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4 PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS NO IFCE: trajetória

4.1 Localização da área de estudo

A área escolhida para o presente estudo foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), criado em 29 de dezembro de 2008 pela Lei nº 11.892 que foi sancionada e promulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A criação do IFCE foi feita por meio da junção dos extintos Centros Federais de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET-

CE) e das Escolas Agrotécnicas Federais de Crato e de Iguatu, conforme o art. 5º, inc. VIII, da lei supracitada.

O IFCE é uma autarquia de natureza jurídica, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar, vinculada ao Ministério da Educação. Por ser uma entidade da administração pública federal, deve aplicar nas aquisições de gêneros alimentícios o percentual de 30% do PAA-CI, obrigatoriamente, desde janeiro de 2016 nos termos do Decreto nº 8.473/15. Atualmente, o IFCE é formado por um órgão de administração central, a reitoria – localizada em Fortaleza, capital do Ceará – e 33 Campi, conforme se vê na Figura 1, localizados nas seguintes cidades: Acaraú, Acopiara, Aracati, Baturité, Boa Viagem, Camocim, Canindé, Caucaia, Cedro, Crateús, Crato, Fortaleza, Guaramiranga, Horizonte, Iguatu, Itapipoca, Jaguaribe, Jaguaruana, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Mombaça, Morada Nova, Paracuru, Pecém, Quixadá, Sobral, Tabuleiro do Norte, Tauá, Tianguá, Ubajara e Umirim.

Figura 1 – Campi do IFCE

Fonte: site IFCE

Por ser uma instituição bastante grande, com vários Campi e em virtude do curto período de tempo para realizar a pesquisa, somada a dificuldade para conseguir afastamento

para a realização do mestrado, optou-se por fazer, como espectro territorial, um recorte entre os 33 Campi do IFCE, definindo-se a unidade do IFCE Campus Fortaleza, onde atuo profissionalmente desde 2008, e o Campus Acaraú, onde foram ministradas as aulas desse mestrado, como marcos territoriais de análise dessa pesquisa.

Assim, buscou-se realizar o estudo do Programa de Aquisição de Alimentos na modalidade Compra Institucional, por meio de uma avaliação qualitativa da política, utilizando- se de pesquisa de campo, de entrevistas e da participação vivenciada nos Campi escolhidos e fazendo uma comparação da implementação do PAA-CI nessas duas unidades referenciadas. Para isso, fez-se necessário entender um pouco da realidade de cada unidade escolhida, para se compreender as dificuldades vivenciadas em cada órgão em estudo, relatando-se o que segue.

4.1.1 O contexto do IFCE – Campus Fortaleza

Conforme dados disponibilizados no sítio oficial do IFCE, o Campus Fortaleza foi inaugurado em 1952, sendo chamado na época de Escola Industrial de Fortaleza, com endereço na Avenida Treze de Maio, nº 2081, do bairro Benfica, onde sempre foi a sede do IFCE. Esse

Campus é uma das maiores unidades do IFCE, dispondo de um grande volume de discentes.

Conforme o sistema IFCE em números, só em 2018, havia cerca de 2.681 alunos ingressantes, perfazendo o quantitativo total de 10.272 alunos matriculados (total em curso + total de egressos) em 64 (sessenta e quatro) cursos, nos níveis: básico, de graduação (tecnológicos, bacharelados, licenciaturas), de pós-graduação (especialização e mestrado) e técnicos. As principais atividades dessa unidade envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão, com foco na preparação dos alunos para o mercado de trabalho.

Nesse contexto, um dos benefícios oferecidos aos alunos do Instituto é o serviço de alimentação e nutrição, executado mediante a distribuição gratuita de alimentação aos discentes. Para esses alunos são oferecidas 3 refeições diárias, uma em cada turno letivo. Com a merenda escolar, o IFCE promove a alimentação escolar por meio de compras governamentais de alimentos, oferecendo uma alimentação saudável, auxiliando na conservação do estudante no ambiente educacional e contribuindo para a redução da evasão escolar, além de fortalecer circuitos locais, regionais e redes de comercialização ao adquirir os gêneros alimentícios para a merenda escolar diretamente de produtores e agricultores locais. Além dos alimentos necessários para a elaboração da merenda escolar, também são adquiridos gêneros como café e

açúcar para atender a demanda anual do café servido na administração – esses são todos os gêneros alimentícios adquiridos no Campus Fortaleza.

Para atender ao disposto no Decreto nº 8.473/2015, e com base na legislação correlata que trata especificamente da alimentação escolar, os cardápios devem ser elaborados por nutricionista, utilizando-se gêneros alimentícios básicos e buscando respeitar as referências nutricionais, os hábitos alimentares, a cultura e a tradição alimentar da localidade, pautando-se na sustentabilidade e diversificação agrícola da região, na alimentação saudável e adequada (art. 12, Lei nº 11.947/2009). Essas disposições corroboram com as finalidades do PAA de promover o acesso à alimentação das pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, sob a perspectiva do direito humano à alimentação adequada e saudável; de incentivar a agricultura familiar, promovendo a sua inclusão econômica e social, com fomento à produção com sustentabilidade, ao processamento de alimentos e industrialização e à geração de renda; e de fortalecer circuitos locais e regionais e redes de comercialização (art. 19, Lei nº 10.696/2003) – tendo em vista que adquirir alimentos pelo PAA, além de atender a alimentação saudável e sustentável, fortalece o comércio local e gera renda aos agricultores familiares.

