• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA

2.3 Modalidades constitucionais de família

2.3.3 Monoparentalidade

Conforme mencionado, como corolário do princípio constitucional do pluralismo das entidades familiares, o ordenamento jurídico brasileiro atribui dimensão ampla, lata e estrita à família. Sua dimensão, em sentido estrito, compreende a família monoparental, unipessoal, uniparental290 ou unilinear291, prevista no §4º do art. 226 da CFB de 1988292. A monoparentalidade ocorre quando o exercício da autoridade parental é exclusivo de um dos genitores. Segundo Eduardo de Oliveira Leite293, “uma família é monoparental quando a pessoa considerada (homem ou mulher) encontra-se sem cônjuge, ou companheiro, e vive com uma ou várias

290FUJITA, Jorge Shiguemitsu - Famílias monoparentais. In: TARTUCE, Flávio; CASTILHO, Ricardo

(coordenadores). Direito Civil: direito patrimonial e direito existencial. São Paulo: Método, 2006, p. 217.

291SANTOS, Jonábio Barbosa dos § SANTOS, Morgana Sales da Costa Santos, op. cit., p. 08.

292Art. 226.“(...) §4º. Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer

dos pais e seus descendentes”.

293LEITE, Eduardo de Oliveira - Famílias monoparentais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

crianças”294. Em sua definição, Maria Helena Diniz295 afirma que composição monoparental ou unilinear desvincula a ideia de um casal e seus filhos, que vivem apenas com um dos genitores, destacando, dentre seus fatores determinantes, a separação judicial, o divórcio, a adoção unilateral, o não reconhecimento da filiação pelo outro genitor e a produção independente.

Assim, a monoparentalidade, partir da CFB de 1988, recebeu status constitucional, sendo, pois, atribuída em grande parte ao declínio do patriarcalismo, que em linhas gerais atribuía ao homem a gestão financeira do lar, tarefa exercida em colaboração com a mulher, a quem também competia os cuidados domésticos e com os filhos, numa estrutura legalizada através do casamento.

Ao lado do progressivo distanciamento do padrão patriarcal, as questões relacionadas à emancipação feminina igualmente contribuíram para o reconhecimento formal do fenômeno. A independência financeira da mulher, resultado do seu ingresso no mercado de trabalho, a elevou, por escolha pessoal, à condição de provedora da família. Aliada a isso, como a família deixou de ter finalidade procriativa, a sexualidade feminina passou a ser exercida com autonomia de controle contraceptivo e planejamento familiar.

Sob outro enfoque, no desenho monoparental, a hereditariedade cedeu lugar ao sentido social ou sociológico da filiação. Em razão disso, além do parentesco biológico, formações integradas por crianças ou adolescentes em situação de guarda ou tutela, sem vínculo de consanguinidade com os respectivos responsáveis, também adquiriram a dimensão de monoparentais.

No aspecto legislativo, o polissistema civil, implementado a partir da segunda metade do século XX, contribuiu para uma nova compreensão jurídica do fenômeno. Do referido sistema, citam-se as Leis nº 883/1949, nº 3.133/1957, nº 6.515/1977, nº 6.697/1979, nº 8.069/1990, nº 8.560/1992 e nº 9.278/1996, já

294 A maioridade dos filhos, contudo, não descaracteriza a monoparentalidade.

295 DINIZ, Maria Helena - Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 17ª ed., São Paulo:

abordadas em seus aspectos gerais, bem como a Lei nº 5.478/1968 (Lei de Alimentos)296.

Assim, influxos socioculturais, políticos, econômicos e jurídicos são responsáveis pela mudança de percepção da monoparentalidade em todo o mundo. Na civilização ocidental, não se trata de fenômeno recente, já que sempre existiram pessoas que, sozinhas, se dedicaram à criação e educação dos filhos. Com o aumento do número de divórcios, a partir da década de 60, o modelo ganhou visibilidade, tendo sido a Inglaterra o primeiro país a tratar do tema, adotando a denominação one-parent

families ou lone-parent families em seus levantamentos estatísticos. Na mesma época

houve um crescimento quantitativo de rompimentos conjugais nos Estados Unidos, chegando, na década de 70, a todo o continente europeu.

