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Madame Satã, a “rainha” negra da boemia brasileira

No documento Além Do Carnaval - James Naylor Green (páginas 149-157)

Os artistas e escritores principiantes provavelmente precisavam proteger sua imagem pública, exposta aos comentários maliciosos de seus contemporâneos, mas nem todos os fanchonos boêmios escon- diam seus desejos sexuais do escrutínio público. Entre as várias figu- ras folclóricas que frequentavam essa área do Rio nos anos 30 estava Madame Satã, um afro-brasileiro que já havia matado mais de um ho- mem nas ruas da Lapa com o uso hábil de sua faca. Sua história, de certa forma, equipara-se à vida de muitos outros que migraram do in- terior e do Nordeste para o Rio de Janeiro nos anos 20 e 30. Porém, sob outros aspectos, ele se diferencia de outros homossexuais, por ter sido um bicha que buscou defender-se, por todos os meios necessários, contra seus agressores. Madame Satã jamais tentou esconder o fato de que gostava de sexo com homens. Ao contrário de Mário de Andrade ou outras figuras destacadas nas artes e nas letras, Madame Satã teve origem humilde e viveu uma vida modesta, sem guardiões dedicados a proteger sua reputação. Contudo, porque ele se tornou uma figura de certo modo folclórica, sua vida foi mais bem documentada que a de

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outros jovens observados pela investigação dos médicos e estudantes de criminologia nos anos 30, ou de incontáveis outros que desapare- ceram do registro histórico.

Madame Satã nasceu João Francisco dos Santos em 25 de feverei- ro de 1900, na cidade de Glória do Goitá, no sertão de Pernambuco, numa família de 17 filhos, entre homens e mulheres.51 Sua mãe, des-

cendente de escravos, pertencia a uma família humilde. O pai, descen- dente de um ex-escravo e filho da elite latifundiária local, morreu quando João Francisco tinha sete anos. No ano seguinte, com 17 bo- cas para alimentar, sua mãe entregou o menino para um negociante de cavalos em troca de uma égua. Num espaço de seis meses, João Francisco conseguiu escapar desse duro aprendizado, fugindo com uma mulher que lhe oferecera emprego como ajudante numa pensão que pretendia abrir no Rio de Janeiro. Madame Satã, mais tarde, reca- pitulou a mudança: “Fiquei com ela de 1908 a 1913 e a diferença en- tre Dona Felicidade e seu Laureano é que para ele eu tomava conta dos cavalos o dia inteiro e para ela eu lavava os pratos e lavava a co- zinha e carregava as marmitas e fazia compras no Mercado São José, que ficava localizado no Praça XV. Também o dia inteiro. E não tinha folga. E não ganhava nada. E não tinha estudo e nem carinho. E era escravo do mesmo jeito. Sem ter nada que uma criança precisa”.52

Com 13 anos, João Francisco deixou a pensão e passou a viver nas ruas, dormindo nos degraus das casas de aluguel na Lapa. Duran- te seis anos ele trabalhou em serviços esporádicos na vizinhança, des- de carregar sacolas de compras do mercado até vender potes e pane- las de porta em porta. Quando completou 18 anos, foi contratado como garçom em um bordel, conhecido como Pensão Lapa. As donas de bordéis, em geral, contratavam jovens homossexuais para trabalhar como garçons, cozinheiros, camareiros e também como eventuais prostitutos, caso um cliente assim o desejasse. Já que muitos desses jovens haviam adquirido certos maneirismos tradicionalmente femini- nos, supunha-se que eles podiam desempenhar tarefas domésticas com facilidade e eficiência e viver entre as prostitutas sem criar uma tensão sexual. Sua identidade marginalizada, cujos atributos de gênero

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constituíam-se de forma anômala, coexistia confortavelmente com as francesas, polacas e mulatas que trabalhavam nos vários bordéis que funcionavam na Lapa.

