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II. EM SÃO PAULO: espaço e diferença

2. No circuito: uma primeira aproximação

2.2. Nos bairros de classe média

A área majoritariamente marcada por freqüência de mulheres provenientes de estratos médios estende-se por bairros que, em pesquisas demográficas, aparecem entre os que concentram as maiores rendas médias no município: Pinheiros, Jardins, Vila Madalena e Itaim Bibi. Esses bairros abrigam circuitos de lazer noturno variados, que não se restringem à freqüência homossexual, reunindo uma gama de bares e boates bastante diversificados.

A presença de bares e boates de freqüência homossexual marcadamente feminina fora da região central é bastante recente. Até onde pude localizar, a primeira casa noturna com maior freqüência de mulheres fora da região central foi o Club Z, inaugurado em 1994 na região da Bela Vista, tendo se transferido para o Itaim Bibi em 2002. Com o início da ocupação dos Jardins por casas GLS em meados dos anos 1990, surge a noite Cio em 1997, comandada por Gláucia ++, no bar descolado The Cube, passando posteriormente pelas principais casas do circuito “moderno” da cidade até se fixar no D-Edge, clube “descolado” da Barra Funda. Em Pinheiros, uma das primeiras casas para mulheres, a Ipsis, foi inaugurada na segunda metade dos anos 1990. Inaugurado em 1997, o Farol Madalena foi o primeiro estabelecimento para mulheres no Itaim Bibi, seguida pelo Bardagrá inaugurado em 2001. Nessa época, no bar Pride, situado nos Jardins, algumas mulheres ainda atravessavam a rua correndo para entrar no estabelecimento sem serem notadas. Tratava-se de um bar com shows de MPB e mesa de sinuca, com freqüência predominante de mulheres na faixa dos 30 anos.

Uma parte da freqüência mais jovem em bairros de classe média está nas festas que seguem a trilha iniciada pela noite Cio, marcadas por estilos bem delimitados que fazem coincidir gírias, indumentária, preferência por cortes de cabelos, tipos de maquiagem, de música e até visões políticas e valorização de campos de atuação profissional. Uma das referências nessa linha é a festa Chá com Bolachas, que teve sua primeira edição no início de 2003 no Terra Madre, nos Jardins, e passou por outros redutos “modernos”71, antes de se

fixar no Glória, também reduto de modernos e fashionistas na Bela Vista. Tanto o Cio quanto o Chá com Bolachas são festas periódicas freqüentadas por um público “moderno”.

A partir de meados dos anos 2000, surgem várias outras festas ou projetos, como algumas das organizadoras gostam de chamá-las. É o caso da I Love Pussy, da MiLk, da TRACKinAS e da Las Fufas - onde a principal atração são DJs e predomina a música eletrônica, especialmente electro. Também é o caso da Dykes on X e da Tête-à- Tête - mais ligadas ao rock e ao electro-rock, que incluem shows de bandas na programação.

2.2.a.) Bares e boates para mulheres ou com freqüência expressiva de mulheres

Para além das festas e lugares marcados por estilos, que abordarei posteriormente, uma primeira subdivisão entre os estabelecimentos freqüentados por mulheres em bairros de classe média inclui os voltados para mulheres ou de grande freqüência de mulheres. Essa subdivisão abrange bares e boates freqüentados por mulheres de estratos médios e médios- baixos, com um leque variado de idade (de cerca de 20 anos a cerca de 40 e poucos anos). Os ambientes são bem mais cuidados na infra-estrutura e decoração do que os observados na área central e praticam preços bem menos acessíveis72.

Uma primeira maneira de estabelecer distinções na relativa diversidade que compõe o público desses estabelecimentos é diferenciando as boates, geralmente mais voltadas à paquera e à busca mais agressiva de parceiras, e os bares, onde o comportamento de paquera é menos explícito e nota-se maior presença de casais e de mulheres mais velhas em relação às boates.

Entre as boates, tive contato com estabelecimentos como a Bubu Lounge, localizada na Rua dos Pinheiros, o Bardagrá (que, apesar de ser bar, possuía pista), e o Club Z, no Itaim Bibi73. Neles, a freqüência mais expressiva é de mulheres na faixa dos 20 aos 25

nos bairros da Vila Madalena, Barra Funda e na rua Augusta.

