas, ainda que se considerasse que a sentença contém, presumidamente, a verdade consagrada no caso concreto, por representar a solução do litígio. Mas isso não é razão para se admitir a cristalização de um dano injusto.

Veja-se que a jurisdição é uma atividade cujo elevado nível de prerrogativas a torna de elevado risco – o qual deve ser assumido por quem o produziu. As decisões judiciais, para serem consideradas legítimas, devem lastrear-se nos parâmetros de boa jurisdição, que envolvem motivação racional, juízo proporcional e, sobretudo, ponderação com vistas à prevenção e à precaução contra a efetivação desses riscos, que lhe são inerentes.

Caso a decisão judicial não seja fruto de uma boa jurisdição (ou seja, não respeite os parâmetros aqui indicados, além dos demais que lhe são inerentes), por exemplo, por não ter se acautelado para prevenir ou precaver, adequadamente, a efetivação dos riscos potenciais, poder-se-á qualificar tal ato jurisdicional como ilícito (lato sensu), com o que se legitima mais facilmente a responsabilidade civil do Estado. Como o trânsito em julgado não permitirá, de ordinário, a restauração do citado direito fundamental violado (mediante execução específica), a imposição da obrigação de indenizar, decorrente do inadimplemento da obrigação de prestar uma boa jurisdição, será a consequência natural. Nessa situação, poderá caber, inclusive, a eventual apuração da desídia do agente público prolator da decisão no respeito a tais direitos fundamentais.

Do contrário, ainda que a jurisdição tenha efetivamente respeitado tais parâmetros, é de se lembrar que as decisões, sobretudo à luz dos juízos de prevenção e precaução, são tomadas em bases prospectivas, probabilísticas, de modo que é possível que os danos sejam causados ainda que o magistrado tenha tomado todas as cautelas possíveis na motivação proporcional de sua decisão. Ainda assim, caberá a responsabilidade do Estado, mas, desta feita, por atos lícitos, mediante a aplicação integral da teoria do risco.

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WAMBIER, Luiz Rodrigues. A responsabilidade civil do Estado decorrente dos Atos Jurisdicionais. Revista

O risco, efetivado, deverá ser assumido pelo seu causador, não pela sua vítima. Contudo, como já assentado, a responsabilidade por atos lícitos tem bases mais restritas – mas existe, e deve ser apurada e reconhecida, quando for o caso. Ademais, na responsabilidade do Estado decorrente de condutas lícitas, o próprio direito de regresso contra o magistrado resta inviabilizado, por ausência de elemento subjetivo.

Assim, nenhum óbice existe à responsabilização daquele que exerce atividade de risco, ainda que lícita. Ademais, essa função existe em favor de toda a coletividade, a fim de evitarem-se atos privados de vingança e promover-se a justiça e a paz social, pelo que não se concebe a razão pela qual ainda se defenda que, por representar a justiça no caso concreto, o Estado não possa responder por danos causados por decisões transitadas em julgado.