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Reflexão sobre a experiência do ateliê na perspectiva dos alunos

4. Análise da experiência do ateliê na perspectiva dos alunos

4.6. Reflexão sobre a experiência do ateliê na perspectiva dos alunos

Esta reflexão retoma o que foi analisado das entrevistas à luz dos pressupostos teóricos apresentados nos capítulos 1 e 2. Este item reitera a busca para compreender as significações do ateliê para os sujeitos da pesquisa, frente aos registros escritos dos seus depoimentos nas entrevistas e nas análises destes.

A análise de seus depoimentos mostrou que foi por meio das oportunidades de experiências diferenciadas que os jovens cegos conseguiram compreender o mundo, analisar, refletir e assim fazer suas próprias escolhas. Enfatizaram que as oportunidades oferecidas contribuíram para ampliar a percepção do mundo, a imaginação criadora e a consciência de si e do mundo.

Há um instante mágico na vida em que, nem mesmo sabendo por que, ficamos envolvidos num jogo. Num jogo de aprender e de ensinar. Fazemos parcerias. Não só com os outros, mas também parcerias internas nos propondo desafios. Porém só ficamos nesse estado de total cumplicidade com o saber se este tem sentido para nós. Caso contrário, somos apenas espectadores do saber do outro. (MARTINS, 2010, p.117)

Eles entraram nesse jogo para jogar, para aprender e descobrir juntos. Aprenderam e compartilharam experiências e conhecimentos, construíram sentidos, conceitos, valores. Lembrando Ostrower (1997), é no ato de fazer que o pensar se torna imaginar criativo. Assim, experimentaram imaginativamente através das matérias, das formas do corpo e ordenaram mundos – interior e exterior. Transformaram e foram transformados. Despertaram para experiências do mundo por meio de seu corpo no mundo.

Os jovens mostraram em suas entrevistas que foram diversos projetos que proporcionaram experiências estéticas. Relembraram trabalhos dos primeiros anos de atividades do ateliê, o que foi surpreendente. Deixaram claro que foi pelo fazer, pela ação do corpo atuante, nas diversas expressões que lhes foi possível perceber o belo. Lembramos aqui uma das questões levantadas por Almeida (2010) no que se refere ao acesso da arte para pessoas com deficiência visual: pretende-se o acesso informativo ou estético?

O depoimento dos sujeitos dessa pesquisa deixa claro que foram abertos canais de acesso para as experiências estéticas. Provocados por uma diversidade de experiências, ampliaram o modo de sentir as coisas, se enriqueceram e reorganizaram o esquema corporal. Apresentados a problemas, procuraram soluções e levantaram novos questionamentos.

“arte só se consuma quando surge uma complicação [...] alguma coisa se tornou visível, que, sem o esforço para a tornar visível, nunca seria vista”. Mas ao passarmos para o domínio da arte devemos pensar na finalidade de se fazer visível, se é apenas para recordar o que se viu ou para revelar o invisível, e esse é o “ponto essencial de toda criação artística”. (KLEE 2001b, p. 61)

Trouxeram à tona os conflitos, as dúvidas e as incertezas. Esses deslocamentos provocaram novas maneiras de perceber e de estar no mundo. Aprenderam a navegar por mares nunca antes navegados como cúmplices e observadores, vivenciando momentos de passagens, em estado de fragilidade, atenção, procura e indeterminação, momento de percepção do estar no mundo.

Vários projetos possibilitaram novos pensamentos, transformadores, que levaram a novas reflexões. Percebe-se que o mundo se amplia por meio da arte. Para que a “aprendizagem seja completa e significativa é necessário que não esqueçamos nenhum canal sensorial de entrada, pois desta maneira estaríamos limitando a informação com que nosso cérebro irá elaborar o conceito final que aprendemos” (SOLER 1999, p.18).

Na perspectiva da multissensorialidade no ensino durante as aulas de arte, o tato, a audição, o paladar, o olfato e o corpo atuaram como canais de entrada de informações muito valiosos nas observações. Como vimos pelo depoimento dos jovens, a descoberta de formas, espaços, matérias e o fazer, proporcionaram uma experiência estética.