72 Os ingressos praticados em boates são um exemplo: enquanto a boate com freqüência mais expressiva de

mulheres na área central, a Gruta, cobrava R$ 8,00 de entrada aos sábados em 2006, o Clube Z cobrava R$ 15,00 de ingresso e a Bubu cobrava R$ 40,00 consumíveis. Com relação a bares, o Café Vermont do centro cobrava, em 2007, R$ 3,00 de couvert artístico em qualquer dia da semana, enquanto o Vermont Itaim cobrava R$ 8,00 de couvert no projeto de samba da quarta-feira, citado na abertura deste capítulo, e no final de semana os preços variavam de acordo com a atração, indo de R$ 10,00 a R$ 20,00.

73 O Club Z e o Bardagrá anunciaram o encerramento de suas atividades em 2007. No final do ano, uma

enquete numa das comunidades do Club Z no Orkut afirmava que poderia haver uma fusão das duas casas num novo projeto, contra o que algumas integrantes protestavam, dizendo que se tratavam de públicos e de projetos diferentes, em referência ao fato de que o Bardagrá incluía MPB em sua programação e que o Club Z

anos, que comparecem em casais, grupos de amigas e sozinhas. A busca de parceiras chega a incluir comportamentos equivalentes ao que se denomina “pegação” entre os homossexuais masculinos. A programação varia entre as casas. No Club Z havia apenas música mecânica, house e techno, e a programação incluía pocket show de drag e shows eróticos, atraindo um público de estratos médios baixos, mais marcadamente jovem e com maior presença de “masculinas” e de pares “masculina”/“feminina” em comparação aos estabelecimentos a seguir. O Bardagrá tinha por base da programação os shows de MPB, mas também havia DJs em dias específicos. Na Bubu, que descrevo mais detalhadamente adiante, há duas pistas de música mecânica e um lounge, que fazem variar um pouco a idade em ambientes específicos.

No Bardagrá e na Bubu há a opção de um lounge ou um espaço semelhante a barzinho com música ao vivo como alternativa para as mulheres que preferem esse tipo de ambiente, o que os distingue dos estabelecimentos direcionados mais especificamente a homens homossexuais. Há outros ambientes recentes com esse perfil, que não cheguei a visitar, como é o caso d’O Gato, situado na Bela Vista, próximo ao Shopping Frei Caneca. Os primeiros ambientes desse tipo na cidade datam da segunda metade dos anos 1990, e muitos já haviam fechado suas portas quando iniciei o campo desta pesquisa.

Em bares como o Vermont Itaim, no Itaim Bibi, o Farol Madalena74 na Vila Madalena e o Bar da Fran, em Pinheiros, há cardápios bastante sofisticados e a programação inclui música ao vivo – MPB e/ou samba - e mecânica, bem parecida com a que é tocada nas boates voltadas para homens homossexuais dos mesmos estratos sociais. Nenhum deles possui pista de dança e o público varia em termos de idade, sendo de modo geral mais velho que o das boates citadas acima, se distanciando significativamente, em termos de classe, do público que freqüentava o Club Z.

tinha apenas música eletrônica, além de incluir shows eróticos em dias específicos.

74 O Farol inclusive comemora seu aniversário anualmente na boate The Week, atualmente a maior, mais cara

Itaim Bibi (as setas verdes indicam as casas Club Z, Vermont Itaim e Bardagrá) Fonte: Google Maps

Além desses, há um bar de karaokê, o Xuxu, em Moema que possui freqüência expressiva de mulheres em dias específicos. O público feminino do local é concentrado entre os 25 e 35 anos e parece ir de estratos médios-baixos a médios. Bem menos decorado, o bar tem um clima meio familiar, sendo de propriedade de uma crossdresser, que permanece “montada” o tempo todo atrás do balcão, e promove periodicamente festas que têm por tema fetichismo e crossdressing. Esse último bar é bem pouco conhecido e não o vi citado em nenhum “roteiro GLS”. Tive informação dele em conversa informal com uma transexual e só soube que havia concentração de mulheres ali por, casualmente, ter acompanhado uma amiga antropóloga a campo. Assim como o Xuxu, há vários estabelecimentos, inclusive voltados para mulheres, que não tiveram visibilidade em “guias GLS”. Isso é muito comum no que diz respeito aos locais situados na área central, que não vi citados em nenhum guia de internet, mas há também estabelecimentos que conheci em bairros de classe média que não aparecem citados nesses roteiros.

