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Requalificação das margens do rio Tinto: um corredor verde para os cidadãos e para a estrutura verde da cidade de Rio Tinto

No documento OS VALORES DA GEOGRAFIA (páginas 131-137)

R. Gouveia

(1)

, H. Madureira

(2)

(1) Mestrado em Riscos, Cidades e Ordenamento do Território, Faculdade de Letras da Universidade do Porto;

ricardojfgouveia88@gmail.com

(2) Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CEGOT;

hmadureira@letras.up.pt

Resumo

A consciencialização de que corredor fluvial que percorre e designa a freguesia de Rio Tinto (Gondomar), não tem tido o devido reconhecimento como elemento promotor da sustentabilidade urbana, motiva este projeto que visa delinear estratégias para a promoção de um corredor verde multifuncional.

Exploram-se resultados de um questionário à população alicerçado em quatro questões-chave: a percepção da importância dos espaços verdes públicos nas cidades; a percepção da importância do rio e suas margens para a qualidade de vida na cidade; avaliação da quantidade e qualidade de espaços verdes públicos; os elementos mais valorizados no quadro de um processo de requalificação das margens do Rio Tinto.

Os resultados permitem-nos perceber como a população avalia e valoriza os espaços verdes e as margens do Rio Tinto e, simultaneamente, auxiliar na delineação de estratégias de promoção do corredor verde do Rio Tinto.

Palavras chave: Corredor verde; corredor fluvial; espaço verde urbano.

1. Introdução

O conceito de espaço verde urbano tem evoluído mediante a transformação da morfologia e das necessidades que as próprias cidades foram apresentando. Da mesma maneira que podemos afirmar que as cidades nem sempre foram (nem serão) como as conhecemos, os espaços verdes nelas existente também não. É portanto um conceito dinâmico e em constante adaptação, conhecendo ao longo do tempo diversas morfologias e funções.

Nos dias de hoje, falar em Espaços Verdes Urbanos (EVU) é falar num sistema complexo, já que estes são muito mais do que simples espaços isolados numa “floresta urbana”. A esta complexidade é inerente a crescente exigência, por parte do planeamento, de uma estruturação contínua entre estes espaços, pelo que se constituiu apelidar os mesmos de Estrutura Verde, tendo em conta o seu valor ecológico e cultural (Pereira, 2011). A esta estruturação contínua são inerentes os corredores verdes como resultado de “um esforço humano com raízes nos séculos passados. Mais que simples parques ou zonas de conforto, corredores verdes representam uma adaptação/resposta às pressões físicas e psicológicas da

117 urbanização. Eles ajudam a atenuar a perda de “espaço natural”, devido ao crescimento urbano e, providenciam uma atenuação à expansão humana na paisagem” (Searns, 1995, p.65-66). Assim, consideram-se corredores verdes como redes que contêm elementos lineares, que obedecem a planos, projetos e a uma organização com finalidades diversas como a ecológica, recreativa, cultural, estética, compatibilizando-se com o paradigma do uso sustentável do solo (Ahren, 1995).

É neste sentido, e sabendo de antemão que os sistemas ribeirinhos concentram toda uma paisagem natural e cultural de interesse elevado, e que nas cidades, fruto de processos antrópicos, os elementos constituintes do seu ecossistema foram muitas das vezes desprezados (Saraiva, 1999), como no caso do rio que dá nome à cidade objeto do estudo, que se visa estabelecer uma visão de requalificação das margens do rio Tinto, constituindo assim um corredor verde para a cidade.

2. Metodologia

Tendo em vista o cumprimento do objetivo referido, foram adotados dois principais procedimentos metodológicos. Em primeiro lugar, visando o levantamento e análise do contexto territorial, procedeu- se à identificação e vectorização dos diferentes tipos de ocupação do solo nas margens do rio (buffer de 100 metros) na freguesia de Rio Tinto. Em segundo lugar, tendo em vista o reconhecimento da avaliação e expectativas da população, foi aplicado um questionário do tipo fechado entre o dia 16 de Fevereiro e 6 de Março a uma amostra de 203 pessoas adultas residentes na cidade de Rio Tinto ou no município de Gondomar, logo que fossem visitantes habituais da cidade. O inquérito foi aplicado presencialmente numa área que coincide com a artificialização das margens do rio Tinto por motivo da existência da Linha F do Metro do Porto, coincidindo esta área também com a existência do único parque urbano da cidade, a Quinta das Freiras. O inquérito foi estruturado em torno de quatro questões-chave: 1) a percepção da importância dos espaços verdes públicos nas cidades; 2) a percepção da importância do rio e suas margens para a qualidade de vida na cidade; 3) a avaliação da quantidade e qualidade de espaços verdes públicos; 4) os elementos mais valorizados no quadro de um processo de requalificação das margens do Rio Tinto.