“Kay Francis”, outro jovem migrante de Pernambuco, adotara o nome e a personalidade da estrela americana após ter visto um de seus filmes no Recife em meados da década de 1930. Bastante efemi- nado e sem nenhuma instrução ou habilidade especial, ele relembra suas experiências quando procurava emprego ao chegar ao Rio no fim dos anos 30: “Eu precisava de um emprego, e meus amigos disse- ram-me para procurar Madame X numa casa de prostituição. Muitos bichas jovens trabalhavam nos bordéis em toda a Lapa e no Mangue. Eles limpavam e cozinhavam. As madames gostavam deles porque não estavam interessados nas prostitutas. Quando Madame X olhou para mim, disse que eu era um garoto bom demais para trabalhar com ela, e me mandou para uma família que me deu um emprego como criado da casa, então eu nunca trabalhei num puteiro nem me tornei um prostituto”.53

Kay Francis foi mandado embora da Lapa para evitar ser corrom- pido pela má influência do local. João Francisco, contudo, permane- ceu lá entre as ruas tortuosas, os edifícios de um ou dois andares com seus amplos portais e uma colmeia de quartos e apartamentos, além dos bares de esquina onde os homens se reuniam para beber cerveja e cachaça. Nesse meio, o jovem João Francisco tornou-se um malan- dro e um prostituto eventual. Em O último malandro, Moreira da Sil- va define o malandro como “o gato que come peixe sem ir à praia”.54

Já um antigo garçom de um bar da Lapa descreveu o tipo em termos mais floreados: “Malandro de antigamente, malandro autêntico, era homem até certo ponto honesto, cheio de dignidade, consciente de sua profissão. Vivia sempre limpo, usava camisa de seda-palha com botões brilhantes, gravata de tussot branco e sapatos com salto carra- peta. Na cabeça, chapéu panamá de muitos contos de réis. Os dedos cheios de anéis”.55 O próprio João Francisco definia o malandro como

“quem acompanhava as serenatas e frequentava os botequins e ca- barés e não corria de briga mesmo quando era contra a polícia. E

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não entregava o outro. E respeitava o outro. E cada um usava a sua navalha”.56 No Rio de Janeiro, onde o desemprego era elevado e a po-

breza disseminada entre as classes mais baixas, o malandro sobrevivia praticando o jogo, a prostituição, a cafetinagem, roubando, compondo sambas ou aplicando eventualmente algum golpe. Sua imagem suge- ria masculinidade e virilidade. Sua arma, a navalha, estava sempre pronta para selar o destino de alguém que ofendesse a sua honra, o enganasse no jogo ou traíssse sua confiança. O malandro tornou-se um personagem tão forte na imaginação popular brasileira sobre o Rio de Janeiro que é figura obrigatória em todos os desfiles das escolas de samba no carnaval.

Embora João Francisco mantivesse a imagem do malandro viril quando frequentava a vida noturna da Lapa, ele continuava a traba- lhar na cozinha durante o dia. Em 1928, conseguiu emprego como ajudante de cozinheiro numa outra pensão, onde conheceu uma jo- vem atriz que se encantou com suas imitações de Carmen Miranda e de outras mulheres famosas.57 Por meio de suas conexões, ela conse-

guiu-lhe trabalho num show na Praça Tiradentes, onde se concentra- vam diversas casas de espetáculo. Ele obteve um papel secundário, em que cantava e dançava usando um vestido vermelho, com cabelos longos caindo sobre seus ombros. Sua carreira artística, contudo, foi abortada por um incidente que questionou sua masculinidade e criou em torno dele um mito que subverteu a imagem popular do homos- sexual passivo e indefeso.

