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No balanço do encontro das águas: uma incursão por Santarém – A Pérola do Tapajós

E, finalmente, o quinto capítulo, tratará sobre “Os efeitos do Programa Rede Vencer em Altamira e Santarém: entre os desafios da construção e os riscos da

3 ENTRE CIDADES, RIOS E FLORESTAS: O INSTITUTO AYRTON SENNA NO CENÁRIO EDUCACIONAL DE ALTAMIRA E SANTARÉM, NA AMAZÔNIA

3.3 No balanço do encontro das águas: uma incursão por Santarém – A Pérola do Tapajós

Figura 3 – Santarém: o encontro das águas

Fonte: www.prefeituradesantarem.pa.br

O município de Santarém está localizado na Mesorregião do Baixo Amazonas, microrregião de Santarém, e pela importância que ocupa nesse espaço territorial, é considerado o centro polarizador da Região Oeste do Pará – área que abrange 722.358 km² e abriga vinte e cinco Municípios. Constitui-se em centro polarizador por oferecer uma infraestrutura econômica e social bem desenvolvida, contando ainda com um setor de serviços mais desenvolvido dessa região. Está situado a uma distância média de 1.300 km da capital Belém (SEPOF, 2011).

Com uma área atual de 22.887 km², com uma área urbana de 77 Km² e rural de 22.810 km² (ver mapa 02), Santarém96 apresenta uma população total de 294.774 habitantes, sendo que na zona urbana são 215.947 habitantes, representando um percentual de 73,26%, enquanto na zona rural residem 78.827 habitantes, totalizando 26,74% (IBGE, 2010). Sua densidade demográfica é de 12,87 hab/km² e um IDH de 0,748 (2000). De acordo com a Lei do Plano Diretor de Santarém, Lei nº 18.051/06, a zona urbana é composta por cinco distritos, delimitando 48 bairros: Distrito da Grande Área da Aldeia, Distrito da Grande Área da Prainha, Distrito da Grande Área do Maicá, Distrito da Grande Área da Nova República e Distrito da Grande Área do Santarenzinho. Já a zona rural é composta por cinco distritos: distrito do Lago Grande do Curuaí, distrito do Rio Arapiuns, distrito do Rio Tapajós, distrito do Rio Amazonas, distrito do Eixo Forte, distrito do Rio Mojuí, distrito do Rio Moju e distrito do Rio Curuá-Una, perfazendo um total 472 comunidades rurais distribuídas ao longo desses distritos, das quais 260 localizam-se nas regiões dos rios e várzeas, e 212 estão na zona do planalto (SEPOF, 2011).

As especificidades que envolvem o contexto histórico-geográfico do município de Santarém refletem os mesmos processos colonizadores que ocorreram em toda a Região Amazônica. Também conhecida pelo nome de “Pérola do Tapajós”, homenagem às suas belezas naturais, de modo particular, às suas belas praias de areias brancas e finas, sendo banhada por dois dos maiores rios do Brasil – o Amazonas e o Tapajós – cujo espetáculo, conhecido por “encontro das águas”, acontece bem em frente da cidade e marca o encontro entre o Amazonas, com suas águas barrentas, e o azul esverdeado do Tapajós, que encantou os primeiros colonizadores portugueses que ali aportaram.

Segundo apontam os primeiros registros sobre a história dessa municipalidade, sua origem está ligada a uma viagem feita pelo Capitão Mor Pedro Teixeira, em 1526, sob as ordens do então governador do Grão-Pará, Manoel de Sousa, no comando de uma "Tropa de Resgate" (caça e escravização de índios). Há ainda outras informações, segundo observa Ferreira (2011), que relatam que diferentes navegadores e conquistadores já haviam mantido contato com os índios “tupaius”, os quais habitavam a foz do Rio Tapajós, a exemplo da expedição comandada por Francisco Orellana, a qual foi arcada por resistência dos indígenas em defesa de seus territórios. Por causa da resistência encontrada pelos colonizadores para                                                                                                                          

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Quando abrigava os municípios de Placas e Belterra, apresentava uma superfície de 34.091 km². Porém, com a emancipação dessas duas municipalidades, passou a ocupar uma área de 24.154 km², ou seja, 1,93% do território paraense e, devido à utilização de novos parâmetros de redimensionamento territorial adotados pelo IBGE, no censo do ano de 2000, atualizou a sua extensão atual, o que representa 1,83% do Estado do Pará (IBGE, 2010).

“amansar” os indígenas da nação "Tapajós” e, assim, colocá-los ao seu serviço, foi enviada uma expedição punitiva de Bento Manoel Parente por ordem do Governador-Geral do Pará e Maranhão, com a intenção de arrasar as aldeias dos Tapajós e transformá-los em mão de obra escrava.