A expressão monoparentalidade foi empregada pela primeira vez pelo Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos (INSEE) na França, em 1981, em pesquisa realizada com o objetivo de estabelecer distinções entre famílias conjugais e configurações formadas por um genitor (solteiro, separado, divorciado ou viúvo) e sua prole, enfoque posteriormente disseminado para os demais países, incluindo o Brasil.

Desde então, são identificadas como principais características da monoparentalidade: a) A transgeracionalidade, assim compreendida a diferença de gerações entre seus integrantes, com ausência de relacionamento sexual. O modelo monoparental exige a presença de um só genitor, o que a distingue da família biparental, onde ambos os genitores desempenham suas funções na criação, educação e manutenção dos filhos. Inexistindo hierarquia, como no caso de estruturas

estabelecidas entre irmãos ou pessoas sem vinculação biológica, a modalidade familiar formada chama-se parental ou anaparental. Havendo natureza sexual, pode ser constituída uma união estável, salvo existindo vínculo de consanguinidade ou afinidade, hipótese em tais relações não recebem proteção legal porque são consideradas incestuosas. Em caso de união dos genitores com outros parceiros surge uma nova estrutura de convivência, chamada de família reconstituída, cuja formação

296Lei nº 5.478, de 25-07-1968.“D.O.U.” (26-12-1973, retificado em 14-08-1968 e republicado em 08-

passa a ser integrada pelos filhos de relacionamentos anteriores; b) A ausência de relações de convivência entre os filhos, ou menores sob guarda ou tutela, com ambos os pais. Além de um dos genitores e seus descendentes, também caracteriza uma família monoparental a responsabilidade assumida por um (a) tio (a) em favor dos sobrinhos ou por um dos avós em relação aos netos; c) A constituição por decisão voluntária ou involuntária do genitor.

A morte de um dos genitores é fator determinante da monoparentalidade por decisão involuntária. No entanto, atualmente, a formação de uma família monoparental é resultado, sobretudo, de uma manifestação de vontade. Na medida da superação de sua associação ao fracasso da vida a dois, a monoparentalidade constitui, cada vez mais, uma decisão pessoal, determinada pela ruptura afetiva, pela formação de uma união livre ou pela simples decisão de ter um filho sozinho297. Quando resulta de decisão voluntária, ocorre habitualmente nos seguintes casos: 1) Na adoção por pessoa solteira, nos termos do caput do art. 42 do ECA298; 2) Na reprodução assistida levada a efeito por mulher solteira ou viúva, seja a inseminação artificial homóloga (quando o material genético pertence ao parceiro pré-morto) ou heteróloga (quando o material genético é doado por terceira pessoa); 3) No celibato, assim compreendido como um estilo de vida caracterizado pela inexistência de casamento. Embora a expressão compreenda pessoas solteiras que moram sozinhas, para que se configure como monoparental a unidade deve ser formada por uma única pessoa e sua prole. Quando se fala do celibato, como fator determinante da monoparentalidade, cita-se a realidade das denominadas “mães solteiras”, distinguindo-se os seguintes modelos: a) Maternidade imposta, quando a mulher é obrigada a assumir a gravidez porque não está autorizada pela lei a interromper a gestação; b) Maternidade involuntária, expressão utilizada para denominar a situação da mulher que não desejou a gravidez, mas decidiu ter e educar sozinha o filho; c) Maternidade voluntária, assim definida aquela em que a mulher desejou a gravidez e decidiu ter e educar sozinha o filho; d) Maternidade coabitante, quando a mulher decide em conjunto com outrem ter e educar o filho. Nos termos definidos pela CFB de 1988, apenas a hipótese de

297GARBIN, Rosana Broglio - Famílias monoparentais: da visão singular ao modelo plural. A teoria e a prática dos saberes do cotidiano. Porto Alegre: Ajuris, 2005, p. 217.

