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Situando algumas experiências educacionais do Terceiro Setor: a Intervenção do Empresariado na Educação Pública

E, finalmente, o quinto capítulo, tratará sobre “Os efeitos do Programa Rede Vencer em Altamira e Santarém: entre os desafios da construção e os riscos da

2 O TERCEIRO SETOR E AS PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS NO CAMPO EDUCACIONAL BRASILEIRO: APORTES PARA A PRIVATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

2.1 Situando algumas experiências educacionais do Terceiro Setor: a Intervenção do Empresariado na Educação Pública

Mediante os impasses provenientes do processo de descentralização das políticas educacionais às esferas locais de governo e da desresponsabilização do Estado no provimento da educação, observa-se a busca frenética pelo ajustamento das questões educacionais aos padrões de qualidade típicos do setor privado, abrindo uma seara promissora para a celebração de convênios entre diferentes entidades do Terceiro Setor, prefeituras municipais e instituições de ensino público, ocasionando os mais diferentes arranjos na oferta, ou ao menos, em parte dela, e na criação de indicadores de sucesso e performance que buscam responder às demandas educacionais (cf. ADRIÃO e PERONI, 2007).

Essa lógica de repasse de responsabilidades em consonância às prescrições da reforma do Estado sob a perspectiva gerencial engendraram novas relações entre o público e o privado, conforme visto anteriormente, no âmbito educacional, que por meio de uma suposta modernização da gestão de sistemas e da gestão escolar, instaura a configuração de um arcabouço formativo nos sistemas educacionais pautado numa visão limitada e pragmática de educação de qualidade (cf. CABRAL NETO, 2009; CASTRO, 2009; CABRAL NETO e CASTRO, 2007).

Embora no Terceiro Setor existam iniciativas que busquem o desenvolvimento de ações em campos específicos, desde a assistência social, saúde, meio ambiente, arte e esporte, até aquelas que mobilizam a sociedade com expectativas de reivindicação de políticas públicas eficientes e de cunho mais participativo, nos restringimos neste estudo a evidenciar as diferentes estratégias utilizadas por essas assessorias que se materializam sob a égide das parcerias público-privado na área educacional, conforme vimos na seção anterior. Nessa direção, pontuamos alguns estudos que se dedicaram a examinar as diretrizes, os princípios e o gerenciamento de tais experiências que vêm se consolidando no Brasil.

Nas últimas décadas, tivemos o surgimento de uma diversidade de fundações criadas ou patrocinadas por grandes grupos empresariais, tais como: Fundação Bradesco, Fundação Itaú, Instituto Unibanco, Fundação Vale, dentre outras, que passaram a disseminar o ideário do associativismo do TS, com apoio da mídia, numa busca incessante para propalar suas ações e desenvolver uma cultura política favorável ao trabalho voluntário nesses projetos, tendo como foco principal a educação.

Vale lembrar que essas instituições existem há algum tempo e ganharam novos contornos, principalmente em suas propostas educativas, a partir da primeira década do século XXI, entrando em realinhamento com a adoção do novo modelo de gestão pública. Podemos dizer, assim, que suas diretrizes, princípios e valores estão em consonância com as propostas desenvolvidas pelos organismos e agências multilaterais, tendo, em seu bojo, a pedagogia das competências e uma noção de qualidade alicerçada em dados estatísticos, tendo como eixo analítico os exames de larga escala. Propostas ratificadas pelo movimento Todos pela Educação, e consolidadas com o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (2007a), o qual, além de direcionar as ações dos sistemas de ensino, fortaleceu o protagonismo do empresariado nas ações deliberativas e executivas da educação pública.

Essa é a forma como a Fundação Bradesco,33 entidade filantrópica sem fins lucrativos, ligada ao Departamento de Marketing do Banco Bradesco, criada em 1956, vem atuando na área educacional com propostas voltadas à Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio, Médio Profissionalizante, Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissionalizante, tendo como público alvo as comunidades carentes dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal.

