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LENTES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

3 CULTURA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: PERSPECTIVAS SOCIOANTROPOLÓGICAS E O ENFOQUE SEMIÓTICO DA PSICOLOGIA

3.3 NARRATIVAS, EXPERIÊNCIA E SELF: OS SIGNOS COMO FERRAMENTAS REGULATÓRIAS

Uma das formas de identificar a novidade no desenvolvimento é através das narrativas. Jerome Bruner, um dos primeiros teóricos a sistematizar as bases da psicologia cultural

(VALSINER, 2007), afirma que as narrativas do sujeito constituem uma forma de organização da experiência na dimensão espaço-temporal, seu conteúdo fornece dados que permitem compreender o processo do desenvolvimento e expressa o modo como os elementos da cultura estão organizados. Conforme Bruner (2000), a cultura, ao mesmo tempo em que abrange um conjunto de regras e especificações para ação, é, igualmente, um constante fórum de negociação e recriação, à medida que é interpretada pelos seus membros através da narração de histórias, teatro, ciência e mesmo jurisprudência, que são técnicas de possíveis interpretações. As narrativas representam os significados construídos na experiência pessoal e na interpretação da realidade pelo sujeito, expressas através da linguagem, signo principal, que espelha as narrativas coletivas. O autor considera que tanto o pensamento lógico científico como as narrativas do sujeito constroem realidades e ordenam a experiência. Assim, as narrativas são geradas pela cultura e expressam o modo como os seus elementos são significados, temporalmente organizados e orientados para a ação, por esse motivo também se constituem como fonte de produção de dados para o objeto de estudo da psicologia: os processos mentais. Compartilhando essa compreensão com Vigotski (2004), o autor defende o ponto de vista de que o objeto de estudo da psicologia são os processos mentais, que só podem ser compreendidos no contexto histórico-cultural, em constante transformação. Bruner (2008), na tentativa de entender o homem não apenas do ponto de vista biológico, mas também cultural, propõe uma psicologia focada nos significados do sujeito em torno do Self (o si mesmo), os quais são definidos tanto pelo indivíduo quanto pela cultura da qual participa. Assegura que o papel da psicologia é entender como esses significados são produzidos e colocados em prática no mundo, elaborando hipóteses sobre essas ações. Como em Geertz (2001 a), a cultura é entendida por Bruner (2008) como teias de significados que são construídos e compartilhados pelos membros de um dado grupo social, constituindo-se, assim, é a mediadora da construção de signos e de padrões de ações significativas no desenvolvimento humano.

Valsiner (2012) refere-se às narrativas como construções subjetivas episódicas, que consistem nos significados (meanings), aqui também denominados de recursos simbólicos ou dispositivos semióticos, elaborados pela pessoa sobre suas experiências de vida. É nesse campo de significados, ou significações, construídos socialmente e ressignificados pela pessoa, que se insere o papel da cultura como organizador sistêmico no desenvolvimento dos processos psicológicos individuais. Essas construções são permeadas de afetividade, cognição e criatividade, sendo produzidas no âmbito da cultura pessoal, mediante criação e uso de signos que servem como guias ou reguladores para a conduta humana na dimensão intrassubjetiva: “[...] O domínio dos sentimentos é central para construção de culturas pessoais. O lado mental-

reflexivo (ou ‘cognitivo’) é uma ferramenta semiótica emergente para organizar o relacionamento afetivo com o mundo” (VALSINER, 2012, p.251). Na dimensão intersubjetiva, as ferramentas semióticas são ressignificadas e negociadas nas múltiplas mensagens e papéis sociais através da cultura coletiva.

Nessa direção, o autor argumenta que a experiência afetiva é central para os níveis de organização dos processos psíquicos, sendo socialmente regulada pelas construções semióticas do sujeito e se constituindo como totalidade criada no tempo. As experiências são organizadas em três níveis: microgenético, mesogenético e ontogenético. A microgenética é a experiência vivida, imediata, do ser humano e ocorre no enfrentamento das sugestões sociais e incertezas inevitáveis do momento próximo e inédito, no qual a pessoa cria ferramentas ou recursos simbólicos para resistir às tensões e adquirir estabilidade subjetiva. Abrange elementos idiossincráticos, pois a pessoa cria um campo de significações que corresponde a sua cultura pessoal e cuja produção é superabundante e progressiva, ocorrendo uma hierarquização dos signos envolvidos. Valsiner (2012) ressalta que alguns dispositivos semióticos são conservados ao longo da ontogênese e outros são abandonados, antes mesmo do seu uso ou quando não forem mais necessários.

