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PRÁTICAS AGRONÔMICAS

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NOVA SUGESTÃO DE FLUXO DE INFORMAÇÃO

PRÁTICAS AGRONÔMICAS

Por que os rendimentos de grãos dos produtores de arroz estão muito abaixo do potencial produtivo das cultivares do tipo moderno? A rápida adoção de genótipos de arroz irrigado com alto potencial produtivo durante os anos 70 e 80 resultou em rápido incremento na produtividade de arroz

nos países da América Latina e Caribe. Entretanto, práticas de cultivo mais adequadas para incrementar a produtividade não foram adotadas com o mesmo ritmo (Sanint & Gutiérrez, 2001). Atualmente, cultivares para alto rendimento ocupam mais de 90% da área cultivada com arroz, mas o rendimento obtido pelos produtores continua muito aquém do que é possível produzir com as cultivares disponíveis.

A obtenção de alto rendimento de grãos de arroz irrigado depende de vários fatores, alguns dos quais passíveis de controle e outros não. A interação desses vários fatores que atuam no sistema produtivo como um todo é que determinará o rendimento, a qualidade de grãos e o retorno econômico esperado. Portanto, não será a adoção de uma ou outra prática agronômica isolada que alterará o atual patamar de produtividade.

Para as condições do RS, mesmo levando-se em conta a importância da ação conjunta das diferentes práticas agronômicas, considera-se que a adequação da área (sistema de irrigação e drenagem, estradas, etc), época de semeadura, controle de plantas daninhas, manejo da irrigação e nutrição de plantas são as práticas chave para atingir altos rendimentos de grãos de arroz.

Época de semeadura

A época de semeadura deverá ser planejada não somente em função das temperaturas baixas durante a fase reprodutiva da cultura, como se faz atualmente, mas também como meta para alcançar uma maior

produtividade, fazendo coincidir a fase de acumulação de fotoassimilados com os dias de maior radiação solar (Figura 4). Semeaduras tardias normalmente não proporcionam rendimentos tão altos quanto as

semeaduras feitas mais cedo (Figura 5). A semeadura deve iniciar tão logo as temperaturas do solo sejam adequadas para a germinação das sementes.

0 100 200 300 400 500 600

jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun

Uruguaiana (27 anos) Cachoeirinha (27 anos) Itajaí (11 anos) Meses R a di ação sol a r - cal cm 2 di a -1

Fig. 5. Radiação solar incidente nos municípios de Cachoeirinha e Uruguaiana no RS

e Itajaí em SC. Eberhardt, D.S.; UFRGS, Porto Alegre, 2001. Fonte dados primários: FEPAGRO e EPAGRI

Dias após 19/09/2001 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 R e n d im e n to de gr ão s - t h a -1 0 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 IRGA 421 IRGA 417 IRGA 420 19/09 16/11 14/12 03/11 18/10 06/10 30/11 28/12

Fig. 6. Rendimento de grãos de cultivares de arroz irrigado em função da época de

semeadura no município de Uruguaiana-RS. EEA/IRGA, 2002.

Baixas temperaturas do ar na fase de estabelecimento, durante os meses de setembro e outubro, ou na fase reprodutiva, nos meses de fevereiro e março, afetam negativamente a produtividade da lavoura gaúcha. Materiais genéticos com maior capacidade de tolerar o frio na fase de implantação do cultivo permitiriam antecipar a implantação das lavouras, possibilitando usufruir dos benefícios da temperatura e radiação solar dos meses de novembro, dezembro e janeiro. Além disso, cultivares com esta característica possibilitariam o alargamento da época de semeadura, minimizando os elevados investimentos necessários para semear a grande área cultivada com arroz no RS na melhor época.

Para a semeadura na época mais adequada é necessário contornar os

problemas decorrentes da drenagem deficiente dos solos de várzeas devido às precipitações pluviais elevadas que ocorrem durante o inverno e a primavera. Para tanto, é preciso melhorar a drenagem das lavouras e adotar sistemas de cultivo que dependam menos das condições do ambiente para a realização da semeadura, tais como o pré-germinado e a semeadura direta.