Sua primeira escola de ensino foi a fundamental, implantada em 29/06/1962, na Cidade de Deus – Osasco/SP, com sete professores e trezentos alunos. Atualmente, possui quarenta escolas, com 2500 funcionários atendendo 108.151 alunos. Em 2006, a Fundação ampliou seu público-alvo e a metodologia de ensino para escolas da rede pública e, no ano seguinte, elaborou o programa Educa+Ação – desenvolvido em parceria com a iniciativa privada e o setor público municipal, objetivando proporcionar condições de ensino para melhorar a aprendizagem das crianças nas séries iniciais das Escolas da Rede Pública de Ensino. Para tanto, criou sua metodologia de ensino e kit didático, composto por apostilas para professores e alunos, livros didáticos (matemática, língua portuguesa, história, geografia e ciências), biblioteca de classe com 45 títulos, CDs de músicas infantis, videoteca e material pedagógico de apoio. 34

                                                                                                                         

33 A Fundação Bradesco é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, ligada ao Departamento de Marketing do Banco Bradesco, responsável pelas atividades caracterizadas como de Responsabilidade Social do Banco Bradesco. Desenvolve ações educacionais com o objetivo de proporcionar educação e formação profissional aos estudantes de todas as idades. Segundo informações do site da Fundação, as atividades de Responsabilidade Social do Banco Bradesco para todo o Brasil são norteadas pela política sociocultural da empresa alicerçada em cinco pilares de atuação: educação, meio ambiente, solidariedade, cultura e recursos.

(Disponível em http://www.fb.org.br/Fundacao_Bradesco_Sintese_Relatorio_2011.pdf. Acesso em 21/05/2012). 34 Disponível em http://www.fb.org.br/Fundacao_Bradesco_Sintese _Relatorio_2011.pdf. Acesso em

Os dados postados no site da Fundação informam que em 2011, o programa Educa+Ação envolveu 127 Escolas situadas em catorze municípios dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, beneficiando em média, 24 mil alunos e mais de novecentos professores, sendo que, nas demais ações educativas implementadas em suas escolas próprias, nesse mesmo ano, beneficiou 112.081 alunos na Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos e na Formação Inicial e Continuada voltada à geração de emprego e renda, conforme é possível visualizar no quadro abaixo.

Quadro 3 – Atendimento do Programa Educa+ação – 2011

Fonte: http://www.fb.org.br/Fundacao_Bradesco_Sintese_Relatorio_2011.pdf

Com isso, observa-se uma ampliação das atividades dessa Fundação por meio de parcerias com outras instituições e com o próprio poder público, pois essas parcerias são necessárias para a manutenção e ampliação dos projetos ditos “sociais” da Fundação, uma vez que são os parceiros que custeiam a impressão das apostilas e a assessoria às escolas, a qual é realizada por uma pessoa da própria Fundação, sendo esta uma condição para ter acesso ao referido projeto educativo. Tal informação se encontra em entrevista fornecida pela diretora- adjunta da Fundação Bradesco, e postada no site da Educar para Crescer35; no entanto, em seu                                                                                                                          

35 Trecho da entrevista com Denise Aguiar, realizada no dia 18/06/2009: “Agora, queremos expandir para quem quiser. Só que não temos dinheiro para bancar o projeto sozinhos. Nossa ideia inicial era que qualquer empresa que desejasse melhorar a Educação na sua região e não soubesse como, teria o projeto à disposição, desde que bancasse os custos de impressão das apostilas e de aperfeiçoamento e do acompanhamento de uma pessoa da Fundação nas escolas. E isso ocorreu. Estamos em dois municípios do Mato Grosso do Sul e no Embu, em São Paulo. Não queremos ganhar dinheiro com isso, de jeito nenhum, mas, sim, melhorar a Educação nas regiões” [grifos nossos]. Disponível em http://educarparacrescer.abril.com.br/indicadores/fundaçao-bradesco. Acesso em

site, a Fundação Bradesco informa que o seu próprio patrimônio constitui fonte exclusiva para manutenção de tais atividades36.

Um estudo realizado por Ribeiro (2005), que analisou um projeto social na Escola de Educação Básica e Profissional, núcleo local da Fundação Bradesco em São João Del Rei, Minas Gerais, evidenciou aspectos relacionados ao papel da Fundação no interior da Organização Bradesco. De modo geral, os resultados da pesquisa apontam que as decisões tomadas pela Fundação acerca do desenvolvimento de suas ações educativas não são vinculadas às propostas do Poder Público; estas são definidas no âmbito de seus departamentos internos e estão em consonância com os princípios e diretrizes previstos nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio37 – ODM – elaborados pela Organização das Nações Unidas – ONU, no qual o Brasil38 é um dos Estados Membro que assumiu o compromisso de desenvolver políticas sociais em conformidade às orientações prescritas nesse documento.

