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MERCADO MUNDIAL DE ARROZ

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MERCADO MUNDIAL DE ARROZ: TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS

MERCADO MUNDIAL DE ARROZ

prósperos cada vez mais encontrarão dificuldade em manter o interesse dos agricultores em produzir arroz. A mudança para o livre comércio em produção agrícola, iniciado pela Ronda Uruguai do GATT (General

Agreement on Tariffs and Trade), terá um impacto na sustentabilidade do cultivo do arroz nesses países. Haverá pressão econômica para o deslocamento da terra, trabalho e recursos de água, ora utilizados em arroz, para outras atividades econômicas. Segundo, o potencial para aumentar a produtividade no ecossistema irrigado, criado pelo dramático avanço tecnológico no final da década de 60, foi quase que totalmente explorado, enquanto o principal avanço, que seria desenvolver cultivares de alto rendimento para ambientes desfavoráveis, ainda não se

concretizou. Este capítulo a) aborda as tendências emergentes na demanda e produção de arroz, e no comércio de importação e

exportação, e b) provê uma perspectiva dos acontecimentos futuros no comércio mundial de arroz.

MERCADO MUNDIAL DE ARROZ

O arroz é cultivado em pequenas propriedades de base familiar, particularmente na Ásia, o berço do arroz. O tamanho médio da

propriedade é inferior a meio hectare na China, em Java, na Indonésia e no delta de Rio Vermelho, no Vietnã; menos de um hectare em

Bangladesh, Índia do Leste e delta do Rio Mekong, no Vietnã; de um a dois hectares na maioria dos outros países na Ásia. Apenas na Tailândia, Mianmar, Camboja e Norte da Índia, o tamanho médio da propriedade é maior, um importante fator ligado à sua vantagem comparativa na produção de arroz.

Um produtor asiático típico cultiva arroz principalmente para satisfazer as necessidades da família, e conseqüentemente a porção comercializada é pequena. Condições naturais variáveis causam escassez e excesso de

ano para ano. Isto, por sua vez, causa grandes flutuações de excedentes comercializáveis, tornando os preços, tanto no mercado doméstico quanto no internacional, altamente instáveis. No âmbito nacional, um objetivo político importante é alcançar a auto-suficiência em produção de arroz e manter os preços estáveis para os consumidores (Timmer, 1989). O arroz é visto por muitos governos asiáticos como uma “commodity” estratégica, por ser o único elemento mais importante na dieta dos mais pobres, e uma importante fonte de renda para os produtores,

freqüentemente um grupo politicamente poderoso. Grandes flutuações nos preços de arroz conduzem freqüentemente a perturbações políticas. Como resultado, os governos intervêm ativamente no mercado de arroz de seus países (Anderson e Hayami, 1986; Childs, 1990). As

intervenções tomam muitas formas: subsídios e impostos nas entradas e saídas do produto, controle governamental do comércio internacional e participação direta no mercado por busca e distribuição de grãos. Nos países mais pobres, alcançar auto-suficiência na produção de grãos alimentícios é um importante objetivo, por falta de moeda estrangeira para financiar grandes importações. Os governos também consideram arriscado depender de mercados internacionais para suprimento de alimento básico, porque a experiência os ensinou que os preços tendem a ser altos em anos com um grande déficit, e baixos quando há excedentes. Assim sendo, produtores, consumidores e governos perdem ao participar em mercados internacionais.