Controle de plantas daninhas

Para alcançar os máximos rendimentos de grãos de arroz, as lavouras devem crescer livres de plantas daninhas desde o início. As lavouras de arroz irrigado do RS estão altamente infestadas por plantas daninhas. A

interferência destas é um dos principais fatores que limitam a produtividade e rentabilidade da cultura do arroz. Dentre as espécies daninhas, o arroz vermelho merece um destaque especial, por estar disseminado em quase toda a área cultivada com arroz no RS. As alternativas de controle desta infestante são somente parciais e estima-se uma redução anual de 1,2 milhão de toneladas por safra. Além dos prejuízos causados pelo arroz vermelho, sua presença não permite a adoção de determinadas práticas agronômicas fundamentais para se alcançarem altos rendimentos com, por exemplo, a adubação nitrogenada. Para que o Estado altere o atual teto de produtividade é necessário reduzir a infestação de arroz vermelho de suas lavouras.

Com relação às demais plantas daninhas, na quase totalidade da área, os produtores utilizam o controle químico, e no mercado existem herbicidas eficientes. No entanto, como em muitas áreas os produtores atrasam o controle das plantas daninhas, o resultado é um custo maior com

herbicidas, menor eficiência no controle e uma redução no rendimento de grãos. A época mais adequada para o controle de plantas daninhas é quando elas estão com três folhas, antes do estádio de afilhamento do arroz (Figura 7).

Dias após a emergência Épocas de controle de capim arroz 0 10 20 30 45 60 85 s/ controle Rend imento de gr ãos - t/ha 0 2 3 4 5 6 7 8

Eq. logistica cv IRGA 417

rend=4,94/(1+exp(0,04*(x-83,19)))^5,75+2,69 Eq. logistica cv BR-IRGA 410

rend=7,66/(1+exp(0,03*(x-69,03)))^3,45+2,84

Fig. 7. Rendimento de grãos de arroz das cultivares BR-IRGA 410 e IRGA 417 em

função de época de controle de capim arroz, na média de três anos. EEA/IRGA, Cachoeirinha, RS, 1999.

Manejo da irrigação

De um modo geral, na lavoura de arroz do RS, o início da irrigação é atrasado. Além disso, os produtores costumam dar um ou dois “banhos” para o arroz afilhar até o estabelecimento da irrigação definitiva. O atraso na irrigação interfere negativamente na produção (Figura 8). Os melhores rendimentos têm-se obtido com o início da irrigação logo após o controle precoce das plantas daninhas e quando as plantas de arroz tenham altura suficiente para suportar uma lâmina de água permanente (4-5 folhas) até a drenagem para a colheita (estádio grão pastoso). A irrigação, logo após a aplicação dos herbicidas, interage na sua ação, evitando o rebrote das espécies daninhas ou a emergência de novas plantas. Outro fator

importante a ser lembrado é que a disponibilidade de nutrientes na solução do solo aumenta com a inundação (Tabela 2). Por isso, quanto mais cedo se iniciar a irrigação mais prontamente as plantas de arroz poderão usufruir deste benefício.

Época de irrigação - Dias após a emergência

Rendi

mento -

t

ha

-1 0 4 6 8

28

12

38

8,55

5,98

7,20

Fig. 8. Rendimento de grãos de arroz irrigado em função do início da irrigação após

a emergência do arroz, na média de cinco tratamentos com herbicidas EEA/IRGA, Cachoeirinha, RS, 1998.

Tabela 2. pH e disponibilidade de nutrientes na solução do solo em função de

diferentes períodos após o alagamento do solo (GLEISSOLO), EEA/IRGA, Cachoeirinha, RS, 2001.

