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3. A pesquisa de campo: dois anos depois

3.3. Local

A pesquisa foi feita no Projeto Acesso: Centro de Apoio Pedagógico Especializado ao Deficiente Visual, na cidade de São Paulo, Brasil.

3.3.1. Entrevista com os sujeitos da pesquisa, após dois anos das atividades desenvolvidas no ateliê.

A entrevista foi organizada em um roteiro (anexo) que girava em torno da pergunta da pesquisa A experiência artística pode ampliar o conhecimento do

mundo de jovens cegos?

Ao longo da entrevista, oferecemos questões focalizadoras, buscando um aprofundamento nas questões da perspectiva do objeto da pesquisa. “A finalidade dessas questões é de desenvolver uma reflexão, focalizando-se a relação eu-outro”

(SZYMANSKI, 2010, p. 51).

As entrevistas foram baseadas nos procedimentos oferecidos por Szymanski

(2010) em A Entrevista na Pesquisa em Educação: a prática reflexiva.

Foram feitas entrevistas individuais com cada um dos sujeitos da pesquisa, e outra com a dupla de pesquisados. Nos dois momentos os sujeitos mostraram-se bastante satisfeitos em estarem conversando a respeito da experiência do ateliê de artes.

Bruno não sabia da entrevista e, portanto, não estava preparado para ela. No final do primeiro semestre de 2010 desenvolveu a Doença de Behçet30 (DB) que deu origem a uma trombose cerebral. Não temos informação da extensão desta doença, nem se pode apresentar algum tipo de sequela. Ficou internado por um mês em uma unidade hospitalar. À época de sua doença havíamos marcado uma entrevista, à qual Paula compareceu. Conversamos sobre as questões que seriam colocadas e resolvemos agendar nova data para a entrevista na esperança de que Bruno se restabelecesse.

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A doença de Behçet é entendida como uma vasculite sistêmica que envolve vasos de qualquer calibre. Ainda que algumas manifestações sejam características, como a aftose bipolar, não existem alterações laboratorias ou

histopatológicas definitivas da doença, sendo o diagnóstico dependente de uma avaliação clínica criteriosa. A doença de Behçet é potencialmente grave, especificamente quando da verificação de uveíte, envolvimento do sistema nervoso central ou de comprometimento inflamatório de grandes vasos, como aortite.

Conseguimos agendar nova entrevista para sexta-feira, dia 01 de outubro de 2010. O agendamento de nova entrevista foi feito por intermédio da diretora da instituição. Agendamos para um dia em que ambos frequentavam a instituição. Paula atrasou-se para entrevista, o que ocasionou alguns desacertos para o seu início.

Neste dia Bruno tem aula de orientação e mobilidade, e depois, aula de música, na qual Paula é professora. Toda sexta-feira, além da aula com Bruno, Paula oferece curso de canto coral para alunos, familiares e amigos do Projeto Acesso. Nenhuma dessas atividades foi previamente desmarcada em razão da entrevista, então tínhamos que usar os intervalos entre as aulas.

Começamos a entrevista com Paula, que logo foi interrompida com a chegada de Bruno. Paula pede para continuar sua entrevista mais tarde, pois tinha que iniciar a sua aula de canto coral. Desta forma, Bruno ficou para a entrevista. Após a entrevista com Bruno foi feita a de Paula, e depois nos reunimos os três para o fechamento de nossa conversa. Para que pudéssemos nos reunir os três, a aula de música de Bruno foi suspensa.

Paula e Bruno estavam bastante felizes com a entrevista. Foi para todos uma oportunidade de reencontrar e reviver momentos importantes de um passado compartilhado. Bruno não tem muita facilidade de expressão, e algumas vezes parece que lhe faltam palavras para expressar o que está pensando. Paula, ao contrário, tem grande facilidade de expressão. Bruno necessita de mais tempo para se sentir seguro e elaborar o seu relato, enquanto que Paula já tem um discurso bem articulado.

Com ambos os entrevistados iniciamos a entrevista explicando o porquê desta, e qual o foco de nossa pesquisa. Para que o ambiente ficasse mais confortável iniciamos nossa conversa perguntando ao entrevistado sobre sua vida atual, relembramos alguns fatos do passado, mostramos alguns trechos de gravações de aulas e depois oferecemos uma pergunta desencadeadora: “O que você se lembra do ateliê de artes?”.

Bruno e Paula trouxeram muitas lembranças do ateliê de artes. Bruno precisou ser interrogado. Paula apresentou um discurso bastante seguro e com muitas lembranças. Foram poucas as perguntas para Paula no meio de sua narrativa.

Foi feita uma transcrição das falas dos sujeitos entrevistados de forma a preservar o máximo possível como se deu a entrevista. Segundo Symanski (2010, p. 74), “este “primeiro” texto da fala do entrevistado deve ser registrado, tanto quanto possível, tal como ela se deu”. Esta fase foi muito trabalhosa exigindo muitas horas de escuta da gravação, leituras e releituras do texto, para conseguir captar todos os detalhes da fala de nossos entrevistados.

Depois foi feito um texto referência, no qual foi feita uma limpeza nos vícios de linguagem e do texto grafado segundo as normas ortográficas e de sintaxe, sem substituir termos usados pelos sujeitos da entrevista. Procuramos manter o quanto foi possível a espontaneidade e a originalidade da fala dos entrevistados.

Propusemo-nos fazer uma devolução do material coletado durante as entrevista, e para isto apresentamos as entrevistas transcritas e uma pré análise do material para as considerações de nossos entrevistados. Essa devolução tinha como intuito estimular a reflexão sobre nosso tema de pesquisa, e desta forma enriquecer os dados obtidos.

A cópia das transcrições com os nomes fictícios dos entrevistados está no anexo ao final deste trabalho.