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Entre as margens do Rio Xingu e da Rodovia Transamazônica: desvendando o contexto histórico-geográfico do município de Altamira

E, finalmente, o quinto capítulo, tratará sobre “Os efeitos do Programa Rede Vencer em Altamira e Santarém: entre os desafios da construção e os riscos da

3 ENTRE CIDADES, RIOS E FLORESTAS: O INSTITUTO AYRTON SENNA NO CENÁRIO EDUCACIONAL DE ALTAMIRA E SANTARÉM, NA AMAZÔNIA

3.2 A estrutura organizacional e pedagógica de Altamira e Santarém a partir da parceria com o Instituto Ayrton Senna

3.2.1 Entre as margens do Rio Xingu e da Rodovia Transamazônica: desvendando o contexto histórico-geográfico do município de Altamira

Figura 1 – Foto área de Altamira/PA

Fonte: www.altamira.pa.gov.br

O município de Altamira compõe a Mesorregião do Sudoeste paraense e Microrregião de Altamira e situa-se em média 921 km da capital do estado do Pará – Belém. Com uma extensão territorial de 159.533 km², representando 12,8 % do Estado e uma demografia de 0,62 habitantes/km² (Ver mapa – figura 2, abaixo), se configura como o maior município em dimensão territorial do País, e o segundo maior do mundo (IBGE, 2010).

De acordo com o último censo, a população altamirense é de 99.075 habitantes, sendo a população rural representada por um percentual de 15,12% e a população urbana de 85,88%, evidenciando um decréscimo na população na área rural do Censo de 2000, que correspondia a aproximadamente 20% da população total do município. Seu IDH corresponde a 0.737 (ANUÁRIO 2011/2012).

A região territorial de Altamira abriga 12 áreas indígenas. São elas: Araras-Laranjal; Araweté-Igarapé; Ipixuna; Baú; Araras-Cachoeira Seca; Curuá; Kararao; Koatinemo;

Menkragnoti; Panará; Trincheira Bacajá e Xipaias. Essas áreas ocupam um total de 12.309.547 ha, cobrindo mais de 50% do território altamirense, sendo que a área do Curuá encontra-se em processo de ampliação e a dos Xipaias em processo de identificação (ROCHA e BARBOSA, 2003).

A questão da demarcação das terras dos povos indígenas tem enfrentado muitos problemas por estas serem alvos constantes de invasões por grileiros, garimpeiros, empresas mineradoras, madeireiras, pescadores, assentamentos irregulares feitos pelo INCRA, e ainda por edificações de hidrelétricas, a exemplo da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, a qual afetará diretamente terras indígenas, o que vem suscitando antagonismos entre os povos indígenas e o Consórcio Belo Monte, responsável pela construção desta hidrelétrica.

Em condições nem tanto diferentes daquelas inscritas no processo de formação político-social da Amazônia, a história do município de Altamira encontra eco nas missões jesuítas que chegam à região amazônica. Surge originalmente como um povoado pertencente ao município de Souzel, a partir do processo de ocupação realizado pelo padre Luiz Figueira na área que abrangia a região do Baixo Xingu, rio assim denominado por João Felipe de Beltford, missionário da Companhia de Jesus, devido à existência de uma tribo indígena com esse nome que habitava sua foz, segundo relata Umbuzeiro e Castro (2004), local em que foram implantados diversos centros de aldeamentos indígenas com a missão de catequese.

Em virtude das dificuldades de acesso por conta de sua localização geográfica, foram realizadas diversas tentativas para se construírem estradas que desviassem da Grande Volta do rio Xingu, obstáculo que somente foi transposto por volta do século XVII pelo padre Roque de Hunderfund, responsável pela fundação da missão Tavacuara ou Tucuana, no médio Xingu, próximo à foz do Igarapé Panelas, segundo relatam Umbuzeiro e Castro (2004). E somente no ano de 1868, os capuchinhos italianos, Frei Ludovico Mazarino e o Frei Carmelo Mazarino, com ajuda dos indígenas, constroem um estreito caminho ligando o Baixo e o Médio Xingu, chegando à antiga missão do Igarapé dos Panelas. Caminho esse que mais tarde foi retomado por Agrário Cavalcante, que, retificando o traçado da estrada, partiu do Igarapé Tucuruí – lugar que hoje se localiza Sede do município de Vitória do Xingu – com destino à foz do igarapé Ambé, e ali instalou o Forte Ambé, local em que foi construído o Quartel do 51 BIS, onde permanece até os dias atuais. Essa estrada hoje é chamada de Rodovia Ernesto Acioly (UMBUZEIRO E RIBEIRO, 2004).

