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Medidas estratégicas adotadas e a adotar

No documento OS VALORES DA GEOGRAFIA (páginas 145-149)

Despovoamento do Centro Histórico de Santarém: Uma Realidade, Um Desafio

3. Medidas estratégicas adotadas e a adotar

Em 2012, foi elaborada a Estratégia de Reabilitação Urbana do Planalto de Santarém que engloba grande parte do centro histórico e que se encontra inserida na Área de Reabilitação Urbana (ARU) do Planalto de Santarém. Dos vários objetivos descritos na estratégia é importante salientar a abordagem integrada para a resolução dos problemas do centro histórico aliada aos três pilares da sustentabilidade da Área de Reabilitação Urbana: Sociedade, Economia e Ambiente. Relativamente à Área de Reabilitação Urbana Ribeira de Santarém e Alfange abrange uma parte do centro histórico perto da Ribeira de Santarém e as intervenções urbanísticas a serem realizadas têm como principais preocupações a manutenção da população na Ribeira de Santarém e de Alfange e o património arquitetónico e histórico existente. Em relação ao centro histórico de Santarém foi criado, recentemente, pela Câmara Municipal de Santarém o Gabinete do Centro Histórico de Santarém. Uma das principais ideias é que a intervenção deverá ser planeada e integrada em diversas áreas de atuação: Centro Histórico, Património Cultural, Turismo e Reabilitação Urbana. O executivo municipal apresentou o Plano de Acão para o Centro

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Histórico de Santarém em março do presente ano. No âmbito do Plano foi criado um Portal do Centro Histórico, onde a população pode consultar a legislação afeta, bem como dar contributos online para a melhoria do centro histórico. Encontra-se já em funcionamento o Gabinete do Centro Histórico que pretende promover o apoio e o contacto com os munícipes. No âmbito deste gabinete, foi criado o Observatório do Centro Histórico, que vai acompanhar e monitorizar todos os planos a implementar, bem como recolher as informações necessárias à sua adaptação e às reais necessidades do centro histórico. Está também estipulada a realização de sessões participativas, com o objetivo de “discutir o próprio centro histórico”. Os eixos estruturantes do Plano de Ação são a consolidação urbana, o desenvolvimento sustentável, o empreendedorismo, a cultura, o património e o turismo. O carácter dinâmico da proposta e o princípio subjacente da governança são as ferramentas adequadas para um espaço urbano até então esquecido que precisa de medidas estratégicas e consequente monitorização, sendo no entanto necessária uma justa e equitativa repartição de respostas aos diferentes e por vezes inconciliáveis interesses dos atores do processo.

A importância da elaboração de uma estratégia assente nas sete componentes das comunidades sustentáveis é percetível, nomeadamente na governança, na mobilidade e conectividade, nos serviços, no ambiente, na economia, na habitação e na componente social e cultural. Portanto, é necessário articular estas diversas áreas para o desenvolvimento do centro histórico de Santarém coeso, atrativo, resiliente e dinâmico, uma vez que o despovoamento do centro histórico prende-se com questões ligadas à falta de dinamismo económico e social, de qualidade do espaço construído, de qualidade das ligações pedonais bem como da inexistência de uma rede de transportes articulada e ajustada às necessidades da população. De acordo com Luís Boavida-Portugal existe um conjunto de pressupostos que devem ser tidos em conta na reabilitação de um centro histórico nomeadamente “a preservação da integridade dos valores essenciais do património urbano; a estabilização da população residente (…); a permanência de atividades económicas e de emprego; a persistência de funções centrais; a manutenção de níveis de habitação; (…) a manutenção da qualidade ambiental urbana; o fomento da participação e diversidade de agentes; a necessidade de instrumentos de gestão territorial adequada” (Boavida-Portugal, 2004).

4. Conclusões

Em síntese, este tema é cada vez mais pertinente e atual, os “centros históricos” constituem um elemento central de uma nova sintaxe do espaço urbano (Peixoto, 2003). No planeamento territorial constata-se ser crucial utilizar os recursos dormentes nas áreas urbanas, combinando com uma abordagem flexível, estratégica e integrada. A “degradação física dos centros históricos é a face visível da desagregação urbana e a qualidade que cada cidade tem de reabilitar é a sua coesão, e isso não se resolve apenas com intervenções diretas, sobretudo se estas não corresponderem à implementação de uma política urbana centrada nesse objetivo” (Gonçalves, 2012). Cabe aos governos locais um papel decisivo no arranque de um processo de reabilitação urbana assente numa lógica integrada, flexível, rigorosa e

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estratégica. É necessário uma utilização inteligente dos recursos existentes bem como das caraterísticas singulares do território. Cada vez mais a cidade tem se ser vista como um sistema de redes interligado nas suas mais diversas componentes (área histórica, espaços verdes, equipamentos, infraestruturas, transportes, entre outros). Para além da necessidade de revalorizar o centro histórico através da reabilitação dos edifícios, da requalificação dos espaços públicos e da revitalização social e económica, é importante adotar uma estratégia para a dinamização e fortalecimento do papel da cidade de Santarém como uma cidade de média dimensão devido à sua posição estratégica, bem como o contributo para o equilíbrio da rede urbana.

A reabilitação urbana é um processo que integra componentes materiais como o edificado, o património, o espaço público e componentes imateriais como a governança, a inclusão da população na procura de soluções adequadas à realidade do território. Para tal, a governança deverá ser feita a vários níveis e assente num compromisso de co-responsabilidade entre os diferentes atores. A reabilitação urbana é um processo que deve ter uma abordagem multissectorial, integrada, coerente e coesa com outras políticas, ou seja, os processos de reabilitação podem levar a cabo outros processos de regeneração urbana tais como a requalificação dos espaços públicos, a revitalização económica e social. Os desafios deste processo consistem na conservação do património e na dinamização sociocultural. Tratando-se de uma oportunidade de inovação social e para a regeneração da cidade, permitindo uma maior atratividade demográfica, económica, financeira, cultural (Relatório Estratégico da Câmara Municipal de Santarém, 2013).

É crucial envolver na discussão em torno do presente, e do futuro, todos os agentes direta ou indiretamente interessados na reabilitação desta área da cidade, a começar pelos atuais residentes, deixando bem subjacente a importância da participação pública, sendo crucial vincular os cidadãos ao território de intervenção para eles se apropriarem dele, a criação de identidade facilita o processo de manutenção a posteriori da intervenção per si, potenciando consequentemente a satisfação da população (Queirós, 2007).

5. Bibliografia

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X CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA

Os Valores da Geografia

Lisboa, 9 a 12 de setembro de 2015

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Os territórios literários urbanos em Aquilino Ribeiro. O exemplo de uma

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