maternidade coabitante não caracteriza a monoparentalidade299. De todo modo, a tradição social brasileira e a própria legislação civil, ao longo do tempo, sempre emprestaram à expressão “mãe solteira” sentido pejorativo. A discriminação contra estruturas de convivência não enquadradas na triangularização pai, mãe e filhos reproduz padrões sociais dominantes, além de ter enfrentado por longo tempo a resistência da própria lei. No aspecto legislativo, até a metade deste século era considerada ilegítima a filiação não proveniente do matrimônio. Em que pese vencido o referido entendimento, impulsionado pela isonomia filial (§6º do art. 227 da CFB de 1988), situações que não se apresentem em conformidade com o modelo tradicional de família ainda sofrem forte carga de discriminação300; 4) No divórcio ou na separação, quando o rompimento conjugal gera o afastamento de um dos genitores em relação aos filhos. Tais circunstâncias não se confundem com as hipóteses de guarda unilateral ou compartilhada, em que os deveres parentais são preservados, modificando-se apenas a forma de exercício, razão pela qual Rolf Madaleno301 distingue família monoparental de lugar monoparental, litteris:

“Famílias monoparentais são usualmente aquelas em que um progenitor convive e é exclusivamente responsável por seus filhos biológicos ou adotivos. Tecnicamente são mencionados os núcleos monoparentais formados pelo pai ou pela mãe e seus filhos, mesmo que o outro genitor esteja vivo, tenha falecido, ou que seja desconhecido porque a prole proveniente de uma mãe solteira, sendo bastante frequente que os filhos mantenham relação com o genitor com o que não vivam cotidianamente, daí não haver como confundir família monoparental com lugar monoparental”.

5) Na denominada “união livre”, impulsionada pela revolução sexual ocorrida na década de 60, caracterizada pela ausência de compromisso,

299SANTOS, Jonábio Barbosa dos; SANTOS, Morgana Sales da Costa Santos, op. cit., p. 15.

300Nesse sentido, o então candidato e atual vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão,

defendeu o argumento de que famílias não integradas por figuras masculinas (pai ou avô) criam “filhos desajustados”, vulneráveis à constituição de quadrilhas de narcotraficantes, sendo a ele imputada a seguinte afirmação: “(...) A partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narcoquadrilhas que afetam nosso país”. (REUTERS - Mourão diz que família sem pai ou avô é fábrica de elementos desajustados [em linha]. [s.l.].[s.n.]. Exame (17-09-2018), p. 02 [Consultado 10/12/2018]. Disponível em:https://exame.abril.com.br/brasil/mourao-diz-que-familia-sem-pai-ou-avo-e-fabrica-de- elementos-desajustados.

responsabilidade, durabilidade ou lealdade na relação, o que, dadas suas peculiaridades, não se confunde com união estável, em que vigora a biparentalidade.

Motivada pelo crescente número de núcleos familiares formados por apenas um dos pais e seus descendentes, a CFB de 1988 dispensou tratamento constitucional à monoparentalidade, como forma de combater a discriminação e auxiliar a integração dos seus membros na sociedade. No entanto, a legislação ordinária não acompanhou o sentido de proteção encampado pelo constituinte. À exceção da regra conceitual prevista no art. 25 do ECA (que define família natural como a comunidade formada por um ou ambos os pais e seus descendentes), em virtude da ausência de regulamentação, os interessados no exercício dos direitos e obrigações decorrentes dos vínculos monoparentais são amparados pelo que dispõem as citadas Leis nº 5.478/1968, nº 6.515/1977, nº 8.560/1992, nº 9.278/1996, nos aspectos relacionados aos efeitos provenientes da filiação e pelo próprio CCB de 2002. Cabe destacar que em virtude da facilidade de dissolução do casamento, a partir da Emenda Constitucional nº 66/2010, e da maior liberdade na constituição e dissolução da união estável, a qualquer momento a monoparentalidade pode ser originada.

Nesse sentido, Eduardo de Oliveira Leite302 destaca o paradoxo do reconhecimento da família monoparental pelo Direito Constitucional e a ausência de disciplinamento pelo Direito Civil, o que, além de desobrigar o Poder Público a auxiliá-la, contribui para a manutenção do seu viés discriminatório. Assim, no aspecto financeiro, independentemente do motivo que ensejou sua formação, a monoparentalidade habitualmente representa uma modificação, ainda que transitória, do poder aquisitivo da família, isso porque as despesas são providas por apenas um dos genitores ou responsáveis. Embora a maioridade não seja elemento essencial para a sua caracterização, a existência de filhos menores, financeiramente dependentes de um dos pais ou responsáveis, é outro elemento comum ao fenômeno.