Anos mais tarde, Madame Satã foi entrevistado por um jornalista que queria produzir uma versão romanceada de sua vida. Segundo seu relato, escrito nos anos 70, uma das noites após a apresentação João Francisco voltava para o seu quarto na Lapa.58 Era tarde da noite

e ele decidiu comer alguma coisa no bar da esquina. Enquanto toma- va uma cachaça e aguardava sua refeição, um policial local entrou no bar. Ao notar João Francisco vestindo uma fina camisa de seda, calças elegantes e sandálias, o guarda noturno abordou-o agressivamente.59

“Viado”, ele disse. João Francisco ignorou o nome, então o homem re- petiu. “Nós já estamos no carnaval viado?.” De novo, nenhuma respos-

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ta de João Francisco. “Estamos ou não estamos no Carnaval seu via- do?” João Francisco permaneceu em silêncio, e então o guarda apro- ximou-se dele e gritou: “Viado vagabundo!”. “Vim do trabalho”, João Francisco finalmente respondeu. O guarda noturno retorquiu: “Só se foi do trabalho de dar a bunda ou de roubar os outros”. E o ofensor foi aumentando a provocação, chamando o outro para a briga. João Francisco foi até seu quarto, próximo dali, e voltou com uma arma.

“O viado voltou?”, o policial desafiou. “Sua mãe!”, gritou de vol- ta João Francisco. “Vai apanhar”, o guarda ameaçou. “Tenta”, respon- deu João Francisco. “E vai dormir no Corpo de Segurança.” “Com a sua mãe”, respondeu João Francisco. Seguiu-se então a briga. João Francisco sacou a arma e matou o policial. Condenado a 16 anos de prisão, foi liberado após cumprir dois anos de pena, com base na ale- gação de que agira em legítima defesa. O incidente e o período que passou na prisão lançaram-no definitivamente na carreira de malan- dro. Sua fama como um matador inflexível de policiais, que não tole- rava desaforos, permitiu-lhe trabalhar “protegendo” bares locais me- diante o pagamento de gratificações. Sua fama também provocou muitos confrontos com a polícia, que o levou para o distrito policial mais de uma vez sob a acusação de ter atirado num oficial da lei. En- tre 1928 e 1965, ele passou mais de 27 anos na prisão.60

Embora projetasse uma imagem de durão, o nome que adotava, Madame Satã, denegria a associação tradicional do malandro com a masculinidade, evocando uma figura ao mesmo tempo misteriosa, an- drógina e sinistra. João Francisco recebeu esse nome quase que por acidente. Em 1938, alguns de seus amigos o convenceram a participar do concurso de fantasias do baile de carnaval no Teatro República, próximo da Praça Tiradentes. O acontecimento, promovido pelo gru- po de carnaval de rua Caçadores de Veados, era uma oportunidade para os homossexuais travestirem-se com roupas vistosas para as fes- tas de carnaval. Segundo Madame Satã, “Era realmente um desfile que atraía turistas de todas as partes do Brasil e de países estrangeiros. To- dos aplaudiam muito e as bichas concorrentes ganhavam prêmios bons e retratos em alguns jornais e iam ficando famosas”.61

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João Francisco criou uma fantasia decorada com lantejoulas, ins- pirada num morcego do Nordeste do Brasil, e ganhou o primeiro prê- mio — um rádio Emerson e um enfeite de parede. Várias semanas de- pois, ele foi preso junto com muitos outros bichas que andavam pelo Passeio Público, o parque adjacente à Cinelândia e que era ponto de encontro de homossexuais. Quando o escrivão da polícia pediu a to- dos os bichas que dissessem seus apelidos, João Francisco declarou que não possuía nenhum. Ele temia represálias por parte do policial que o prendera, caso o reconhecesse como malandro. Subitamente, o oficial lembrou que tinha visto João Francisco no desfile de fantasias durante o carnaval. Associando a fantasia com a atriz principal de um filme americano recentemente lançado, que fazia sucesso no Rio no momento e recebera o título em português de Madame Satã, ele per- guntou: “Não foi você que se fantasiou de Madame Satã e ganhou o desfile das bichas no República esse ano?”.62 E foi assim que João Fran-

cisco acabou sendo rebatizado.

