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NATUREZA DO PROBLEMA E MÉTODO 3.1 Sobre o método

3.2. Local de realização da pesquisa

A pesquisa foi realizada em um hospital localizado em Brasília, D.F, que é referência para o tratamento do câncer na região; mais especificamente no setor de hemopatologias

graves, onde estão localizadas as enfermarias pediátricas em que as crianças se encontram internadas para tratamento da doença.

O setor é dividido em ambulatório, sala de procedimentos, inclusive quimioterapia, a sala da enfermagem, dos médicos, da psicóloga e três diferentes enfermarias para internação: uma reservada para os bebês e crianças muito pequenas, uma onde se encontram as meninas, e outra onde se encontram os meninos. Devido à faixa etária selecionada na pesquisa, de crianças de três a seis anos, a enfermaria destinada aos bebês não seria utilizada na realização da pesquisa, mas um dos meninos que participou da pesquisa ficou internado nessa enfermaria, apesar de já ter três anos completos.

O ambiente do setor é colorido e decorado de maneira a ser mais agradável para as crianças internadas e cada enfermaria recebeu como tema um personagem de histórias infantis. Possui também murais com fotos e bilhetes de outras crianças que já conseguiram a remissão da doença, uma fonte de esperança para pacientes e pais que ali se encontram.

3.3. Participantes

Inicialmente participaram da pesquisa cinco crianças que estavam no hospital para tratamento do câncer, quando a coleta de dados foi realizada. A participação de cada uma das crianças foi autorizada pelos pais ou responsáveis, no caso pelas mães, depois de ter sido explicado a natureza da pesquisa. Cada uma delas leu cuidadosamente o termo de consentimento de participação livre e esclarecida (anexo A) e assinou, recebendo então uma cópia assinada pela pesquisadora. As crianças também foram consultadas e concordaram em participar.

No entanto, duas das crianças que inicialmente fizeram parte da pesquisa não voltaram ao hospital na data prevista, em que estava sendo realizada a coleta de dados, tendo sido, por este motivo, retiradas da mesma.

Os participantes deveriam ter entre três e seis anos de idade, em idade pré-escolar. De acordo com a disponibilidade, das crianças que estavam no hospital e quiseram participar, foram selecionados dois meninos de três anos, uma menina de quatro, um menino e uma menina de cinco. As crianças foram selecionadas com o auxílio da equipe de saúde, que pôde indicar quais se encontravam em condições físicas para participar. Também ficou estabelecido que havendo piora no estado de saúde de uma das crianças selecionadas para a pesquisa, sua participação seria interrompida, temporária ou definitivamente, mas tal medida não foi necessária.

Quanto aos critérios utilizados para a exclusão de participantes da pesquisa, os bebês e crianças muito pequenas não foram estudados, porque qualquer tipo de estudo com crianças assim tão pequenas, numa situação em que se encontram fragilizadas e emocionalmente regredidas, deveria incluir a participação da mãe, constituindo um estudo com uma configuração diferente do proposto.

E, em relação às maiores de seis anos, não participaram da pesquisa por que, uma vez que as alterações desenvolvimentais próprias de cada grupo etário trazem mudanças evolutivas significativas e alteram a maneira como as crianças vivenciam o adoecimento e a hospitalização, seria necessário que crianças em idade escolar fossem estudadas separadamente. Em face da necessidade de fazer um recorte que possibilitasse um estudo mais preciso, optou-se pelas crianças menores, em idade pré-escolar.

Constava no projeto da pesquisa como critério de exclusão que as crianças que, na entrevista com os pais, apresentassem indicações de dificuldades no desenvolvimento emocional ou problemas psicológicos mais graves - como psicose, neurose ou comprometimentos orgânicos- prévios ao adoecimento e a internação seriam excluídas da pesquisa, uma vez que as questões pré-existentes ao adoecimento poderiam tornar difícil estabelecer exatamente quais as repercussões psicológicas relacionadas a este fator. No entanto, nenhuma das crianças selecionadas apresentaram nenhum tipo de comprometimento anterior ao adoecimento atual.

