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4 PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS NO IFCE: trajetória

4.3 Sujeitos responsáveis pela efetivação do PAA

Tendo por base a compra e venda de produtos agrícolas para a implementação do programa, é necessário que se compreenda que existem dois polos nessa relação de consumo – o que compra e o que vende os gêneros alimentícios da agricultura familiar. Pode-se, desse modo, definir como sujeitos que estão no polo ativo da relação – os que vendem – agricultores familiares, empreendedores familiares rurais e demais beneficiários que atendam aos requisitos previstos no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, além das cooperativas e outras organizações formalmente constituídas como pessoa jurídica de direito privado que detenham

a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) – DAP Especial Pessoa Jurídica ou outros documentos definidos por resolução do GGPAA.

Já no polo passivo estão os que compram ou recebem os produtos nos termos do Decreto nº 7.775/2012, são eles: a) as unidades recebedoras que são as organizações formalmente constituídas, contempladas pela unidade executora, que recebem os alimentos e os fornecem aos beneficiários consumidores, conforme definido em resolução do GGPAA; e b) os órgãos compradores que são os órgãos ou entidades da administração pública, direta e indireta, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, representados por servidores públicos que atuam na execução da vontade do Governo por meio dos atos administrativos.

4.3.1 Polo passivo – comprador – IFCE

A administração pública funciona por meio de seus agentes públicos, que praticam os atos administrativos necessários para o funcionamento do Estado. Assim, dentro da administração existem alguns sujeitos de suma importância para o sucesso da implementação das políticas públicas. No Programa de Aquisição de Alimentos, os principais agentes são os gestores/administradores, os nutricionistas e os assistentes em administração que formam a Comissão Conjunta Especial de Compras da Agricultura Familiar (CCECAF).

A cadeia para a implementação do programa inicia-se com a definição do cardápio pelos nutricionistas. Para isso é necessário um levantamento prévio do que os agricultores, cooperativas e associações vendem, adequando-se a realidade da instituição à realidade das famílias produtoras. Em seguida, o pedido de aquisição vai para a realização dos procedimentos de chamada pública, divulgação e contratação dos agricultores e cooperativas. Tudo isso sob supervisão e organização dos gestores que devem conhecer as necessidades da Instituição, a obrigatoriedade das leis e as dificuldades e compromissos na implementação do programa.

Desse modo, o trabalho da CCECAF é: a) mapear os produtos da agricultura familiar disponíveis na cidade/região; b) formular o cardápio, com base no mapeamento realizado, e o cronograma de entrega dos produtos, considerando a vigência de fornecimento por 1 ano; c) fazer a cotação de preços com a obtenção de, no mínimo, 3 (três) valores para cada produto; d) elaborar o projeto básico; e e) enviar o processo para análise jurídica. Essa é a fase interna do processo.

A fase externa inicia-se com a divulgação da chamada pública por meio de publicações em jornal, site do IFCE, mural de aviso nos Campi, nas secretarias de agricultura

e nos demais meios disponíveis. Assim, a CCECAF deve, após a divulgação: a) receber os envelopes de habilitação e projetos de venda conforme edital da chamada pública; b) realizar a sessão pública com a divulgação em ata da relação dos projetos submetidos; c) analisar a documentação de habilitação e propostas; d) divulgar o resultado da análise das documentações por meio de ata em sessão pública; e) analisar as amostras; f) divulgar os resultados das análises das amostras por meio de ata em sessão pública; g) emitir o termo de homologação da chamada pública; h) realizar o cadastro da dispensa no sistema; i) emitir notas de empenho e j) formalizar os contratos, publicando os extratos no Diário Oficial da União (DOU).

Especificamente no caso do IFCE, os envolvidos na implementação do programa são: os administradores/gestores que iniciam o processo e que devem estar a par da obrigatoriedade das aquisições e da legislação, planejando o correto andamento do processo; as nutricionistas que formulam os cardápios de acordo com as necessidades dos consumidores (os alunos) e a disponibilidade dos fornecedores (agricultores familiares) e os demais agentes administrativos que executam os trâmites processuais.

Assim, para se compreender como foi a efetivação desse processo nos Campi em estudo, realizaram-se entrevistas com os principais servidores envolvidos na implementação do PAA tanto no Campus Fortaleza, quanto no Campus Acaraú. No subitem 4.4, discorrer-se-á sobre a fala desses agentes, contudo sem os identificar, sendo os entrevistados identificados apenas pelo nome gestor, seguido de uma numeração. A seguir apresentam-se os vendedores da agricultura familiar que estão no polo ativo.

