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Mídia Ninja e juventude: corpos e afetos na disputa política e nas narrativas audiovisuais

Thiago Ferreira

“Não vai ter Copa! Não vai ter Copa!”. Gritos como esses ecoaram nas manifestações de junho de 2013 no Brasil, mas não apenas quem estava nas ruas os ouviram. Naquele mesmo período, emergiu a Mídia Ninja, produto colaborativo que se destacou na cobertura dos protestos daquele mês1, apoiado e inspirado pelo

coletivo Fora do Eixo2, levando esses gritos por diversos computadores ao redor

do mundo. Pretendemos aqui compreender como esse formato/rede tensiona e/ou se articula às formas expressivas da juventude e às maneiras contemporâneas de relação entre comunicação e política no Brasil.

Para isso, a analisaremos a partir das formulações de Grossberg (2010), autor dos estudos culturais – corrente teórica a qual nos afiliamos –, sobre política, e de Martín-Barbero (2009), em torno de sua proposta de um mapa noturno para a análise das mutações culturais. O primeiro nos faz problematizar a política, levan- do em consideração três pontos – Estado, corpos e vida cotidiana – e o segundo nos faz levar em consideração mediações que circundam a relação entre política, comunicação e cultura no contexto contemporâneo. Propomos uma articulação entre ambos, a fim de analisar a Mídia Ninja e as novas configurações políticas e culturais dos jovens brasileiros. Entretanto, antes de pormenorizarmos a articula- ção teórica-metodológica que fundamenta este capítulo, vamos citar a definição da Mídia Ninja, disponível no perfil deles no Oximity:3

1 Uma rápida busca no Google mostra 513 mil referências à Mídia Ninja, relacionando-a ao ano de 2013; críticas e reportagens em sites como o G1 e Observatório da Imprensa e em jornais como Folha de S. Paulo e O Globo.

2 O Coletivo Fora do Eixo é uma rede de coletivos culturais surgida no final de 2005, denominada dessa ma- neira por ter sido criada por artistas e produtores culturais de estados brasileiros fora do eixo Rio-São Paulo. Defende outras formas de produção cultural, colaborativas, e fazem críticas à monetarização nessas relações. Foi alvo de críticas em 2013, acusado de utilizar recursos dos editais em benefício do que seria uma cúpula do coletivo.

3 O Oximity é “uma plataforma global de notícias que provê notícias relevantes e de alta qualidade diretamen- te de cidadãos, jornalistas independentes, organizações e redes independentes de notícias, levando notícias à milhões de leitores em todo o mundo com base nos interesses de cada leitor”. Segundo eles, a equipe da plataforma “inclui um grupo diverso de pessoas de diversas nacionalidades, origens idiomáticas, profissionais e pessoais e uma missão comum de transformar o mundo em um lugar melhor”. Disponível em: <https:// www.oximity.com/content/about/us>. Acesso em: 21 ago. 2015.

Somos a Mídia NINJA – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. Uma rede de comunicadores que produzem e distribuem informação em movimento, agindo e comunicando. Apostamos na lógica colabo- rativa de criação e compartilhamento de conteúdos, característica da sociedade em rede, para realizar reportagens, documentários e inves- tigações no Brasil e no mundo. Nossa pauta está onde a luta social e a articulação das transformações culturais, políticas, econômicas e am- bientais se expressa. A Internet mudou o jornalismo e nós fazemos par- te dessa transformação. Vivemos uma cultura peer to peer (P2P),4 que permite a troca de informações diretas entre as pessoas, sem a presença dos velhos intermediários. Novas tecnologias e novas aplicações têm permitido o surgimento de novos espaços para trocas, nos quais as pes- soas não só recebem mas também produzem informações. Neste novo tempo, de redes conectadas às ruas, emergem os cidadãos multimídia, com capacidade de construir sua opinião e compartilhá la no ambiente virtual. Articulados, esses novos narradores fazem a Mídia NINJA.5

A definição citada acima revela de qual maneira a Mídia Ninja se insere nesse novo contexto midiático, em que a internet possui um espaço cada vez mais relevante. Em primeiro lugar, os realizadores desse produto se definem enquan- to rede, na qual circulam “narrativas independentes, jornalismo e ação”, numa relação com as redes e plataformas on-line. Além disso, convocam uma cultura colaborativa, peer-to-peer, argumentando que a sua forma de organização se estabe- lece com os participantes da rede sendo produtores e consumidores de conteúdo. Há ainda a crítica aos “velhos intermediários”, que não seriam condizentes com a “independência” da narrativa. Há uma aposta em se aproximar, portanto, com for- mas de organização, produção e consumo de conteúdo, características da maneira com que a internet tem sido desenvolvida no Brasil e em outros países ocidentais.

Analisaremos, a partir das convocações estabelecidas pela Mídia Ninja, quais mudanças e realidades econômicas, políticas e sociais da sociedade brasileira possibili- tam que ela exista e seja organizada desta maneira. Mais especificamente, nos debru- çaremos sobre sensibilidades da juventude, que é convocada por esse produto, além de observar as articulações com especificidades dos meios digital e televisivo. Exemplos disso são a cobertura ao vivo através de planos-sequência, com imagens suas sendo aproveitadas em telejornais como o Jornal Nacional e o Jornal da Globo. Como não têm edições, analisamos as coberturas salvas em arquivo e disponibilizadas nas diferentes 4 Peer-to-peer significa “ponto a ponto”. Nessa forma de organização da internet, há o compartilhamento entre

dois pontos, onde cada um deles funciona tanto como cliente quanto como servidor. 5 Disponível em: <https://ninja.oximity.com/partner/ninja/about>. Acesso em: 21 ago. 2015.

redes sociais em que a Mídia Ninja tem perfil e outras veiculadas por usuários. Mais especificamente, três realizadas entre 2013 e 2015.6

Mídia Ninja, juventude e as formas mestiças de comunicação

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