Pinheiros (a seta azul indica o Farol Madalena e a vermelha, a Bubu Lounge Disco e o Bar da Fran) Fonte: Google Maps

Entre os estabelecimentos citados neste item, o Farol é o que concentra a maior proporção de mulheres que gostam de mulheres. Os outros possuem freqüência mista de homens e mulheres, sendo que, com exceção do Vermont Itaim, há também freqüência heterossexual expressiva nas outras casas. Pelo que acompanhei na comunidade das casas no Orkut, a freqüência de homens heterossexuais gerava problemas especialmente no Bardagrá e no Clube Z, sendo citada como uma “invasão de héteros procurando meninas bissexuais”. A Bubu é também freqüentada por garotas que buscam rapazes e é menos identificada como uma “boate lésbica”, o que talvez colabore para minimizar esse tipo de conflito. A proprietária do Bardagrá descreveu da seguinte maneira, anos depois, os transtornos gerados por uma matéria publicada na revista Playboy, em agosto de 2003, que provocou uma intensificação da freqüência de homens em busca de casais de garotas75:

75 A reportagem referida é intitulada “Meninas com meninas” e assinada por Anna Kesler, na edição 337 da

revista: “As adeptas estão por toda a parte, aqui, acolá, ali. Ali, sim, não está vendo? Então chega mais perto, presta atenção naquelas duas morenas circulando no salão com suas taças de absinto. Observe como se olham, dão sorrisinhos marotos uma para a outra e não perdem de vista os rapazes, como você, que não as perdem de vista. Elas sabem que estão na mira, mas que o alvo é quem atira.” A chamada para o texto integral no site da revista diz: “O que rola nas baladas e como tirar proveito da onda bi”

Minha casa foi descrita de uma maneira que, quem lia, acreditava ser uma casa de prostituição. Cheguei a tirar uns 90 homens daqui por noite, héteros que ficaram assediando as freqüentadoras. Até eu fui abordada por um homem que enfiou a mão na minha bunda. Foram vários meses desse terror. (entrevista concedida ao site MixBrasil76).

No que diz respeito ao estabelecimento de parcerias, elas tendem a ser mais homogâmicas, especialmente em termos de gênero, quanto mais alto o estrato sócio- econômico e mais baixa a idade das freqüentadoras. Nas casas mais elitizadas, como é o caso da Bubu e do Vermont, a maior parte das freqüentadoras é branca, “feminina” e a indumentária, os cortes e penteados dos cabelos fazem com que se torne bastante difícil distingui-las de outras mulheres de estratos-médios ou médios-altos. A diversidade desses estilos de feminilidade dificulta uma descrição dos pares como a que foi feita em relação aos espaços da área central. As sutis diferenças na aparência dessas mulheres revelam gradações minuciosas de “feminilidade”, que parecem responder às convenções de gênero de suas redes sociais.

Assim, temos, no Club Z, pares de hiper-femininas que chegam a guardar alguma semelhança com as “femininas” da área central e alguns pares formados por jovens “masculinas”/“femininas”, num estilo semelhante ao que descrevi entre as jovens do centro. Todavia, predominam os pares homogâmicos em relação a gênero e o estilo da hiper- feminilidade local muitas vezes dificulta distinguir o estilo de uma freqüentadora e o de uma stripper chegando na casa para o show erótico.

Para contrastar, reproduzo abaixo trecho de diário de uma visita feita durante a semana no Vermont Itaim:

Havia alguns homens (um sentado sozinho mais dois com amigas e outro com uma amiga também), todos de roupa social. Parecia que tinham saído do trabalho. Havia um casal de garotas, bem discretas, numa mesa. As duas de cabelos compridos, morenas, batiam papo e às vezes pegavam na mão. Começaram a entrar outras mulheres, e a ir lá para o fundo. Todas altas, com botas ou sapato, calças e casacos que pareciam caros. Todas muito bem arrumadas.

