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Novos ambientes, circuitos e circulação: regulação, disrupção e adaptação

No âmbito das pesquisas sobre a midiatização, priorizamos a análise de constituição social de espaços agonísticos, de disputas entre diversos protagonistas e antagonistas, o que vem permitindo a compreensão da circulação em redes digi- tais de forma específica. Trata-se, funcionalmente, de um ambiente no qual vários interlocutores são emissores e receptores, de forma simultânea (o que está dito por vários autores). A análise desses circuitos-ambientes indica que os modelos lineares de interação e circulação discursiva são precários. Por quê? Tais circuitos potencializam a problemática da defasagem, na medida em que a não linearida- de entre lógicas de produção e de recepção identificada nos circuitos ambientes “canônicos” (conforme esquema de Verón, acima apresentado), se multiplica em uma matriz complexa em que diversos produtores e receptores são simultânea e sucessivamente situados como tentativas de lógicas nas interações (ou, mais preci- so, de interpretação, de percepção e leituras).

Esses novos ambientes-circuitos requerem novos diagramas para elucida- ção dos campos “de luta” decorrente de diferenças que são neles constituídas e os constituem, que emergem da proliferação de defasagens (semióticas, de língua, linguagem, usos de técnicas e tecnologias), entre as quais as relativas aos meios de comunicação sociais – o amor, o ódio, a luta pelo conhecimento, pelo reconheci- mento em torno de desejos, necessidades, individuais e grupais etc. Eventualmente são constituídos espaços de negociações, de contratos entre os diferentes. O primei- ro contrato ocorre na esfera dos usos aos dispositivos tentativos, até os consolidados, que definem tempos e espaços de interação.

Esses circuitos não pré-existem. Os diagramas sobre esses ambientes e circui- tos enquanto espaços midiáticos de circulação podem ter variadas formas, ao con- trário de um modelo abstrato sobre os processos midiáticos, como o apresentado na Figura 1, acima, ou aquele que define relações possíveis, quase concreto-abstratas, entre atores, instituições midiáticas e midiatizadas abstratas. Aqui, as relações quase concreto-abstratas dos esquemas gerais são alimentadas pelas abstrações-concretas

das nomeações, visíveis num campo de observação, e que permitem – viagem inver- sa – observar novas relações gerais a partir do conceito de circulação/midiatização. Apresentamos ilustrações e descrições a partir de pesquisas que orientamos. Esses dia- gramas são configurados acentuando diversos níveis de configuração dessas matrizes. No nível mais simples, o diagrama identifica os atores, as instituições midi- áticas e midiatizadas que podem ser integradas a um ambiente-circuito construído como caso de investigação:

Figura 2: Circuito-ambiente construído para análise das interações acionadas por atores, instituições midiatizadas e midiáticas em torno da pesquisa eleitoral

Fonte: Vernieri (2015).

Outro movimento é o de identificação de diferenciações e distinções sim- bólicas, construídas em interações em processos midiáticos, em que diversos meios simbólicos sociais são reconstruídos e disputam objetos compartilhados. Esse mo- vimento acentua, portanto, as interações entre os diferentes, as distinções, cons- truídas socialmente, em processos midiáticos. Uma ilustração pertinente para esse movimento analítico são as figuras desenhadas por Fassini (2015), sobre os espaços de interações em que se situam os veganos:

Figura 3: Interações observadas nas redes entre diversos protagonistas vinculados a diversas filosofias alimentares

Fonte: Fassini (2015).

Um terceiro movimento tem como campo de observação, os indícios, in- ferências e relações que integram os diferentes e distintos meios simbólicos de comunicação em uma determinada matriz semio-discursiva. Essa matriz não é zona compartilhada, como sugerem várias teorias da linguagem, do discurso e da comunicação. É uma matriz de percursos erráticos. Um faneron social. Espaço de transicionalidade e circulações diversas, com trajetos imprevisíveis. Citamos aqui, como ilustração, diagrama que construímos sobre as narrativas de pacientes com câncer de mama de próstata, em interação com instituições midiatizadas (do cam- po da saúde) e midiáticas:

Figura 4: Mapa narrativo construído em observações sobre interações em rede entre pacientes com câncer de mama e de próstata

Fonte: Ferreira (2015).

Os circuitos-ambientes são desenhados conforme rastro de interlocuções em torno de um determinado objeto que é tentado como símbolo de comunica- ção. Ou seja, cada circuito-ambiente é desenhado conforme o objeto de investi- gação. É evidente que nessas relações, o modelo linear de emissor-receptor fica mais complexo ainda, na medida em que cada lógica e contexto de produção produzem uma diversidade de lógicas de usos e apropriações em posições de recepção, que retornam enquanto produção, num infindável ciclo de interações. Várias perguntas podem ser feitas sobre as interações em curso nesses ambientes. Essas são perguntas de pesquisa.

Outros ambientes têm sido produtivo para pensar esses processos. Numa pesquisa sobre o caso do goleiro Aranha e a torcedora Patrícia Moreira, captura- mos interlocuções entre instituições midiatizadas (Grêmio, Santos, sites de órgãos da justiça e do campo econômico), instituições midiáticas (ESPN, Zero Hora, e outros jornais), atores individuais (em faces e blogs) e coletivos emergentes perante o acon- tecimento. (KAEFER, 2015) Sobre os games Bernardo (2015), a interlocução ocorre entre streamer, os jogadores de games e youtubers. Numa pesquisa sobre o caso Bruxa de Guarujá, o ambiente é desenhado pelas interações observadas a partir do site “noticioso” Guarujá Alerta, pela Folha de São Paulo, blogueiros e atores no Facebook. (BEHS, 2015)

Transformações das relações sociais pertinentes com o objeto so-

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