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5. CRITÉRIOS DE ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DO PAINEL DE

6.1 ATIVIDADES AGRÍCOLAS E RECURSOS HÍDRICOS

6.1.4 Média das perdas d’água por técnica de uso empregada

Para efeito de análise e aplicação do indicador proposto, serão consideradas neste estudo somente técnicas agrícolas voltadas para a agricultura irrigada, pois como já discutido, trata-se do uso de maior dispêndio hídrico na bacia do rio Preto.

Essa realidade é a mesma identificada em grande parte das bacias agrícolas do mundo. Aproximadamente 18% da área cultivada no mundo são irrigados, sendo responsável por 44% da produção agrícola. Com o advento e incorporação de novas tecnologias de melhoramento da produtividade agrícola, e a consequente otimização no consumo de recursos, com vista à maior obtenção de lucros, tem se proporcionado o uso mais eficiente da água e a progressiva redução proporcional dos riscos ambientais nestes sistemas.

A agricultura irrigada e os derivados alimentares da pecuária, segundo da- dos da FGV (2000), são os responsáveis pelo uso da maior parte da água captada dos mananciais. Estima-se que no Brasil cerca de 70% de todo uso das águas destina-se à irrigação e que o país possua um potencial irrigável de 29 milhões de hectares.

Conforme apontado por BORDAS & LANNA (1984), para se assentar ba- ses para uma ação eficiente, quanto à irrigação agrícola e a drenagem em nível nacional, é necessário que haja: 1) uma classificação dos solos para fins de irrigação e drenagem, baseada nas características hídricas dos mesmos; 2) melhor definição das necessidades hídricas de cada cultivo; 3) uma promoção de estudos de balanço hídrico em nível de bacia, microrregião ou, quando possível, de província hidrológica; 4) pesquisar tecnolo- gias de manejo da água e do solo que permitam aumentar o rendimento das lavouras; 5) promover estudos de metodologias que possibilitem a avaliação econômica dos benefí- cios e/ou inviabilidade.

Conforme o estudo realizado pela FGV (2000) que analisa a gestão dos re- cursos hídricos, segundo indicadores de sustentabilidade, ao se considerar o impacto ambiental da irrigação, deve-se conjugar esforços para a obtenção de dados capazes de permitir a quantificação das variáveis que indiquem os impactos derivados da inadequa- ção dos métodos ou do próprio uso da irrigação. Para tanto devem ser abordados: a mo- dificação do meio ambiente; o consumo exagerado de água; a contaminação dos recur- sos hídricos, a salinização do solo nas regiões semiáridas; a erosão dos solos, o assorea- mento dos corpos d'água; e a falta de controle no uso de fertilizantes, biocidas e seus reflexos nas questões de saúde-pública como, por exemplo, a contaminação dos manan- ciais de abastecimento público.

Segundo MOREIRA (1997), na agricultura irrigada ocorre, com muita fre- quência, um mau uso dos recursos hídricos, o que tem ocasionado como consequência perdas significativas de água desde a captação até o aproveitamento pela planta (Figura 24).

Figura 24 – Eficiência no uso da água para irrigação Fonte: CHRISTOFIDIS (1999).

Tal conjuntura se torna ainda mais preocupante se considerar a Figura 25 que demonstra a evolução das áreas irrigadas no Brasil. Segundo a figura as atividades agrícolas, que demandam volume de água, vêm crescendo desde o início da década de 1980.

Figura 25 – Evolução do uso da irrigação no Brasil (1950-2001) Fonte: CHRISTOFIDIS (1999).

No Brasil, os principais métodos de irrigação utilizados são: superfície (i- nundação e sulcos), aspersão (convencional, canhão, carretel), pivô central e localizada

45%

15% 25%

15%

Água efetivamente utilizada pela planta Perdas no sistema de distribuição Perdas na aplicação parcelar Perdas no sistemas de condução

1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Área Irrigada 64 141 320 545 796 1100 1600 2100 2332 2545 2590 2656 2756 2870 2950 3080 3113 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 S u p e rf íc ie I rr ig a d a (m il h e c ta re s )

(gotejamento e microaspersão). As considerações a respeito do método ideal devem retomar o que melhor se adequa à topografia, clima, tipo de solo e de cultivo, à disponi- bilidade e qualidade de água, mão-de-obra e custo necessário para manutenção do proje- to. Não existe um método melhor que o outro, o que existe é o método que garante me- lhor aproveitamento às condições fisiológicas da cultura e às físico-geográficas da área de cultivo.