Cabe destacar ainda que, no Campus Fortaleza, há uma Coordenadoria de Merenda Escolar responsável pelas aquisições de gêneros alimentícios, onde são processados os alimentos que fazem parte do cardápio da merenda escolar. Essa Coordenação possui toda uma estrutura de cozinha com fogões, geladeiras, utensílios de cocção e demais equipamentos necessários para que se produza uma alimentação de qualidade para os alunos da instituição.

Ocorre que, conforme se verificará na próxima seção, mesmo sendo um Campus bem estruturado e apresentando um quantitativo significativo de alunos, somente em 2019 foi efetivada o programa PAA-CI nessa unidade.

4.1.2 O contexto do IFCE – Campus Acaraú

Por sua vez, o Campus Acaraú iniciou suas atividades apenas em 2010, se posicionando como uma ferramenta para o desenvolvimento local da região do Baixo Vale do Acaraú. A cidade de Acaraú está situada numa região administrativa que é polo para pequenas cidades vizinhas, tais como: Bela Cruz, Cruz, Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Marco e Morrinhos. Dois distritos também compõem Acaraú, são os distritos de Juritianha e de Lagoa do Carneiro.

Segundo o IBGE (2019), o Acaraú possui uma população de 62.641 habitantes distribuídos em uma base territorial de aproximadamente 845 km², com densidade populacional

de 68,31 hab/km². No Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2014-2018, Prata et al. (2013, p. 14) destaca “[...] a expressiva quantidade de estudantes das zonas rurais dos municípios da região que Acaraú tem recebido, em decorrência da instalação de instituições educacionais voltados ao ensino técnico e superior [...]”, reiterando-se, assim, a posição de Acaraú como cidade-polo do litoral oeste cearense e a importância do Instituto para a região.

O PDI 2014-2018 enfatiza que, com a instalação de parques eólicos no município, houve um aumento do índice de empregabilidade, crescendo o número de empregos diretos e indiretos na região e reforçando os setores de comércio e serviços locais. Evidencia-se, do mesmo modo, no município, a produção e a comercialização de camarão criados em cativeiro, “[...] são 33 unidades de engorda (fazendas), um laboratório de produção de pós-larvas e quatro unidades de beneficiamento. A produção anual é de 7.060 toneladas de camarões, numa área de 886,28 hectares” (Prata et al., 2013, p. 14), sendo destaque também na região a pesca de lagosta. Tais fatos repercutem diretamente na maior demanda por profissionais qualificados na região.

Assim, o Campus surge com o objetivo de promover a educação profissional de qualidade e a formação de profissionais habilitados para atuarem nos setores da região que possuem algum potencial de crescimento, além de gerar para a comunidade local expectativa de uma melhora na qualidade de vida e desenvolvimento. Desse modo, buscando atender a demanda local, o IFCE enfatizou carreiras que respondiam as necessidades de mão de obra regionais, ou seja, os cursos abrangiam setores como os de: pesca, aquicultura, construção naval, serviços de restaurante e bar, meio ambiente, etc.

Quanto aos dados apresentados no sistema IFCE em números, esse indica que em 2018 havia no Campus Acaraú cerca de 437 alunos ingressantes, perfazendo o quantitativo total de 1.307 alunos matriculados (total em curso + total de egressos) em 19 (sessenta e quatro) cursos, nos níveis: básico, de graduação (licenciaturas), de pós-graduação (especialização) e técnicos. Além dos cursos de qualificação profissional, chamados de cursos FIC (Formação Inicial e Continuada).

Nesses termos, o Campus Acaraú, da mesma forma que o Campus Fortaleza, exerce atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão, com foco na preparação dos alunos para o mercado de trabalho. Contudo, em termos numéricos, observa-se que Acaraú é bem menor que Fortaleza, não apenas em quantidade de alunos e cursos ofertados, mas também nas questões estruturais.

Em Acaraú, não há espaço físico para o processamento de alimentos de merenda escolar para os alunos, apesar de contar com uma nutricionista no quadro profissional e de

oferecer aos alunos 3 refeições diárias, cada uma em um turno, como ocorre no Campus Fortaleza. Devido a essa falta de estrutura de uma cozinha – que existe apenas como laboratório para o curso de Restaurante e Bar – a merenda escolar se restringe a alimentos prontos ou já processados, ou seja, alimentos que não necessite de cocção ou qualquer alteração na sua constituição por meio de uma cozinha. Apesar dessas dificuldades, a merenda escolar é distribuída diariamente e é fator decisivo para a melhoria da saúde dos alunos, do rendimento da aprendizagem e da retenção escolar.

Não obstante todo esse contexto mais restrito, o IFCE Campus Acaraú vem implementando o PAA-CI desde o primeiro ano de vigência da lei. Ou seja, há contradição entre o Campus Fortaleza – bem estruturado, com todas as oportunidades de implementar o PAA-CI e que não o fez – e Campus Acaraú – que, apesar das dificuldades, efetivou o programa desde o início. Para melhor perceber essa contradição, é importante compreender a trajetória institucional do PAA-CI no IFCE, o qual se apresenta a seguir.