4.3.2 Polo ativo – vendedores – agricultores, associações e cooperativas

O outro polo dessa relação de compra e venda são os agricultores, as associações e cooperativas que trabalham com a agricultura familiar. Sem eles, não adiantaria ter uma estrutura de compra organizada, pois seria necessário a existência de agricultores, de associações ou de cooperativas dispostos a vender, com os documentos necessários para apresentar na chamada pública e aptos a comercializar para a administração pública.

Apesar da chamada pública ser um processo mais simplificado que uma licitação, existem alguns requisitos burocráticos para a formalização do processo de compra, e algumas dessas formalidades são requeridas do agricultor. Uma delas é a necessidade de apresentação, no momento da habilitação, da Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP) pelo agricultor, associação ou cooperativa. Sem esse

documento, não é possível a participação dos agricultores e organizações nas chamadas públicas.

Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a DAP é um “[...] instrumento utilizado para identificar e qualificar as Unidades Familiares de Produção Agrária (UFPA) da agricultura familiar e suas formas associativas organizadas em pessoas jurídicas” (DECLARAÇÃO..., 2019). É por meio da DAP que o agricultor familiar tem acesso a diversas políticas públicas de incentivo à produção e geração de renda como, por exemplo, a linha de crédito do Pronaf.

A DAP tem validade de 2 (dois) anos e é um documento digital que pode ser autenticado pela internet. Atualmente, existem 3 (três) modelos de DAP:

DAP Principal: identifica e qualifica os responsáveis pela Unidade Familiar de Produção Agrária (UFPA) denominados Titular 1 e Titular 2.

DAP Acessória: identifica os jovens, com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos, filhos/filhas ou aqueles que estejam sob sua responsabilidade (DAP Jovem) e as mulheres agregadas a uma UFPA (DAP Mulher) e devem, obrigatoriamente, estar vinculada a uma DAP Principal. Importante não confundir a DAP Mulher (DAP Acessória) com a DAP emitida para mulher Titular 1 ou Titular 2 (DAP Principal), na condição de responsável pela gestão do estabelecimento (Titular 1) ou esposa, companheira, viúva de um dos titulares (Titular 2).

DAP Especial ou Jurídica: identifica e qualifica os empreendimentos familiares rurais organizados em pessoa jurídica (que possuem CNPJ), como associações, cooperativas e agroindústrias (DECLARAÇÃO..., 2019).

Ademais, podem ter o registro da DAP os agricultores familiares, os quilombolas, os pescadores artesanais, os silvicultores, os aquicultores, os indígenas, os extrativistas, os assentados da reforma agrária e demais beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF).

Realizado levantamento pelo site do MDA, constatou-se que atualmente em Fortaleza existem 8 (oito) DAPs para pessoas jurídicas, sendo que dessas apenas 6 (seis) estão ativas. Elas são compostas por 2 (duas) Cooperativas Centrais da Agricultura Familiar (que reúnem outras cooperativas e/ou associações) e por 4 (quatro) Cooperativas Singulares da Agricultura Familiar (composta por assentados, indígenas, extrativistas, agricultores, pescadores, etc. de diversos municípios do Estado do Ceará). Quanto às DAPs pessoa física, estão cadastradas no momento 294 DAPs em Fortaleza, das quais apenas 11 (onze) estão ativas. Assim, prevalece nesse município as DAPs de organizações, que reúnem agricultores espalhados pelos municípios do Estado. Essas cooperativas concentram a produção individualizada desses agricultores para vender na capital.

Já em Acaraú constata-se uma realidade diferente. Atualmente, existe uma única DAP pessoa jurídica válida, entre as 3 (três) que constam no sistema. Quando se pesquisam as

DAPs pessoas físicas, contudo, observa-se que de um total de 3.533 DAPs pessoa física, tem- se 1.105 DAPs ativas. Isso indica que os agricultores de Acaraú preferem trabalhar isoladamente, ou que ainda não se formalizaram em associações ou cooperativas.

Para verificar a realidade dessas categorias que trabalham com a agricultura e que vedem aos órgãos públicos, buscou-se realizar entrevistas com os grupos e pessoas que venderam para o IFCE, nos anos de 2016 a 2019 – no Campus Acaraú – e em 2019 – no Campus Fortaleza. Desse modo, apresenta-se a seguir análises dessas entrevistas, tentando-se extrair da fala dos sujeitos envolvidos os elementos de coerência e de dispersão do programa ao longo do seu trânsito pelas vias institucionais.