3. Resultados

Foi possivel através da analise cartográfica dividir o corredor verde em três setores (Figura 1). Vislumbram-se: a) Setor influenciado pela ocupação da Linha F do Metro do Porto, onde o rio se encontra entubado ou as suas margens extremamente artificalizadas. É um setor marcado pela existência em quase toda a sua extensão de espaços relvados, espaços ajardinados e pela conetividade com o Parque da Quinta das Freitas. A sul do mesmo é possível vislumbrar margens sem qualquer tipo de utilização e a norte a presença de margens fortemente urbanizadas, além da presença de alguns espaços agrícolas. Encontra-se localizado numa área central da cidade de Rio Tinto; b) Setor em contexto urbano. Divide-

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se em 2 setores subsetores, quer a norte, quer a sul do setor do Metro. Tratam-se de dois subsetores fortemente marcados pelo contexto urbano, em que as margens em muitos dos casos ladeiam habitações térreas ou construção em altura, não permitindo assim qualquer intervenção nesse espaço. As áreas agrícolas têm também alguma expressão. No sub-setor sul é possível vislumbrar já várias áreas em contexto florestal ou arbustivo, além de diversas margens sem qualquer tipo de uso; c) Setor fora do contexto urbano. Subdivide-se em 2 setores, a montante e a jusante do rio Tinto. Trata-se de um setor completamente distinto dos dois já mencionados pois apesar de também se verificar uma forte impermeabilização das margens essencialmente pela presença de industrías, as margens aqui são sobretudo marcadas pela ocupação agricola e/ou florestal ou arbustiva. De realçar que a jusante se encontra a ETAR do Meiral.

Os inquéritos foram aplicados a 203 individuos que se caraterizam por serem 41% do sexo masculino e 59% do sexo masculino, sendo 76% do total residentes na cidade e o restante em freguesias vizinhas pretencentes ao município de Gondomar. Quanto à idade dos questionados, 22% situa-se entre os 18 e 24 anos, 69% entre os 25 e os 64 e o restante acima dos 65 anos. No que diz respeito à escolaridade, 10% quedou-se pelo primeiro ciclo do ensino básico, 12% no 2º ou 3º ciclos, 45% no ensino secundário e 33% no ensino superior (Tabela I).

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Tabela I – Caraterização da amosta

Variáveis Respondentes (%)

Local de residência Rio Tinto 76%

Outra freguesia 14% Sexo Masculino 41% Feminino 59% Idade 18 – 24 22% 25 – 64 69% Mais de 65 9% Escolaridade 1 º Ciclo 10% 2º ou 3º Ciclo 12% Ensino secundário 45% Ensino universitário 33%

Relativamente à importância que os inquiridos atribuem aos espaços verdes públicos para a qualidade de vida nas cidades, 84% revelaram que estes são muito importantes, 16% que são importantes, e ninguém revelou indiferença ou pouca ou nenhuma importância. Quanto à frequência de deslocação a espaços verdes públicos na sua cidade, sensivelmente um terço (34%) desloca-se apenas algumas vezes por ano, sendo que 21% se desloca uma vez por mês, 27% uma a duas vezes por semana, 10% três a quatro vezes por semana e 8% diariamente. Quando questionados sobre a satisfação quanto à quantidade de espaço verdes públicos em Rio Tinto, mais de 50% declararam estar no geral insatisfeitos (13% muito insatisfeitos e 39% insatisfeitos), enquanto que 26% se declaram estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 20% satisfeitos e apenas 4% muito satisfeitos. Quanto à importância que os inquiridos atribuem ao rio Tinto e às suas margens para a qualidade de vida na cidade de Rio Tinto, ficou clara a importância ou muita importância que lhe atribuem (90%), sendo que somente 9% dos inquiridos declaram ser indiferente e 2% ter pouca importância (Figura 2).

Relativamente aos motivos pelos quais os inquiridos se deslocam a espaços verdes públicos, o contato com a natureza (60%) e relaxar (55%) foram as opções mais selecionadas, seguindo-se a prática de exercício físico (44%) e a procura de ar fresco/ar puro (41%) (Figura 2).

