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Sustentabilidade cultural e a ribeira da Costa no Parque da Cidade de Guimarães: um estudo de caso

No documento OS VALORES DA GEOGRAFIA (páginas 90-93)

arquivos de memória ambiental

2. Sustentabilidade cultural e a ribeira da Costa no Parque da Cidade de Guimarães: um estudo de caso

Iniciada a sua 1º fase de construção em 1997, o Parque da Cidade de Guimarães, através dos seus 30 hectares repartidos entre a freguesia da Costa e de S. Romão de Mesão Frio, serve a população através de uma sinergia que une as reminiscências de um passado de teor agrícola e fundiário, a um tempo contemporâneo que responde ao lazer e prática de atividades de natureza desportiva num espaço verde de uso público, para usufruto da população vimaranense. O Parque da Cidade surgira advindo da implementação do primeiro Plano Diretor Municipal de 1994 cuja implementação ultrapassava a noção de um plano de ocupação do solo, introduzindo um critério de desenvolvimento económico e de um programa estratégico de intervenção municipal (M Frazão 2014, comunicação pessoal, 20 Novembro). É com a sua implementação que se consigna a área hoje consagrada como Parque da Cidade e não como área de expansão urbanística.

No Parque, o percurso da ribeira da Costa faz-se aparentemente de forma espontânea e entre pequenos muros de contenção constituindo-se um elemento essencial na criação de diversidade ecológica e paisagística. A ribeira preconiza oportunidades para o estabelecimento de fauna e flora, ao mesmo tempo

2 Princípio 1º do Plano de Ação formulado no Conferência Intergovernamental para o Desenvolvimento de Políticas Culturais,

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que justifica a existência de registos culturais de anteriores práticas da terra, de outros modos de produção da natureza, nomeadamente pelo valor que o curso de água representa para o estabelecimento agrícola e políticas de propriedade e gestão de recursos.

Do ponto de vista interpretativo, e perscrutando os usos e apropriações do passado pela identificação de registos de lugar, identificam-se traços e vestígios de memória tanto no espaço físico como nas narrativas biográficas das gentes que habitam e habitaram aquele território. Ao longo do percurso da ribeira são visíveis registos de muros e acessos anteriores à conceção do parque, cuja função, em paralelo com o arvoredo serviria para delimitar propriedades demonstrando o carácter fundiário do atual Parque da Cidade. No troço final do parque, antes do início da canalização da ribeira, integrados na Quinta da Azenha, são visíveis vestígios arquitetónicos do que em tempos seria uma azenha/moinho de água (figura 1). Da mesma forma é presente para o visitante, um antigo caminho público que detinha uma contenção de água hoje inexistente, usados em tempos remotos para a lavagem de roupa. A própria componente arbórea, como os choupos, revela também cicatrizes da anterior presença da prática agrícola como é o caso do cultivo da vinha (figura 1). As cicatrizes existentes nos troncos apresentam-se como fiéis depositárias de sistemas de condução tradicionais da vinha (neste caso o Arjão ou arjoados), um dos traços mais típicos da paisagem do Noroeste de Portugal, consistindo no aproveitamento das bordas dos campos com videiras estendendo fios de arame entre vários troncos no qual as videiras sobem e expandem-se.

Figura 1 – Azenha e marcas de arjão (2014)

Os processos de produção da natureza, ao sobressair as marcas de posse ou repulsa de um determinado espaço ao longo do tempo indicam o carácter fundiário que as duas freguesias, Costa e Mesão Frio, tiveram, até tempos recentes de expansão urbanística.

No que diz respeito aos usos e apropriação do presente, a aplicação de inquéritos por questionário online pressupôs uma amostra representativa da população constituída por 162 inquiridos que reside e visita a cidade de Guimarães realizada nos meses de Dezembro de 2014 e Janeiro de 2015. Os inquéritos auferem em primeira mão, a relação dos utentes com os Parques da Cidade de Guimarães.

Da análise e estudo do confronto de dados dos Departamentos de Património, Centro Histórico e Urbanismo e da Promoção do Desenvolvimento da Câmara Municipal de Guimarães e da interpolação de dados com ex-moradores e visitantes do espaço na pré-implementação do Parque, aferiram-se

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anteriores usos e apropriações do espaço3. Apelando à componente humana da dimensão sensorial nos

processos de produção e apropriação do espaço urbano, e partindo de um processo de recolha de informação junto dos registos documentais e de memória do “Parque da Cidade” concluiu-se que confluíram em tempos onze anteriores possessões de terra, todas elas quintas cujos vestígios a um primeiro olhar pouco discerníveis constituem parte significativa da memória social do Parque da Cidade (fig.2). Numa visão estratégica e de conjunto decidiu-se fazer a inclusão de um ‘agente de memória’ aparentemente externo, o “Mosteiro de Santa Marinha da Costa” que pelos fundamentos históricos assume quer ao longo dos séculos no dito burgo de Guimarães, quer pela proximidade clara e influência notada num território tão cercano como é o Parque da Cidade.

Figura 2 - Quintas e edificado na pré-existência do Parque da Cidade de Guimarães. Fonte: CAOP2013; Cartografia CMG; Sistema de Coordenadas ETRS_1989_PortugalTM06

Por sua vez, a ribeira da Costa/Couros no Parque da Cidade de Guimarães, tem vindo a assumir um caracter primordial no moldar das ações humanas no território. Ora por um lado favorecendo a agricultura delimitando propriedades em tempos áureos o que justifica as propriedades agrícolas averiguadas, ora, servindo como elemento estético num dos Parques preferidos dos vimaranenses e de quem visita a cidade de Guimarães. Na realidade, os inquéritos aplicados mostraram inquiridos interessados em compreender e aplicar o papel da cultura, resguardando o potencial da cultura como

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motor do desenvolvimento sustentável. Cerca de 90% afirma concordar que reavivar elementos que apelem para as memórias de usos passados do espaço, deve ser algo cada vez mais presente nas políticas de gestão do território e que nas relações identitárias que o conhecimento de traços culturais do espaço cerca de 78% dos inquiridos, concordaram que um conhecimento mais aprofundado do passado do Parque da Cidade reforça a identidade da cidade de Guimarães. Um Parque da Cidade, informativo e consciente da evolução dos tempos que confronte o visitante, com elementos que induzam o pensamento sobre como o espaço era frequentado e usado, afirma-se como estratégia relevante para 80% dos inquiridos.

No documento OS VALORES DA GEOGRAFIA (páginas 90-93)

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