Figura 4 – Mapa de localização do município de Santarém

Fonte: Faculdade de Geografia/UFPA-Lab. de Geoprocessamento e Estudos Ambientais.

O certo é que no ano de 1661 foi fundada a Missão de Nossa Senhora da Conceição, dirigida pelos jesuítas, sob a orientação do Padre luxemburguês João Felipe Bettendorf, que

chegou à aldeia Tapajós a convite do Padre Vieira para rezar a primeira missa nessa localidade, lugar que mais tarde se tornaria a cidade de Santarém. Mais tarde, os jesuítas do Pará e Maranhão seriam expulsos pelo Marquês de Pombal por serem contra a escravização dos indígenas pelo colono português em virtude de não haver mão de obra, segundo observa Leroy (1991). Pelo fato de a Região Amazônica apresentar importância estratégica para o governo de Portugal, considerando que o Governador do Grão-Pará e Maranhão tinha relação direta à Lisboa e não ao Governador-Geral da Colônia, o Marquês de Pombal, Ministro do Reino, nomeou seu irmão, o Capitão-General Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para ocupar o cargo de governador do Grão-Pará e Maranhão, tornando-se responsável pela administração dessas terras.

Assim, por força das determinações do Alvará de 1755, que elevava os mais importantes povoados ribeirinhos à condição de vilas, em 14 de março de 1758, Santarém foi elevada à categoria de vila, quando ocorreu sua instalação, ocasião em que lhe deu o nome português de Santarém, substituindo as denominações indígenas por topônimo de Portugual. Nesse mesmo ano, a missão de Nossa Senhora da Purificação, antiga Aldeia Borari, foi transformada em Vila de Alter do Chão; tal como aconteceu com as aldeias Arapiuns ou Cumaru, transformada em Vila Franca, Pauxis em Óbidos, Bauri em Arcozelhos, Matapuz em Pinhel, Nhamundá em Boim, Urubucoara em Outeiro (FERREIRA, 2008).

Durante o período de 1758 a 1827, Santarém foi dirigido por um Senado da Câmara, cujos componentes eram denominados de juízes ordinários, e a função executiva cabia ao Presidente do Senado. Em 1833, o Conselho do Governo do Pará implantou uma nova organização administrativa da Província, na qual foi definida a criação de Santarém, que passou a abranger todos os municípios da região e a mudança do nome da Vila de Santarém para Tapajós. A partir de 1890, o Governo Provisório do Pará, suprimiu a Câmara de Santarém pelo Decreto nº 81 e criou o Conselho de Intendência, pelo Decreto nº 82, nomeando para presidi-lo o Barão de Tapajós, com o título de Intendente Municipal. Foi instalado o Conselho Municipal da Intendência, e os cargos executivos passaram a ser desempenhados pelo Intendente Municipal, até 1930, com a implantação do Estado Novo de Getúlio Vargas, período que se caracteriza por uma interventoria, e os prefeitos passaram a ser nomeados, até 1947. No decorrer da era getulista, diversas alterações são realizadas no território santareno, de acordo com o que informam os dados do IBGE (2010).

Em divisões territoriais posteriores, o município de Santarém passou por diferentes composições político-territoriais até a década de 1990, quando nova divisão territorial é

realizada, em 1997, na qual o município viria a ser constituído por cinco distritos: Santarém, Alter do Chão, Boim, Curaí e Mujuí dos Campos (IBGE, 2010). No ano de 2012, Mujuí dos Campos foi emancipado em 1º de janeiro de 2012, mudando a composição territorial de Santarém, que passa a ser formado pelo município sede, Alter do Chão, Boim, Curaí.

Em relação ao seu contexto econômico, a região tapajônica ocupou, durante muito tempo, relevante destaque na economia da época devido à exploração da borracha, a principal atividade econômica da região, e até o final do século XIX, o Baixo Amazonas era a zona que mais se destacava na extração da borracha, concorrendo para um processo migratório dos nordestinos na região, segundo aponta Leroy (1991). Até a década de 1950, após o fracasso da experiência de plantação racional da seringa por meio do grande empreendimento da Companhia Ford em solo santareno, com a anuência do governo brasileiro, os nordestinos ex- seringueiros e “soldados da borracha”, passaram a ocupar o planalto do Alto Tapajós para o cultivo do algodão. A partir desta década, deu-se o segundo movimento migratório na região tapajônica, agora induzido pelo Instituto de Imigração e Colonização – INIC, para trabalharem na lavoura de algodão, arroz, feijão e outras culturas nas proximidades das estradas.

