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O Fim da Guerra Fria: 1980-

No documento relações internacionais (páginas 100-102)

Quatro fatos são relevantes nessa fase:

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O Fim da Guerra Fria: 1980-1991

A década de 1980 marcou o que muitos autores chamam de “Nova Guerra Fria”. No período, mereceu destaque a exacerbação anticomunista do novo presidente norte-americano, Ronald Reagan, estabelecendo-se um retorno ao Realismo nas relações internacionais (em substituição ao Idealismo de Jimmy Carter). As concessões unilaterais efetuadas pelo governo Carter foram substituídas por uma política de confrontação diplomática e de endurecimento econômico, com bloqueio econômico e tecnológico aos países do sistema soviético.

O aumento das despesas militares resultou em acúmulo de déficits orçamentários para ambos os lados. No entanto, os EUA possuíam uma clara vantagem nesse processo: os estadunidenses podiam financiar sua dívida pública por meio de emissão de uma moeda que era o principal meio de reserva internacional ou pela colocação de títulos do Tesouro dos EUA no mercado – mecanismos impossíveis de serem utilizados pela URSS, dada

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O concerto americano-soviético, que anunciava a flexibilização deliberada no relacionamento das duas Superpotências:

• os planos SALT (Strategic Arms Limitation Talks) congelaram por cinco anos o desenvolvimento e a produção de armas estratégicas e o controle sobre mísseis intercontinentais e lançadores balísticos submarinos;

• os encontros pessoais, entre 1972 e 1974, dos dois chefes de Estado reativaram fluxos comerciais e financeiros estagnados, como aqueles entre a URSS e os países capitalistas ocidentais (de 1970 a 1975, as exportações ocidentais para a URSS quadruplicaram).

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Consciência da diversidade de interesses no Sistema Internacional:

• a confirmação da vocação integracionista da Europa: a Europa dos Seis de 1957 (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) passa a ser a Europa dos Nove em 1973 (com a adesão da Grã-Bretanha, Dinamarca e Irlanda), matriz do que viria a ser, duas décadas depois, o núcleo de poder da União Europeia: criava-se uma alternativa ao sistema bipolar, mas não da forma harmônica e autônoma que qualificara a hegemonia coletiva europeia do século XIX;

•a América Latina aproveita o clima da détente para a sua reinserção internacional: com a crise da liderança norte-americana na região, as relações internacionais são desideologizadas em seus países mais importantes, como Brasil, México e Argentina, que passam a adotar linhas de condutas próprias nos negócios internacionais;

. quatro grandes Atores na Ásia desenvolvem capacidades de defesa de interesses próprios na agenda internacional: Vietnã, Índia, China e Japão. Destaque para a República Popular da China, a China comunista, que rompe com o seu isolacionismo e retorna ao sistema internacional na década de 1970 (inclusive passando a assumir a cadeira chinesa no Conselho de Segurança da ONU em 1971), recusando a hegemonia soviética e ensaiando uma aproximação com os EUA, e para o Japão, que iniciava sua caminhada para se tornar a segunda economia do planeta.

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Esforço de construção de uma nova ordem econômica internacional pelos países do Terceiro Mundo para a redução da dependência com relação aos centros hegemônicos de poder:

•reforço das ilusões igualitaristas dos países afro-asiáticos: irrompem tentativas dos países do Sul de estabelecerem um diálogo sólido com o Norte;

•a África como um todo e parte da América Latina e da Ásia buscam afirmar o conceito de Terceiro Mundo nas relações internacionais;

•as dificuldades de diálogo encontradas na década de 1960, no âmbito das sessões da Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), levaram o Terceiro Mundo a propor a Declaração e o Programa de Ação sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI), convertida em Resolução da ONU em 1979.

4)

Crise energética e financeira, que testou o grau de adaptabilidade do capitalismo:

• os choques do petróleo em 1973 e 1979 tornam o Sistema Internacional da détente vulnerável e abalam os componentes da produção, do comércio e das finanças internacionais;

a crise de conversibilidade do dólar, pondo fim ao sistema monetário de Bretton Woods: diminuição da importância da economia dos EUA e elevação das taxas de juros internacionais, anunciando o desastre para as economias que haviam orientado a sua inserção nas relações econômicas internacionais pela via do endividamento externo, como o Brasil, o México e a Argentina;

• os países árabes, detentores do petróleo, tornam-se Atores de relevo no sistema internacional, passando a reivindicar posições-chaves no planejamento das atividades econômicas em escala global;

aceleração do processo de globalização dos mercados: as empresas, em reação à estagnação da produção de bens, à inflação dos preços e ao custo energético, desenvolvem novos processos de produção de bens e de organização do mundo do trabalho e do consumo, o que acabará por provocar uma revisão dos próprios papéis dos Estados nacionais na política internacional; o surgimento de uma nova economia sustentada na concentração de inteligência e na robótica, criando um novo paradigma tecnológico-industrial (momento também conhecido como “Terceira Revolução Industrial”).

a sua tradicional separação da economia mundial. Assim, segundo Paulo Roberto de Almeida, o ocaso final do modo de produção socialista teve início quando os EUA adotaram o programa armamentista conhecido como Guerra nas Estrelas, forçando a URSS a tentar reproduzir o “keynesianismo militar” do governo Reagan, que se revelava oneroso demais.