Suas experiências estéticas originaram-se na experiência do corpo no mundo. Vygotski nos mostrou que o que torna uma pessoa cega ou com baixa visão, deficiente, é sua exclusão da sociedade, do mundo cultural, do convívio com os outros. Notamos pelo discurso dos sujeitos da pesquisa que eles foram capazes de perceber, analisar e reordenar o mundo por meio das outras vias perceptuais que dispunham. Verificamos a importância do tato, e sua capacidade de criar uma enorme quantidade de vínculos com o ambiente, adquiridos por meio da experiência.

O tato no sistema de conduta do cego, e a visão no surdo, não desempenham o mesmo papel nas pessoas que vêem e escutam normalmente: as obrigações e funções do tato e da visão em relação ao organismo são outras: eles devem criar uma enorme quantidade desses vínculos com o ambiente – vínculos que nas pessoas normais recorrem a outras vias-. Daí é que vem a sua riqueza funcional – adquirida pela experiência – que, erroneamente, acreditavam ser inata própria da estrutura orgânica33 (VYGOTSKI, 1997, p. 77, tradução nossa).

Por meio das entrevistas e fundado no que foi percorrido durante os quatro anos de trabalhos no ateliê de artes, podemos notar que os jovens ampliaram a capacidade de retirar conhecimentos pelo sentido háptico. Respeitando o ritmo mais lento que requer a percepção pelo tato e retomando a importância da experiência como a possibilidade de que algo nos aconteça, como nos falou Larrosa (2004), que pede uma desaceleração, um gesto mais lento, os jovens cegos ensinaram a importância de viver o corpo no mundo e abriram caminhos para uma compreensão maior do estar no mundo.

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA 2004, p. 160).

Notamos os conflitos, as incertezas e inseguranças que podem trazer as questões da organização no espaço e sua importância fundante no desenvolvimento da pessoa cega. Como corpos que habitam o mundo, a percepção da forma por meio do sentido do tato depende das relações que faz o corpo no mundo.

Vimos com Paulo Freire que a construção do conhecimento é uma relação dialógica. Nas palavras dos sujeitos da pesquisa foi muito bom ter construído juntos, a experiência do ateliê de artes foi uma troca de conhecimentos.

Os jovens apresentaram a importância da educação espacial da pessoa com deficiência visual, e podemos notar que foi a experiência dentro do ateliê de artes,

33 El tacto en el sistema de la conducta del ciego, y la vista en el sordo, no desempeñan el mismo papel que en las personas que ven y oyen normalmente: las obligaciones y funciones del tacto y de la vista con respecto al organismo son otras: deben crear una enorme cantidad de tales vínculos con el ambiente – vínculos, que en las personas normales, recorren en otras vías-. De ahí proviene su riqueza funcional –adquirida en la experiencia- que erróneamente se tomaba por innata, propia de la estructura orgánica.

fundamentada por teóricos como Ballesteros, Bardisa e Gratacós, e outros citados no capitulo 2, que proporcionaram uma ampliação do conhecimento de si próprios, do conhecimento do outro e do mundo ao seu redor, além de serem ferramentas para o desenvolvimento autônomo, psicomotor e intelectual.

Valorizaram as experiências tidas como inacessíveis à pessoa cega, como o desenho e a pintura, o que nos faz retornar a Oliveira (2002) que afirma que mesmo a pintura sendo inacessível à pessoa que não possuí a visão, esta pode desfrutar da alegria de pintar. Citando Rona Shaw34 “para a criança cega o divertido [do ato de pintar] não está no produto acabado, mas sim no processo utilizado”.

Percebe-se pelo depoimento dos jovens que os quatro anos de trabalho no ateliê de artes foram uma construção de saberes e uma experiência coletiva enriquecedora. Conheceram o espaço, desenvolveram as habilidades de se locomover com segurança e usar os materiais com independência. Opinavam e influenciavam no desenrolar dos projetos. A construção dos projetos procurava refletir as inquietações e a necessidade de ampliação cultural e social de todos que ali participavam. A cada projeto, durante toda a sua evolução foi observado o que estava dando certo e o que não estava atingindo os seus objetivos. Os caminhos sempre eram incertos, por isso sempre foi incentivado o questionamento, a pesquisa, a curiosidade, a imaginação e a liberdade.

