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O grau de institucionalização

No documento relações internacionais (páginas 44-48)

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O grau de homogeneidade e heterogeneidade

A Sociedade Internacional encontra-se condicionada também pela presença ou ausência de homogeneidade entre seus membros. Uma vez que existem Atores com diferentes naturezas, composições, poder e objetivos, só é possível estudar o grau de homogeneidade/heterogeneidade se forem comparados Atores pertencentes a uma mesma categoria. Não se pode, portanto, comparar Estados soberanos com organizações internacionais para se medir o grau de homogeneidade de determinado subsistema.

Existe homogeneidade internacional quando são observadas identidades ou similitudes internas fundamentais entre os Atores que pertençam a uma mesma categoria e participem de um mesmo subsistema internacional, principalmente entre os Atores estatais. Já a heterogeneidade é constatada com a existência de divergências internas básicas entre os referidos Atores.

Uma análise das relações internacionais sob o enfoque do grau de homogeneidade/heterogeneidade da Sociedade Internacional deve considerar: 1) a comparação entre Atores da mesma categoria; e 2) a não existência de categoria com grau de homogeneidade absoluto. Sempre haverá diferenças entre os Atores, uma vez que a diversidade é uma característica inata das sociedades que compõem a Sociedade Internacional.

Um terceiro aspecto que deve ser considerado é que um elevado índice de homogeneidade em um subsistema internacional não se transfere automaticamente aos outros subsistemas. Assim, há casos em que são vislumbradas relações políticas homogêneas em contraposição à heterogeneidade econômica e sociocultural em um mesmo grupo de Atores.

Finalmente, vale observar que, para alguns autores, os sistemas homogêneos tendem a ser mais estáveis (ARON, 1986). Afinal, a homogeneidade permite maior grau de previsibilidade na conduta internacional dos Atores. Trata-se, entretanto, de uma tendência que não pode ser considerada de maneira categórica, visto que ao próprio conceito de estabilidade são atribuídas diferentes interpretações.

Muitas vezes, os Atores fazem uso dessa dicotomia homogeneidade/heterogeneidade para conduzir seus interesses internacionais e influenciar a conduta de outros Atores. Exemplos são os grupos que se formam sob a égide de bandeiras como “nações civilizadas”, “países desenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “subdesenvolvidos”, “capitalistas, socialistas e não alinhados”. Enquanto o caráter homogeneidade/heterogeneidade, em alguns casos, realmente se faz presente, em outros nada mais se tem que uma forma de apresentação internacional pouco condizente com a realidade.

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O grau de institucionalização

O último elemento fundamental para o estudo das relações internacionais identificado por Calduch é o grau de institucionalização, que, por sua vez, resumiria todos os anteriores. Para o mestre espanhol, “o grau de institucionalização de uma Sociedade Internacional é formado pelo conjunto de órgãos, normas e valores que, independentemente de seu caráter expresso ou tácito, são aceitos e respeitados pela generalidade dos Atores internacionais de um mesmo subsistema, permitindo, dessa maneira, a configuração e a manutenção de determinada ordem internacional.” (CALDUCH, 1991, p. 74).

Esse conceito traduz o entendimento e o consenso social que deve imperar entre componentes de uma Sociedade Internacional ao estabelecerem ou modificarem suas relações mútuas. Calduch defende que não se pode analisar o grau de institucionalização apenas com base nas normas jurídicas: há normas que não estariam envolvidas pelo Direito Internacional, ainda que este sintetize a maior parte das instituições fundamentais da Sociedade Internacional.

Ao estudar as instituições internacionais e suas transformações, o analista depara-se com a estrutura da ordem internacional, os interesses dos Atores e as forças que influenciam as condutas dos membros da Sociedade Internacional ao longo do tempo. As instituições estão relacionadas aos valores, às normas e aos objetivos dos membros de uma sociedade e, mesmo, à essência de seus subsistemas.

As mudanças nas instituições refletem, portanto, as transformações da própria sociedade em que se encontram, suas formas de cooperação e seus antagonismos.

Finalmente, Calduch afirma que a diplomacia, o comércio e a guerra são formas de relações internacionais presentes em diversos tipos de instituições internacionais. Daí não ser cabível, para a análise do grau de institucionalização de uma sociedade, a exclusão de valores ou normas que emanem diretamente da existência de conflitos bélicos.

Portanto, compreendendo as instituições de uma sociedade, pode-se compreender seus membros, as forças que nela interferem e os reflexos das relações entre os Atores.

Um exemplo recente de dificuldades geradas em modelos institucionais críticos é a guerra em regiões menos desenvolvidas do globo. Enquanto o conflito entre as Potências busca seguir determinadas “leis” de conduta, um confronto em áreas menos desenvolvidas foge a qualquer padrão. Muitos oficiais ocidentais ficaram perplexos ao combater em 2001 no Afeganistão, porque as milícias afegãs “desconheciam os usos e costumes do direito de guerra das nações civilizadas”. Não havia nada parecido com as instituições da guerra clássica no cenário da Ásia Central, o que levou à violência exacerbada de ambos os lados no combate.

Cite-se entre as principais as Convenções de Genebra de 1949 e seus protocolos Adicionais, que regulamentam as condutas dos combatentes. Assim, as instituições refletirão os subsistemas e a maneira como estão ordenados. Pode-se, portanto, analisar as relações internacionais sob a ótica das instituições que se manifestam no Sistema Internacional. É essencial, portanto, ao internacionalista, conhecer as instituições que regem as estruturas da sociedade objeto de seu estudo.