Dias após

alagamento pH NO-3 NH+4 Ca total Mg total K+ Na+

---mg/L--- 0 5,0 3,3 2,3 16,5 4,6 11,8 10,8 2 5,0 1,4 1,9 17,6 4,9 12,6 11,4 5 5,4 <0,2 2,3 18,8 5,6 14,1 11,8 7 5,6 <0,2 3,6 22,4 6,4 16,6 13,0 10 5,8 <0,2 6,5 43,5 12,2 21,2 16,6 15 5,9 <0,2 10,0 60,7 17,0 22,7 22,8 17 6,0 <0,2 13,7 46,8 12,8 23,9 16,8 22 6,0 <0,2 16,8 60,5 16,9 25,2 21,6 29 6,0 <0,2 20,4 60,1 16,1 25,2 20,4 31 6,0 <0,2 19,5 54,1 14,6 21,6 19,0 Nutrição de plantas

Para que a lavoura de arroz irrigado do RS rompa o atual patamar de produtividade (5,4 t ha-1), é preciso mudar a atual estratégia de adubação utilizada. Para uma adequada adubação, com o objetivo de atingir um patamar de 7 t ha-1 ou superior, será necessário considerar, além da análise de solo, o histórico da área cultivada e a quantidade de nutrientes

disponíveis e removidos pela cultura. Caso os nutrientes não estejam disponíveis ou estejam abaixo das necessidades das plantas, o potencial desejado não será alcançado.

Além disso, é necessário considerar a interação da nutrição de plantas com as demais práticas agronômicas, tais como época de semeadura, controle de plantas daninhas e manejo de água. De um modo geral, as plantas daninhas utilizam melhor os recursos disponíveis do que as culturas. Por isso, se não houver um bom controle de invasoras, a resposta à adubação será baixa ou até terá reflexos negativos sobre a produção.

Tão importante quanto adubar é ter os nutrientes disponíveis nos momentos fundamentais para o desenvolvimento das plantas. Sempre que possível, deve-se colocar toda a adubação de base por ocasião da semeadura. Já a adubação nitrogenada deve ser feita, em duas aplicações, segundo os estádios de desenvolvimento da planta. O nitrogênio deve estar disponível para as plantas em quantidade suficiente nos estádios de desenvolvimento em que são definidos os componentes do rendimento. Após a definição do número de panículas e de espiguetas, esta prática será pouco eficiente. De pouco valem os investimentos em adubação se a semeadura não for na melhor época, o controle de plantas daninhas não for eficiente e houver atraso na irrigação ou a aplicação do nitrogênio fora das épocas mais adequadas. A adubação só terá resultados positivos se os demais fatores não forem limitantes.

0 5 30 60 R e n d im e nt o r e la ti v o - % 0 50 60 70 80 90 100

População de arroz vermelho Panículas m-2

0 kg ha-1 de N 50 kg ha-1 de N

100 kg ha-1de N

Fig. 9. Rendimento relativo de arroz irrigado em função da população de arroz

vermelho e de níveis de adubação nitrogenada, EEA/IRGA, Cachoeirinha, RS, 1997/98. Rendimento de grãos - t ha -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Com adubo Sem adubo Com controle de invasoras Sem controle de invasoras

Fig. 10. Rendimento de grãos de arroz irrigado em função do controle de capim

arroz na presença e ausência de adubo, na média de três densidades de semeadura, adaptado de Bermudes et al., 1981.

Toda a estratégia de manejo, da mais simples à mais complexa, deve considerar os momentos fundamentais de definição dos componentes do rendimento e que, embora existam algumas práticas que interferem mais diretamente no desenvolvimento e crescimento da cultura, o resultado final é fruto da interação de todas elas – Manejo Integrado do Cultivo. O manejo integrado da cultura do arroz é uma estratégia de manejo que busca

desenvolver, ao nível da propriedade, práticas culturais para a lavoura de arroz como um sistema total de produção. Isto resultará na adoção pelos produtores de tecnologias e de manejo mais adequadas e em rendimentos mais elevados (CLAMPETT, 2001).

No documento Anais... (páginas 76-83)