Ribeiro (2005) observa ainda que a definição quanto à oferta, formatos e procedimentos adotados em relação aos cursos direcionados à geração de renda a serem implantados na escola do município estudado fica sob a incumbência do grupo de especialistas do Departamento de Educação Profissional Básica mantido pela Fundação, sediado em São Paulo, restando aos educadores e formadores da escola local executar as ações. O autor ressalta que nos últimos anos, essa instituição vem investindo na contratação                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             21/05/2012.

36 Os recursos investidos nos últimos dez anos nas ações da Fundação Bradesco totalizam R$ 1,991 bilhão. No ano de 2001, foram aplicados R$ 291,892 milhões, e está previsto para 2012, o investimento de R$ 385,473 milhões (Disponível em http://www.fb.org.br/Fundacao_Bradesco_Sintese_Relatorio_2011.pdf. Acesso em 21/05/12).

37 No ano de 2000, representantes de 191 Estados Membro da ONU, incluindo 147 Chefes de Estado, assinaram a Declaração do Milênio, avaliado como um dos mais importantes compromissos internacionais em prol do desenvolvimento e da proscrição da pobreza e da fome no mundo. Essa Declaração deu procedência a uma série de objetivos de desenvolvimento concretos e mensuráveis conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que propõem medidas combativas contra as desigualdades e injustiças sociais, centrando seus esforços na garantia dos direitos humanos. Os ODMs são oito, e cada um deles possui metas que deverão ser alcançadas, em determinado prazo, pelos países que assinaram a Declaração do Milênio. São eles: 1) erradicar a extrema pobreza e a fome; 2) atingir o ensino básico universal; 3) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4) reduzir a mortalidade na infância; 5) melhorar a saúde materna; 6) combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; 7) garantir a sustentabilidade ambiental; 8) estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento. Para uma leitura mais aprofundada sobre os ODMs, consultar os relatórios disponíveis em http://www.pnud.org.br/odm/index.php?lay=odmi&id=odmi.

38 O Brasil assinou a Declaração do Milênio e tem se destacado no cenário internacional no desenvolvimento de projetos sociais que buscam alcançar os OMDs. Para tanto, criou o Prêmio Brasil ODM, cuja finalidade é incentivar e dar visibilidade a práticas que contribuam com a consecução dos ODM, reconhecer publicamente os esforços em favor dos ODM e desenvolver um banco de boas práticas que sirva como referência de política pública para a sociedade e para o Estado. A iniciativa brasileira inspirou a criação pelas Nações Unidas do Prêmio Internacional sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Sobre essa questão, consultar o site http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/download/TerceiroRelatorioNacionalODM.pdf.

de profissionais especializados para orientar os centros educacionais e produzir material didático próprio, sob a justificativa de que tal prática demonstra a preocupação da instituição com a melhoria da qualidade da educação. Esse entendimento remete a uma compreensão homogênea de formação, visto que não consideram as especificidades locais.

Outro ponto destacado nesse estudo é a inexistência de uma avaliação de resultados dos cursos de Educação Profissional Básica da Fundação Bradesco na cidade de São João Del Rei. A avaliação não se configura como preocupação central nas ações da Fundação, pois embora os resultados obtidos com cursos se apresentem como positivos para os usuários, o autor ressalta a importância de se fazer uma adequação das políticas e revisão nas metas cobradas pela Instituição, mais precisamente, em readaptações internas e revisão em algumas práticas, a fim de que seus esforços tenham maior ressonância na comunidade local. Propõe, assim, a implementação da avaliação como um processo contínuo e formativo para o projeto, de modo que a Fundação possa se apropriar desse instrumento para melhor direcionar seus esforços e adotar políticas mais adequadas para os resultados que deseja alcançar, pois o que ocorre é uma breve consulta de opinião com os alunos concluintes após o término dos cursos. Ou ainda, a realização da coleta de casos de sucesso, quando os estudantes egressos têm a iniciativa de procurar a Fundação e mostrar seu desempenho no mercado de trabalho; porém, “não há um acompanhamento do desempenho desses egressos no mercado de trabalho local,

nem mesmo por amostragem” (RIBEIRO, 2005, p.111). Aspecto que, sem dúvida,

compromete e fragmenta as ações sociais da Fundação.

Nessa mesma linha de atuação encontram-se as ações sociais desenvolvidas pela Fundação Itaú Social e pelo Instituto Unibanco39. Sobre as ações elaboradas na área da educação pela Fundação Itaú Social, estas adquiriram maior amplitude no ano de 2000, ocasião em que foi instituída formalmente, embora o Banco Itaú tenha encetado ações de responsabilidade social na década de 1990 por meio das iniciativas que definiram sua inserção nesse campo: o Programa de Ação Continuada (1993), e o Prêmio Itaú-Unicef (1995).

