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5. CRITÉRIOS DE ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DO PAINEL DE

5.4 RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DO QUADRO MULTICRITÉRIOS

No intuito de avaliar e ordenar os diversos aspectos e variáveis que envolvem a gestão de bacias hidrográficas agrícolas, a partir de uma perspectiva metodológica do uso de indicadores ambientais, utilizou-se os procedimentos, descritos anteriormente, da Técnica Delphi. O presente capítulo apresenta os resultados desses procedimentos de avaliação e ordenamento dos diferentes níveis de critérios sugeridos aos Especialistas, assim como a construção do Painel de Indicadores resultante.

A sistematização do quadro multicritérios baseou-se no marco teórico e conceitual, mas também nos anseios dos Comitês de Bacia Hidrográfica que atuam na área de pesquisa. Pela análise das atas e do Plano Diretor de Bacia Hidrográfica, foi possível visualizar as questões que atualmente têm norteado as ações dos comitês, bem como os pontos em que era preciso maior sistematização de informações para embasar o processo decisório.

Foi solicitado aos especialistas que avaliassem um conjunto de critérios su- geridos para gestão de bacias hidrográficas agrícolas e suas respectivas unidades de me- dida. Como descrito no capítulo anterior, por meio da Técnica Delphi, os especialistas avaliaram os critérios sugeridos segundo sua importância no cumprimento dos objetivos a que se propõe. Para tanto, atribuíram Peso (3) para os critérios muito importantes, Peso (2) razoavelmente importante, Peso (1) pouco importante e Peso (0) para o critério não importante.

Dentre os especialistas participantes, 55% avaliaram os critérios sugeridos como muito importantes (Peso 3), 30% como razoavelmente importantes, 11% critérios pouco importantes (Peso 2) e 4% identificaram critérios com pouca ou sem importância (Peso 1 e Peso 0), sendo estes não convertidos em indicadores e, portanto, não incorpo- rados ao Painel final. Os valores obtidos conferiram aceitabilidade ao Quadro Multicri- terial por parte dos especialistas. Quanto aos pesos de seleção sugeridos, 85% dos espe- cialistas avaliaram os critérios como muito importantes ou razoavelmente importantes na gestão de bacias hidrográficas agrícolas.

Um total de 12,8% dos critérios apresentados teve sua aplicação reafirmada em sistemas agrícolas, com excelente avaliação por mais de 70% dos especialistas. Os critérios com maior aprovação foram: qualidade das águas; mananciais poluídos; adoção de medidas agroambientais; processos erosivos; consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas; e suporte técnico aos usuários das águas. A Tabela 37 apresenta os percentu- ais alcançados por cada um desses critérios.

Tabela 37 – Critérios com maior aprovação pelos especialistas

Critério %

Qualidade da água 79,5

Mananciais poluídos 76,9

Adoção de medidas agro-ambientais 76,9

Erosão 74,3

Consumo de fertilizantes e defensivos 71,7 Suporte técnico aos usuários das águas 70,2 SILVA, L. M. (org.).

Os resultados demonstram uma preocupação maior com critérios que infor- mam a perda da água em qualidade em detrimento da quantidade. Entretanto, critérios

importantes quanto às perdas quantitativas em sistemas agrícolas, como produtividade, desmatamento, consumo da água, tiveram boa avaliação, ficando posicionados, respec- tivamente, em 7º, 8º e 9º colocação30.

A retomada do uso dos pesos de seleção de critérios permitiu também pon- derar sobre os critérios com menor aceitação, reunindo os avaliados como de pouca ou nenhuma importância no processo sugerido. Um total de 15% dos critérios sugeridos se enquadrou como de baixa aceitação. Percentuais referentes a estes critérios estão lis- tados na Tabela 38.

Tabela 38 – Critérios de análise com menor aprovação pelos especialistas

Critério %

Espécies animais comprometidas 12,8 Participação de usuários em órgãos colegiados 12,8

Produtividade 10,2

Unidades de conservação 10,2

Grau de formação dos usuários da água 10,2 SILVA, L. M. (org.).

Em se tratando da abrangência espacial da bacia do rio Preto que, como co- mentado anteriormente, sobrepõe limites de dois estados e o Distrito Federal, a aplica- ção da Técnica Delphi procurou contemplar os desafios que envolvem a gestão de ba- cias. Nesse intuito, foi solicitado aos especialistas que, dentre os critérios apresentados pelo quadro, fossem elencados os que pudessem ser aplicados às bacias federais e, tam- bém, aqueles que de forma alguma se aplicariam a tal propósito.