O nível organizador central da experiência é o mesogenético, pois canaliza a cultura pessoal em cenários culturais, ou cultura coletiva, tais como as atividades cotidianas, a escolarização, o lazer, os rituais e outros. Através das externalizações realizadas pela pessoa, esse nível atua como uma bricolagem interpessoal ou circunscritiva, ao integrar e regular as relações entre os eventos microgenéticos e a ontogênese. Assim, devido ao papel que desempenha entre os níveis, os eventos mesogenéticos são mais acessíveis à observação e análise para o pesquisador, tornando-se o “ponto de entrada metodológico” para estudo dos processos culturais psicológicos (VALSINER, 2012, p.254). As experiências organizadas no nível da ontogênese são mais estáveis e orientam a pessoa no seu curso de vida, pois nele os macrogenéticos e mesogenéticos são transformados em referências para seu sistema de orientação.

A Psicologia Cultural do Desenvolvimento propõe, como unidade de análise, a construção de significados pela pessoa em transformação (sistema Self), na dimensão espaço- temporal, mediada pela cultura. Assim, direciona seu referencial teórico-metodológico para analisar os aspectos dinâmicos dos processos de transição no desenvolvimento em contínua mudança. A análise dos processos de significação exige uma compreensão sistêmica de como os sentidos são socializados através das narrativas, ou seja, como se expressam na cultura coletiva. O desenvolvimento psicológico é mediado por signos, ativa e criativamente

elaborados pelo sujeito semiótico entre o intersubjetivo e o intrassubjetivo. Cabe aqui registrar a ênfase de Michael Cole (1997) na mediação semiótica como movimento contínuo de recorrer ao passado e antecipar o futuro, pela qual, embora não agindo em situações escolhidas, a pessoa atua sempre como agente em seu próprio desenvolvimento.

Na perspectiva desenvolvimental, os processos psicológicos são sistemas abertos, envolvidos em trocas de relações com ambientes particulares e, assim, em processos permanentes de mudança. Valsiner (2005) explica que a fluidez da nossa experiência é, ao mesmo tempo, paralela a nossa construção psicológica de estabilidade, constituindo uma unidade estabilidade/mudança. A relativa estabilidade e mudanças inesperadas no desenvolvimento são explicadas através do axioma do tornar-se e na dinâmica da

autorregulação. Conforme o autor, esse axioma segue a lógica das relações intransitivas na

organização hierárquica dos sistemas, de ordem cíclica: “[...] se A > B e B > C, então, não é verdade que A > C, de preferência se pode ser A < C, A = C, ou a relação de A e C é indeterminada” (VALSINER, 2005, p.22)30. Desse modo, não há nada que garanta o

fechamento dessa estrutura, sugerindo uma incompletude dos fenômenos psicológicos. É neste campo de incertezas e reconfigurações que um novo desenvolvimento pode brotar (a novidade). Essa unidade estabilidade/mudança é possível devido às relações entre a pessoa (Self) e o ambiente (mundo social), cujas trocas são possíveis através dos signos, dispositivos que representam alguns aspectos da realidade objetiva. A estabilidade dinâmica consiste na estabilidade dos fenômenos mantida como resultado de processos dinâmicos e pode desaparecer ou reaparecer em novas formas. Ao mesmo tempo, algumas mudanças mantêm períodos de relativa estabilidade, outras alimentam transformações dentro do sistema, originando novo estado, que pode ser interpretado como pequenas modificações no contexto.

