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3 Método

4.1 Análise do Grupo dos Profissionais de Saúde

4.1.2 Análise da Relação Estabelecida entre Profissionais de Saúde e

4.1.2.2 Manifestações Emocionais e Participação da Parturiente nas

De acordo com a Figura 2, as classes 1 e 2 encontram-se na mesma ramificação. Embora ambas tratem de aspectos da relação estabelecida entre profissionais de saúde e parturientes, a classe 1 está mais relacionada às reações que os profissionais relataram ter frente às manifestações emocionais da mulher em processo de parto, ao passo que a classe 2 retrata o relato dos profissionais quanto às reações das parturientes por não poderem escolher a via de parto. Essa classe também revela algumas decisões em que é permitida a participação da parturiente e outras das quais ela não pode participar.

4.1.2.2.1 Reação dos Profissionais à Expressão de Sentimentos pela Parturiente (Classe 1)

A classe 1 foi constituída por 67 UCE, representando 19% do total. Contribuíram para essa classe as UCE produzidas principalmente por profissionais que

trabalham na Maternidade A (31% das suas UCE foram classificadas aqui) e com idade entre 24 e 36 anos.

Tabela 8

Distribuição da Freqüência de Palavras Associadas Significativamente à Classe 1.

Palavra Freqüência χχχχ2 Paciente 42 6,8 Fazer 30 7 Gritar 19 56,6 Falar 19 44,3 Dor 17 36,6 Bebê 17 10,3 Ficar 17 4,7

A Tabela 8 apresenta as palavras mais importantes associadas à classe 1. A análise dessa classe permite compreender que tais palavras estão relacionadas aos comportamentos que os profissionais relataram adotar quando a parturiente expressa o que está sentindo na hora do parto por meio de gritos, e também diante de outras manifestações relacionadas à experiência de sentir dor. Essas palavras são identificadas nas UCE que representam essa classe.

Às vezes, quando a paciente se excede, a gente tem que tentar controlar. De um modo geral, quando a paciente está se alterando muito, a gente fala: a gente sabe que está doendo, isso aqui é parto normal, dói, todas as pacientes vão passar por essa fase, é a fase dolorosa, mas você tem que tentar manter o controle, tem que respirar, se ajudar e ajudar o bebê, não adianta ficar se contorcendo.(Médico, Maternidade A)

A palavra “gritar” é recorrente nessa classe e está associada à palavra “respirar”, revelando que, diante desse comportamento das parturientes, a conduta mais comumente adotada pelos profissionais dessa classe é orientá-las a respirar. A análise das UCE que representam essa classe também demonstrou que, diante de expressões de dor e desespero da mulher em processo de parturição, é comum os profissionais solicitarem que ela se controle, faça força, “se ajude” e se concentre no parto.

Outros comportamentos e atitudes menos comuns, mas que foram citados são: não impedir a parturiente de gritar, não gostar que ela grite, orientá-la, acalmá-la, falar para ela pensar de maneira positiva e falar em tom mais sério. Os profissionais da Maternidade B mencionaram ainda: fazer massagem, estimulá-la a tomar banho, fornecer medicação para relaxar, tocá-la e ficar por perto.

Por isso a analgesia é importante, porque se fosse com analgesia, ela iria ficar deitada, sem dor. Só que com a analgesia a paciente também tem que ter consciência que ela tem que ajudar, ela tem que fazer força. (Médico, Maternidade A)

A palavra “dor” também tem ocorrência importante nessa classe e está associada à palavra “analgesia”, indicando que o recurso da analgesia como forma de alívio da dor é o mais mencionado por esses profissionais, ainda que a Maternidade A não dispusesse do referido recurso para todas as mulheres no período em que foi realizado este estudo. Porém, conforme citado anteriormente, alguns profissionais informaram nas entrevistas que providências seriam tomadas visando disponibilizar a analgesia para todas as pacientes que não tivessem contra-indicações para o seu uso.

4.1.2.2.2 Participação da Parturiente nas Decisões Relacionadas ao Parto: Decisões em que É Permitida e em que não É Permitida a Participação da Mulher (Classe 2)

A classe 2 foi composta por 36 UCE, representando 10,2% do total, produzidas principalmente por profissionais pertencentes ao sexo feminino. Houve somente duas palavras significativamente associadas à classe 2: “vai”, que ocorreu com uma freqüência de 18 vezes (χ2 = 16,9), e “cesariana”, com uma freqüência de 17 vezes (χ2 =

80,6). A análise do conteúdo das UCE características dessa classe indica que ela está relacionada às possibilidades de escolha oferecidas às mulheres durante o atendimento na maternidade, conforme relataram os profissionais.

Às vezes acontece o contrário, a gente diz que vai precisar de uma cesariana e elas choram porque estavam querendo parto normal. De vez em quando, a gente precisa ser radical e dizer: precisa fazer cesariana por causa disso. A mulher vai saber por que, mesmo que a princípio ela não tenha gostado da decisão. (Médico, Maternidade B)

Na percepção dos profissionais que compõem essa classe, as parturientes costumam se decepcionar por não poderem escolher a via de parto, já que essa decisão depende de indicações médicas precisas. Em alguns momentos, segundo esses profissionais, a decepção ocorre porque a mulher gostaria de ter seu filho por parto cesáreo e não havia indicação para realizá-lo e, em outros momentos, porque tinha a expectativa de tê-lo pela via vaginal e necessitou realizar cesariana.

O acompanhante é a mãe quem escolhe. A gente dá também a opção de escolher a posição em que ela quer ficar antes do parto, a gente explica que ela pode ficar na bola, que tem o cavalinho, tem o banquinho para ela ficar acocorada, que ela pode caminhar. (Médica, Maternidade A)

Por outro lado, os profissionais de ambas as maternidades relataram que existem algumas possibilidades de escolhas que as parturientes podem fazer, como usar alguns instrumentos para mudar de posição durante o trabalho de parto e assim facilitar a descida do bebê, como o cavalinho26 e a bola suíça27, além de caminhar no período pré- parto e escolher quem será o seu acompanhante. Além disso, a Maternidade B possibilita à mulher optar pela sala em que ocorrerá o parto, a posição de parir e pelo tipo de cadeira obstétrica que pode ser utilizada.

A gente explica mais ou menos, diz que vai ser feita uma lavagem para na hora que o bebê nascer ela não ficar com vergonha, mas que se ela não quiser, não precisa. (Médica, Maternidade A)

Na Maternidade A, de acordo com os profissionais entrevistados, algumas práticas de assistência como a tricotomia e o enema são realizadas rotineiramente, ou seja, não é oferecida à mulher a possibilidade de decidir se quer ou não ser submetida a elas. No entanto, segundo esses profissionais, se a parturiente não quiser se submeter a esses procedimentos, deverá expressar sua vontade, a qual será respeitada.

Se a paciente não quer ser colocada no soro, a gente diz a realidade, o que pode acontecer se ela ficar muito mais tempo ali, que a dor vai ser a mesma se ela tiver um trabalho de parto espontâneo. (Médico, Maternidade A)

Em algumas situações, a mulher expressa sua vontade, e os profissionais tentam convencê-la de que sua escolha não é a melhor.