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Qualidade da informação para o planeamento territorial: a (in)compatibilidade de dados geográficos

No documento OS VALORES DA GEOGRAFIA (páginas 47-52)

I. Pinto

(a)

(a)Mestranda em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,

Universidade Nova de Lisboa, inexcbp@hotmail.com

Resumo

O exercício da gestão territorial está muito dependente da qualidade da informação utilizada. Quem trabalha com dados geográficos depara-se, frequentemente, com dificuldades na utilização de dados de diferentes fontes. O principal problema que ocorre é a diferente unidade territorial com que os dados de uma mesma localidade estão criados. Este facto impede a utilização, em simultâneo, desses dados e a sua sobreposição ou cruzamento, de forma a produzir informação geográfica. O artigo tem como objetivos: i) explicitar a importância da qualidade da informação utilizada no processo de planeamento; ii) discutir os atributos essenciais para a qualidade da informação; iii) exemplificar algumas das debilidades da informação e apontar soluções para a sua superação. Tendo por base um caso de estudo, relativo ao município de Palmela, ilustra-se a existência dessa incompatibilidade de dados e apontam-se possíveis soluções para solucionar/minimizar o problema.

Palavras - chave: gestão do território, dados geográficos, informação geográfica, diferentes fontes

de dados, incompatibilidade dos dados.

1. Introdução

O exercício da gestão territorial está muito dependente da qualidade da informação utilizada. Quem trabalha com dados geográficos depara-se, frequentemente, com dificuldades na utilização de dados de diferentes fontes. O principal problema que ocorre é a diferente unidade territorial com que os dados de uma mesma localidade estão criados ou a necessidade de uma “(…) highly dependent on the geometrical coherence between these spatial units”, como referem os autores Rodrigues e Tenedório. Este facto impede a utilização, em simultâneo, desses dados e que os mesmos sejam sobrepostos ou cruzados, de forma a produzir informação geográfica.

Este artigo pretende: i) explicitar a importância da qualidade da informação utilizada no processo de planeamento; ii) discutir os atributos essenciais para a qualidade da informação; iii) exemplificar algumas das debilidades da informação e apontar soluções para a sua superação. Tendo por base um caso de estudo, relativo ao município de Palmela, ilustra-se a existência dessa incompatibilidade de dados, e apontam-se possíveis soluções para solucionar/minimizar o problema.

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2. Importância da qualidade da informação utilizada no processo de planeamento

A informação geográfica é a base de quem trabalha em processos de planeamento e gestão territorial. A sua qualidade é essencial para que estes processos se desenvolvam corretamente, de acordo com a realidade, dinâmicas, necessidades e especificidades de cada local.

É através dos dados geográficos (recolhidos por fontes oficiais, por fontes externas ou através de recolha própria), que se conhece a realidade de um território, nomeadamente, o seu nível de desenvolvimento populacional, económico, social, etc e se elaboram depois considerações, por exemplo, sobre os seus pontos fracos e os seus pontos fortes. Estas permitirão adotar estratégias, medidas e ações concretas para a resolução e/ou minimização de alguns dos problemas identificados e a melhoria ou estímulo dos pontos fortes verificados, ou seja, estes servem de base à tomada de decisão.

A utilização de dados e posteriormente de informação incorreta ou com erros ou lacunas pode inviabilizar todo o processo de planeamento, gestão e monitorização desenvolvido. Esta informação pode, em última análise, não só agravar problemas existentes, como ainda despoletar o aparecimento de outros.

3. Atributos essenciais para a qualidade da informação

A informação utilizada nas várias fases de um processo, deve então, ser de qualidade. Para que tal aconteça, os dados geográficos recolhidos que permitirão a produção dessa informação deveram respeitar essencialmente os seguintes atributos:

 Recolhidos em fontes fidedignas;

 Recolhidos nas fontes mais adequadas para cada objetivo que se pretende;  Permitir o cruzamento entre os vários dados obtidos;

 Possibilitar o cruzamento dos dados com a base da unidade territorial que se pretende utilizar, de forma a permitir a produção de cartografia associada a essa informação;

4. Exemplo de debilidade da informação

Os dois últimos atributos identificados são dos que, muitas vezes, estão ausentes na informação utilizada pelos técnicos de planeamento e gestão do território. Estes deparam-se, comumente, com a existência de dados geográficos que se encontram georreferenciados a uma unidade territorial diferente da que necessitam para efetuar os seus estudos.

