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1 DIREITO, INTERNET, CIBERESPAÇO E MENSAGENS

1.4 O acesso à internet e o direito à informação

Nas últimas décadas o acesso às tecnologias da informação tornou-se circunstância indissociável do cotidiano do homem contemporâneo. Nesse contexto, são necessários esforços no afã de fomentar a educação tecnológica visando à familiarização com as ferramentas digitais desde os primeiros anos escolares, além do investimento na educação não formal, com vistas a conferir uma maior prevenção dos riscos inerentes ao ambiente do ciberespaço e uma melhor utilização desses novos instrumentos de socialização.

Já é comum utilizar a expressão “analfabetismo digital” para explicar o fenômeno da exclusão dos indivíduos do acesso à rede mundial de computadores. Esse novo tipo de excluído sente dificuldade de interagir socialmente, visto que não possui conhecimento acerca do uso

das novas tecnologias e, por vezes, não consegue acompanhar a velocidade com que ocorrem as mudanças.

Ressalte-se que a ignorância digital constitui um fenômeno amplo e atinge diversas camadas da sociedade. Além da população de baixa renda, outros grupos como os idosos e também pessoas com determinado tipo de deficiência capaz de dificultar o uso de tecnologias da comunicação são vítimas dessa realidade.

Para Peck, aqueles que não tiverem existência virtual dificilmente sobreviverão também no mundo real, e esse talvez seja um dos aspectos mais aterradores dos últimos tempos42.

Diante da nova modalidade de ausência de conhecimento mencionada acima, faz-se necessária a adoção de mecanismos que mitiguem a distância entre o cidadão e o acesso à rede. Além da capacitação adequada para utilizar os equipamentos e da distribuição em larga escala dos mesmos, o reconhecimento do acesso à internet como um direito é algo que merece atenção no plano jurídico.

O direito à informação em geral impõe-se ao Estado. Este deve assegurar ao cidadão a possibilidade de se informar sobre os aspectos relevantes da vida em sociedade. Já o direito à informação em particular incumbe ao polo oposto do consumidor na relação contratual de consumo e engloba a disciplina da publicidade, temática central deste estudo43.

Não ter acesso à internet é o mesmo que estar privado do direito à informação, sobretudo, no que se refere àquela informação que é absorvida em tempo real, um bem imaterial, de valor econômico ainda incomensurável, mas que se torna cada vez mais precioso com o avanço da tecnologia da informação.

Em uma sociedade de comunicação de massa, temática que será debatida no próximo capítulo, para que seja alcançada a liberdade e a igualdade dos indivíduos de forma ampla, se faz necessária a possibilidade de ter acesso ao meio de interação mais revolucionário da história recente: a rede mundial de computadores. Aqueles que não gozam de tal direito correm o risco de sofrerem a exclusão social descrita anteriormente.

Nessa perspectiva é preciso ter em mente que o processo de democratização do direito à informação passa pelo direito de acesso à internet, uma vez que tal ferramenta permite que indivíduos de lugares diferentes e com graus distintos de educação possam dispor do mesmo

42 PECK, Patricia. Direito Digital. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 70.

43 COUTO, Rute. Publicidade: dimensão do direito do consumidor à informação. Revista Luso-Brasileira de

conteúdo, além de facultar a possibilidade de construção de informações e divulgação do que estão produzindo44.

O presente trabalho científico defende a tese de que o direito de acesso à internet é uma decorrência direta do direito à informação. E mais, não basta apenas a simples disponibilização de um computador e de uma rede de banda larga de qualidade aos indivíduos. O direito de acesso engloba, outrossim, uma educação para navegar na web. Um usuário, que é um potencial consumidor, torna-se vítima fácil das estratégias de marketing se ele não tem a orientação mínima para fugir das armadilhas dos fornecedores de produtos e serviços que exploram o ambiente virtual.

A educação para um consumo responsável na web constitui uma das formas de combate e prevenção em face da violação dos direitos do consumidor, inclusive diante da publicidade subliminar na internet, problema que motivou esta investigação acadêmica.

A rede mundial de computadores representa, hoje, um elemento essencial para a disseminação da informação, o que impacta o crescimento da economia, de forma que seu controle vem sendo alvo de uma série de disputas de Estados soberanos.

Dessa forma a inserção do acesso à internet no conteúdo jurídico do direito à informação faz com que o cidadão tenha seu espectro de proteção ampliado e, consequentemente, o valor constitucional da dignidade da pessoa humana é homenageado.

Com o acesso à informação o consumidor pode exercer dignamente o seu direito de escolha no mercado de consumo, sobretudo em face dos detentores do poder econômico que insistem em estimular a indução ao consumismo e a restrição da liberdade por intermédio da publicidade (subliminar ou não) massificada.

Se não há respeito ao direito à informação, o resultado é o agravamento da vulnerabilidade do consumidor. Este se encontra tolhido em sua liberdade de escolha no momento em que tal direito é restringido. Daí surge a necessidade de proteção especial do consumidor hipervulnerável que navega na rede, tema que será debatido no tópico 3.3.

Adverte-se que houve uma transformação na abordagem tradicional do fornecedor em face do consumidor. Esta deixou de ser predominantemente direta e presencial, com discussão dos direitos e obrigações de ambas as partes. Na era da comunicação de massa a divulgação das

44 TEFFÉ, Chiara Antonia Spadaccini de. A responsabilidade civil do provedor de aplicações de internet pelo

danos decorrentes do conteúdo gerado por terceiros, de acordo com o Marco Civil da Internet. Revista Fórum de

informações, a propagação de ofertas e a aquisição de produtos e serviços ocorrem com o auxílio da internet45.

Parece desarrazoado imaginar que a inclusão digital se dará somente pelo crescimento do mercado, sem que ocorra qualquer intervenção estatal no sentido de combater a desigualdade de acesso e de incorporação de tecnologias de informação.

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que será objeto de estudo no capítulo 3 da tese, manifesta-se nessa linha de pensamento em seu artigo 4º, inciso II, ao prescrever como objetivo da Política Nacional das Relações de Consumo a presença no Estado no mercado de consumo.

A internet, hoje em dia, deve ser acessível a todos, constituindo um verdadeiro bem público. Todo cidadão deve ter direito de acesso à rede mundial de computadores e a sociedade da informação (ou de comunicação) deve ser maximizada, sob pena de haver exclusão social. A universalização desse direito, entretanto, não deve ocorrer sem a devida orientação, em consonância com o exposto outrora46.

Por essa razão, pretende-se, com o desenvolvimento deste trabalho, defender a ampliação dos direitos do consumidor, com a consequente inserção do direito de acesso à internet e demais mídias digitais no rol dos direitos e deveres individuais e coletivos, como forma de incluir o cidadão e, consequentemente, informá-lo e protegê-lo em face das armadilhas presentes nas chamadas tecnologias da informação, sobretudo no que concerne à veiculação de publicidade subliminar por meio da web.