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O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu

No documento relações internacionais (páginas 61-63)

germinariam nas décadas seguintes. Para a contenção do expansionismo francês, foram necessárias várias coalizões das Grandes Potências. No Mapa 11, pode-se ter a ideia da dimensão do Império Napoleônico em seu apogeu (em verde).

Mapa 11: O Império Napoleônico em seu Apogeu (1810-1811):

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Em 1812, Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando até Moscou. Entretanto, a vitória logo se converteu em grande derrota. Os russos simplesmente abandonaram Moscou, depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. Sem abrigo ou provisões, o exército francês, enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar a Rússia sob o intenso fogo do exército russo, perdendo aproximadamente 95% dos cerca de 600 mil homens que participaram da desastrosa campanha.

Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleão, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e Suécia formaram a 6.ª Coalizão e declararam guerra à França. Napoleão derrotou os exércitos da Rússia e da Prússia, enquanto os exércitos franceses estavam sendo derrotados na Península Ibérica por forças espanholas e inglesas. Após a Batalha de Leipzig, a Batalha das Nações, em 1813, os exércitos de Napoleão abandonaram os principados alemães. A rebelião contra o império se estendeu à Itália, Bélgica e Holanda.

Em 1814, um grande exército da 6.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. Napoleão, obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (próxima da Córsega, sua terra natal), e a monarquia francesa restaurada com Luís XVIII, irmão de Luís XVI. Os membros da Coalizão reuniram- se, então, no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa.

No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de 1815, Napoleão fugiu de Elba, voltou à França, e iniciou a formação de um novo exército. O rei enviou uma guarnição de soldados para prendê-lo, mas estes aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para a Bélgica.

Contra Napoleão foi rapidamente formada uma 7.a Coalizão, composta por Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Sem tempo para preparar um exército, Bonaparte enfrentou novos combates, mas foi derrotado definitivamente na Batalha de Waterloo (18 de junho de 1815). Napoleão foi então mantido prisioneiro na Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu em 1821. Luís XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de Viena. Chegaram ao fim as Guerras Napoleônicas.

Apesar da derrota definitiva em 1815, as ações de Napoleão e os ideais revolucionários atingiram, de forma irreversível, o Antigo Regime em boa parte da Europa e aceleraram o processo de modernização do continente. Seus efeitos alcançaram o continente americano, repercutindo nos processos de independência de toda a América Latina e nos princípios jurídicos e políticos que regeriam os novos governos na região. O mundo passou, portanto, por grandes transformações em virtude da Era Napoleônica. As relações internacionais nunca mais seriam como antes.

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O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu

O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional baseado no equilíbrio de poder entre as Potências europeias que durou cem anos, até a Primeira Guerra Mundial. Foi o mais longo período de paz da história da Europa ou, pelo menos, o período em que não houve nenhuma guerra que envolvesse, de forma generalizada, as Potências europeias. Durante 40 anos, isto é, entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia (1854), não houve uma guerra sequer entre as grandes Potências e, nos 60 anos seguintes, exceto pela Guerra Franco- Prussiana de 1871, nenhum conflito importante ocorreu.

O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 25 anos anteriores. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa em 1815 o fizeram preocupados em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de todos os negociadores serem adversários da Revolução, estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 não poderia voltar a ser aquela de 1792. Não obstante, estavam

determinados a evitar novas catástrofes. Para isso, seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio europeu. Nas palavras de Duroselle (1976, p. 4):

Primeiro, restabelecer a ‘legitimidade’ dos soberanos. Mas ‘na ordem das combinações legítimas, ligar-se de preferência àquelas que podem com maior eficácia concorrer para o estabelecimento e conservação de um verdadeiro equilíbrio’. Serão, então, utilizados com flexibilidade e em proveito dos grandes Estados os dois princípios, um moral e jurídico, o da legitimidade, outro, puramente prático, o do equilíbrio europeu.

Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa sofreu alterações importantes que refletiam a nova configuração de poder estabelecida pelas Grandes Potências. A Alemanha, por exemplo, passou de 300 Estados para 38 (comparar o Mapa 12 com o Mapa 11).