De acordo com dados da EMBRAPA (2005b), verifica-se na bacia do rio Preto o predomínio da irrigação privada em relação à pública, do mesmo modo predo- minampivôs centrais de irrigação nos cultivos de milho, feijão e soja. Na região noro- este de Minas Gerais predomina a irrigação por aspersão, no sistema pivô central. Tabela 48 – Técnicas de sistemas de irrigação e estimativa de consumo de água na bacia do rio Preto

Sistemas de Irrigação

Irrigantes Área Irrigada Estimativa de Consumo Ligações % Hectares % L/s Pivôcentral 81 39.90 5974.00 84.38 10636,55 Aspersão convencional 60 29.56 607.00 8.57 831,54 Autopropelido 3 1.48 106.00 1.50 117 Localizada Gotejamento 10 4.93 131.1 1.85 105 Localizada Mangueira 2 0.99 2.00 0.03 1,85 Micro aspersão 4 1.97 38.50 0.54 34,65 Superfície sulcos 43 21. 18 221.00 3.12 419,37 Total 203 100.0 7079.60 100.0 12145,96 Fonte: Adaptado de ALVES (2003) e CARNEIRO (2007).

Um dos principais motivos para a baixa eficiência da irrigação é o fato de que grande parte das áreas irrigadas compreendem projetos, em que a maioria dos irri- gantes não assimila os princípios básicos da agricultura irrigada. Agravante maior ocor- re quando o projeto não é taxado, ou se é, a taxa tem valor irrisório em relação ao con- sumo.

As perdas identificadas durante a aplicação de águas referem-se, principal- mente, às relacionadas à evaporação e deriva promovida pela ação dos ventos. No sis-

tema de gotejamento as perdas não são tão preocupantes, mas no sistema de microasper- são, essas são consideráveis. As variáveis meteorológicas locais e as condições operaci- onais são determinantes das perdas por evaporação e deriva. A pressão dos sistemas é determinante, vez que influencia o grau de pulverização e, consequentemente, maior será a susceptibilidade ao arraste pelo vento.

Os aspectos fisico-geográficos devem ser considerados e associados, aos di- ferentes estágios de desenvolvimento biológico do cultivo e às condições do solo, para que se estabeleçaestimativas de perdas de água. A avaliação da técnica, empregada na apropriação e manejo da água em sistemas agrícolas irrigados merece maior atenção, a fiim de seutilizar um planejamento do aproveitamento, da otimização dos recursos e de minimização dos impactos ambientais.

a) Irrigação por Aspersão (Núcleo Rural rio Preto – Alto rio Preto)

b) Irrigação por Pivô Central (BR 251 – alto rio Preto).

Figura 26 – Sistemas de irrigação em operação na bacia do rio Preto SILVA, L. M. (org.).

Segundo COUTO (2011), todo método de irrigação, por algum motivo, per- de água ao ser aplicado, por evaporação, infiltração além da zona das raízes, escor- rimento no final da parcela, vazamentos e outras causas. A Tabela 49 apresenta os per- centuais de ineficiências dos métodos de irrigação mais utilizados em relação aos prin- cipais métodos e cultivos na bacia em estudo.

Técnica de Irrigação Perdas no Sistema (%) Inundação 60 Sulcos 40 Aspersão 20 Micro-Aspersão 15 Gotejamento 10 Fonte: COUTO (2011).

Perdas de água por vazamento, frequentemente, estão associadas às condi- ções de manutenção dos projetos. As perdas em sistema com boa manutenção variam entre 1-2%. Em sistemas com manutenção inadequada esse valor pode chegar a 10%. Grande parte dessas perdas ocorre nos acoplamentos de tubulação (MANTOVANI, 2008).

O monitoramento dos recursos hídricos em sistemas agrícolas não pode abrir mão de ponderar sobre a adequação das técnicas de irrigação às condições do solo e às fisiológicas do vegetal. A aplicação do indicador desperdício de água pode estar diretamente associada aos instrumentos de gestão dos recursos hídricos, sobretudo quanto às concessões de outorga de uso em bacias hidrográficas agrícolas, que precisa se fundamentar em informações concisas sobre esses sistemas. A fiscalização periódica da manutenção dos sistemas de irrigação, os estudos de adequação das disponibilidades hídricas e às técnicas de irrigação empregadas, devem estar no centro desses processos.