No mezanino também estavam dois casais formados por “masculina”/”feminina”. No entanto, era uma “masculina” muito bem produzida, com os cabelos cuidadosamente desalinhados, as calças jeans descoladas, tênis da moda. Se fossem homens, seriam “metrossexuais” e não “bofes”. As namoradas estavam de calça jeans, blusa de lã e tênis. Bem casual. Ambas com cabelos compridos, eram abraçadas pelas “masculinas” o tempo todo. Estas, com uma postura mais “dura” e sempre com uma long neck na mão. Lá embaixo, havia umas mulheres encostadas ao balcão. Uma delas era mais “masculina”: cabelo curto com reflexo e arrepiado, camisa, relógio grande no pulso, calça modelo masculino, postura bem “bofe”, encostada no balcão. Ela tirou para dançar uma menina bem magra, cabelos com chapinha, aparelho nos dentes, com postura muito “feminina”, que

(http://playboy.abril.uol.com.br/revista/edicoes/337/aberto/reportagens/conteudo_28319.shtml).

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estava com uma bermuda social e uma blusa bem leve, muito decotada. Na dança, a “masculina”, mais dura, conduzia e a garota se exibia fazendo o par “feminino”. Além delas, havia mais uma mulher, mais velha, entre 40-50, com postura mais “masculina”. Ela deve ser alguém da organização, pois parecia conhecer as outras pessoas e dançou com o garçom. Tinha o cabelo curto, mas não arrepiado. Me chamou a atenção porque vestia um terno branco estampado, pareceu uma produção especial para o dia. Procurei ver a marca do terno: “Cavalera”. Depois chegou uma garota com um jeito um pouco mais andrógino. Um jeito mais duro de corpo, bem magra, com cabelo no ombro (liso, bem escovado e meio desfiado). Tinha um jeito um pouco mais “masculino” que o padrão das freqüentadoras e estava com outra bem “feminina”, com faixa no cabelo. No lugar, havia uma garota “preta” bem magrinha, com cabelo black estilizado, vestia uma roupa moderninha, com capuz e tênis Puma sapatilha.

Havia também duas senhoras mais velhas, de calça social e blusa (uma de camisa, outra de blusinha de lã). Deviam ter por volta de 60 anos e não eram um casal “masculina”/“feminina”, embora a mais gordinha parecesse ser mais “masculina” e sempre fizesse o “papel de homem” quando dançavam juntas. Nas músicas mais lentas, dançavam juntinho e falavam coisas no ouvido uma da outra. Quando duas meninas mais novas chegaram e viram, comentaram baixinho: “olha que fofinho as duas”.

...

Vermont Itaim: fachada e bar do térreo (fotos do site da casa).

O restante era de meninas ou com jeito de quem saiu do trabalho (calça social, sapato ou sandália de bico fino e blusinha) ou lembrando o estilo das estudantes da PUC: calça, cabelos lisos bem compridos (às vezes com faixas), blusas bem femininas, não muito maquiadas, nem sem maquiagem. Todas altas, talvez por causa dos saltos. Em geral, não havia meninas acima do peso. Não havia pegação, mas algumas meninas por vezes se beijavam de modo meio apaixonado. Fora os casais que descrevi nos parágrafos acima, os outros eram bastante homogâmicos: brancas, de mesma altura, mesma roupa, mesmo cabelo. No entanto, havia poucos casais e mais amigas. Fora as mais “masculinas”, a maioria tinha cabelo comprido bem liso, com chapinha.

Vermont Itaim: (1) panorama geral e (2) show de MPB (fotos do site da casa).

Com um preço de entrada bastante alto, mas uma freqüência de estilo menos elitizado, a Bubu pode ser tomada como um exemplo mais geral do conjunto de lugares de freqüência de estratos médios não marcado por estilos específicos. A observação do público freqüentador permite afirmar que, além de haver uma freqüência equilibrada de homens e mulheres, há uma mistura de estilos. A maioria das mulheres tem por volta dos 20 anos, mas é possível encontrar algumas com mais de 30 e até 40 anos. Entre elas, há as que usam tênis, camiseta e calça jeans, as que trajam vestidos vaporosos e saltos altos, as que vestem calça jeans, saltos e blusinhas super decotadas, algumas lisas e/ou com brilhos, outras estampadas. Entre as brancas, muito cabelo comprido e liso, brincos grandes. Entre as pretas e pardas, em geral, os cabelos evidenciavam o uso de algum produto químico: cabelos tingidos em tons mais claros ou vermelhos e também cabelos alisados ou com escova. Há também uma presença discreta de garotas de performance mais “masculina”, evidenciada pelo uso de bonés, cabelos curtos e camiseta, mas que não se assemelha ao tipo de composição masculina das mulheres do centro: as roupas e a postura não têm o efeito de ocultar atributos “femininos”, como acontece entre algumas das freqüentadoras da área central, que poderiam ser tomadas como homens por observadores incautos. A maioria dos freqüentadores é branca, mas o número de mulheres pretas e pardas é superior ao de homens. Também há uma quantidade expressiva de “orientais” de ambos os sexos. Os seguranças, por outro lado, são todos pretos ou pardos.