No final da década de 1980, o mundo veria o bloco socialista desmoronar, em um processo intensificado a partir das reformas do novo líder soviético, Mikhail Gorbatchev, que chegou ao poder em 1985. Em alguns meses, o sistema socialista desapareceria da Europa Oriental, escapando das mãos soviéticas sem que Moscou tivesse como impedir o processo. O assunto será tratado na Unidade seguinte.

O Mapa 31 mostra o colapso do bloco socialista, com as novas fronteiras europeias ao final do século XX. Mapa 31: O Colapso do Bloco Socialista (1987-1990)

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ap45/actuel20.html

Do ponto de vista econômico, a década de 1980 testemunhou amplo processo de conversão das economias planejadas em economias de mercado: reformas econômicas introduzidas na República Popular da China pela equipe de Deng Xiao-Ping; liberalização do regime soviético a partir de 1985, com a adoção da Perestroika por Gorbatchev, que alcançou o Vietnã a partir de 1986, espalhou-se pela Europa Oriental a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989, e culminou na conversão para a economia de mercado de praticamente todas as ex-repúblicas socialistas que apareceram após a desintegração da URSS, concluída em 1991. Do período que vai de 1917 a 1991, algo ficou claro para o mundo: o capitalismo mostrava-se muito mais adaptável ao Sistema Internacional do que o socialismo.

Link

Há muitos sítios interessantes sobre a Guerra Fria. Veja, por exemplo o da TV Cultura que reserva um espaço interessante com textos sobre a Guerra Fria. Confira também o da Educaterra, que traz no História por Voltaire Schilling, o texto: Os Estados Unidos e o início da Guerra Fria (1945-49).

Vídeo

O cinema procurou explorar a temática da Guerra Fria em vários filmes interessantes. Destacamos um filme-catástrofe de 1983, O Dia Seguinte, de Nicholas Meyer. Trata da vida de estadunidenses após o desencadeamento da guerra nuclear contra a URSS e a destruição causada pelas Superpotências. As cenas são fortes, sobretudo as que mostram os efeitos da radiação sobre as pessoas, e marcou uma posição de parte da opinião pública dos EUA contrária à corrida nuclear.

Recentemente foi produzido mais um filme retratando esse período conturbado da relação entre as Superpotências nos anos 60, K-19: The Widowmaker, dirigido por Kathryn Bigelow, com elenco principal formado Harrison Ford e Liam Neeson. A história é um thriller de conspiração de guerra baseada em fatos reais, envolvendo um acidente com o submarino nuclear russo “K-19”, em 1961, que poderia ter causado um conflito internacional de grandes proporções, culminando até numa guerra atômica. Esse acontecimento real foi ocultado por vinte e oito anos pelos russos. Os marinheiros envolvidos na operação foram afastados de suas funções e proibidos de revelar a história, até que finalmente os fatos vieram à tona após o fim da União Soviética.

Unidade 3 - O Fim da Guerra Fria e a Nova Ordem da Década de 1990

Objetivos da Unidade:

Livro indicado

Uma sugestão de leitura é Construtores da Estratégia Moderna, de Peter Paret, editado pela Biblioteca do Exército. Outras obras interessantes podem ser encontradas no sítio dessa editora.

Avaliação Objetiva

Atividades de autoavaliação - Acesso pelo menu lateral: Avaliações - Objetivas.

Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a:

• discorrer sobre o surgimento de um mundo multipolar após o fim da Guerra Fria; • apresentar as principais características da nova ordem internacional pós-Guerra Fria.

Estamos na reta final do nosso estudo introdutório! Seja perseverante, estude com afinco!

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Antecedentes: as transformações da década de 1980

A década de 1980 foi, para muitos, uma década de ruptura. Começaram a aparecer, na doutrina internacional, expressões como: “queda dos impérios”, “fim do Estado-nação”, “fim do Estado-territorial” e ascensão do “Estado-comercial”, “fim do Terceiro Mundo”, “fim das ideologias”. A década marcou o fim do dualismo econômico entre socialismo e capitalismo e o aprofundamento da diferenciação entre países pobres e países ricos, com as crises da dívida externa nos países em desenvolvimento.

Do ponto de vista das relações internacionais, o período foi de superação do conflito Leste-Oeste e de fragmentação do Terceiro Mundo. Surgia um sistema pós-hegemônico, no qual vários grandes Atores mundiais passavam a reger coletivamente os negócios internacionais (multipolaridade estratégica). Um desses novos Atores, que funcionava em uma espécie de consórcio informal, foi o Grupo dos Sete (G7), composto por EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha e Canadá, as nações mais ricas do planeta. A partir de 1992, a Rússia, apesar de não ser a oitava economia do globo, incorporou-se ao Grupo, que passou a ser conhecido como G8.

A tentativa de Gorbatchev de reforma do regime soviético, com a Perestroika e a Glasnost, e o rápido abandono do comunismo nos países da Europa Central e Oriental, seguido pelo desaparecimento da

A Perestroika, ou “reestruturação econômica”, é iniciada em 1986, logo após

a instalação do governo Gorbatchev. Constituía-se em um projeto ambicioso de reintrodução dos mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade privada

A Glasnost, ou “transparência política”, desencadeada paralelamente ao anúncio

da Perestroika, tinha por objetivos alterar a mentalidade social, liquidar a

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