Figura 2 – Mapa de localização do município de Altamira

Fonte: Faculdade de Geografia/UFPA-LAB. de Geoprocessamento e Estudos Ambientais

Nos anos de 1892, diversos moradores entre os quais se encontravam o Coronel Raimundo de Paulo Marques e o Major Pedro de Oliveira Lemos, com suas respectivas famílias passaram a residir no local onde se constituiu o espaço urbano de um vilarejo que mais tarde se tornaria o município de Altamira. Devido à sua posição geográfica, aos poucos foi se transformando num importante entreposto comercial, cuja atividade econômica principal era a comercialização da borracha, que era enviada para a capital Belém, de onde

vinham os provimentos para abastecer a pequena povoação. Com a vinda de um grande contingente de migrantes para a região em busca de trabalho nos seringais, conforme relata Moura e Ribeiro (2009), vislumbrou-se a possibilidade da criação de um novo município a partir do desmembramento da Vila de Altamira do município de Souzel. Assim, no ano de 1911, pela Lei Estadual 1234, o local elevou-se à categoria de município de Altamira; porém, somente teve seu território desmembrado do município de Souzel em 1917, pela Lei Estadual nº 1604/1917.

No decorrer de sua organização territorial o município de Altamira passou por diferentes transformações em seu espaço político-territorial até chegar aos dias atuais. Assim, o município de Altamira possui dois distritos: Castelos de Sonhos, localizado a mais de 1.000 km da sede municipal; e o distrito de Cachoeira da Serra, localizado a 1.060 km de Altamira. Esses distritos estão situados às margens da BR 163, próximos da região conhecida como Serra do Cachimbo. Devido a essa grande distância em relação à sede municipal, os distritos de Castelo de Sonhos e Cachoeria da Serra possuem uma ligação muito mais próxima com os municípios de Novo Progresso e Guarantã do Norte, no estado do Mato Grosso.

Com a entrada dos militares na cena política do Brasil, o contexto altamirense passa a ser palco da Política de Intervenção Nacional com a construção da BR 230, chamada de Transamazônica78, considerada marco das profundas transformações na organização social, política e econômica da cidade e de toda a região no entorno. Com isso, Altamira, que até 1970 vivia praticamente isolada do restante do território brasileiro pela dificuldade de acesso, passa a vislumbrar a possibilidade de desenvolvimento. Assim, em outubro de 1970, o Presidente Médici chega a Altamira para inaugurar a placa fixada num tronco de castanheira cortada, marcando o início da abertura da Rodovia Transamazônica. A placa tinha os seguintes dizeres: “Nestas margens do Xingu, em plena selva Amazônica, o senhor presidente da República dá início à construção da Transamazônica: arrancada histórica para a conquista e colonização do gigantesco Mundo Verde. Altamira, 9 de outubro de 1970”.

Para Leroy (1991, p. 35), a construção da Transamazônica ia muito além do que a abertura de uma simples estrada no coração da Amazônia, pois cumpriria diferentes funções,

                                                                                                                         

78 A Rodovia Transamazônica/BR-230, projetada durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici foi considerada uma das chamadas "obras faraônicas" devido às suas proporções gigantescas. Com uma extensão com 4.223 km de comprimento, é considerada a terceira maior rodovia do Brasil. Tem seu marco incial em Cabedelo-Paraíba à Lábrea-Amazonas, atravessando sete estados brasileiros: Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará e Amazonas. Em grande parte, essa rodovia não é pavimentada, principalmente no trecho que se situa no Pará e no Amazonas (Disponível em http://www2.transportes.gov.br. Acesso em 30/08/2012).

a) permitiria o assentamento de nordestinos, evitando possíveis explosões sociais que poderiam afetar a segurança, que não se cogitava mexer na estrutura fundiária do Nordeste, e freando as migrações do Nordeste em direção às grandes cidades do Sul;

b) abriria o interior da Amazônia não só a colonos, aos empresários, fazendeiros e latifundiários, colocando, inclusive, à disposição deles uma mão-de-obra abundante e barata;

c) asseguraria o acesso às jazidas minerais que estavam sendo descobertas (o Projeto Radam, de mapeamento completo da região, estava em execução) e o escoamento dos minérios [...];

d) faria o povo esquecer que estava sendo submetido à censura, impedido de participar politicamente e reprimido, levantando o tema do “Brasil grande”, do “Brasil potência”, da ocupação do novo Eldorado;

e) numa perspectiva geopolítica permitiria melhor controle militar da região Norte.

