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4 PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DO LETRAMENTO LITERÁRIO NA

4.3 CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.3.1 O campo de investigação

A pesquisa se deu numa instituição pública de ensino superior do nordeste do Brasil – doravante referida como IESNE –, em que esta pesquisadora atua como professora efetiva, desde 2011, no Curso de Letras Licenciatura em Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, ministrando, principalmente, disciplinas da área de Literatura Brasileira. É um Campus novo que começou a funcionar em 18 de julho de 2005, com dois cursos, Pedagogia e Letras, para atender à demanda da cidade em que está situado, contribuindo para o desenvolvimento político, econômico e social do município e da região em seu entorno. Com a finalidade de o professor preparar-se para o exercício de uma prática efetiva e competente, conforme as exigências da LDB Nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) e capacitando-o para atuar no desenvolvimento de práticas leitoras que formem cidadãos críticos, o Projeto Pedagógico do Curso de Letras (PPC) traz, entre outros objetivos: “fomentar o desenvolvimento de habilidades linguísticas, culturais e sociais; atribuindo ao professor o estatuto de leitor, sob pena de inviabilizar a implementação de uma pedagogia da leitura” (MARANHÃO, 2013, p. 7)3. Como 3 No final de 2017, foi aprovado um novo PPC e uma nova estrutura curricular, de acordo com o

filosofia educativa, o referido projeto concebe que a educação superior “materializa- se a partir da relação professor/aluno/comunidade via linguagem” que, compreendida como interação social, “implica a constituição desses indivíduos como sujeitos históricos responsáveis pela construção da sociedade” (MARANHÃO, 2013, p. 8).

O currículo do referido curso foi discutido, analisado e revisto ao longo do ano de 2013, junto a uma comissão docente composta de diretores e professores do Curso de Letras de todos os campi, organizada pela Pró-Reitoria de Graduação (PROG). Na ocasião, houve também a unificação curricular de todos os cursos de Letras da referida instituição, haja vista que, até então, cada campus tinha um currículo específico que atendesse ao público-alvo, o que dificultava a transferência de alunos entre os campi. Considerando essa estrutura curricular comum, o corpo discente passou a cumprir, dentro das 3.255 horas de efetivo trabalho acadêmico, as práticas como componente curricular complementar aos estágios supervisionados no Ensino Fundamental e Ensino Médio4, totalizando 405 horas – conforme Resolução CNE/CP 2/2002 de fev./20025 – que devem ser distribuídas ao longo do processo formativo. De acordo com as Normas Específicas para os componentes curriculares da dimensão prática da referida universidade (RIOS, 2011, p.11-12), as práticas curriculares têm como objetivo geral: “desenvolver atitudes investigativas, reflexivas e atuantes frente à complexidade da realidade educacional”; e específicos: “criar espaço para o exercício das capacidades de pesquisar o fato educativo, estimular o estudante à reflexão e à intervenção no cotidiano da prática pedagógica”, além de proporcionar-lhe a possibilidade de “socializar experiências que contribuam para a iniciação científica, por meio da prática da pesquisa pedagógica”. Dessa forma, estabeleceram-se para o Curso de Letras da referida instituição as disciplinas: Prática de Projetos Pedagógicos (135h), no 2º Período do curso; Prática de Análise Linguística e Textos Literários em Língua Portuguesa (135h), no 3º período; e Prática Interdisciplinar de Leitura e Produção Textual em Língua Portuguesa (135h) no 4º Período. Apresenta-se, a seguir, a estrutura curricular do

para a formação inicial em nível superior. Nossa pesquisa se deu numa turma que ingressou na universidade, em 2017.2, submetida, ainda, ao PPC e à Estrutura Curricular anterior.

4 Para integralização dessas 3.255 horas, além das disciplinas obrigatórias (núcleo comum e núcleo

específico) do curso, acrescentam-se as disciplinas optativas (120 horas), o Estágio Supervisionado (405 horas) e as Atividades acadêmico-Científico-culturais – AACC (225 horas), conforme o PPC em tela.

5 Essa Resolução estabelece para os cursos de licenciatura de graduação plena de formação de

curso, com apenas os quatro primeiros semestres (períodos) em que se encontram as referidas práticas – disciplinas campos desta pesquisa:

Quadro 1 – Estrutura curricular do curso de Letras Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa

Período Disciplina Carga Horária

1º 2017.26

Leitura e Produção Textual – Núcleo Comum (NC)

60

Morfossintaxe da Língua Latina – Núcleo Comum de Letras (NCL) 60 História da Literatura (NCL) 60 Filosofia da Educação (NC) 90 Metodologia Científica (NC) 60 Psicologia da Aprendizagem (NC) 60 2º 2018.1

Fonética e Fonologia da L. Portuguesa (NCL)

60

Política Educacional Brasileira (NC) 60 Teoria Literária: introdução aos estudos

literários e o gênero lírico e o épico (NCL)

60 Fundamentos da Linguística (NCL) 60 Sociologia da educação (NC) 60 Práticas de Projetos Pedagógicos

(NCL)

135

3º 2018.2

Didática (NC) 90

Teoria Literária; correntes da Crítica Literária e o gênero dramático (NCL)