Deixaram claro que no projeto Lygia Clark, a proposta de “caminhar junto” com a artista, descobrir suas inquietações, e o modo de perceber o mundo foram uma grande oportunidade para a experimentação da sua poética. Mostraram que não foram meros observadores de sua arte, mas mergulharam nela. Apropriam-se e transformaram. Podemos perceber pela fala dos sujeitos que se tornaram pessoas “empoderadas” no sentido que Freire dá a essa palavra, de pessoa que realiza, que faz e assim se fortalece. Cada um se apropriou do conhecimento da arte e expressou de uma maneira única e particular. Nos depoimentos de Paula e Bruno notamos que foram muitos os projetos que os afetaram, que os fizeram refletir e transformar. O que nos leva a acreditar no papel da arte como força inventiva e criadora a ser explorada por todos os sentidos.

34 Rona Shaw. The Creative Arts, in Geraldine T. Schnoll et alii. Foudantions of Education for Blind and Visual Handcapped Children and Youth. Theory and Practice, p.392

Poetizaram o cotidiano, experimentaram e experienciaram a criação artística. Gratacós (2009) lembrou que os nossos sentidos estão conectados ao mundo exterior e que a integração destas percepções é o elo inicial para a construção das imagens mentais.

[...] será preciso despertar a experiência do mundo tal como ele nos aparece enquanto estamos no mundo por nosso corpo, enquanto percebemos o mundo com nosso corpo [...] se percebemos com nosso corpo, o corpo é um eu natural e como que o sujeito da percepção. (Merleau-Ponty, 2006, p. 278):

Merleau-Ponty esclareceu que toda percepção do objeto é também percepção do próprio corpo, portanto, os jovens ampliam a consciência de si ao ampliarem a percepção do mundo. Sendo a percepção o caminho da construção do conhecimento, construíram imagens mentais por meio das sensações, incorporando e formando representações internas do que lhes acontecia. Ao poetizarem o cotidiano fizeram emergir imagens poéticas vividas que eram os ruídos do passado incorporados ao presente que se abriram para o futuro. A poesia esteve presente em diversas atividades do ateliê nutrindo os espíritos. A poesia foi um facilitador ao sensibilizar o estar no mundo. Com ela refletiram, analisaram, reavaliaram. A poesia foi um abrir de portas para um estar mais sensível no mundo. O corpo como experiência do mundo, percebendo, assimilando e expressando o seu pensamento. A poesia iniciou e fechou o semestre de 2008. Ela foi a síntese de tudo que vivenciaram e afirmaram. “Numa imagem poética a alma afirma a sua presença”.

(BACHELAR, 2008, p.6).

Para Merleau-Ponty (2004) não há conhecimento do mundo que não se produz por meio do corpo. Para os sujeitos dessa pesquisa fica evidente que a experiência no mundo é também a experiência do corpo, e eles potencializaram suas capacidades de perceber e serem percebidos. “A percepção é a fusão entre o pensamento e sentimento que nos possibilita significar o mundo” (MARTINS 2010, p.107).

Estar desperto para o mundo é estar aberto a ele e a todas as transformações que possam surgir das relações estabelecidas entre o corpo, o mundo, o espaço, o tempo, a vida. “[...] o mundo está ao redor de mim, não diante de mim.” (MERLEAU- PONTY, 2004, p. 33). A experiência artística proporcionou aos sujeitos dessa pesquisa uma maior abertura para o mundo, para as possibilidades que se

apresentavam a eles. Ampliou seus relacionamentos sociais e contribuiu para que agissem como produtores de suas ações culturais.

A experiência pode abrir o mundo, pois o “homem está no mundo, é no mundo que ele se conhece” (MERLEAU-PONTY, 2006, p. 6). O homem agindo no mundo conhece-se e conhece o outro.

