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3 Método

4.2 Análise do Grupo das Mulheres Assistidas

4.2.1 Análise dos Resultados do Tipo de Assistência Prestada ao

4.2.1.1 O Parto (Classes 2 e 4)

As classes 2 e 4 estão agrupadas na ramificação “O Parto” e referem-se ao relato que as mulheres fazem dos acontecimentos que cercaram o seu parto. Porém, cada uma dessas classes retrata aspectos diferentes do relato. Enquanto a classe 2 destaca a trajetória percorrida pelas mulheres desde a hora em que perceberam, em casa, os primeiros sinais do trabalho de parto até o parto e os procedimentos aos quais elas relataram ter sido submetidas na maternidade, a classe 4 ressalta a forma como as mulheres vivenciaram o transcorrer do tempo durante sua internação, assim como o fato de terem presenciado o processo de parto de outras mulheres também internadas. Além disso, essas classes foram produzidas por grupos diferentes de mulheres.

4.2.1.1.1 Vivência do Processo de Parto (Classe 4)

A classe 4 foi composta por 351 UCE, o que representa 53,1% do total. Contribuíram para essa classe as UCE produzidas fundamentalmente por mulheres com escolaridade superior ao ensino médio completo (63,1% das UCE produzidas por este grupo foram classificadas aqui), que tiveram acompanhante na hora do parto (56,8% do total de UCE) e eram casadas (55,7% do total de UCE).

Tabela 9

Distribuição da Freqüência de Palavras Associadas Significativamente à Classe 4.

Palavra Freqüência χχχχ2 Bebê 154 17 Ficava 95 3,4 Disse 67 9,1 Queria 56 18,3 Nascer 54 12,1 Ganhar Dia 44 41 9,7 5,3 Saber 38 5,3 Tempo 38 9 Lado 20 9,1 Menina 18 11,2

A Tabela 9 apresenta as palavras mais importantes associadas à classe 4, cuja análise revela sua relação com alguns acontecimentos que cercaram o nascimento do bebê, destacando-se a forma como as parturientes experienciaram o transcorrer do

tempo durante todo o processo de parto e de permanência na maternidade, assim como passar por essa experiência assistindo a outras mulheres que viviam o mesmo processo. Essas palavras podem ser identificadas nas UCE que caracterizam a referida classe, conforme os exemplos apresentados a seguir.

Se eu tivesse ficado ali o dia inteiro, com aquela funcionária falando que é assim mesmo, se a médica não tivesse vindo, se o meu marido não tivesse chamado, eu ficaria ali muito mais tempo. (Puérpera, Maternidade A)

De maneira geral, as mulheres parecem vivenciar o tempo de espera entre o início do trabalho de parto e o nascimento do bebê como um período demorado. O tempo transcorrido entre a internação na maternidade e o momento da alta também é vivenciado como um período longo e geralmente esperado com ansiedade.

A gente já vai para a maternidade com a preocupação de que, se der algum problema, eles vão forçar o parto normal até o último momento. Essa preocupação ficou na minha cabeça. A menina que ganhou bebê ao meu lado, estava com pressão alta, mas conseguiu ganhar o bebê pelo parto normal, ela tinha entrado um dia antes de mim e ficou bastante tempo em trabalho de parto. (Puérpera, Maternidade B)

As palavras “menina” e “lado” são recorrentes nessa classe e estão associadas, revelando que passar pelo processo de parir e de internação presenciando o processo de outras mulheres na mesma situação exerce uma interferência na maneira como as parturientes vivenciam a sua experiência na maternidade. Em muitos momentos, as parturientes tomam a experiência das outras parturientes como referência para saber se o que acontece com elas está dentro do esperado. Em outras situações, sentem medo de que possa ocorrer com elas também o que aconteceu com a mulher do lado. Identificou- se ainda a interferência, geralmente negativa, que a maneira como algumas parturientes expressam a experiência de sentir dor tem sobre elas.

4.2.1.1.2 A Trajetória até a Internação, o Papel da mulher e do Profissional no Parto (Classe 2)

A classe 2 foi composta por 152 UCE, o que representa 23% do total. Contribuíram para essa classe as UCE produzidas principalmente por mulheres que não tiveram acompanhante no parto, com escolaridade até o ensino médio completo e que foram atendidas na Maternidade A.

Tabela 10

Distribuição da Freqüência de Palavras Associadas Significativamente à Classe 2.