Duas das crianças inicialmente selecionadas para participarem da pesquisa foram excluídas da mesma depois de realizada a entrevista com suas mães e o primeiro encontro de brincadeira, um menino de três anos e uma menina de cinco. Elas deveriam ter retornado ao hospital para tratamento em uma data específica, mas por complicações em seu estado de saúde não estavam aptas a realizar quimioterapia naquele período, pois apresentaram redução nas defesas do organismo, tendo seu tratamento sido postergado para após sua recuperação. Como não voltaram ao hospital enquanto a coleta de dados estava sendo realizada, o material obtido com essas crianças ficou incompleto comparado com as demais, tornando quaisquer considerações a respeito de suas brincadeiras inconclusivas e impossíveis de serem confirmadas.

3.4 Instrumentos

Como primeiro instrumento, foi utilizada a entrevista semi-estruturada, realizada com as mães das crianças. Pretendia-se que a entrevista fosse realizada preferivelmente com ambos

os pais, juntos ou separados, mas houve disponibilidade apenas para que a mãe fosse entrevistada, pois eram elas que acompanhavam seus filhos na hospitalização, e os pais não poderiam comparecer. Dois dos pais chegaram a acompanhar as crianças durante alguns dos encontros de brincadeiras, mas ambos preferiram que apenas a esposa fosse entrevistada.

A entrevista semi-estruturada é um instrumento que permite ao entrevistado uma relativa liberdade para expor os conteúdos relacionados ao tema da entrevista, no caso a história da criança. Apesar de existir um roteiro de tópicos relevantes a ser investigados, o entrevistado dá o tom da entrevista, podendo contar sua história da maneira como achar melhor, numa conversa com o entrevistador. Já ao entrevistador cabe facilitar a comunicação, intervindo quando há bloqueio ou paralisação na comunicação, seja com perguntas que redirecionem o entrevistado a sua narrativa ou com intervenções compreensivas e de apoio que possam reduzir a angústia. O entrevistador também precisa indagar a respeito de verbalizações que não tenham ficado claras, e ao se aproximar o final da entrevista, de forma mais objetiva, dos pontos previstos no roteiro que não foram mencionados pelos pais (Ocampo, Arzeno & Piccolo, 1999).

O roteiro dessa entrevista foi desenvolvido de acordo com os objetivos da pesquisa, a fim de permitir uma compreensão da dinâmica familiar e história de vida das crianças que participam da mesma, servindo como fontes de dados complementares. O roteiro com os tópicos a serem abordados na entrevista se encontra no Anexo B.

O instrumento utilizado na coleta de dados com as crianças foi uma caixa de brinquedos individual e igual para cada uma das crianças. A proposta inicial era de que as crianças pudessem ser levadas para um setting com brinquedos variados, onde pudessem brincar juntas. No entanto, a equipe do hospital determinou que nem todas as crianças poderiam ter contato umas com as outras, ou com brinquedos manuseados pelas outras, por estarem com o sistema imunológico enfraquecido pela quimioterapia, e portanto, com risco maior de serem contaminadas por infecções diversas.

A caixa de brinquedos utilizada nos encontros com as crianças contém: papel branco, lápis preto e de cor, lápis de cera, tesoura sem ponta, borracha, cola, apontador, régua, massa de modelar de diferentes cores, tinta guache, papel colorido, família de bonecos, famílias de animais selvagens, famílias de animais domésticos, dois carrinhos, um barquinho, duas xícaras com seus respectivos pires, colherzinhas, panelinhas e comida de brinquedo, um mamadeira e cubos para construção, numa adaptação do material sugerido por Aberastury (1992).

Devido à natureza da pesquisa, com crianças hospitalizadas, foi incluído também uma maleta de médico de brinquedo, com termômetro, estetoscópio, frascos de remédio, martelo para medir os reflexos, e seringa. De acordo com Erickson (1984, apud. Ocampo, Arzeno & Piccolo, 1999) podem ser selecionados brinquedos em função das respostas específicas que provocam, relacionadas à problemática da criança.