Logo que os bichas presos com João Francisco foram soltos, a his- tória espalhou-se pela cidade. O apelido pegou, embora no início João Francisco tenha ficado incerto quanto à sua própria aprovação: “Eu não queria ter apelido de bicha porque achava que assim eu estava me declarando demais e bronqueei muito mesmo. Cheguei ao ponto de dar umas bolachas nos primeiros que me chamaram pelo nome de Ma- dame Satã. Mas isso só piorava a situação ... E então fui me conforman- do aos poucos. E mais tarde comparando o meu apelido com os ape- lidos das outras eu vi que o meu era muito mais bonito. E marcante”.63

Madame Satã projetava imagens múltiplas, aparentemente contra- ditórias. Ele se identificava como um malandro corajoso, disposto a lutar e até mesmo a matar para defender sua honra. Contudo, era um bicha autodeclarado. Num caso judicial, de 1946, quando Madame Satã foi preso por perturbar a ordem após ter sido impedido de entrar no Cabaret Brasil porque não estava vestido adequadamente, o comis- sário de polícia fez uma descrição detalhada do infame viado: “é um indivíduo de estatura modesta e aparenta gozar de boa saúde. É co- nhecidíssimo na jurisdição desse DP, como desordeiro, sendo frequen-

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tador contumaz do Largo da Lapa e imediações. É pederasta passivo, usa as sobrancelhas raspadas e adota atitudes femininas alterando até a própria voz. Entretanto é um indivíduo perigosíssimo pois não cos- tuma respeitar nem as próprias autoridades policiais. Não tem religião alguma. Fuma, joga e é dado ao vício da embriaguez. A sua instrução é rudimentar. É solteiro e não tem prole. É visto sempre entre pede- rastas, prostitutas e outras pessoas do mais baixo nível social”.64 Em-

bora Satã não usasse pó de arroz e ruge, como Zazá e tantos outros bichas, ele pinçava suas sobrancelhas, sugerindo uma aparência femi- nina. E embora o comissário de polícia estivesse enganado quanto ao seu hábito de jogar, ele de fato captou a combinação enigmática da imagem de Madame Satã como um “pederasta” com voz “alterada” e sua reputação como um dos criminosos mais perigosos do Rio.

Satã orgulhava-se de sua habilidade de manejar uma navalha e vencer uma luta, duas marcas da bravura e virilidade de um malandro. Contudo, ele admitia abertamente que gostava da penetração anal, um desejo sexual que era estigmatizado socialmente e que constituía a an- títese da masculinidade representada pela cortante lâmina da navalha. Enquanto o respeito popular geralmente dedicado a um malandro es- tava ligado à sua potência, masculinidade e sua disposição para mor- rer por sua honra, Madame Satã simplesmente contradizia o estereó- tipo. Ele tinha consciência do desconforto que sua personalidade provocava, especialmente entre os homens que o chamavam para a briga:

Eles não se conformavam com a minha valentia, porque eu era ho- mossexual conhecido. Achavam que não podiam perder para mim e por isso estavam sempre querendo me provocar e me bater. Por outro lado, os jornais davam muito mais destaque para as minhas façanhas exata- mente pelo mesmo motivo de eu ser homossexual. Mas o que devia fa- zer? Tornar-me um covarde só para satisfazer as pessoas deles? Deixar que fizessem comigo o que faziam com as outras bichas que viviam apa- nhando, e eram presas todas as semanas, só porque os policias achavam que as bichas deviam apanhar e fazer a limpeza de todos os distritos? E de graça. Não, eu não podia me conformar com a situação vexatória que

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era aquela. Eu achava que ser bicha era uma coisa que não tinha nada demais. Eu era porque queria, mas não deixava de ser homem por cau- sa disso. E me tornei bicha por livre vontade e não fui forçado pelos outros.65