Ocorre que por força do art. 227 da CFB de 1988, a garantia de direitos essenciais à criança e ao adolescente não é responsabilidade apenas da família, mas também da sociedade e do Estado. No entanto, as políticas assistenciais brasileiras, como a estabelecida pela citada Lei nº 10.836/2004, que criou o Programa Bolsa

Família, não estabelecem proteção especial à monoparentalidade. No caso do referido programa federal, o benefício é destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de extrema pobreza, nos termos do seu art. 2º303, desconsiderando as especificidades do modelo em questão que, além da provisão de recursos por apenas um dos genitores e da dependência financeira dos filhos, impõe à mulher um ônus específico, manifestado sob o aspecto moral e financeiro. Nesse sentido, sob o aspecto moral, ao contrário do que ocorre com o homem, a monoparentalidade feminina é frequentemente associada à promiscuidade. Aliado a tal estigma, ao se tornar a única responsável pela família, é estabelecida uma grande dependência afetiva na relação filial. A preocupação com imagem dos filhos é também interiorizada pela mulher, afetando sua autoestima e impactando o exercício da própria sexualidade304. Os filhos, por sua vez, também sofrem julgamentos morais, já que, além de conviverem com questionamentos sobre sua paternidade, são habitualmente associados a desvios de comportamento, dificultando sua integração social e comunitária. Sob o aspecto financeiro, adotando-se como parâmetro o contingente populacional atendido pelas Defensorias Públicas, o ônus da monoparentalidade recai majoritariamente sobre mulheres de baixa renda, sem qualificação ou experiência profissional, ou que exercem profissões pouco valorizadas, em geral acumulando dupla jornada de trabalho. Desse universo, há uma subdivisão etária, em que o primeiro grupo é composto por adolescentes grávidas e o segundo formado por mulheres de idade avançada.

303Art. 2º. “Constituem benefícios financeiros do Programa, observado o disposto em regulamento: I- O

benefício básico, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de extrema pobreza; II- O benefício variável, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza e extrema pobreza e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças entre 0 e 12 anos ou adolescentes até 15 anos, sendo pago até o limite de 5 benefícios por família (redação dada pela Lei nº 12.512/2011); III- O benefício variável, vinculado ao adolescente, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescentes com idade entre 16 e 17 anos, sendo pago até o limite de dois benefícios por família (Redação dada pela Lei nº 11.692/2008); IV - O benefício para superação da extrema pobreza, no limite de um por família, destinado às unidades familiares beneficiárias do Programa Bolsa Família e que, cumulativamente: (redação dada pela Lei nº 12.817/2013) a) Tenham em sua composição crianças e adolescentes de 0 a 15 anos de idade; e (redação dada pela Lei nº 12.817/2013); b) Apresentem soma da renda familiar mensal e dos benefícios financeiros previstos nos incisos I a III igual ou inferior a R$ 70,00 (setenta reais) per capita (incluído pela Lei nº 12.722/2012) (...)”.

No grupo das mulheres de idade avançada, que adentram na monoparentalidade, há novo recorte. O primeiro é composto por mulheres cujo rompimento conjugal ocorreu após período de integral dedicação à família, quase sempre imposta pelo marido ou companheiro. A obrigação alimentar em relação aos filhos menores é inquestionável, submetida ao trinômio necessidade/possibilidade/proporcionalidade305. No entanto, no que se refere ao pensionamento para a própria mulher, a jurisprudência considera o caso concreto, levando em conta questões relacionadas à saúde e possibilidade ou não de reinserção no mercado de trabalho306. O segundo recorte de ingresso de mulheres de faixa etária mais elevada na monoparentalidade é a viuvez. Nesse caso, há duas possibilidades: ou passarão a sobreviver da pensão por morte, quando o benefício previdenciário existir ou, no caso da companheira, não existindo prova pré-constituída da união, o recebimento de eventual benefício está condicionado à procedência do pedido de reconhecimento e dissolução de união estável post mortem, cuja complexidade, sobretudo existindo herdeiros ou cônjuge separado de fato307, conduz a um processo judicial de duração e resultado imprevisíveis.

Ao contrário do que ocorre no Brasil, diversos países contemplam experiências de proteção estatal que levam em consideração as peculiaridades do genitor que vive sozinho com a sua prole, por intermédio de programas governamentais que subsidiam despesas de manutenção das famílias monoparentais.