De acordo com informes divulgados em sua home page,40 essa Fundação, que tem como presidente o banqueiro Roberto Setúbal, apresenta como objetivo central “formular, implantar e disseminar metodologias voltadas para a melhoria de políticas públicas na área                                                                                                                          

39 No ano de 2008, o Banco Itaú e o Unibanco divulgaram a fusão das operações financeiras, formando o Itaú Unibanco Banco Múltiplo, o que concorreu para que a empresa passasse a ocupar a posição da maior instituição bancária do Brasil e o maior conglomerado financeiro do hemisfério sul. É a 17ª maior empresa em capitalização de mercado do mundo, com um total de ativos combinados de mais de 575 bilhões de reais, 4,8 mil agências e 14,5 milhões de correntistas (Disponível em http://www.fundacaoitausocial.org.br./ Acesso em 28/05/2012). 40 Disponível em www.fundacaoitausocial.org.br. Acesso em 28/05/2012.

educacional e para a avaliação de projetos sociais”.41 Nos últimos anos, tem diversificado sua atuação por meio de orientação, elaboração, apoio e desenvolvimento de projetos que priorizam práticas educacionais, visando disseminar metodologias dirigidas à melhoria de políticas públicas, tendo como foco os temas Educação Integral, Leitura e Escrita, Gestão Educacional e Avaliação de Projetos Sociais.

Suas propostas têm como prioridade superar os desafios e melhorar a qualidade do ensino público no Brasil por meio de parcerias e alianças estratégicas, e são reconhecidas e assimiladas por governos (federal, estadual e municipal), setor privado e organizações da sociedade civil. Dentre suas iniciativas desenvolvidas no campo da educação, podemos citar: o concurso literário Escrevendo o Futuro, denominado atualmente de Olimpíada da Língua Portuguesa42, o Projeto Gestores de Aprendizagem Educativa, o Programa Jovens Urbanos e o Excelência em Gestão Educacional (criado no final de 2008, é resultado de uma parceria com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo).

O Instituto Unibanco, criado em 1982, desenvolveu uma série de ações educativas, por ele concebidas e implementadas. Constitui-se hoje uma das instâncias de investimento social da organização Itaú Unibanco, considerada a maior instituição financeira privada do Hemisfério Sul. Essa organização é integralmente mantida por um fundo instituído excepcionalmente para financiar suas atividades, o que lhe garante independência de aportes adicionais, segundo informações de seu site oficial.

Seus projetos sociais focalizam ações nas áreas de educação, trabalho e responsabilidade socioambiental com ênfase na juventude em situação de vulnerabilidade social. Por meio da implantação de projetos que influenciem as políticas públicas, objetiva melhorar o desempenho e incentivar a diminuição da evasão dos jovens estudantes de Ensino Médio das escolas públicas brasileiras. O Instituto apresenta a seguinte missão: “Contribuir para o desenvolvimento dos alunos do Ensino Médio em escolas públicas, concebendo, validando e disseminando novas tecnologias ou metodologias que melhorem a qualidade e a

                                                                                                                          41 Idem.

42 O programa Escrevendo o Futuro, criado em 2002, passou a denominar-se, no ano de 2008, Olimpíada de Língua Portuguesa. A Olimpíada de Língua Portuguesa passou a integrar o Plano de Desenvolvimento da Educação, transformando-se em política pública ao ser adotado pelo Ministério da Educação – MEC, compondo uma das 32 ações do PDE, e embora não seja obrigatória, tem conseguido uma adesão bem expressiva por parte das cidades brasileiras. De acordo com dados apresentados no Relatório Anual de 2011, na última edição da Olimpíada foram inscritos 295 mil professores, com a participação de mais de 60 mil escolas públicas e cerca de 7 milhões de alunos, envolvendo um percentual de 95% das municipalidades do País. (Disponível em http://www.fundacaoitausocial.org.br/pdf/relatorio_anual_2011. Acesso em 28/05/2012).

efetividade das políticas públicas”. 43

No decorrer dos seus trinta anos de atividades, o Instituto Unibanco tem desenvolvido diferentes iniciativas sociais, sendo que em 2002, promoveu uma revisão em seu plano de ação social e intensificou os investimentos no campo da educação. Campo esse que assume como prioridade a partir de 2007, ocasião em que adotou um novo modelo de atuação, traduzido no direcionamento de suas atividades para a qualificação do Ensino Médio público, avaliado pelo próprio Instituto como estratégico no processo de formação da juventude e do desenvolvimento sustentável do país.

