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2 Organização de conteúdo em documentos digitais

2.2 Modelo Conceitual

Antes de abordarmos especificamente o modelo conceitual e como ele ajudará na construção de hiperdocumentos, iremos definir o conceito de modelo utilizado neste trabalho. “Modelo é a representação abstrata e simplificada de um sistema real, com a qual se pode explicitar ou testar o seu comportamento, em seu todo ou em partes”. Um modelo não é um objeto real, mas algo que o representa, com maior ou menor fidelidade visando satisfazer a necessidade de conhecimento e conceituação sobre um objeto (COUGO, 1997, p.7).

A definição de modelo acima foi extraída da atividade de modelagem em projeto de banco de dados, oriunda da Ciência da Computação. O que não exclui a sua apropriação para o contexto deste trabalho, pois, segundo Sayão (2001, p.83), “[...] modelos científicos são aproximações da verdadeira natureza das coisas; o erro envolvido na aproximação é, não raro, suficientemente pequeno para tornar significativa essa aproximação”.

Para o entendimento sobre modelos buscamos em Sayão (2001) alguns conceitos que permitem compreender a razão de se utilizar um modelo e a finalidade da sua utilização. Modelos possuem características, propriedades, tipos e podem ser classificados quanto à natureza de sua constituição.

As características básicas de um modelo indicam a razão de sua existência. São elas:  Mapeamento: modelos são representações de algo original, natural ou artificial,

podendo ele mesmo ser modelado.

 Redução: geralmente não mapeiam todos os atributos do original que eles representam, mas unicamente aqueles que são relevantes para quem modela.

 Pragmatismo: modelos não são em si pertencentes à mesma classe que seus originais. Eles cumprem suas funções de substituição, orientados unicamente para objetivos dependentes de operações mentais ou factuais, dentro de uma faixa limitada de tempo.

As propriedades que denotam a funcionalidade do modelo são: Explanatória, Aquisitiva, Lógica, Normativa, Sistemática, Construtiva. Dentre estas, destacamos a relatada abaixo em função da aproximação com a abordagem do modelo conceitual como instrumento de organização da informação para hiperdocumentos.

 Aquisitiva e organizacional: proporciona uma estrutura através da qual a informação pode ser definida, coletada e ordenada, e ainda extraída a partir do próprio modelo.

Quanto aos tipos, os modelos podem ser classificados em descritivos e normativos. Os descritivos tratam de certa descrição estilística da realidade; e podem ser divididos em estáticos e dinâmicos. Os normativos tratam das ocorrências esperadas em função de certas condições estabelecidas.

Quanto à natureza de sua constituição, os modelos podem ser de (i) construções sólidas, físicas ou experimentais; e (ii) construções teóricas, simbólicas, conceituais ou mentais. Os modelos teóricos, simbólicos, conceituais ou mentais se ocupam de afirmações simbólicas ou formais de tipo verbal ou matemático.

No âmbito deste trabalho, o modelo será apropriado visando representar um objeto concreto, cuja materialização é a informação textual que serve de orientação para a execução de uma determinada atividade. Logo, o que se pretende com o modelo é mapear o conteúdo textual de forma a ilustrar uma rede de conceitos e como estes estão associados dentro da temática tratada pelo documento. A partir daí, espera-se que o modelo possa ser capaz de promover o entendimento de como uma atividade deve ser realizada.

Os conceitos gerais apresentados acima sobre modelos permitiram presumir que o modelo conceitual empregado neste trabalho imprime peculiaridades de mapeamento e redução, pois se propõe a representar o aspecto informacional de um documento, propiciando a representação gráfica do conhecimento registrado em um documento. A funcionalidade exercida pelo modelo é a organizacional, pois permitirá ilustrar a estrutura conceitual das informações não estruturadas pertinentes ao assunto tratado no documento.

O ato de modelar conceitualmente consiste em transportar o universo do conhecimento sobre uma temática para que esta possa ser discutida entre os elaboradores de hiperdocumento. Dessa forma, é possível registrar as ideias e suas ligações em algum meio que permita o mapeamento do pensamento do indivíduo sobre a temática em questão, reduzindo o mundo real ao qual a temática pertence e reduzindo a temática através de uma rede de ideias relacionadas e associadas (CAMPOS, 2001).

Fleury (2011, p.26) observou a modelagem conceitual, ou o ato de modelar conceitualmente, sob a conceituação de Mylopoulos11 e Guizzardi12, e a destacou como “atividade de descrição formal de alguns aspectos do mundo físico e social no qual vivemos,

11 MYLOPOULOS, J. “Conceptual Modelling and Telos”, 1992.

com o propósito de entendimento e comunicação”, onde as descrições dotadas de notações formais, chamadas de esquemas conceituais, constituem o modelo conceitual.

No escopo de hiperdocumento, a definição de Campos (2001) para modelo conceitual é um sistema de conceitos que propicia a escrita modelar em hiperdocumentos, cuja finalidade é representar o conteúdo que se deseja apresentar no hiperdocumento, possibilitando que as ideias do autor conteudista, aquele que conhece a temática, possam ser deslocadas e entendidas por quem irá desenvolver o hiperdocumento, no sentido tecnológico, o autor da tecnologia. O envolvimento de atores diferentes no contexto de um assunto que não é comum a todos os envolvidos pode desencadear diferentes níveis de entendimentos sobre o mesmo assunto. Nesse caso, um instrumento de representação visual do contexto do assunto, a exemplo do modelo conceitual, poderia ser o meio utilizado para registrar as ideias vinculadas à temática, propiciando a organização dos conteúdos para formar a estrutura coesa do hiperdocumento, além de servir como um instrumento para comunicação entre os atores da autoria colaborativa.

Do ponto de vista de Cougo (1997, p.21), a comunicação através do modelo conceitual retrata uma forma de documentação sobre o “entendimento e a transmissão de conceitos, especificações e regras”, que pode ser utilizada em outros ambientes que não seja o de desenvolvimento de sistemas, pois está se tratando de uma técnica de representação gráfica de um ambiente observado.

Nesse sentido, Campos (2001) defendeu a ideia da autoria colaborativa para hiperdocumentos baseada no fato de que a construção do hiperdocumento se dá por dois autores de naturezas distintas e, consequentemente, diferentes visões. No entanto, para que haja construção colaborativa é necessário estabelecer um meio de comunicação de tal forma que os atores envolvidos no processo de escrita do hiperdocumento entendam em um mesmo nível de compreensão a temática abordada. É nesse sentido que defendemos o mapa conceitual como instrumento de organização, representação e comunicação da informação no processo de construção de hiperdocumento.