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NATUREZA DO PROBLEMA E MÉTODO 3.1 Sobre o método

3.5. Procedimento para realização da pesquisa

Foi realizado, a princípio, um levantamento de dados sobre a rotina da enfermaria, com a ajuda da psicóloga responsável. Foram realizadas, então, duas visitas agendadas às enfermarias pediátricas, buscando a aculturação no campo e a adequação pessoal à sua rotina de funcionamento, e visando conhecer melhor as pessoas que ali se encontram diariamente. No entanto, o contato maior foi com a equipe de psicologia do setor, não havendo muita abertura por parte da equipe médica e de enfermagem, cujo contato com a pesquisadora foi bastante reduzido.

Tinha sido planejado um contato preliminar também com os pais e crianças, com o propósito de facilitar a identificação de possíveis participantes, além de diminuir possíveis resistências das crianças à situação de pesquisa, possibilitando que elas pudessem se acostumar à presença da pesquisadora na enfermaria. Mas isso não foi possível, devido às crianças estarem internadas em uma semana e depois apenas retornarem após um intervalo de duas, três ou até quatro semanas, de forma que a cada visita de aculturação, diferentes crianças se encontravam nas enfermarias.

A inserção da pesquisadora no campo foi de certa maneira facilitado pela instituição, acostumada a receber pesquisadores diversos, mas pelo mesmo motivo, acabou sendo limitada ou conduzida de acordo com certos moldes pré-estabelecidos. Em vez da seleção de participantes para a pesquisa ter sido feita depois de discussões com médicos, enfermagem e outros profissionais da equipe, a pesquisadora foi convidada a participar de encontros que acontecem semanalmente. Estavam presentes nessas reuniões a psicóloga, as estagiárias de psicologia, a pedagoga e alguns representantes da equipe de saúde. O comparecimento da pesquisadora nesses encontros foi necessário para melhor planejar a inserção da mesma na enfermaria sem alterar significativamente sua rotina de funcionamento. Ao participar da reunião, foi possível conhecer cada uma das crianças que estaria sendo internada naquela semana e fazer perguntas sobre a adequação da participação daquelas que se encontravam dentro do perfil procurado pela pesquisa.

A partir das crianças selecionadas nas reuniões de equipe, foi realizado um estudo mais detalhado dos prontuários a fim de identificar participantes para a pesquisa, com a ajuda da psicóloga da equipe, que por já conhecer as crianças internadas, pôde dar uma melhor indicação daquelas aptas a participar na pesquisa. O direito da criança à confidencialidade se estende também a todos os dados contidos nos prontuários consultados para que os sujeitos da pesquisa fossem selecionados. Uma vez que a instituição possibilita a pesquisadora o acesso às informações ali contidas, fica subentendido a responsabilidade da mesma em resguardá-las, apenas utilizando-as para fins de publicação de trabalho científico, com a devida autorização dos pais da criança ou responsável (Goldim, 1997).

O próximo passo foi o estabelecimento do rapport com a mãe ou acompanhante de cada uma das criança, tendo como objetivos explicar do que se trata a pesquisa e verificar se a pessoa responsável autoriza a participação do filho e a publicação dos resultados. Todas as crianças estavam acompanhadas de suas mães nesse primeiro contato, com exceção de um menino de 3 anos que se encontrava acompanhado de uma prima. No entanto, a própria prima imediatamente entrou em contato com a mãe da criança, que autorizou a realização da pesquisa e agendou uma data em que estaria no hospital para assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e para a realização da entrevista. A pesquisadora garantiu aos responsáveis a questão da confidencialidade/sigilo, e obteve com cada um deles o termo de consentimento livre e esclarecido, que consta do Anexo A deste trabalho.

Nesse momento, foi também explicado a cada uma das mães que seria realizada uma entrevista com os pais a fim de obter informações sobre a criança, no entanto apenas as mães se mostraram disponíveis a realização da entrevista. O dia e o horário da entrevista foi marcado cada uma das mães, explicando que seria desejável se ambos os pais pudessem estar presentes para participar. No entanto, os pais ou não podiam comparecer ao hospital ou não quiseram participar da entrevista, alegando ser melhor que apenas a mãe fosse entrevistada, “por saber mais sobre a criança”.