Os projetos sociais desenvolvidos por essa entidade são disponibilizados para governos e organizações da sociedade civil, e têm por objetivo o “aprimoramento das políticas e práticas vigentes nas escolas da rede pública de ensino e têm sua eficácia comprovada por avaliações de impacto realizadas por avaliadores independentes” (Relatório de Atividades do Instituto Unibanco, 2010, p. 08).

Na perspectiva de combater a evasão escolar no Ensino Médio, propõe as Tecnologias, compreendidas como um conjunto integrado de propostas de ação com a pretensão de melhorar a qualidade das escolas públicas nesse nível de ensino, incidindo de modo particular na gestão escolar. A principal tecnologia é o Jovem Futuro, cujo objetivo é,

Oferecer, a escolas públicas de Ensino Médio Regular, apoio técnico e financeiro para a concepção, implantação e avaliação de um plano de melhoria de qualidade, com duração de três anos, que vise, através de estratégias de incentivo a professores e alunos e de melhoria do ambiente físico, aumentar significativamente o rendimento dos alunos, nos testes padronizados de Português e Matemática, e diminuir os índices de evasão. 44 Esse Programa apresenta como metas capitais: o aumento em 50% das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB –, dos estudantes da terceira série das escolas públicas parceiras de Ensino Médio; e a redução em 40% dos índices de evasão escolar. Para realizar o respectivo programa, o Instituto Unibanco disponibiliza recursos técnicos e financeiros a serem empregados pelas escolas em consonância às necessidades deliberadas no Plano Estratégico de Melhoria de Qualidade. Os recursos são destinados às ações de incentivo aos alunos e professores e à melhoria da infraestrutura da escola. O custo para sua viabilização é de cerca de R$ 100 por aluno/ano, e as escolas                                                                                                                          

43 Disponível em http://www.portalinstitutounibanco.org.br. Acesso em 29/05/2012. 44 Disponível em http://www.unibanco.com.br/. Acesso em 30/5/2012.

participantes recebem materiais de apoio, parâmetros e orientações. Contudo, as instituições escolares são responsáveis pela definição das iniciativas e metodologias que serão desenvolvidas nos seus planos de ação, sendo que o planejamento básico é realizado com o auxílio de consultores. No ano de 2010, 98 escolas participaram do programa, favorecendo diretamente 87.278 estudantes do Ensino Médio de vários Estados e a capacitação de 4.432 professores (Relatório de Atividades do Instituto Unibanco, 2010, p. 34).

O Instituto possui outros programas como estratégias complementares de melhorias de resultado, que se realizam por meio de capacitação presencial ou à distância. São exemplos de metodologias: Jovem Cientista, Construindo o Futuro, Estudar Vale a Pena e o Projeto Entre Jovens – PEJ. Este último acontece por meio de parceria entre o Instituto Unibanco, Universidades, Secretarias Estaduais de Educação e instituições vinculadas à educação. O PEJ busca resgatar conteúdos do Ensino Fundamental para garantir o sucesso do aluno na continuidade de sua vida escolar. Proporciona treinamento aos universitários com a expectativa de desenvolver tutorias para adolescentes defasados nas áreas de português e matemática e tem por meta alcançar 75% de frequência dos alunos matriculados nos grupos de tutoria; além disso, 50% dos estudantes atendidos pelos grupos de tutoria devem obter o nível recomendável na escala SAEB de Ensino Fundamental.

Em estudo elaborado por Peroni (2012) sobre as ações do Instituto Unibanco em parceria com o governo do estado do Rio Grande do Sul, a autora desenvolve suas reflexões tendo como base as mudanças orquestradas pela reforma no papel do Estado, que passaram a redefinir as fronteiras entre o público e o privado pela via do público não estatal e da gestão gerencial. De acordo a autora, as ações que marcam a atuação do Terceiro Setor no campo da educação comungam com a tese defendida pelo ideário da Terceira Via, propagado pelo teórico A. Giddens (2001), alicerçada no empreendedorismo social e no voluntariado. Reforça a ideia de ação focalizada, e a premiação por desempenho é difundida como incentivo, comungando com a lógica mercantil.