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6 A pesquisa: o caso dos projetos anuais

6.1 Abordagem metodológica

6.1.2 Metodologia da pesquisa: a coleta de dados

A coleta de dados teve início no mês de maio de 2017 e encerramento em fevereiro de 2019. Nesse período, foram acompanhados integramente os projetos propostos pelos museus no ano letivo 2017/2018 e parte da edição de 2016/2017. Em Portugal, o ano letivo tem início em setembro, após as férias de verão, e seu encerramento sempre no ano seguinte, em junho; por isso, os anos letivos levam a numeração de dois anos diferentes – o primeiro correspondente ao início do ano letivo e o segundo, ao seu encerramento.

A pesquisa adentrou o ano de 2019 devido apenas a uma entrevista que ficou pendente em função da disponibilidade do entrevistado e a qual se considerava importante para complementar os dados coletados.

Os instrumentos utilizados para coleta dos dados foram:

a) Entrevistas semiestruturadas

Diante da necessidade de entrevistar professores e membros do serviço educativo das instituições participantes, optou-se por entrevistas que pudessem se adequar às narrativas dos entrevistados, permitindo, assim, em tom de diálogo, que novas questões fossem inseridas.

As entrevistas fornecem “dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. Seu objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos” (BAUER; GASKELL, 2000, p. 65). As entrevistas semiestruturadas, de acordo com Bauer e Gaskell (2000), caracterizam-se por poucas questões-guia, quase sempre abertas, possibilitando a introdução de outras questões, que surgem de acordo com o que acontece no processo em relação às informações recebidas.

Todas as entrevistas foram gravadas em celular, com auxílio de um aplicativo previamente instalado e com permissão dos entrevistados, podendo estes também optarem por manterem seu nome real ou permitirem a atribuição de um nome fictício, de maneira que se sentissem mais à vontade para exporem suas opiniões. O modelo de autorização escrita assinada pelos entrevistados está disponível no Apêndice A.

A seguir, elenco os tópicos que guiaram as entrevistas para coordenadores e colaboradores do serviço educativo e professores.

 Membros do serviço educativo e colaboradores: 1. Formação e funções no serviço educativo; 2. Edições em que participou do Projeto; 3. Dificuldades no projeto;

4. Destaques do Projeto;

5. Sugestões para melhoria do projeto ou observações;

6. Montagem da exposição e a Sala de Exposições do serviço educativo; 7. Retorno das escolas após a exposição.

 Professores:

1. Formação e Tempo docência;

2. Dificuldade que encontrou para coordenar o projeto; 3. Destaques do Projeto;

4. Sugestões para melhoria do projeto ou observações; 5. Análise da exposição final no Projeto.

b) Questionário Aberto

Optou-se por essa ferramenta após a realização de avaliações pilotos, que consistiam em uma discussão aberta, por meio da qual foi avaliado que os alunos repetiam as respostas dos primeiros e segundos colegas, ficando restrita a opinião da turma a uma média de cinco alunos. Diante da necessidade de adequação, e com o intuito de que os estudantes pudessem de alguma forma opinar – mesmo os mais tímidos –, optou-se pelo questionário aberto.

O questionário com perguntas abertas foi aplicado aos estudantes em algumas turmas participantes do projeto, com a possibilidade de as respostas serem por palavras, frases ou desenhos, possibilitando até que deixassem as respostas em branco, se assim preferissem. Essa flexibilidade deu-se levando em consideração a idade dos estudantes, que variavam de 6 a 10 anos, e sabendo que alguns apresentavam dificuldades na escrita.

Apesar de ser um recurso comumente utilizado em pesquisas quantitativas, se analisados com cuidado, podem integrar os dados qualitativos, pois “propiciam um fácil acesso a compreensão espontânea dos respondentes com relação ao objeto em questão [...] Em

certo sentido, perguntas abertas são um tipo de "microentrevista” (BAUER; GASKELL, 2000, p. 416).

c) Grupo Focal

O grupo focal é um “debate e uma troca de pontos de vista, ideias e experiências, embora expressas emocionalmente e sem lógica, mas sem privilegiar indivíduos particulares ou posições” (BAUER; GASKELL, 2000, p. 79).

Como recurso para o ponto de partida da conversa nas turmas participantes dos projetos e da avaliação, utilizou-se um desenho, pois permitiu que a questão fosse exposta a todo grupo e, a partir dela, “sempre há alguém que tem uma opinião e sugere algumas palavras que levam a uma série de associações” (BAUER; GASKELL, 2000, p. 80).

Trata-se do desenho apresentado pela Figura 4, no qual do lado esquerdo há uma pessoa com um chapéu e do lado direito um chapéu com as mesmas características, dentro de um cubo, acompanhado pela palavra “Museu”. O exercício foi realizado para avaliação piloto e acabou por ser incorporado à pesquisa como ferramenta de subsídio para discussão em grupo. As figuras instigaram os estudantes a opinarem e abriram várias possibilidades de discussão, referentes desde ao gênero de quem utilizava o chapéu a diferentes narrativas de como os objetos podem chegar a um museu.

Figura 4 - Imagem utilizada como ponto inicial para avaliação com grupo focal de estudante, 2017.

Nas avaliações piloto, em uma das turmas foi solicitada a autorização dos pais para gravação em vídeo dessa interação, cujo modelo de autorização está localizado no Apêndice B, para posterior transcrição. No entanto, vista a resistência dos pais com a ferramenta, somada à percepção de que quando as interações eram realizadas pela investigadora os

estudantes eram menos espontâneos, avaliou-se que o grupo focal deveria ser moderado por alguém de convivência dos estudantes e a investigadora registraria as interações. Sendo assim, em Guimarães, foi nomeada a coordenadora do serviço educativo e, no Porto, a professora da turma.

d) Notas de campo

Foram destinados dois cadernos para registros dos acompanhamentos, sendo um para cada projeto. As notas de campo constituem “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 150).

e) Fotografias

As fotografias tinham por objetivo complementar as notas de campo e possibilitar, através de visualização posterior, situações e detalhes que passaram despercebidos, como para ilustrar situações mencionadas na investigação ao leitor.

As fotografias tiradas pelos investigadores no campo fornecem-nos imagens para uma inspeção intensa posterior que procura pistas sobre relações e atividades...a disposição de escritórios, os conteúdos das prateleiras, podem ser estudados e utilizadas como dados quando se emprega uma câmera fotográfica como parte técnica de coleção de dados (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.189).

f) Documental

Sobretudo são os materiais que surgiram durante o desenvolvimento dos projetos que não haviam recebido qualquer tratamento ou análise, mas serviram para complementar o diário de campo, as fotografias e entrevistas, auxiliando na elucidação e ilustração dos fatos. Exemplos de documentos que surgiram na pesquisa foram: convites, folhetos, e-mails, memorandos, materiais entregues e produzidos como apoio para os projetos (GIL, 2002).