Porém, o compromisso com a auto-suficiência não está limitado aos governos dos países mais pobres. Países asiáticos de média e alta renda e sem restrição financeira para importar arroz de baixo custo, também tentam manter a auto-suficiência provendo apoio aos produtores. Se cultivo de arroz é abandonado, a infra-estrutura de produção, tais como as

instalações de irrigação e drenagem, não seriam mantidas. E, em tempos de crise, seria difícil para a economia reverter novamente à produção de arroz. O Japão e Coréia do Sul estão discutindo agora a manutenção de subsídios ao arroz, com base no princípio de multi-funcionalidade da agricultura: a produção de arroz provê muitos benefícios extras à sociedade, além da provisão de alimento (Koyama, 2001; Nishi 2001; Kato et al., 1997). Em altos níveis de renda, os consumidores urbanos se queixam menos de pagar altos preços por arroz, como apoio aos produtores de baixa renda, porque o custo do arroz é uma pequena parte do seu gasto com alimentação, e uma fração mínima de sua renda. O apoio aos produtores através de

mecanismos de preços, é socialmente mais aceitável do que por transferências diretas ou remessas.

Como resultado de todos estes fatores, o comércio internacional de arroz permanece limitado até o momento. Apenas cerca de 6,3% da produção mundial de arroz é comercializada internacionalmente, em contraste com quase 18,1% para trigo e 11,6 % para outros grãos. O mercado mundial de

arroz, entretanto, expandiu-se rapidamente durante as últimas três décadas. A média anual de importações aumentou de 7,97 milhões de toneladas (4 % da produção) em 1968-70, para 24,5 milhões de toneladas em 1998- 2000, representando um crescimento de 3,8% ao ano, em contraste com um crescimento de 2,3% ao ano na produção de arroz. O volume de

comercialização teve seu pico em 1998-99, quando a Indonésia e a Filipinas importaram em grande quantidade, depois que a seca resultante das

perturbações climáticas do El Nino, reduziu drasticamente a produção doméstica.

O valor de comércio mundial de arroz é de US $8,6 bilhões, dos quais cerca de 74% são devidos à países em desenvolvimento, e quase 35% por conta da África e Oeste da Ásia.

Um grande número de países importa arroz, mas em uma escala muito pequena (Tabela 1). No Sul e Sudeste da Ásia, berço da produção de arroz, os importadores principais são Indonésia, Bangladesh, Filipinas, Malásia, Japão e Cingapura. As importações da Ásia flutuam muito de ano para ano, dependendo do efeito de calamidades naturais

(inundações, secas e tufões) na produção doméstica. Os principais importadores, cujas importações vem crescendo continuamente, se situam no Oriente Médio ( Irã, Iraque, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Turquia), Oeste e Sul da África (Nigéria, Costa do Marfim, Senegal, África do Sul, Serra Leoa, Madagascar, Guiné e Benin) e na América Latina (Brasil, México, Cuba, Haiti, e República Dominicana).

Só alguns países participam no mercado de exportação (Tabela 2). Os principais países exportadores são Tailândia, Vietnã, Estados Unidos, China, Índia, Paquistão, Austrália, Itália, Uruguai, Argentina, Egito e Espanha. Existe uma alta concentração no mercado de exportação. Os primeiros cinco países respondem por quase três quartos do suprimento de mercado; a Tailândia, sozinha, controla aproximadamente 30% desse mercado. Mianmar e Camboja eram os principais exportadores no

mercado mundial, antes do início da Revolução Verde, na década de 60; desde então, perderam o mercado devido a perturbações civis, lento crescimento da produção e deterioração da infra-estrutura de

comercialização. Estes países têm capacidade ociosa para expandir o seu suprimento do mercado. Índia, Argentina, Uruguai e Guiana aumentaram substancialmente suas exportações de arroz em anos recentes.