Este foi o problema verificado no estudo sobre o parque habitacional do Município de Palmela. Pretendia-se analisar exclusivamente os perímetros urbanos deste território, com o objetivo de: analisar a sua evolução, caracterizar o parque habitacional, elaborar um diagnóstico do mesmo (apresentando estudos de caso que o demonstrem) e, por último, analisar o grau de execução de cada perímetro. No

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entanto, os dados estatísticos disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) encontram- se ao nível da subsecção estatística (BGRI) e ao nível dos edifícios pontuais (BGE), cujos limites não coincidem com os definidos pelos perímetros urbanos, o que impede o cruzamento entre os elementos. Perante esta situação, foram analisadas três opções possíveis para se conseguir ultrapassar o problema e desenvolver o estudo. Assim, utilizar:

I. Subsecções estatísticas vs dados das subsecções estatísticas (BGRI); II. Perímetros urbanos vs dados estatísticos, ao nível das subsecções (BGRI); III. Perímetros urbanos vs dados estatísticos, ao nível dos edifícios pontuais (BGE); Tomando como exemplo o perímetro urbano de Palmela, observa-se que:

I. A primeira opção abrange o que o INE define como a localidade de Palmela, podendo ser utilizados e analisados os dados correspondentes à unidade territorial utilizada (figura 1); II. A segunda opção permite conhecer os dados estatísticos relativos a uma parte do perímetro

urbano, ainda que esta exclua toda a área norte do perímetro e inclua uma área a sudeste que não faz parte do mesmo (figura 2);

III. A terceira opção permite o acesso a informação estatística relativa aos edifícios existentes, de forma individual, no entanto a sua contabilização ao nível do perímetro urbano apresenta algumas dificuldades (figura 3).

Figura 1: Opção I Fonte: BGRI, INE (2011)

Elaboração: Própria

Figura 2: Opção II

Fonte: Gabinete de Planeamento Estratégico, CMP e INE (2011) Elaboração: Própria

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Perante esta evidência é necessário perceber quais as vantagens e desvantagens de cada metodologia e escolher a mais conveniente para o estudo (Tabela I):

Vantagens Desvantagens

Opção I

Possibilidade de análise de grande número de variáveis relativas a edifícios, fogos e população, por subsecção estatística (lugar)

Unidade territorial e dados estatísticos não abrangem a totalidade da área dos perímetros urbanos

Engloba áreas heterogénea (urbana e rural), uma vez que não tem em conta as suas características mas sim outros critérios

Delimitação estática, que não se ajusta às alterações que se verificam nos territórios, ao longo dos tempos

Unidade territorial diferente da unidade utilizada nas câmaras municipais.

Opção II

Possibilidade de análise dos dados estatísticos relativos a uma parte dos perímetros

Desajustamento entre a área das subsecções e dos perímetros urbanos.

Opção III

Dados relativos aos edifícios residenciais (exclusivamente e principalmente) Possibilidade de análise da evolução do número de fogos por época de construção Possibilidade de elaboração de mapas ao nível pontual

Possibilidade de verificar algumas situações anómalas através da sobreposição com um ortofotomapa

Menor número de variáveis em estudo Alguma margem de erro

Tabela I – Vantagens e desvantagens das três opções mencionadas

Figura 3: Opção III

Fonte: BGE, edifícios pontuais, INE (2011) Elaboração: Própria

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Após esta análise considera-se que, tendo em conta o objetivo do estudo, poderão ser adotadas as opções II e III. A opção II é a que possibilita a análise da maior parte dos dados estatísticos relativos a cada perímetro urbano, recorrendo a um reajuste das subsecções a utilizar (subsecções de Palmela e algumas subsecções de: Alfaçanhas, São Brás, Samouco, Pegarias, Carvalhos, Torneiros, São Julião e Lage) (figura 5). A opção II é uma mais valia para a análise da evolução do número de fogos por época de construção, que não se encontra disponível na opção anterior, e para a elaboração de mapas relativos à evolução do edificado por época de construção, a nível pontual (figura 6).

5. Possíveis soluções para a sua superação

Para que dificuldades como estas sejam superadas é indispensável promover uma discussão entre a entidade que as recolhe e detém e as entidades que delas necessitam (ex: autarquias locais), como a que se iniciou nesta Câmara Municipal, ainda que sem resultados até à data.

Também é importante conseguir um consenso quanto aos critérios utilizados para a seleção da unidade territorial a trabalhar e que seja útil e benéfica para as várias entidades que nela intervêm.

A continuação desta situação fará com que estas entidades locais não utilizem parte da informação existente e não produzam informação a partir dela, ainda que continuem a despender avultados recursos financeiros para a disponibilizar aos seus técnicos.

6. Referências bibliográficas

INE (2011), Censos 2011. Disponível em: http://mapas.ine.pt/download/index2011.phtml. Consultado em Fevereiro de 2015;

Rodrigues, A. M., Tenedório, J. A. (2015) Generalized Dasymetric Mapping Algorithm for Accessing Land-

Use Change. In: Computational Science and Its Applications – ICCSA 2015. http://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-319-21470-2_24#.

Figura 5: Opção II, reajustada Fonte: Gabinete de Planeamento Estratégico,

CMP e INE Elaboração: Própria

Figura 6: Opção III

Fonte: BGE 2011, edifícios pontuais, INE Elaboração: Própria

X CONGRESSO DA GEOGRAFIA PORTUGUESA

Os Valores da Geografia

Lisboa, 9 a 12 de setembro de 2015

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Monitorização e Modelação Geográfica com UAV

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