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MISTURAS GENÉTICAS PARA MANEJO DA BRUSONE

No documento Anais... (páginas 127-131)

DESAFIOS E PERSPECTIVAS

MISTURAS GENÉTICAS PARA MANEJO DA BRUSONE

A brusone causa pesadas perdas de rendimento na cultura do arroz em regiões temperadas e tropicais. É uma das doenças mais sérias que afetam produção de arroz na China. Os fazendeiros chineses pulverizam seus cultivos de arroz por seis ou sete vezes. A resistência genética, incorporada em variedades novas, dura apenas aproximadamente três anos porque o patógeno se adapta rapidamente, superando os fatores de resistência apresentados pelas plantas.

Com estratégia simples de manejo, cientistas do IRRI coordenados pelo Dr. Tom Mew, em colaboração com cientistas da Universidade Agrícola de Yunnan, controlaram uma epidemia devastadora que ameaçou destruir a imensa colheita de arroz chinesa .

O IRRI desenvolveu um projeto com os sistemas de pesquisa agrícola nacionais (NARS) da China, Tailândia, Vietnã, e Filipinas chamado

"Explorando Biodiversidade para Manejo Sustentável de Pragas. O projeto começou quando a agricultura moderna estava sendo apontada como a causa de epidemias freqüentes e problemas de praga em razão da uniformidade genética, alto uso de fertilizantes e agroquímicos, e alta produção em monocultura de um único cultivar por grandes áreas. O problema de brusone na China envolveu todos estes fatores. Os cientistas argumentaram que num extenso cultivo com uma única variedade de arroz, como aquele existente no Vale de Rio Vermelho de Yunnan, no sudoeste da China , uma única doença como a brusone poderia explodir facilmente em uma epidemia. Depois que o patógeno se adaptasse à fisiologia de uma planta, estaria habilitado para atacar o resto do cultivo. A chave seria utilizar variedades diferentes com genes de resistência diferentes. O desafio era similar uma situação na qual a resistência natural para doenças fosse diversificada por uma estratégia de distribuição varietal nos atuais cultivos. O objetivo visado era intercalar ou cultivar variedades diferentes de arroz no mesmo campo. Uma experiência em 1997, cobrindo alguns hectares, sugeriu que a intercalação pudesse alcançar 92 a 99 porcento no controle da brusone como também atingir um sucesso

inesperado, aumentando os rendimentos de meia a 1 tonelada por hectare. Em 1998, foram plantados 812 hectares com arroz híbrido e arroz

glutinoso, quatro linhas de um e uma linha do outro. A lavoura só foi pulverizada com fungicida uma vez. Os rendimentos alcançaram 9 toneladas de arroz híbrido e quase 1 tonelada de arroz glutinoso por

a incidência de brusone caiu para cinco por cento de um patamar normal de 55 por cento, e a perda de rendimento caiu de 28% a 0%. A área cultivada assim cresceu extensivamente e os cientistas envolvidos esperam que venha cobrir a da Província de Yunnan inteira - aproximadamente um milhão de hectares de arroz.

Os elementos chave para este tipo de manejo da brusone são: usar

variedades de arroz diferentes, com genes de resistência diferentes; alternar variedades diferentes cada estação; e intercalar variedades. Este enfoque reduziu o uso de fungicida, e a efetividade de resistência genética natural contra a brusone por mais tempo. A brusone também é um problema muito grande em outras regiões asiáticas e é esperado que este manejo também lá seja eficiente. Os cientistas estão realizando estudos para determinar o efeito da diversificação de germoplasma ou varietal no manejo de outras pragas.

Até o presente, os melhoristas produziram variedades de alto rendimento virtualmente de todas as principais culturas do mundo, inclusive sorgo, milho, mandioca, e feijão, e há aproximadamente 13 centros de melhoramento dedicados à esses trabalhos ao redor do mundo.

Fig. 3. Biodiversidade nos arrozais da Indonésia (Settle, 1996).