A fisionomia do projeto de colonização79 instituído pelo governo para a região nesse período, conforme verificado por Hébette (2004d), foi decorrente de um deslocamento espontâneo de pequenos agricultores no estado do Pará já nas décadas de 1960, que vinham atraídos pela possibilidade de conseguir “terras livres” para trabalhar. Segundo o autor, a penetração desses lavradores se deu por um duplo processo de “colonização”:

Em primeiro lugar, a ocupação de terras destinadas pelo Estado à colonização sob direção do INCRA e, em segundo lugar, a ocupação e exploração de terras por iniciativa de migrantes, independentes dos órgãos oficiais, embora indiretamente incentivada e, de certa maneira, orientada pelas políticas governamentais (Ibidem, p. 232).

Para viabilizar essas ambiciosas metas, criaram-se três Projetos Integrados de Colonização – PIC80: Marabá, Altamira e Itaituba, sob delegação do INCRA. Esse órgão, posteriormente, passa a assumir as incumbências enquadrar os colonos nos Projetos de Assentamento Dirigidos – PAD, fazer as distribuições de terras, créditos, educação, saúde, bem como viabilizar a criação e orientação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais – STR.

Diante disso, ao contrário do que se previa, o sonho de melhoria da qualidade de vida, da conquista de “terras livres” para a agricultura não se materializou, pois, a partir de 1973, o                                                                                                                          

79 Esse foi o processo de colonização oficial executado pelo General Presidente Médici ao longo da Transamazônica, elaborado com a proposta de assentar inicialmente cem mil famílias até 1974 e, posteriormente, alcançar o número de um milhão de famílias até 1980.

80 Os PIC se configuraram como audaciosos projetos de planejamento do espaço rural e racionalização de sua ocupação, nos quais foi planejada a instalação, a cada 5 km da rodovia, de agrovilas (bairros rurais para moradia dos colonos), colocados sob influência de Agrópolis (pequenos centros de serviços) e das Rurópolis (centro urbano mais organizado, que concentrava todas as atividades e serviços).

projeto de colonização agrícola da Transamazônica foi abortado devido aos altos custos de governo para a execução e manutenção da obra, desvios e corrupção de fundos públicos e equipamentos. Esse abandono resultou em um cenário de completo abandono, contribuindo assim para o acirramento de uma luta desigual por terras e numa estrutura fundiária extremamente desequilibrada com enormes distorções sociais, afetando a organização social e econômica de Altamira e dos municípios que surgiram na região em decorrência do movimento colonizador. Hébette (2004b, p. 233), descreve com propriedade o cenário deixado por este projeto desenvolvimentista do governo Médici:

[...] Rurópolis, agrópolis e agrovilas deixaram de ser construídas, máquinas, equipamentos e utensílios foram abandonados; as estradas vicinais foram apenas parcialmente abertas e a infraestrutura ficou sem conservação. Os colonos foram deixados a sós, praticamente sem a assistência técnica e sem apoio à saúde. Uma parcela conseguiu se manter e, alguns poucos, cresceram plantando café, cacau e pimenta do reino em época favorável, [...]. Muitos, porém, ficaram endividados nos bancos e perderam suas terras [...]. Muitas terras foram compradas por fazendeiros, comerciantes e profissionais liberais e incorporadas à fazenda de gado.

O abandono da transamazônica ocasionou diferentes problemas sociopolíticos, concorrendo para diferentes mobilizações por parte dos camponeses, o que mais tarde ocasionaria a expansão e consolidação do sindicalismo no Pará, cujo foco de luta era a conquista pelo uso da terra. Em conjunto com a Igreja Católica, através da Prelazia do Xingu, vislumbrou-se a possibilidade para a construção de um espaço semipúblico como arena de resistência combatendo a grilagem da terra, o ataque aos povos indígenas, a expulsão dos ribeirinhos e caboclos, por meio da elaboração de projetos comunitários. Segundo observa Hébette (2002), foi nesse espaço que nasceram as Comunidades Eclesiais de Base – CEB, como esfera privilegiada de organização e resistência camponesa no período militar, com o apoio a Comissão Pastoral da Terra – CPT. Já na década de 1990, foi criado o Movimento pela Sobrevivência na Transamazônica – MPST, responsável por diversas manifestações no cenário paraense atuando como representante do campesinato altamirense na interlocução entre a sociedade local e o Estado. E, no ano seguinte, foi criada a Fundação Viver, Produzir e Preservar – FVPP, uma organização não governamental instituída com apoio do MPST com o objetivo de promover o desenvolvimento da região em parceria com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Pará – FETAGRI, com foco na formação e capacitação das lideranças locais, e com as Associações das Casas Familiares Rurais – ARCAFAR, visando a formação de jovens agricultores (ROCHA e BARBOSA, 2003).