A distribuição do público varia no interior dos três ambientes existentes na casa: uma pista maior tocando techno no piso inferior; outra menor, tocando clássicos gays e house, no piso superior; e um espaço que é um misto de bar lésbico, com mesinhas e música brasileira, com

lounge77. Na pista maior, mais freqüentada por homens, também se encontra a maior parte das garotas mais jovens e brancas. A pista de cima tem freqüência mista com maioria masculina, e pessoas um pouco mais velhas que as da pista de baixo, embora haja bastante trânsito entre os ambientes. No lounge há maior concentração de mulheres, sendo que nesse espaço estão as mais velhas, entre as quais estão as mais pretas e pardas.

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Bubu: (1) show de MPB no lounge; (2) go-go girls na festa Sobre Elas (fotos do site da casa)

Bubu: panorama da pista inferior na festa Sobre Elas (foto do site da casa)

77 Comum em lugares tidos como “modernos”, o lounge é um espaço com sofás e outras estruturas que

permitem maior conforto, com iluminação mais discreta e com som mais baixo ou músicas menos agitadas em relação à pista de dança.

A interação se dá basicamente entre pessoas do mesmo grupo, já o contato entre grupos ocorre a partir de determinadas regras e visa unicamente a paquera. No entanto, se o sexo das pessoas é mais fácil de antever nesse espaço, é difícil inferir a sua “orientação sexual” pela observação da indumentária e performance de gênero, dado que também é um lugar em que há presença de mulheres heterossexuais. Se as variadas parcerias eróticas acontecem numa aparente fluidez de “orientação sexual”, ressalta-se o caráter visivelmente homogâmico da maior parte dessas parcerias, a começar pelo traço de poder de consumo que parece permitir a aparente “democracia” de estilos – a entrada no sábado custa R$ 40,00. Além disso, os grupos e casais são formados a partir de idades semelhantes e as mulheres mais valorizadas são as que possuem uma performance mais “feminina”, paqueradas por outras de performance semelhante.

O traço acima constitui um aspecto importante quando pensamos nas dinâmicas de parcerias que se dão nos diferentes espaços: em meio aos vários contrastes que poderiam ser estabelecidos entre os locais de freqüência popular e os marcados pela presença dos estratos médios ou médios-altos vale a pena observar uma tendência ao estabelecimento de relações homogâmicas na porção do circuito situada nos bairros de classe média e a significativa presença de parcerias heterogâmicas nos espaços do centro. Esse traço é um pouco matizado nas outras casas, conforme aumenta a idade das freqüentadoras ou decai o estrato social. Mesmo no Vermont Itaim78 e no Farol pode-se encontrar alguns pares formados por “masculina” e “feminina”, que na maior parte das vezes são mulheres mais velhas. Numa das comunidades do Club Z no Orkut, parte das meninas se apresentava como lady procurando machinhos ou vice-versa e uma parte como nenhum dos dois, feminina que gosta de feminina ou lady que gosta de ladies. A presença de mulheres pardas ou pretas também varia conforme a casa, mas sem dúvidas havia mais pretas e pardas no Club Z, no Xuxu e no Bardagrá do que é possível encontrar na Bubu ou no Vermont Itaim.

2.2.b.) Lugares marcados por estilos

Uma outra porção do “circuito” é delineada a partir dos itinerários marcados por menor contigüidade espacial traçados por jovens pertencentes a dois diferentes estilos: as

78 Segundo o comentário irônico de um rapaz de estratos médios que tem parceria heterogâmica e freqüenta

estabelecimentos localizados no centro e em bairros de classe média, o Vermont Itaim o único lugar onde é possível encontrar “lésbicas de tailler”.

modernas e as minas do rock.

Rua Augusta e Jardins (ocírculo vermelho marca a região onde estão situados os bares e festas da rua Augusta no sentido centro; o círculo azul indica a região das festas e bares dos Jardins).