Controle biológico

Estudos com arroz realizados por William Settle (1996), cujos resultados são mostrados na Figura3, mostram que os ecossistemas de arroz irrigado tropicais provêem um dos melhores exemplos de supressão de praga. Trabalhos em arroz irrigado tropical desde 1991 demonstraram que parasitóides e predadores compõem 64.4% dos organismos enquanto espécies de praga (herbívoros) compunham só 16.6%. Muitos sistemas tropicais exibem um padrão sazonal típico de interações no qual uma

sempre presente cadeia alimentar do solo e aquática se liga à outra sobre a água (aérea) via insetos que se alimentam de plâncton e detritos. Estas espécies de ligação são presas para uma rica composição de espécies predadoras no arrozal, proporcionando assim uma fonte alternativa de alimento para os insetos úteis, imensamente abundantes na estação. O resultado líquido é que as populações do predador "desligam-se" da

dependência pela praga específica, permitindo desenvolver suas populações com antecedência - antes mesmo que a praga surja. O resultado é que as pragas migratórias de início de estação não acham nenhum santuário a sua espera e suas populações têm dificuldades em ocupar posição segura no sistema. Diante deste cenário a probabilidade de populações de praga "escaparem" do controle por inimigos naturais e alcançar níveis de surto é pequena.

Porém, certos fatores de manejo podem impedir a efetividade deste mecanismo baseado no sistema na supressão de pragas. Anos de experimentos e a experiência dos fazendeiros demonstram que os inseticidas usados em arroz tropical são virtualmente desnecessários e contraprodutivos. Eles rompem o nível normalmente alto de supressão de praga, resultando entre outras coisas, em surtos "ressurgentes" que caracterizaram a produção de arroz na Ásia durante os anos setenta e oitenta. De uma natureza diferente, mas também importante é o nivel de vegetação e padrões de água. As pequenas plantações tradicionais onde o arroz é cultivado na maioria do ano em um ambiente descontínuo, pareça ser mais estável com respeito a supressão de praga. Grandes monoculturas, especialmente quando associadas com períodos secos e longos de pousio, são menos estáveis e mais propensas a problemas com pragas.

O controle biológico em arroz enfatizou principalmente a conservação de inimigos naturais - enfoque que teve êxito particularmente na Ásia. Uma campanha inovadora que promete ajudar a proteger um milhão de

fazendeiros de arroz - no delta do Rio Vermelho, no Vietnã - dos efeitos prejudiciais de inseticidas nocivos, ganhou um dos principais prêmios ambientais do mundo. A campanha - que será levada adiante juntamente por um time de cientistas filipinos e vietnamitas - sustentar-se-á num esforço que reduziu drasticamente o mau uso de inseticida no Delta do Mekong no Vietnã (Nguyen An Luong). Lançada primeiro em 1994 no delta do Mekong - de longe uma grandes bacias arrozeiras da Ásia - a pesquisa e campanha subseqüente marcou época na produção de arroz por duas razões. Primeiramente, identificou com clareza o dano causado pelo uso excessivo de inseticidas que exterminam insetos úteis favorecendo as pragas que deveriam controlar, e também desenvolveu um meio

completamente novo de transferir informação importante aos fazendeiros. Depois de testar a campanha no delta de Mekong, onde quase 2 milhões de produtores de arroz foram persuadidos a reduzir o uso de substâncias

químicas prejudiciais e desnecessárias, os parceiros de pesquisa, no Dia Mundial do Ambiente em junho passado, lançaram campanha semelhante, ainda em andamento na Província de Sing Buri, do norte da Tailândia. Agora eles estenderão a campanha a outros milhões de fazendeiros de arroz no delta de Rio Vermelho. A pesquisa determinou que muitas pulverizações com inseticidas aplicadas por fazendeiros de arroz asiáticos são

desnecessárias porque são aplicadas no momento errado e para os objetivos errados. Além disso, muitas das substâncias químicas usadas rompem os mecanismos de controle biológicos naturais - o "sistema imunológico" da natureza - e assim criam um ambiente favorável para espécies de praga adaptadas ecologicamente. Isto impele os fazendeiros a pulverizar até mais tarde durante a estação. Não só podem os fazendeiros se tornar as vítimas de envenenamento por praguicidas como as

pulverizações causarem dano a fauna aquática, reduzindo o cultivo de peixes e crustáceos, e causando grande dano ao ambiente local.