Palavra Freqüência χχχχ2 Dilatação 47 140,3 Dor 45 40,5 Fazer 43 8,5 Senti 40 9,9 Contração 33 81,5 Cheguei 27 61,1 Fizeram 26 25,7 Casa 25 27,4 Dedo 25 87 Comecei 24 32,9 Cesariana 23 6,2 Colocaram 23 28,6 Fiquei 22 5,5 Soro 18 38 Sala 18 22,5

A Tabela 10 apresenta as palavras mais importantes associadas à classe 2. A análise dessa classe aponta para a relação dos vocábulos acima com a trajetória percorrida pelas mulheres desde a hora em que perceberam, em casa, os primeiros sinais do trabalho de parto até o momento do parto na maternidade, bem como com os procedimentos aos quais elas afirmaram ter sido submetidas no período que antecede o parto e também com a maneira como elas percebem o seu papel e o dos profissionais de saúde no processo.

Eu comecei a sentir umas dores bem fortes de 10 em 10 minutos; daí eu resolvi ir para a maternidade. Eu cheguei lá na Maternidade A e quando eu fui atendida, eu só estava com cinco dedos de dilatação e não tinha como fazer o parto, porque a respiração do bebê já estava bastante cansada. (Puérpera, Maternidade A)

Eu ia para a maternidade e voltava. Quando eu chegava lá, eles me mandavam caminhar, mas nada adiantava e eu voltava para casa. Quando chegou a sexta-feira, eu fui para a maternidade às 11h e me mandaram caminhar, mas eu não tinha dilatação, eu tinha bastante contração, mas não tinha dilatação. (Puérpera, Maternidade A)

As mulheres entrevistadas associam as experiências de sentir dor e ter contrações como sinais importantes do trabalho de parto e que as levam a procurar a maternidade.

Quando chegou umas 4h, eu voltei na maternidade e me deram um soro para passar um pouco a dor, mas eu não tinha dilatação ainda. Eu voltei para casa e passei o sábado inteiro com dor, dor. Eu agüentei até umas 23h e voltei para a maternidade. Eu cheguei lá com três dedos de dilatação e bastante contração, daí eles decidiram me internar. (Puérpera, Maternidade A)

A palavra “casa” é recorrente nessa classe e está associada ao termo “voltei”, indicando que o momento mais adequado para procurar a maternidade parece não ser claro para as mulheres. É comum as gestantes chegarem à instituição e, apesar de estarem sentindo dores e contrações, não serem internadas, pois ainda não têm a dilatação suficiente do colo de útero para que o parto aconteça. Nessas situações, a mulher tem que retornar para casa e aguardar o momento certo de procurar a maternidade. Muitas vezes é na própria maternidade que as mulheres recebem a orientação sobre sinais mais precisos da proximidade da hora do parto.

Na maternidade eles fizeram de tudo para aliviar a dor, me colocaram na bola, no cavalinho, fizeram de tudo para ser parto normal, pois até então, o bebê estava encaixado. (Puérpera, Maternidade B)

A palavra “fazer” e a palavra “colocaram” são recorrentes nessa classe e referem-se sobretudo aos procedimentos realizados pelos profissionais, conforme os relatos das mulheres, desde o momento que chegaram na maternidade até a hora do parto, seja por via vaginal ou por cesariana. Dessa forma, as mulheres que compõem essa classe relatam que na maternidade, os profissionais “fazem” o parto, assim como manobras para aliviar a dor, a anestesia, o toque, a cesariana, entre outros procedimentos. As mulheres assistidas também relataram que os profissionais “colocam” o soro, bem como comprimidos na vagina para induzir o parto e a mulher posicionada na bola suíça e no cavalinho para aliviar a dor. Portanto, percebe-se que, mesmo nas situações nas quais a mulher tem um papel mais ativo, como o ato de parir e de adotar medidas para o alívio da dor, elas se percebem desempenhando o papel mais passivo, enquanto atribuem aos profissionais o papel mais ativo.

Eu fui colocada para tomar soro porque a minha bolsa não tinha estourado. Eu senti muita dor, eu gritava bastante e como a minha bolsa não estourava, eles a estouraram. (Puérpera, Maternidade A)

A palavra “soro” também tem uma ocorrência significativa nessa classe, ou seja, a utilização de ocitócitos para conduzir ou induzir o parto foi bastante referida por essas mulheres.

Eu cheguei lá na Maternidade B, fizeram o toque, mas eu estava com a mesma dilatação, só um centímetro. Eu voltei para casa, até que começou a me dar umas dores mais próximas umas das outras, e às 21h30, a bolsa estourou. (Puérpera, Maternidade B)

Os verbos “chegar”, “começar” e “ficar”, utilizados na primeira pessoa do singular e conjugados no passado também são recorrentes nessa classe e estão mais associados às ações em que o sujeito é a mulher. A análise das UCE revela que “cheguei” está associado “à maternidade”, enquanto “comecei” está associado a “sentir dor”, e “fiquei” ao tempo de espera da parturiente na maternidade até ter dilatação suficiente para parir ou para que a equipe de saúde decidisse realizar o parto cesáreo.