Outro acontecimento que marcou significativamente o cenário local e nacional e repercute até os dias atuais foi o episódio ocorrido no Centro de Formação Bethânia, que marcou o início do processo de disputas que hoje assume proporções inimagináveis no Município, tendo como objeto as discussões sobre o Complexo Hidrelétrico do Rio Xingu, que reunia as Usinas Hidrelétricas – UHE de Babaquara (6,6 mil MW) e Kararaô (11 mil MW), o qual já estava previsto desde os anos 80 e 90 do século passado, hoje conhecido pelo Complexo Hidrelétrico de Belo Monte. Segundo Moura e Ribeiro (2009), esse encontro ocorrido em 1989, denominado de “Grito de Guerra de Kararaô”, foi a primeira mobilização contrária de muitas que aconteceram e estão acontecendo sobre o projeto hidrelétrico de Belo Monte, evidenciando o descontentamento dos moradores locais e dos mais diferentes segmentos sociais da região. Naquela ocasião, a Prelazia do Xingu em conjunto com órgãos governamentais e não governamentais se reuniram para traçar medidas em defesa do meio ambiente, dos povos indígenas, dos ribeirinhos e pequenos agricultores que seriam atingidos pela construção da barragem81.

O marco desse encontro ocorreu durante a exposição de Muniz Lopes, presidente da ELETRONORTE, sobre a construção da usina Kararaô, quando a índia Tuíra, prima de Paikan, levanta-se da plateia e encosta a lâmina de um facão na face do diretor como forma de expressar sua indignação sobre a construção da usina e seus impactos nas áreas indígenas. Essa cena foi divulgada na mídia local e global e fez com que as discussões que envolviam a construção desse complexo hidrelétrico fossem temporariamente suspensas para que fossem realizadas alterações do projeto original82.

Nas últimas duas décadas muitos esforços foram empregados para retomar e aprovar o projeto de construção da hidrelétrica de Belo Monte. No ano de 2005, por meio do Projeto de Decreto Legislativo – PDC, nº 1.785/05, é autorizado de forma arbitrária a implantação da UHE de Belo Monte, sem que fossem consultadas as comunidades e os grupos indígenas locais atingidos, desrespeitando as determinações da CF de 1988, em seu artigo 231, que estabelece que o aproveitamento dos recursos hídricos em Terras Indígenas só pode ser efetivado com “autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas”. Devido à autorização do projeto ter gerado muita polêmica e diversas mobilizações de                                                                                                                          

81 Esse encontro ganhou notoriedade devido à presença maciça da mídia nacional e estrangeira, de movimentos sociais e ambientalistas, conseguindo reunir cerca de três mil pessoas, entre as quais se encontravam 650 indígenas de diferentes etnias com suas lideranças, autoridades e representantes governamentais, políticos, trezentos ambientalistas, uma faixa de 150 jornalistas e o cantor Sting.

82 Para maiores informações sobre essa questão e seus desdobramentos, consultar o site http://www.socioambiental.org e o site do governo federal que apresenta dados legais e jurídicos sobre Belo Monte: http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/belomonte/BELO_MONTE.

diferentes setores e movimentos sociais contrários à hidrelétrica, o licenciamento de Belo Monte foi suspenso pela Justiça Federal em 2006. Mas, no ano seguinte, a própria Justiça Federal de Altamira voltou atrás e avaliou como improcedente o pedido feito pelo Ministério Público Federal – MPF para a cassação do licenciamento ambiental aprovado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

Entre os dias 19 e 23 de maio de 2008, o contexto altamirense novamente é palco de mais uma manifestação de repúdio à construção da UHE de Belo Monte. Essa mobilização, que foi denominada “Encontro Xingu Vivo para Sempre”83, reuniu mais de mil pessoas entre indígenas, ribeirinhos, extrativistas, ambientalistas e movimentos sociais. No final do evento foi anunciada a carta final, na qual foram apresentadas uma série de denúncias, reivindicações e foi exposto um projeto de desenvolvimento para a região84.