A maioria dos fazendeiros do Vietnã pulveriza nas fases iniciais de cultivo por causa do visível dano nas folhas causado por lagartas, besouros e gafanhotos. Porém, muitas das modernas variedades de arroz hoje tem resistência a insetos embutida e geralmente não requerem controle. Uso exagerado e pulverização incorreta de inseticidas devem-se a anos de propaganda e comercialização agressivos que incutiam medos freqüentemente infundados. Os que parecia motivar os fazendeiros para pulverizações inseticidas durante as fases iniciais era o mau entendimento, a falta de conhecimento e estimativas viciadas das perdas devido a pragas. O que os fazendeiros de arroz esperaram perder, se nenhum inseticida fosse aplicado, era aproximadamente 13 vezes maior que as perdas reais. Foram desenvolvidos meios para mudar a conduta dos

fazendeiros e os motiva-los a pulverizar menos.

O rádio é uma fonte primária de informação para fazendeiros e constituíu o coração de uma campanha de mídia que, em seus primeiros seis anos, teve um impacto profundo no uso de inseticidas no Delta do Mekong. Atores radiofonizavam comédias breves, usando situações rústicas e fatos científicos sólidos para fazer a audiência rir. As mensagens simples,

humorísticas se fixaram nas mentes de milhares de fazendeiros. Os dramas de rádio, apoiados por folhetos e cartazes, foram levados ao ar primeiro na Província de Long An, em 1994. A pesquisa tinha mostrado que nos primeiros 40 dias depois de semeado não era necessário pulverização, informando-se aos fazendeiros que fazê-lo era um desperdício de dinheiro. Eles foram encorajados a uma experiência simples: pulverizando só parte de seus cultivos e comparando o rendimento com o das partes não pulverizadas. Os efeitos logo tornaram-se óbvios, e antes de 1997 a campanha tinha sido abraçada pelos governos de outras 11 províncias e atingindo

aproximadamente 92 por cento das 2.3 milhões de propriedades do Delta do Mekong. O uso de inseticida caiu de uma média de 3.4 aplicações, por fazendeiro por estação, para apenas uma - diminuição de 72 por cento. O

número de produtores que aprendeu que os inseticidas matavam tanto as pragas como seus inimigos naturais, subiu de 29 para 79 por cento. Ao mesmo tempo, a produção total de arroz em casca do Delta do Mekong aumentou de 11 milhões para 14 de milhões de toneladas por ano.

Soja no Brasil

O programa MIP em soja está baseado em medidas preventivas incluindo exclusão de pragas, resistência no hospedeiro, controle biológico e cultural, combinado com crescente biocontrole, biopesticidas e praguicidas. Estas táticas são associadas com embargos legislativos, inspeções e quarentenas que são usadas para prevenir a introdução de pragas de soja em áreas novas. Foram identificados genótipos de sojas resistentes a insetos da folha, vagem e algumas brocas do talo. Um componente principal deste programa é o do controle biológico. Medidas de controle usadas contra insetos pragas de soja incluem liberações crescentes do Trichogramma spp. parasita de ovos de lepidópteros, e Vírus da Poliedrose nuclear para a lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis (Moscardi e Sosa-Gomez, 1992) Tanto no Brasil quanto no Paraguai, a redução de uso químico foi alcançada pelo uso do biopesticida de NPV, Baculovirus anticarsia para controle da lagarta da soja. Originalmente produzido pela Embrapa Soja, agora é

produzido e distribuido pelo setor privado. Calcula-se que aproximadamente 1 milhão de ha fora pulverizado em 1992.

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