Neste sentido, os indicadores que obtiveram maior aceitação foram: adoção de medidas agro-ambientais, mananciais poluídos, participação em órgãos colegiados, medidas de saneamento e unidade de conservação. A Tabela 39 traz o percentual dos valores alcançados por estes critérios e, na sequência, os que tiveram maior reprovação na tabulação dos resultados finais do processo (Tabela 40).

Tabela 39 – Critérios de análise de bacias federais com maior aprovação

Critério %

Adoção de medidas agro-ambientais 30,7

Mananciais poluídos 30,7

Participação de usuários em órgãos colegiados 30,7

Saneamento 30,7

Unidades de conservação 30,7

SILVA, L. M. (org.).

Tabela 40 – Critérios de análise para bacias federais com menor aprovação

Critério %

Qualidade física do solo 17,9

Erosão 17,9

Grau de formação dos usuários da água 17,9

Qualidade da água 17,9

Área agrícola 20,5

SILVA, L. M. (org.).

Em relação aos critérios com menor índice de aprovação para gestão de ba- cias hidrográficas agrícolas federais, critérios relevantes para esse fim obtiveram baixa aprovação, como qualidade da água, que pode diagnosticar anormalidades em padrões físico-químicos a montante dos pontos de coleta acenando para a necessidade de medi- das mitigadoras; o contrário para feições erosivas que, a jusante, podem comprometer quali-quantitativamente os cursos d’água.

Vale ressaltar que o fato do critério ter tido baixa aprovação por parte dos especialistas, não implica, necessariamente, na exclusão do critério da análise de bacias federais. No momento da escolha, um indicador pode ter sido avaliado como importante em detrimento de outro, o que não significa que esse seja menos importante, mas que melhor se adéque ao objetivo proposto. A não escolha de certos critérios pode, também, estar relacionada a relações complexas de gestão que envolvem sua aplicação, ou mes- mo ao desconhecimento da operacionalização da análise a partir de tal critério.

Percebeu-se certa resistência dos especialistas em apontarem como válidos os critérios indiretos à gestão dos recursos hídricos, ou mesmo estabelecer relações en- tre o critério e a amplitude de gestão de bacias hidrográficas. Diversos critérios não es- tão diretamente ligados ao gerenciamento dos recursos hídricos, mas indiretamente re- tratam a condição ambiental da bacia ou o suporte dado pela água à manutenção do sis-

tema ecológico que é uma unidade hidrográfica. Critérios como ‘espécies comprometi- das’ e ‘biodiversidade’ obtiveram baixa importância no quadro geral.

Segundo MAGALHÃES JR. (2007), as tendências internacionais no campo de gestão das águas têm mostrado uma crescente valorização e utilização de bioindica- dores, fato motivado por sua qualidade em sinalizar os reflexos cumulativos da poluição da água nas cadeias tróficas (op. cit.: 344).

Dentre os critérios sugeridos aos especialistas, alguns faziam referência aos componentes bióticos, flora e fauna, entendidos como componentes que estabelecem relação direta com elementos abióticos, dentre os quais a água. Critérios biológicos fo- ram sugeridos a fim de se intuir sobre a qualidade e situação de equilíbrio a que o sis- tema ambiental agrícola está submetido. A adoção destes critérios retoma a importância da água nos sistemas ambientais como elemento detector e “termômetro” de impactos diretos e indiretos de natureza humana.

Ao longo do processo, diversos participantes sugeriram modificações no Quadro Multicriterial. As sugestões coadunaram alterações acerca das unidades de me- dida, desmembramento e junção de critérios, que aprimoraram e reformularam o quadro final. Os critérios que mais sugestões receberam foram os referentes aos usos e conflitos pelo uso das águas, 34% das sugestões.

Na segunda etapa do Painel Delphi, após alterações nas definições dos crité- rios e em suas respectivas unidades de medida, os especialistas mantiveram a avaliação prévia, fato esse que não modificou a avaliação e análise final dos resultados obtidos, mas sim validou a construção do Painel de Indicadores.

5.5 Painel de indicadores para suporte ao monitoramento e gestão de bacias hidro-