Considerações finais

O objetivo deste estudo foi o de compreender o significado da experiência de arte, ocorrida no ateliê, para os jovens cegos. O interesse foi verificar, a partir da percepção dos jovens participantes dessa experiência, o significado da arte em suas vidas. A questão norteadora, “a experiência artística pode ampliar o conhecimento do mundo dos jovens cegos?”, esteve presente em todas as etapas desta dissertação, sobretudo na reflexão sobre a análise das entrevistas em que os sujeitos discorreram sobre a experiência ocorrida no ateliê.

Consideramos que os objetivos propostos nesta pesquisa foram alcançados, por meio dos dados registrados e analisados, que contribuíram para esclarecer como as ações criativas desenrolaram-se durante as provocações propostas aos alunos. Nessa análise, pudemos verificar aspectos que ofereceram estranhamento e surpresas. Estranhamento por serem sempre um desafio a ser vencido, e surpresa pela descoberta de suas potencialidades.

A pesquisa mostrou que os jovens cegos tiveram acesso à poética da artista Lygia Clark, compreenderam sua proposta e foram capazes de inventar novas formas de expressão. Evidenciou-se o movimento evolutivo criado na ação expressiva que seguiu a própria evolução da artista. Se os primeiros trabalhos foram quase de montagem de um quebra-cabeça, os últimos foram marcados pela invenção, novas formas e encaixes. Por meio do discurso durante as entrevistas e algumas fotos do ateliê foi possível perceber a emoção da fruição artística por meio de gestos, davoz, da respiração que se alterava e do corpo que dançava. Havia um pulsar muito grande no momento da criação. Pode ser observado que o processo de exploração de materiais seguiu um ritmo evolutivo. Em um primeiro momento, na exploração das obras concretas, como a Composição nº5, foi necessário o incentivo à exploração e à descoberta de formas e materiais com os quais ela era feita. A partir dos casulos, a exploração tornou-se bastante curiosa e inventiva, e o ritmo do trabalho ficou bem mais acelerado. Além de estarem explorando as dobras do papel, também exploravam materiais que podiam facilitar o vinco e descobriam novas propriedades da matéria. Quando as obras tornaram-se mais orgânicas, elas forneceram um impulso adicional à imaginação, maior do que na exploração do espaço das primeiras obras. Conforme foram se desenvolvendo as propostas da artista, mais os jovens desvincularam-se do educador, no sentido de precisar de

incentivo para a exploração, e mais foram ficando íntimos do vocabulário e da poética da artista.

A aproximação do trabalho da artista Lygia Clark com as carências, necessidades e inquietações de nossos alunos mostrou-se muito frutífera, pela experiência que lhes foi propiciada de acesso ao seu universo. Surge, no entanto, a questão: foi a obra de Lygia que propiciou esse desdobramento, essa potencia de ações? Seria possível a construção de significados com outros artistas? Esse diálogo que foi construído entre os jovens cegos e a obra de Lygia pode ser ampliado para outras expressões artísticas?

Os depoimentos contidos nas entrevistas, dos jovens sujeitos dessa pesquisa, assinalaram momentos de descobrimento e também de incertezas na experiência do ateliê, nos quais surgiram dúvidas e questionamentos.

O ateliê trabalhava com projetos que eram propostos aos alunos. Assim, os alunos tinham que explorar as propostas, as ideias que surgiam a partir do projeto original; não eram apenas o livre fazer ou a livre expressão. O ateliê trabalhava com as idas e vindas que podem gerar uma discussão de um projeto apresentado para um grupo.

A análise das entrevistas permite afirmar que a experiência artística ampliou o mundo desses jovens. Cada um à sua maneira enfrentou suas dificuldades, seus temores, suas angústias e incertezas, criando um desejo de saber mais, de descobrir e inventar.

Cada um se apropriou do conhecimento da arte e expressou de uma maneira única e particular.

Para os jovens, a possibilidade de criar mundos, trabalhar em equipe e compartilhar saberes mostrou serem estas experiências enriquecedoras de suas vidas.

No capítulo 2, ao refletirmos sobre os materiais adaptados, apresentaram-se questões a serem estudadas com mais profundidade, relativas aos próprios materiais e ao acesso às obras de arte. Novos estudos acerca da melhor forma de se fazer materiais devem ser feitos, sempre buscando o referencial da pessoa cega, pois somente ela será capaz de indicar o melhor caminho para compartilharmos o conhecimento do mundo. Como elaborar materiais de arte que sejam significativos à pessoa cega? Que tipo de obra de arte pode e deve ser adaptada? Esse é, com certeza, um campo instigante que ainda tem muito a ser explorado.