305 “(...)1. Ponderando-se as necessidades alimentares dos menores, inseridos em família de alta renda,

bem como as possibilidades financeiras de ambos os genitores, vislumbrando-se destacado conforto financeiro do genitor, reputa-se que o patamar de R$ 7.000,00, acrescido da obrigação de manter os filhos junto ao plano de saúde contratado, mostra-se proporcional e razoável às particularidades do caso em tela (...)”.(STJ, AgRg no AREsp nº 310.616/AP, Quarta Turma, relatora ministra Maria Isabel Gallotti, julgamento em 03-02-2015, DJE de 09-02-2015).

306 (...) 3. Segundo a orientação jurisprudencial do STJ, com esteio na isonomia constitucional, a

obrigação alimentar entre cônjuges é excepcional, de modo que, quando devida, ostenta caráter assistencial e transitório. 4. A perenização da obrigação alimentar, a excepcionar a regra da temporalidade, somente se justifica quando constatada a impossibilidade prática de o ex-cônjuge se inserir no mercado de trabalho em emprego que lhe possibilite, em tese, alcançar o padrão social semelhante ao que antes detinha, ou, ainda, em razão de doença própria ou de algum dependente comum sob sua guarda (...)”. (STJ, REsp 1726229 / RJ. 2017/0186219-4, Terceira Turma, relator ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgamento em 15-05-2018. DJE de 29-05-2018).

307 “(...) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a existência de casamento válido

não obsta o reconhecimento da união estável, quando há separação de fato ou judicial entre os casados”. (STJ, AgRg nos EDcl no AgRg no AREsp nº 710.780/RS, Quarta Turma, relator ministro Raul Araújo, julgamento em 27-10-2015, DJE de 25-11-2015).

Nos Estados Unidos, o AFDC (Aid to Families With Dependent Children) custeia o pagamento de pensão alimentícia quando a remuneração do genitor guardião é insuficiente para arcar com as despesas da família, sendo os valores progressivamente reduzidos na proporção do aumento do poder aquisitivo do núcleo familiar. Na Suécia, o Estado adianta o pagamento fixado como pensão alimentícia em face do genitor devedor, responsabilizando-se, ainda, pela cobrança do montante estabelecido. Na França, há dois tipos de auxílio: a) O Abono de Sustento Familiar (ASF), subsidiado pela Caixa Nacional de Abonos Familiares (CNAF), que consiste no adiantamento da pensão alimentícia paga genitor devedor, sendo a CNAF também responsável pela cobrança dos referidos valores. Não havendo pensão arbitrada, o abono não pode ser recuperado; b) O Abono de Genitor Só (API), destinado a filhos de até 17 anos que não exercem atividade laborativa, e até aos 20 anos, caso sejam aprendizes, estudantes ou enfermos. O valor do abono consiste na diferença entre os recursos da família e a renda mínima fixada pelo Estado308.Embora os Tribunais brasileiros venham reconhecendo a impenhorabilidade do bem de família a núcleos formados por irmãos solteiros e devedor celibatário, que reside sozinho no imóvel, ampliando a regra de proteção estabelecida no art. 1° da citada Lei n° 8.009/1990309, a ausência de regulamentação ordinária não tem sido capaz de impulsionar o exercício da proteção constitucional, resultando, na prática, na invisibilidade jurídica da monoparentalidade. A também mencionada Lei nº 11.977/2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha Vida, é uma das poucas iniciativas de proteção legislativa às famílias monoparentais (caput e o inciso I do seu §1º)310. Assim, sem

308SANTOS, Jonábio Barbosa dos; SANTOS, Morgana Sales da Costa Santos, op.cit.,p.27.

309Art. 1º. “O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não

responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados”.

310Art. 1º. “O Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV tem por finalidade criar mecanismos de

incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 4.650,00 e compreende os seguintes subprogramas: (redação dada pela Lei nº 12.424,/2011) §1º. Para os fins desta Lei, considera-se: (redação dada pela Lei nº 13.173/ 2015) I - Grupo familiar: unidade nuclear composta por um ou mais indivíduos que contribuem para o seu rendimento ou têm suas despesas por ela atendidas e abrange todas as espécies reconhecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, incluindo- se nestas a família unipessoal”. (incluído pela Lei nº 12.424/ 2011).

prejuízo da adequação da experiência internacional à realidade brasileira nos termos