Conforme a perspectiva semiótica da Psicologia Cultural, as pessoas operam por meio de signos, que são fabricados na mente, em sua interação com o mundo através da ação triádica: o signo, seu objeto e sua interpretação. O signo é algo que codifica o objeto (coisa, pessoa ou experiência), fica no lugar dele como referência, e as teorias e sentidos atribuídos consistem na interpretação. Os signos estruturam-se em três tipos: índice, ícone e símbolo. O índice é um signo criado pelo impacto do objeto, a exemplo de uma pegada de um animal. Os signos icônicos podem ser schemata (esquemarização), réplicas simplificadas dos objetos, a exemplo de uma figura geométrica ou o desenho da pata de um animal. Um ícone pode ser também um

pleromata, quando transcende o objeto representado, a exemplo de uma pintura ou fotografia

artísticas. O símbolo expressa-se na linguagem verbal, em qualquer palavra que represente um objeto, a exemplo do nome do animal que deixou a marca de suas patas (VALSINER, 2012).

Nessa perspectiva, os signos podem assumir uma variedade de formas ou funções construídas na relação entre a pessoa e seu mundo social, num momento e local específicos, configurando experiências singulares e irreversíveis no tempo. Eles emergem para superar as demandas de um determinado evento nas trajetórias de vida, funcionando como marcadores semióticos ao conectar experiências do passado para o futuro através de três orientações temporais: reapresenta a experiência vivida, coapresenta a experiência corrente e pré-apresenta algumas possibilidades de experiências futuras. Os signos codificam as experiências humanas, intra e interpsicológicas, porém não dão conta de sua totalidade, apenas dos aspectos do fenômeno que são sentidos como marcantes para a pessoa. Desse modo, regulam aspectos mais relevantes das experiências e são usados como recursos ou dispositivos para sentir, pensar, agir de modo a atender à situação emergente ou a momentos de incertezas. Conforme esclarece Valsiner (2012, p. 39): “Todos os signos resultam de um processo de generalização: alguns aspectos de seus objetos são enfatizados, outros perdidos”.

Na conduta humana, seja através da reflexividade (Self-reflexividade) ou intuitivamente, os signos interiorizados e reconstruídos são progressivamente organizados, diferenciados e hierarquizados no campo de significações em diferentes níveis, assumindo em cada em deles o papel de reguladores. Valsiner (2012) afirma que a organização hierárquica dos signos reconfigura-se constantemente em uma mesma pessoa, pois as experiências são inusitadas e permeadas de tensões. Nos processos de simbolização, alguns dispositivos semióticos permanecem como metassignos que atuam no nível superior através da “abstração generalizante”. Desse modo, assumem o papel de signos promotores, orientando a pessoa para novas e possíveis alternativas para o futuro e, ao mesmo tempo, regulam outros signos com níveis inferiores de organização: “Na vida real, o que podemos encontrar é o crescimento

sempre-crescente e sempre generalizante do sistema semiótico regulatório”(VALSINER,

2012, p.51; grifos do autor).

De acordo com Sato, Yasuda, Kansaki e Valsiner (2013), a Psicologia Cultural amplia a ideia de mediação semiótica no âmbito da perspectiva histórico-cultural, ao introduzir a noção de signo promotor, uma vez que não se trata de um signo que a pessoa usa de imediato para agir, mas um signo metanível, que orienta a direção de outros signos, que, por sua vez, geram a conduta real de forma flexível e variável. Conforme Valsiner (2012, p.54), um signo torna-se promotor, quando na sua versão generalizada, “[...] canaliza ações futuras e, sobretudo, quando se torna internalizado sob a forma de sentimentos”. A organização hierárquica dos signos

depende de sínteses dialéticas desenvolvimentais que emergem das ambivalências ou pontos de bifurcação31, mediadas por signos tipo campo (metassignos) e signos tipo ponto.

Os metassignos oferecem um leque de significados possíveis, definem as fronteiras de estabilidade entre os signos e os domínios de instabilidade, são signos tipo campo, e assumem níveis de generalização crescentes, direcionados para abstrações como, por exemplo, sentimentos de amor, fé, valores pessoais, rituais e artes. Assim estruturados, operam como promotores ou guias para orientações do self-sistema e seus papéis sociais. Valsiner (2012) defende o ponto de vista de que a sociedade é um mediador semiótico, criando campos de significação hipergeneralizados. Ela funciona, então, como metassigno da psique humana, ao regular signo com diferentes níveis de generalidade e outros signos utilizados que assumem funções mais específicas na vida cotidiana em direção ao contexto (signos tipo ponto).