60 Sociolinguística Núcleo Específico (NE) 60 Morfologia da Língua Portuguesa (NCL) 60 Literaturas Africanas de Língua

Portuguesa (NCL)

60

Prática de Análise Linguística e Textos Literários em Língua Portuguesa (NCL)

135

4º 2019.1

Filologia Românica (NCL) 60 Literatura Brasileira das origens ao

Arcadismo (NCL)

60

Literatura Infantojuvenil (NC) 60 Literatura Portuguesa das origens ao

Arcadismo (NE)

60 Sintaxe da Língua Portuguesa (NE) 60 Prática Interdisciplinar de Leitura e

Produção Textual em Língua Portuguesa (NE)

135

Fonte: Elaborado pelo autor, com base no PPC da IESNE (MARANHÃO, 2013).

A partir do Quadro 1 tem-se uma visualização dos conhecimentos sistematizados sobre Literatura que os professores em formação apreenderam no que corresponde à metade da carga horária total do curso, bem como das disciplinas – campo da pesquisa –, no que diz respeito ao contato desses professores em formação com obras literárias, para efeito de práticas leitoras.

O que se pode observar, a princípio, é que, no primeiro ano do curso, o contato do aluno com os textos literários se limita aos aspectos relativos à historiografia e à teoria literária. As práticas de leitura do texto na íntegra, propriamente dito, seriam iniciadas no segundo ano com textos literários relativos às literaturas de língua portuguesa de origem africana e à literatura brasileira que reflete ou dialoga com as africanas, no terceiro semestre. No quarto semestre, essas práticas se ampliam com a leitura de obras brasileiras e portuguesas relativas à origem de suas produções e ao período clássico do Arcadismo, conforme o cânone acadêmico, e de obras infantojuvenis clássicas, universais e brasileiras. Nesse caso, levando-se em consideração essa gradação entre o conhecimento de saberes específicos sobre a Literatura, enquanto linguagem artística, e a prática de leitura de textos literários, enquanto prática social, dependendo da metodologia utilizada pelo professor dessas disciplinas, o aluno somente terá uma experiência leitora no que se refere ao texto literário no seu segundo ano do curso.

No tocante às práticas curriculares, a segunda prática (Prática de Análise Linguística e Textos Literários em Língua Portuguesa), que ocorre no terceiro semestre, propõe, em sua ementa, uma integração entre os conteúdos desse semestre com os dos semestres anteriores, incluindo-se aí a leitura e análise de textos literários, como será visto no momento da apresentação da referida disciplina. Por esse motivo, essa disciplina foi o campo escolhido para a geração dos dados desta pesquisa.

Para a operacionalização dessas práticas curriculares, as ações a serem desenvolvidas devem destacar a participação do aluno em atividades voltadas à pesquisa: reflexão e intervenção em situações-problema na comunidade, com produção de trabalhos científicos diversos, como projetos, relatórios e resumos. Para tanto, o estudante é devidamente encaminhado à instituição de ensino básico, credenciada pela IESNE. Assim sendo, a coordenação do curso estabeleceu um cronograma com a seguinte carga horária: a) uma carga horária de 45 horas por

período – em conjunto com o professor/orientador – para a orientação, avaliação no processo e avaliação final e que nos reportaremos nesta pesquisa como aulas teóricas; 60 horas por período para o desenvolvimento das atividades pelos estudantes, em caráter independente – situação-problema e intervenção na comunidade escolar – e 30 horas por período – para produção do trabalho final.

A partir dessa carga horária, estabeleceu-se para as disciplinas de prática,

lócus da pesquisa, o seguinte cronograma relativo às aulas teóricas e práticas (105

horas-aula), que foi apresentado aos alunos do curso de Letras na ocasião da apresentação da primeira disciplina-campo desta pesquisa:

Quadro 2 – Distribuição da carga horária para as disciplinas de Prática Curricular ajustada à turma colaboradora da pesquisa

Aulas Carga Horária Atividades

Teóricas 45 horas

leitura e discussão sobre conhecimentos/conceitos

pertinentes à ementa da disciplina e considerados pré- requisitos para as práticas

Práticas 60 horas

45 horas atividades de reflexão, produção textual e socialização de atividades realizadas

15 horas intervenção em oficinas no Ensino Fundamental – anos finais = 5 h de observação + 10 h de oficina

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Dimensão Prática nº 890/2009- CEPE/IESNE (RIOS, 2011, p. 11-12).

Assim, estabeleceram-se para as 45 horas de aulas teóricas os conteúdos pertinentes aos saberes a serem apreendidos nas disciplinas e os que se referem às práticas de leitura literária, objeto desta pesquisa. As 60 horas consideradas na pesquisa como aulas práticas foram divididas em 45 horas para as práticas de leitura e de produção textual independentes – e, no caso da disciplina Prática de Análise Linguística e Textos Literários, foram designadas para o laboratório de leitura literária, conforme será apresentado adiante – e 15 horas para o projeto de intervenção na escola. Foram mantidas as 30 horas restantes do total da carga horária (de 135 horas) para a produção do trabalho final exigido pelas disciplinas.