A exemplo do ocorrido em Altamira na época do governo militar, quando foi sobressaltada pela construção da BR-230 – Transamazônica, Santarém também foi enquadrado no modelo desenvolvimentista de povoamento do vazio demográfico que padecia a Amazônia, devido à sua localização geográfica. Com a construção da BR-163 – Rodovia Cuiabá-Santarém97, arquitetada na década de 1970, como parte de um projeto maior de integração da Amazônia ao restante do País, que junto com a BR-230, constituíam dois eixos importantes para completar o traçado da Belém-Brasília. A BR- 163, diferentemente da BR- 230, foi planejada para atender a um padrão de ocupação da terra de médias e grandes propriedades, e enfrentou os mesmos conflitos entre os grandes latifundiários e pequenos produtores rurais, garimpeiros e indígenas, tal como aconteceu com os colonos assentados na Transamazônica. Isso ocorreu devido ao interesse sobre a região ter mudado, pois a estratégia agora era priorizar “a ocupação privada, via empresas particulares de colonização, ligadas a                                                                                                                          

97 A BR-163 é uma rodovia longitudinal do Brasil. Tem 3467 km de extensão, sendo quase 1000 km não asfaltados. É a rodovia que integra o Centro Norte do Brasil ao Centro Oeste e Sul do Brasil. O trecho Cuiabá- Santarém (com um total 1780 km) liga a capital do Mato Grosso, Cuiabá, a Santarém, no Pará. A estrada atravessa uma das regiões mais ricas do País em recursos naturais e potencial econômico, sendo marcada pela presença de importantes biomas brasileiros, como a Floresta Amazônica e o Cerrado e áreas de transição entre eles, além de bacias hidrográficas importantes, como a do Amazonas, do Xingu e Teles Pires-Tapajós. Essa Rodovia passa pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará. (Disponível em http://www2.transportes.gov.br/ Acesso em 30/08/2012).

grandes cooperativas [...], ou via empresas capitalistas” (LEROY, 1991, p. 42).

Essa investida do governo federal altera a dinâmica da região no entorno de Santarém e, de modo particular, a vida dos caboclos e nordestinos que, abandonados à sua sorte, começaram a se mobilizar em busca de novas perspectivas de trabalho e passaram a realizar reivindicações que resultaram no movimento dos trabalhadores rurais e na criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR de Santarém.

O enraizamento dos caboclos e nordestinos do planalto já é bastante antigo. Faz parte da historia de Santarém. Já os camponeses das estradas, se tinha individualmente um passado, não tinha uma história como grupo social. Talvez o amplo horizonte das suas andanças e a necessidade imperiosa de criar raízes, pois chegavam ao “fim da linha”, fizessem com que passassem a se destacar dentro do movimento dos trabalhadores rurais de Santarém. Em poucas centenas de quilômetros de estradas e vicinais, formava a síntese do campesinato brasileiro e do espaço rural santareno (Ibidem).

É irrefutável que desde o início do processo de colonização da região no século XVII, Santarém ostentou um importante papel na consolidação do novo povoamento regional. Isso se corrobora com as políticas de integração regional, promovidas pelo governo federal e, mais recentemente, com a expansão da produção da soja em direção à rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), conforme aponta Trindade Júnior (2012), pois, diferentemente de outras municipalidades que tiveram sua economia vinculada à produção da borracha e enfrentaram um período de estagnação devido à baixa dos preços do produto no mercado mundial, a economia de Santarém se manteve mais ou menos estabilizada graças à existência de outras atividades em sua área de polarização, a exemplo da produção de juta, praticada nas várzeas dos rios, aferindo-lhe certa proeminência na economia regional.

Outro aspecto que tem contribuído para manutenção de sua economia, conforme ressalta o autor, deve-se ao fato de Santarém vir se destacando como um dos mais recentes polos produtores de soja da Amazônia, principalmente ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém, e por sua sede municipal desempenhar papel no corredor de escoamento da produção de grãos da região central do Brasil, por conta da localização estratégica de seu porto local que favorece o deslocamento aos Estados Unidos e Europa. Com isso, essa municipalidade está entre as dez maiores arrecadações de impostos no conjunto de 144 municípios de todo o Estado do Pará (TRINDADE JUNIOR, 2012).

Mas, em relação à questão educacional de Santarém, como esta vem se configurando diante das demandas multiculturais que marca a sociedade santarena? Como se estabelece a organização e estrutura da educação municipal frente às orientações das políticas públicas educacionais? Sobre isso, dedicamos a próxima seção.

3.4 Aspectos educacionais de Santarém: entre o Programa Rede Vencer e a Escola da