Aprendemos, muito com Masini e Ormelezi a compreender como o cego percebe o mundo. Ler seus artigos e livros foi fundamental para que nosso modo de agir como professora de pessoas com deficiência visual fosse mais atento.

Merleau-Ponty nos conduziu a compreensão de que é por nosso corpo que compreendemos o mundo e que devemos estar atentos ao que percebemos do mundo para além da visão. Com Merleau-Ponty nos poetizamos. Procuramos respostas nas poesias, nas letras de música, nas obras de artes para as questões que seus textos nos provocavam. Ao nos poetizar foi possível sentir a alma vibrar e perceber os sussurros do mundo.

Modificamos nossa postura para um “estar entre muitos” que Mirian Celeste Martins sempre prega. O estar entre para buscar uma experiência estética, vivendo juntos intensamente nossas descobertas.

Adentrar ao universo da pessoa com deficiência visual por meio da arte constituiu um grande desafio. A aventura da construção do conhecimento junto com a pessoa com deficiência visual se apresentou como um dos maiores presentes que a vida nos ofereceu. Lygia Clark se mostrou uma grande companheira nesta viagem. Quando iniciamos nossa jornada, não conhecíamos profundamente suas obras e não sabíamos ao certo como e onde iríamos atracar. Foram os questionamentos levantados durante as aulas e as provocações de Lygia que instigaram a construção do conhecimento.

Buscamos diferentes teóricos para compreendermos o que seria a experiência, para entender que ela é aquilo que nos transforma que nos move para conhecer mais. Embarcamos junto com os alunos na nossa nau rumo ao desconhecido para compreender as suas experiências e deles saber pelo corpo, pelos sentidos. Aprendemos que para pessoa cega a experiência estética é multissensorial, que é através do sentido háptico que ela vai elaborando a sua compreensão de beleza, que não é a mesma beleza que a visão produz. São belezas distintas que temos que aprender a analisar e a refletir sobre elas.

Aprendemos a construir juntos conhecimentos, respeitar ritmos, desacelerar e observar. Tornamo-nos mais observadoras das texturas, formas, pesos, movimentos. Descobrimos nossas mãos curiosas, na busca de descobrir novos caminhos e ferramentas para poder compartilhar conhecimentos. O olhar se tornou mais atento aos detalhes e o vocabulário se aprimorou.

Cometemos enganos, e aprendemos com eles. Sofremos para conseguir sair da posição de professora para uma perspectiva de pesquisadora. Foi um desafio que nos instigou à busca de compreender quem é essa professora. Quem é essa pesquisadora? O que separa a professora da pesquisadora? Quais os atritos e ruídos que ofuscaram a construção do conhecimento na pesquisa? Como é o seu perceber e o relacionar? Quais são os recursos que auxiliam a construção do conhecimento junto aos alunos? O que provoca? O que instiga?

Chega-se ao final da pesquisa sobre a experiência da arte para jovens cegos com uma contribuição sobre o pensar arte e a pessoa com deficiência visual. Neste sentido, teríamos a dizer para professores que ensinar arte para as pessoas cegas é uma experiência enriquecedora que nos ofereceu abertura para uma experiência estética que abarcava todos os sentidos. A oportunidade de trabalhar com pessoas com deficiência visual nos enriqueceu como seres humanos, e nos ofereceu a oportunidade de perceber o habitar o mundo como agente de uma relação com o outro, criando oportunidades de refletir e de sair de nós para nos reconhecermos. A experiência dentro ateliê de artes para pessoas com deficiência visual, nos ensinou a perceber as pessoas não pelas suas imperfeições, mas pelas suas potencialidades. Acreditamos que o ensino da arte para as pessoas cegas é fundamental para compreensão do mundo e abertura para possibilidades que a vida apresenta. Lembrando que ensinar é uma construção conjunta onde “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. (FREIRE, 1996, p.23).

Espera-se que esta dissertação seja um estímulo a novas pesquisas e