Por fim, as últimas duas questões do inquérito visaram procurar a saber os usos preferenciais num cenário de requalificação e os equipamentos a dotar num cenário de constituição de um parque público. No que diz respeito aos usos preferenciais, 97% dos inquiridos evidenciam a constituição de um parque público, seguindo-se 87 % a espaços arborizados e 84 % a espaços relvados. Em relação aos equipamentos que atribuem maior importância num cenário de requalificação, o grande destaque vai para o percurso pedestre, com 95% de importância atribuída, seguindo-se a opção mobiliário urbano, com 87%, e finalmente 85% atribuídos a uma ciclovia (Figura 2).

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Figura 2 – Principais resultados do inquérito

60% 55% 17% 44% 17% 31% 41% 17% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Contato com a

natureza Relaxar Procura de silêncio Fazer exercício Passear o cão Passear as crianças Procura de ar puro/fresco outras pessoas Contato com

M otivos para a frequência de espaços verdes públicos

0% 0% 0% 16% 84% 0% 20% 40% 60% 80% 100% Nada

Import. Import. Pouco Indiferente Import. Import. Muito

I mportância do espaço verde público para a qualidade de vida numa cidade

34% 21% 27% 10% 8% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% Algumas vezes por ano Uma vez

por mês duas vezes Uma ou por semana

Três a quatro vezes

por semana

Diariamente

Frequência de deslocação a espaços verdes públicos na sua cidade

0% 2% 9% 51% 38% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Nada

Import. Import. Pouco Indiferente Import. Import. Muito

I mportância do rio e das margens para a qualidade de vida em Rio Tinto

13% 39% 26% 20% 2% 0% 10% 20% 30% 40% 50%

Muito Insat. Insatisf. Indiferente Satisf. Muito Satisf.

Satisfação em relação à quantidade de espaços verdes públicos em Rio Tinto

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Grande espaço agrícola Hortas urbanas Espaços arborizados Espaços relvados Parque público

Os usos eleitos num cenário de requalificação

Nada Importante Pouco Importante Indiferente Importante Muito Importante

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Percurso pedestre Ciclovia Equip. manutenção

física Mobiliário urbano Assadores para churrasco Equip. de diversão infantil Mobiliário urbano desportivo

Equipamentos eleitos num cenário de requalificação

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4. Conclusões

A população tem consciência que os EVU e o rio Tinto são elementos fundamentais para melhorar a qualidade de vida da cidade, mas os espaços verdes existentes são manifestamente considerados insuficientes. Muita da população que gosta de usufruir destes espaços tem só uma opção na cidade, deslocando-se para encontrar espaços semelhantes, e daí os resultados apresentados na questão dos “usos ideais” para as margens revelarem a preferência por um parque urbano ao longo do corredor. No entanto, o facto de parte das margens em contexto mais urbano estarem fortemente artificializadas, o processo de requalificação deverá localizar equipamentos nas áreas verdes já existentes. Além disto, a possibilidade de um trilho pedonal/ciclável em todo o curso do rio será possível se nos contextos muito artificiais, se possam aproveitar as bermas das faixas rodoviárias nas imediações das margens do rio. Os setores mais a montante/ jusante permitem um contato diferente com a natureza, estando pouco ou nada artificializadas, permitindo as experiências como “contato com a natureza” ou “relaxar”. Há que assinalar a hipótese do corredor verde permitir a conetividade com o Parque Aventura a Norte e com o Parque Oriental da Cidade do Porto a Sul, fomentando assim uma estrutura ecológica intermunicipal abrangendo Valongo, Gondomar e o Porto.

5. Bibliografia

Ahren, J. (1995). Greenways as a planning strategy. Landscape and Urban Planning , 33, 131-155. Pereira, M.P. (2011) Espaços Verdes Urbano, Contributo para a optimização do planeamento e gestão,

Freguesia de Oeiras e São João da Barra. Tese de Mestrado. Lisboa: Instituto Superior de Agronomia,

Universidade Técnica de Lisboa.

Saraiva, M. (1999). O rio como paisagem: gestão de corredores fluviais no quadro do ordenamento do

território. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Searns, R. (1995). The evolution of greenways as an adaptative urban landscape form. Landscape and Urban

X CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA

Os Valores da Geografia

Lisboa, 9 a 12 de setembro de 2015

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A Felicidade nas cidades em Portugal

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