Os signos tipo ponto são representações estáticas e relativamente estáveis de alguma coisa, como, por exemplo, a palavra. Embora seja um signo de nível inferior ao signo tipo campo, uma palavra inserida em determinado contexto, sob regulação de signos mais generalizados, pode provocar mudanças no campo de sentimentos e comportamentos do ator social (CABELL, 2010; VALSINER, 2012). Isso porque as representações entre os signos tipo campo e os signos tipo ponto são mutuamente inclusivas. Uma explicação gráfica sobre esses dois tipos de signos foi apresentada por Abbey e Valsiner (2005). A seguir, na primeira ilustração, um ponto representa uma coisa (pode ser uma palavra ou um objeto), é o signo tipo ponto; na segunda, um campo internamente estruturado compõe-se de signos, é o signo tipo campo.

Figura 1– Representação gráfica do signo tipo ponto

Fonte: Abbey e Valsiner (2005, p. 2).

Figura 2 – Representação gráfica do signo tipo campo

31 Valsiner (2012, p.51) conceitua ambivalência ou ponto de bifurcação como “[...] momento da decisão quanto a

agir de um modo ou de outro – é um processo psicológico cheio de ambivalência”. Retomarei a esse conceito mais adiante, neste capítulo e no próximo.

Fonte: Abbey e Valsiner (2005, p. 3).

Nesta pesquisa, foram identificados os signos tipo campo e os signos tipo ponto mais comuns entre os estudantes indígenas. Os rituais indígenas e o conhecimento acadêmico são os signos generalizados que mais aparecem como promotores de seus posicionamentos na vida universitária. As palavras indígenas ou indiodescendentes funcionam muitas vezes como signo tipo ponto, pois provocam reações afetivas e comportamentais distintas entre eles, uma vez que são orientadas por signos com níveis maiores de generalização, como preconceitos e estereótipos.

A dinâmica hierárquica dos signos na regulação semiótica confere a centralidade da experiência afetiva nos níveis de organização dos processos psíquicos por meio da mediação. Os signos desempenham dupla função: regulam-se a si próprios (autorregulação) e os outros signos (heterorregulação). A emergência de hierarquias ocorre num ciclo causal em múltiplos níveis de organização descendente: a emergência de níveis superiores de signos generalizados torna-se causal em relação aos níveis inferiores. Nesse aspecto, Valsiner (2007; 2012) retoma o modelo bidirecional, ou método da dupla estimulação, desenvolvido por Vygotsky, destacando sua relevância em considerar as diferentes formas de causalidade dos fenômenos psicológicos, com base no funcionamento cíclico das estruturas hierárquicas dos signos. Assim, propõe analisar a emergência semiótica com base na causalidade sistêmica que, além dos sistemas multiníveis e a causalidade dependente, supracitados, inclui a causalidade catalítica e transformacional.

Kenneth R. Cabell contribui para a compreensão da emergência do sujeito mediada por reguladores semióticos ao apresentar a ideia de identidade como signo tipo campo, entendida como uma representação/concepção mental do Self estruturada no tempo e no espaço na sua relação com o ambiente. Segundo afirma, a mediação semiótica é a forma construtiva e ativa de como as pessoas se relacionam com o mundo, empregando dispositivos reguladores. Os signos reguladores podem promover novas trajetórias no seu desenvolvimento, assumindo papel de signos guia, como já descrito, mas também podem inibir ou fracassar na emergência de novas sínteses desenvolvimentais (CABELL, 2010).