O estabelecimento do rapport com a criança foi realizado paralelamente ao estabelecimento do rapport com as mães, no primeiro contato da pesquisadora com o par, através de uma conversa informal, em que foi explicado também à criança a natureza da pesquisa, a questão do sigilo e perguntado se ela desejava participar. Essa conversa teve como objetivo, além de informar a criança sobre a natureza da pesquisa, começar a estabelecer uma relação lúdica e positiva com a mesma.

As crianças mostraram-se bastante tímidas nesse primeiro contato, mas quatro das cinco selecionadas inicialmente mostraram interesse ao saber que seria disponibilizada uma caixa de brinquedos com os quais elas poderiam brincar. A quinta criança, que se recusou a participar inicialmente, mudou de idéia e perguntou se poderia fazer parte da pesquisa ao ver a caixa de brinquedos, quando a primeira sessão de brincadeira estava sendo realizada com outro menino da mesma enfermaria.

A criança também precisa ser consultada à priori quanto à participação na pesquisa, por uma questão de respeito a sua privacidade. Por estar hospitalizada, já tem seu espaço invadido por todos aqueles profissionais responsáveis por prestar-lhe assistência, o que nesse caso é estritamente necessário. Mas no caso da realização de uma pesquisa, a criança precisa ser livre para aceitar ou não participar (Goldim, 1997).

Na data e horário previamente combinados, foi realizada uma entrevista semi-dirigida com as mães, a fim de colher dados sobre a história da criança, informações sobre a doença e a hospitalização, a percepção destas sobre o problema da criança, e todos os fatores da dinâmica familiar que pudessem estar influenciando o estado emocional e psicológico da criança. De acordo com a entrevista, se houvessem indicações de que a criança apresentava dificuldades psicológicas e de desenvolvimento emocional mais graves, prévias a doença e a internação, esta seria excluída da pesquisa, uma vez que este não é o foco que se pretende estudar. No entanto, esse não foi o caso de nenhuma das crianças que participaram.

Os quatro encontros, em que foi proposto o brincar, pôde ser realizado com três das crianças selecionadas. As outras duas participaram apenas de um encontro, mas depois não retornaram ao hospital enquanto a coleta de dados estava sendo realizada.A intervenção pelo brincar se deu por meio de uma caixa de brinquedos individual, oferecida à criança no leito hospitalar, com a instrução de que ela poderia brincar com o material ali contido da maneira como quisesse.

Como as crianças em questão muitas vezes se encontram imunodeprimidas, optou-se por levar a caixa de brinquedos até elas, no leito hospitalar, pois não seria aconselhável movê- las para outro local. Pelo mesmo motivo, para cada criança foi preparada uma caixa de brinquedos individual, de forma a não expô-la a nenhum risco de contaminação.

Uma caixa de brinquedos semelhante tem sido usada por Aberastury (1992) na psicoterapia infantil, com fins diagnósticos, na técnica chamada hora de brincadeira diagnóstica. A autora acredita que a criança, quando é levada a terapia, mostra, já na primeira hora, suas fantasias de adoecimento e cura, através do brincar, utilizando o recurso do

brinquedo como suporte às suas fantasias inconscientes. Acredita-se que o mesmo se dá na situação de hospitalização, ao ser disponibilizado à criança o material adequado e a possibilidade de brincar livremente.

A caixa de brinquedos foi oferecida às crianças já aberta, de forma que elas puderam ver o que tem dentro, de maneira a despertar nelas certa curiosidade acerca do material ali contido, e evitar ansiedade a respeito de seu conteúdo (Aberastury, 1992). Foi explicado a cada criança que ela poderia brincar com aquele material da maneira que quisesse durante uma hora. A pesquisadora buscou estabelecer um bom rapport, com a intenção de facilitar a brincadeira espontânea, mas tentou não interferir na brincadeira da criança, nem fazer interpretações. No entanto, foi possível perguntar a criança o que ela estava brincando, quando ela o fez silêncio ou a brincadeira não estava clara para a pesquisadora. Com uma das crianças também chegou a participar da brincadeira a pedido da mesma, mas desempenhando apenas as funções que a criança determinou, e da maneira que ela pediu.

As entrevistas com as mães foram gravadas e registradas em forma de relato, assim como as sessões de brincar com as crianças. O material de arte produzido pelas crianças durante as sessões de brincadeira foi identificado nomes fictícios, assim como os relatos das entrevistas e do brincar (Anexo C), a fim de preservar suas identidades.