Muitos temas diferentes estão combinados nesse depoimento. Ma- dame Satã claramente se identificava como bicha, um homem que “funcionava” como uma mulher na cama: “Comecei minha vida sexual aos 13 anos, quando as mulheres da Lapa organizavam bacanais dos quais participavam homens e mulheres e bichas. Com essa idade de 13 anos eu fui convidado para alguns, e funcionei como homem e como bicha, e gostei mais de ser bicha, e por isso fui bicha”.66 Ele não

apenas se identificava como bicha, mas orgulhava-se disso. Era uma prática comum para a polícia no Rio e em São Paulo perseguir os ho- mossexuais nas áreas do centro e detê-los durante várias semanas, de modo que pudessem usar seus serviços para limpar as delegacias de polícia. Ao contrário de outros bichas, que eram presos rotineiramen- te sob a alegação de estarem violando o Artigo 282 do Código Penal (ultraje público ao pudor) ou o Artigo 399 (vadiagem), de forma que a polícia podia exigir que desempenhassem tarefas domésticas nos distritos policiais, Madame Satã se recusava a submeter-se a tamanha humilhação e abuso. Sua atitude rebelde ultrajava seus inimigos e a polícia, e rendia assunto na imprensa precisamente porque ele não se adequava ao estereótipo padrão do homossexual.

Os mitos em torno das proezas e da valentia de Satã cresceram com o tempo, e o seguiram até a prisão, onde ele impunha grande respeito apesar de ser bicha.67 Um memorialista, relembrando a vida

boêmia da Lapa, contou outra história sobre o malandro negro e ho- mossexual, retratando-o como um super-herói invencível que não se submetia ao controle da polícia: “Contavam que cinco choques do So- corro-Urgente foram a Lapa, somente para prender Madame Satã. Mal o avistaram, um policial gritou: ‘Madame, entre no carro e não se coce, porque leva chumbo’. Ao que respondeu, calmo: ‘Mande buscar mais carros. Cinco, apenas, é pouco, para me levar...’ Tiveram de pedir so-

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corro e mais três choques. E, mesmo assim, Madame só foi levado para o xadrez, porque o amarraram num carrinho de mão...”.68

Madame Satã continuou rebelde e orgulhoso até a velhice. Um jornalista que o entrevistou nos anos 70 foi tomado pelo nervosismo ante a expectativa de encontrar a épica figura, e apenas conseguiu tratá-lo como “Madame”. “Você quer me ofender?”, inquiriu Madame Satã. O jornalista respondeu que não, e perguntou por quê. “Porque o meu nome é Satã. Madame é a sua mãe.”69

O que essa figura excêntrica tinha em comum com os milhares de homens jovens que frequentavam a Cinelândia no Rio de Janeiro ou outros espaços de encontros homoeróticos em São Paulo? Apesar da fama ao redor da personalidade criada por ele, Satã viveu e morreu como um homem pobre.70 Como Zazá e tantos outros que se susten-

tavam com a prostituição ou outros empregos mal-remunerados e tra- dicionalmente ocupados por mulheres, a pobreza e a marginalidade social relegaram Satã à Lapa, um bairro decadente e repleto de bordéis e bares. Satã, como Henrique e milhares de outros homens efemina- dos, só podia conseguir trabalho “legítimo” em pensões, bares ou bor- déis. Numa sociedade em que a família e as conexões pessoais eram as vias mais frequentes para conseguir um emprego, aos homosse- xuais, comumente segregados por seus parentes, não restavam muitas outras opções. Embora a vida de Madame Satã como um malandro o distinguisse da maioria dos outros pederastas do Rio e de São Paulo nos anos 30, o que tinham em comum era a livre aceitação de seus próprios desejos sexuais. E, como o homem que deflorou Zazá, ele transgrediu as pressuposições e associações de feminilidade e passi- vidade que supostamente definiam os bichas.

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