No entanto, é preciso existirem condições necessárias para o emprego e a operação dos reguladores, fornecidas por catalisadores semióticos. Do ponto de vista funcional, a mediação semiótica pode ser diferenciada em dois tipos de mediadores: catalisadores e reguladores. Os catalisadores semióticos fornecem suporte, ou apoio contextual, para ação imediata ou futura dos signos reguladores e, como tais, podem atuar nos processos psicológicos em curso, produzindo novos fenômenos. No sistema psicológico, eles inscrevem-se fornecendo significados, atuando indiretamente sobre um signo ponto, um signo campo ou até mesmo um signo hipergeneralizado. Conforme Valsiner e Cabell (2011), catálise 32 é um termo amplo que se refere às condições necessárias – mas não suficientes – para produzir mudança qualitativa em um sistema. No Self-sistema, os catalisadores não podem ser entendidos como a causa particular das mudanças psiológicas, mas como a atmosfera ou química psiquica que direciona, ativa ou desativa os reguladores semióticos para a ação, configurando uma causalidade catalítica.

A concepção de causalidade catalítica mostrou-se relevante para o objeto de estudo desta pesquisa na análise dos significados atribuídos pelos estudantes às rupturas e transições no seu desenvolvimento em diferentes níveis de generalização, pois permitiu identificar as mudanças que foram mais significativas na trajetória desses jovens. As rupturas compõem-se de catalisadores semióticos que orientam e apoiam as mudanças psicológicas e preparam o terreno para a ativação e construção de signos reguladores do Self-sistema (VALSINER; CABELL, 2011). Esse suporte contextual abrange as mudanças catalisadas denominadas de transições. Dessa forma, as rupturas desencadeiam transições, processos que reduzem as incertezas, pois ensejam condições para novos posicionamentos ou relocações nos campos socioafetivo e simbólico da experiência da pessoa, reconfigurando o seu Self.

Zittoun (2012 c) esclarece que, nos processos de transição, as pessoas procuram novas maneiras de agir e de compreender o seu cotidiano, e isso demanda tempo e relocação espacial e social para explorar novas possibilidades e escolher novas alternativas. No par rupturas- transições, podem surgir diferentes catalisadores semióticos que desempenham papel ativo nas mudanças desenvolvimentais, fornecendo suporte através de signos promotores. No caso específico dos estudantes indígenas, que participaram desta pesquisa, os signos promotores podem ser os conhecimentos populares e científicos, os rituais ou pessoas significativas na vida dos jovens (outros sociais). Porém as mudanças só correm se as rupturas forem vivenciadas

32 O conceito de catálise aparece primeiro como indispensável na química, tendo sido introduzido por Jons Jakob

Berzelius e, posteriormente, estendido para outras áreas do conhecimento, permeado pela noção de causalidade catalítica desenvolvida por Heineman (1938, apud VALSINER; CABELL, 2011, p.86-87).

como catalisadoras pelo sujeito, ou seja, fornecerem elementos contextuais necessários que sinalizem a emergência de novas instâncias no Self-sistema, ou seja, o surgimento de novidade na mediação semiótica.

As transições são ocasiões para o desenvolvimento e, segundo a Psicologia Cultural, o requisito para uma transição é vir acompanhada pelo desafio de abandonar ou reformular identidades, rotinas e representações da realidade. Esta noção de transições é aqui entendida como movimento constante e sistêmico, pois remete às transformações simultâneas entre pessoa e ambiente sociocultural. A pessoa em transição é analisada pelo olhar da causalidade transformacional sistêmica, condições nas quais os sistemas causais reunidos, sob tensão e ambivalências, provocam novas sínteses desenvolvimentais (VALSINER, 2012). Desse modo, a orientação semiótica da psicologia cultural apresenta uma forma de compreender a causalidade dos processos psíquicos com o foco sobre a emergência de novas funções psicológicas através da construção de significados, cuja autoria é conferida ao sujeito. Retomando ao conceito de distanciamento psicológico apresentado pelo autor, a pessoa, através da reflexividade, se distancia do seu contexto, atribuindo-lhe sentidos, ao mesmo tempo em que permanece nele como ator, tornando-se agente do seu próprio desenvolvimento. No próximo item, discuto como as mudanças se processam no Self-sistema.

3.4 A ABORDAGEM SEMIÓTICA-DIALÓGICA DO DESENVOLVIMENTO: O SELF-

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