Tabela 1. Tendência das importações de arroz (1000 t) pelos principais países importadores (1968-70 a 1998-2000). País 1968-70 1988-90 1998-00 1998 1999 2000 Indonésia 682 117 2999 2895 4748 1355 Iraque 1 508 870 629 781 1200 Irã 11 570 871 631 852 1129 Arábia Saudita 169 298 841 783 804 937 Nigéria 1 241 727 594 800 786 Brasil 0 231 983 1305 984 660 Japão 134 17 606 499 664 656 Filipinas 0 302 1297 2414 834 642 Senegal 150 365 573 557 625 537 África do Sul 78 288 519 520 515 523 Bangladesh 354 372 1282 1127 2215 502 Malásia 324 327 582 658 612 477 Coréia do Norte 0 13 404 514 250 448 Costa do Marfim 61 310 461 518 423 441 México 7 111 374 292 405 426 Ucrânia 121 255 410 375 436 419 França 113 287 397 380 394 417 Emirados Árabes 23 286 425 398 472 406 Cuba 187 226 384 310 449 393 Singapura 273 214 338 255 404 355 Federação Russa - - 391 265 558 351 Turquia 9 168 288 275 247 342

Hong Kong SAR 335 381 320 324 328 310

Estados Unidos 7 132 312 279 354 305 Alemanha 192 231 259 234 255 287 Canada 59 150 261 259 262 263 Haiti 0 51 239 216 249 253 Namíbia 0 0 275 243 331 250 China 16 528 221 247 172 245 Iemem 49 126 195 146 207 232 Holanda 69 197 216 217 223 209 Líbia 18 141 206 251 242 125 Total 7970 12771 24499 24772 26947 21777

Tabela 2. Tendência das exportações de arroz (1000 t) pelos principais países exportadores. País 1968-70 1988-90 1998-00 1998 1999 2000 Mundo 7947 13308 25740 28843 25214 23163 Vietnã 14 1045 3905 3730 4508 3477 China 1609 530 3227 3792 2819 3071 EUA 1853 2598 2839 3113 2668 2736 Paquistão 266 936 1926 1972 1791 2016 Índia 15 425 2797 4963 1895 1533 Uruguai 42 277 700 659 699 741 Itália 235 534 645 602 667 666 Austrália 111 359 614 552 669 622 Argentina 77 72 558 547 659 467 Egito 666 60 376 429 307 393 Espanha 73 159 300 285 315 300 Mianmar 514 143 107 120 60 142 Suriname 24 78 57 62 49 60 Venezuela 34 0 54 81 23 58

Fonte de dados básicos: Base de dados FAOSTAT, FAO 2002

O preço de arroz no mercado mundial tem permanecido volátil e exibido tendência de declínio quando corrigido pela inflação (Figura 1). A cotação nominal fob do arroz polido (5% quebrado) em Bangcok foi reduzida de US $204, em 1967-68, para US $173 em 2001, indicando numa queda de 15%. Dentro do mesmo período, o preço do trigo aumentou de US $60 para US$162 e o de milho, de US $50 para $90. O declínio no preço de arroz, ajustado pela inflação, foi superior a 50% (Figura 1). O preço registrou brusca elevação durante o período de 1972-74, durante a crise de petróleo, e brusca queda durante os períodos de 1980-85 e 1996-2001. O declínio em preço na década de oitenta foi devido ao rápido aumento da produção de arroz na China, e à desvalorização de 30% do baht (moeda tailandesa) da ordem de um terço, o que pressionou os preços em dólar para baixo. A produção de arroz na China aumentou de 143 para 181 milhões de toneladas (arroz com casca) durante o período 1980-84, levando a um significativo declínio nas importações de arroz. O grande declínio no preço do arroz nos anos noventa coincidiu com a desvalorização da maioria das moedas asiáticas, aumento significativo das exportações da Índia e China, e mudanças nas políticas em prol da auto-suficiência em muitos países dependentes de importações de arroz, como a Indonésia, Bangladesh e Filipinas. O declínio no custo unitário de produção de arroz ocasionado pelo progresso

tecnológico também contribuiu para a redução de longo termo nos preços de arroz no mercado mundial.

0 100 200 300 400 500 600 700 1961 1966 1971 1976 1981 1986 1991 1996 2001 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 P rod uc ti on of un m ill ed ri ce (m ill io n M T) R ic e pr ic es (2 001 U S$ /t on )

Source: Production: FAOSTAT Electronic Database, 07 November 2001.

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