Um fato, porém, não pode ser deixado de lado. Na conformação do novo sistema de equilíbrio europeu, a França continuava a grande preocupação. Sua condição hegemônica tinha sido excessivamente danosa para as outras Potências

europeias. O Congresso de Viena foi realizado sob o signo de se evitar que ela ameaçasse novamente o resto do continente.

Dois tratados pós-Congresso de Viena merecem destaque. O primeiro é o Tratado da Santa Aliança, firmado entre o Czar da Rússia, o Imperador da Áustria e o Rei da Prússia, em 26 de setembro de 1815. O segundo é o tratado conhecido como o da Quádrupla Aliança, entre os Quatro Grandes (Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia) em 20 de novembro de 1815.

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O Tratado da Santa Aliança estabelecia a restauração na Europa da ordem religiosa e monárquica, fundamento do Antigo Regime que a Revolução Francesa quis derrubar. Fundando-se no mundo cristão, excluía o sultão otomano, apesar de o Czar desejar que o sistema abarcasse a França e a Espanha. Segundo Duroselle (1976, p. 5), “a ‘Santa Aliança’, produto dos sonhos do Czar tinha pouca consistência, e que a verdadeira realidade era a Quádrupla Aliança, assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rússia, a Inglaterra, a Áustria e a Prússia, contra a França.”

Mapa 12: O Congresso de Viena (1815)

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix1.html

Até 1830, o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à estabilização política da França. Como resultado de habilidosa diplomacia, já em 1818 os franceses conseguiram associar-se à política de garantia da ordem na Europa. Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio do qual as Grandes Potências europeias conduziriam o continente por décadas. O equilíbrio de forças entre Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia e França garantia a estabilidade, uma vez que nenhum desses Estados ou qualquer outro país europeu era suficientemente poderoso para enfrentar sozinho uma coalizão formada pelos demais. Assim, estabelecia-se um verdadeiro consórcio entre as Grandes Potências europeias, que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a Europa e pelo mundo. O século XIX seria o século da Paz na Europa e da hegemonia europeia sobre todo o planeta.

A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. A Inglaterra, por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo político e econômico, e a expansão desses ideais liberais foi um dos objetivos da política externa inglesa no século XIX, pela qual os britânicos atuaram, direta ou indiretamente, na independência das colônias espanholas e portuguesas na América e na organização dessas novas nações americanas. Da mesma forma, os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento territorial do Império Otomano. Isso explica, em grande parte, a concorrência e a inimizade que iriam marcar as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte do século XIX.

A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminação dos traços da Revolução Francesa. Era uma Europa legitimista, clerical, desigual, aristocrática e, principalmente, reacionária.

Importante registrar, no entanto, que o fantasma de 1789 não desapareceu. Intelectuais, trabalhadores, liberais, democratas, burgueses estavam descontentes com o restabelecimento do Antigo Regime. Sob diversos matizes ideológicos, o século XIX testemunhou um longo desenrolar de revoluções.

O Século das Revoluções

A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. Apesar desse quadro de tranquilidade, o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas.

Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O período entre 1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços, ou seja, período de grande tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848, bem como as investidas contrarrevolucionárias, estão indicadas nos Mapas 13 a 15.

A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Propagou-se o sistema parlamentar (com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob monarquias constitucionais.

No Mapa 13, as estrelas em amarelo apontam as insurreições, as setas pretas a propagação da onda revolucionária, e as setas vermelhas os movimentos de repressão dessa onda.

Mapa 13: As revoluções de 1830

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html

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A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se formara com o movimento jacobino na época da Revolução Francesa. Em 1830, também já era possível notar o aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e independente, que começava a reunir os jacobinos mais extremados. Já em 1848, a agitação popular tornava-se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”).

No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária francesa e, as setas verdes, a difusão da onda austríaca. As estrelas vermelhas e verdes apontam os centros revolucionários.

No documento relações internacionais (páginas 61-63)