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NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DE SUAS CONTRIBUIÇÕES

A história da didática revela, por si mesma, o quanto ela tem a contribuir para a formação qualificada dos professores. Seja através de uma abor- dagem mais técnica do fenômeno do ensino – que, por vezes é necessá- ria –, seja por uma abordagem mais humana, político-social, pedagógica, cultural, ética ou estética, a didática segue mostrando sua importância na constituição dos processos formativos, de um modo geral, e, mais especi- ficamente, dos professores.

A didática tem um importante papel na legitimação do sentido da docência e seu caráter teleológico.

Enquanto campo de saber que possibilita um diálogo entre a pedago- gia e as demais ciências, ela traz para o centro da formação a complexidade do fenômeno educativo e as correlações entre a prática educativa e a prática social, sem as quais a docência está fadada ao fracasso.

Na obra A didática em questão, publicada nos anos 1980, em seu texto “O papel da didática na formação do professor”, Cipriano Luckesi já defendia a superação do papel instrumentalizador da didática na for- mação de professores, reivindicando a esta um compromisso com um projeto histórico-social e implicado com opções filosóficas e políticas da educação. Para Luckesi (1983, p. 30), a didática precisa “apresentar-se como elo tradutor de posicionamentos teóricos em práticas educacio- nais”. Portanto, deve estar implicada politicamente com a formação e com os processos educacionais de modo a promover transformações im- portantes em suas dinâmicas.

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A didática, portanto, deve transpor o velho ideário da objetividade e da neutralidade dos processos educativo-formativos impostos pelo paradigma cientificista de base cartesiana, sem perder de vista sua responsabilidade com os aspectos de ordem metodológica, próprios do fazer pedagógico.

A despeito das oscilações que a didática tem sofrido em face da in- terferência das diversas ciências da educação em seu objeto de estudo ou da própria adesão que muitos pesquisadores do campo têm feito por te- máticas que se distanciam do seu elemento central, ela é um componente curricular fundamental para a compreensão, por parte dos futuros profes- sores, do vínculo entre as teorias do conhecimento e as teorias do ensino e da aprendizagem, que permitem ao educador estabelecer a necessária mediação no processo didático.

Entendemos que cabe à didática apresentar, aos professores em forma- ção, o caráter humanizador e socioafetivo do processo ensino-aprendizagem, enfatizando a relação existente entre os sujeitos, e não entre sujeito-objeto. Defendemos a ancoragem do ato pedagógico e, principalmente, da ação do- cente a esses pressupostos, uma vez que eles são vistos como irrelevantes no processo de formação dos profissionais no contexto universitário e, por isso, são excluídos quase por completo das práticas dos formadores.

A didática, portanto, ajuda o professor em formação a compreender, desde o princípio, que cognição e afetividade são processos interdepen- dentes que precisam fazer parte do ato de ensinar, o qual jamais deve estar destituído das existências em aprendizagens.

Para que o futuro educador eduque humanizando e forjando com- portamentos, valores e atitudes importantes ao desenvolvimento do ser em formação e da vida em sociedade, é necessário que, no âmbito de sua formação profissional, esses mesmos princípios sejam experienciados.

Em uma dimensão política e social, compete à didática promover a reflexão do professor sobre as finalidades da educação por intermédio dos processos didáticos-formativos. Assim, na condição de componente curri- cular da esfera pedagógica, ela conduz o professor a pensar sobre questões fundantes que envolvem a atividade docente, como: para que ensinar? O que ensinar? Como ensinar? Quem ensina? Para quem ensinar? Sob que

condições ensinar? É papel dela também, no âmbito da formação docente, explicitar os nexos entre educação e sociedade, homem e mundo, traduzin- do os objetivos sociais e políticos da educação geral em objetivos de ensino.

Precisamos, pois, reposicionar a didática nos currículos dos cursos de licenciatura, garantindo a ela a possibilidade de continuar contribuindo para a qualidade da formação do professor. Esse movimento pode começar pela defesa de seu caráter integrador dentro dos currículos e da formação.

[...] a Didática não pode deixar de ser uma disciplina-síntese, uma disciplina de integração, planejada de modo criativo, cujo conteúdo seja a descrição, explicação do processo de ensino e proposição de princípios de ação didática comuns a todas as ma- térias. (LIBÂNEO, 1994, p. 71)

Essa posição mediadora retira de cena, portanto, todo argumento em torno de uma suposta sobreposição de conteúdos dos componentes pe- dagógicos no currículo dos cursos de formação de professores, inclusive pela didática, uma vez que seu lugar é legitimado pela clareza de seu ob- jeto e por sua natureza político-social. A esse respeito, a didática assume a função de educar o olhar dos professores em formação para a análise das práticas sociais, articulando-as às questões do ensino.

Cabe ao professor de didática e a todos os formadores que atuam nos cursos de licenciatura a responsabilização por conduzir os professores em formação à compreensão dos fenômenos educacionais, da escola, da sala de aula e, por conseguinte, do ensino como espaço-tempo de luta e confronto político-social; de conflitos e consensos; de contradições e de acontecimentos próprios do exercício de sua atividade docente.

Acreditamos que essa seja hoje, talvez, a sua função mais rele- vante, qual seja, a de buscar compreender e transformar a escola em local de ensino e formação. Como já realçado (PIMENTA et al., 2008) em nosso projeto coletivo de pesquisa: reinventar a es- cola para os tempos de hoje não se trata de voltar à escola apenas preocupada com conteúdos, mas, sim, uma escola que amplie e reconfigure a função social do ensino. (PIMENTA; FUSARI; ALMEIDA; FRANCO, 2013, p. 151)

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É no bojo das contradições da prática escolar que podemos forjar pro- fissionais para exercer a docência com implicação, posto que, observando de dentro as problemáticas institucionais e de seu ofício, optam por com- prometer-se com um projeto educacional emancipacionista, capaz de levar os sujeitos a perspectivar novas formas de existencialidade.

DESAFIOS À DIDÁTICA A PARTIR DAS PAUTAS