Concluimos os aspectos teóricos de nosso curso introdutório. Nos módulos seguintes será apresentada uma breve análise da evolução histórica da Sociedade Internacional a partir da era moderna, com esses aspectos teóricos operando como pano de fundo.

Dois livros importantes para se compreender a ideia de sociedade internacional são A Evolução da Sociedade Internacional, de

Adam Watson (Brasília: Ed. UnB, 2004) e A Sociedade Anárquica, de Hedley Bull (Brasília: Ed. UnB, 2002). Bull e Watson são dois ícones da chamada Escola Inglesa de Relações Internacionais, a qual tem uma perspectiva das relações internacionais muito fundamentada nas ideias de sociedade internacional.

Vídeo

Assista à aula do Professor Joanisval Gonçalves, em duas partes, sobre Sociedade Internacional, que engloba conceitos tratados neste primeiro módulo. Vamos lá!

Parte 1-duração: 7min29

Você pode encontrar resenhas dos livros sugeridos na Internet: # A Sociedade Anárquica e

# A Evolução da Sociedade Internacional

Fechando, então, o estudo introdutório dos aspectos teóricos da primeira fase do nosso curso, realize as atividades propostas de autoavaliação. Lembre-se de que seu Professor-Tutor está apto a dirimir suas dúvidas. Comunique-se com ele sempre que sentir necessidade de esclarecimentos adicionais.

Atividades de autoavaliação - No menu lateral em "Avaliações - Objetivas", acesse as questões objetivas referentes a esta unidade.

Módulo II - Evolução Histórica das Relações Internacionais - da Era Moderna ao Entre-Guerras

Unidade 1

As Relações Internacionais na Era Moderna Unidade 2

A Nova Ordem Internacional do Século XIX Unidade 3

A Primeira Guerra Mundial e o Entre-Guerras

Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna

Nesta Unidade, apresentamos os fatos marcantes da evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). São eles:

• A Sociedade Europeia na Era Moderna: o Renascimento

Vídeo

Esta aula apresenta um panorama histórico das Relações Internacionais. Assista com atenção!

Duração: 9min13

as Grandes Navegações, o Advento do Estado Absolutista e a Reforma;

• A Guerra dos Trinta Anos; a Guerra,

a Paz de Westfália (1648) o legado de Westfália,

a Nova Ordem Internacional a partir de Westfália

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A sociedade europeia da era moderna

O período que vai do ano 1000 até 1800 corresponde à transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse período, a sociedade europeia feudal – rural, fragmentada no nível nacional, unida pela religião e marcada pelos vínculos de vassalagem – transformou-se em outra completamente distinta, a sociedade capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana, influenciada pelas transações comerciais e fundada nas relações de trabalho assalariado.

Quatro acontecimentos são especialmente importantes nesse processo: o Renascimento, as Grandes Navegações, o advento dos Estados nacionais absolutistas e a Reforma.

O Renascimento

Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à tentativa de artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição e modelos da Grécia e de Roma”. O movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 e se estendeu até meados do século XVII. Não surgiu na Itália por acidente. No século XIV, ela era a região mais dinâmica da Europa: inúmeros centros comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se desenvolviam com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, com isso, destacavam-se no contexto europeu como Potências comerciais e, algumas vezes, militares.

O período é um ponto de inflexão. Os contemporâneos tinham a percepção de que davam início a um novo tempo. Tanto é assim que, para se diferenciarem, criaram o termo “Idade Média” para se referirem aos seus predecessores.

O Renascimento é especialmente marcado pelas mudanças ocorridas nas artes – destacadamente na pintura, escultura e arquitetura – e nas ciências. Na Idade Média, as artes tinham o propósito fundamental de servir à religião cristã, vinculando-se, muitas vezes, às determinações da Igreja. Na Renascença, o importante era a valorização do ser humano: tinha-se o antropocentrismo renascentista se contrapondo ao teocentrismo da Igreja de Roma.

Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, todavia, que houvesse uma rejeição à religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas admitiam considerar o homem, obra máxima da Criação divina, o centro de suas atenções.

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Objetivos

Ao término desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar os principais aspectos da evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). Deverá, portanto, estar apto a discorrer sobre:

 As grandes navegações;

 As lutas entre católicos e prostetantes;  A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648);  A paz de Westfália(1648) e

 Europa no século XVIII e a ascensão da França como Potência hegemônica.

E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, foi afetada pelas investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico, por exemplo, foi o criador da teoria heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revolução, porque tirava da Terra a primazia sobre os demais corpos celestes.

O Mapa 1 ilustra o desenvolvimento do Humanismo na Europa e a expansão renascentista da Itália para todo o continente.

Mapa 1: O Humanismo e a Renascença na Europa (Séculos XV e XVII)

Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html

Interessante notar nos círculos vermelhos e verdes os principais pontos de florescimento do Renascimento na Itália e em toda a Europa,

respectivamente. O quadrado rosa marca o local do surgimento da imprensa, e os principais focos artísticos estão assinalados pelos pontos negros, de fato, importantes cidades europeias. Já as setas representam a difusão do renascimento italiano.

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No documento relações internacionais (páginas 44-48)