Em que pesem todas as mobilizações realizadas com a finalidade de impedir a implantação desse projeto hidrelétrico, o certo é que entre idas e vindas desse projeto que está em discussão há mais de vinte anos, a UHE de Belo Monte85 é hoje considerada a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, do governo federal. Com isso, desde o                                                                                                                          

83 Durante o encontro de 2008, índios entram em confronto com o responsável pelos estudos ambientais da hidrelétrica de Belo Monte e, no meio da confusão, o funcionário da Eletrobrás e coordenador do estudo de inventário da usina, Paulo Fernando Rezende, fica ferido, com um corte no braço. Após o evento, o Movimento divulga a Carta Xingu Vivo para Sempre, documento final que avalia as ameaças ao Rio Xingu, apresenta à sociedade brasileira um projeto de desenvolvimento para a região e exige das autoridades públicas sua implementação.

84 Trecho da carta que expõem o projeto de desenvolvimento resultante do Encontro: “[...] Nós, que conhecemos o rio em seus meandros, vimos apresentar à sociedade brasileira e exigir das autoridades públicas a implementação de nosso projeto de desenvolvimento para a região, que inclui: 1 - A criação de um fórum de articulação dos povos da bacia que permita uma conversa permanente sobre o futuro do rio e que possa caminhar para a criação de um Comitê de Gestão de Bacia do Xingu; 2 - A consolidação e proteção efetiva das Unidades de Conservação e Terras Indígenas bem como o ordenamento fundiário de todas as terras públicas da região da Bacia do Xingu; 3 - A imediata criação da Reserva Extrativista do Médio Xingu; 4 - A imediata demarcação da TI Cachoeira Seca, com o assentamento digno dos ocupantes não indígenas, bem como a retiradas dos invasores da TI Parakanã; 5 - A implementação de medidas que efetivamente acabem com o desmatamento, com a retirada de madeira ilegal e com a grilagem de terras; 6 - O incremento de políticas públicas que incentivem o extrativismo e a consolidação da agricultura familiar feita em bases agroecológicas e que valorizem e estimulem a comercialização dos produtos da floresta; 7 - Efetivação de políticas públicas capazes de promover a melhoria e instalação de sistemas de tratamento de água e esgoto nos município; 8 - O incremento de políticas públicas que atendam as demandas de saúde, educação, transporte, segurança, adequadas às nossas realidades; 9 - Desenvolvimento de políticas públicas que ampliem e democratizem os meios de comunicação social; 10 - O incremento de políticas públicas para a ampliação das experiências de recuperação de matas ciliares e de áreas degradadas pela agropecuária, extração de madeira e mineração. 11 - Que nenhum outro dos formadores do Xingu venha a ser barrado, como já aconteceu ao rio Culuene com a implantação da PCH Paranatinga II; 12 - Proteção efetiva do grande corredor de sóciobiodiversidade formado pelas terras indígenas e unidades de conservação do Xingu. Disponível em http://www.socioambiental.org/Acesso em 07/09/2012.

85 Após algumas mudanças no projeto original, a UHR de Belo Monte, no Rio Xingu, terá capacidade instalada de 11.233,1 megawatts (MW) de potência e geração anual prevista de 38.790.156 megawatts-hora (MWh) ou 4,5mil MW médios. A usina de Belo Monte vai funcionar em sistema de fio d´água, ou seja, a água do rio passa pelas turbinas e volta ao leito, sem a formação de grande reservatório. O reservatório principal terá 503 quilômetros quadrados, sendo 228 km² correspondentes ao leito do rio na cheia (Disponível em http://www.brasil.gov.br/sobre/economia/energia/obras-e-projetos/belo-monte/ Acesso em 07/09/2011).

ano de 2009, quando foi apresentado o novo Estudo de Impacto Ambiental – EIA, houve a intensificação por parte do governo federal em defesa da construção a partir de 2010, período que marcou a concessão da licença prévia pelo Ministério do Meio Ambiente finalmente para sua construção. Vitória conquistada em junho de 2011, quando o IBAMA anunciou a liberação definitiva para a construção da usina sob o argumento de que 40 condicionantes86 previstas na licença prévia haviam sido “atendidas”, e as demais seriam “cumpridas” após a usina entrar em operação.

A questão que envolve as condicionantes previstas no Plano Básico Ambiental – PBA87 tem gerado inúmeros desentendimentos e conflitos entre o Consórcio Norte Energia, responsável pela construção da UHE de Belo Monte, o MPF, o governo de Altamira, os movimentos e organizações sociais, devido ao não cumprimento e à omissão de informações sobre o andamento das mesmas. O site do Instituto Socioambiental88 informa que, dez meses depois da concessão da licença prévia para a UHE de Belo Monte, algumas das