• Nenhum resultado encontrado

O Estado-nação

No documento relações internacionais (páginas 69-71)

Especialmente importante é o Congresso de Berlim, em 1885. As razões políticas do imperialismo de final do século XIX eram tão importantes quanto as razões econômicas. Para as nações recém-unificadas – Itália e Alemanha – a obtenção de territórios na África e na Ásia significava prestígio e autorreconhecimento. Para a França, profundamente traumatizada após a derrota de 1871 (na Guerra Franco-Prussiana), as conquistas coloniais eram um meio de readquirir respeito.

pág. 18

As novas Potências – Estados Unidos da América e Japão

A segunda metade do século XIX vê também o aparecimento de dois Atores importantes no jogo político internacional: Estados Unidos da América (EUA) e Japão.

Os EUA começaram a se projetar como Potência após a violenta Guerra Civil, travada para impedir a separação dos estados do sul do país. Pouco antes, os norte-americanos haviam consolidado o seu processo de expansão colonial às expensas do México. Além disso, em 1867, compraram da Rússia o Alasca e, após derrotarem a Espanha, em 1898, adquiriram Porto Rico, Filipinas e um virtual controle sobre Cuba. Da mesma forma, o Oceano Pacífico tornava-se uma área de projeção de poder dos EUA.

Internamente, os EUA iniciaram um vigoroso processo de industrialização graças a um mercado interno crescente, a uma estrutura tarifária protecionista para afastar a concorrência estrangeira, a uma estrutura estável de comércio e ao grande número de inovações tecnológicas. Em 1914, às vésperas da I Guerra Mundial, o país já era, de longe, a principal Potência industrial do planeta.

Sobre a situação dos EUA frente a outras potências na virada do século, vide Paul Kennedy, op.cit.

O Japão é outro exemplo de rápido crescimento econômico. Até 1854, mantivera-se fechado ao exterior. Nesse ano, uma esquadra norte- americana forçou o país a abrir-se e aceitar o comércio com o exterior. “Decidido a preservar a independência do país, um grupo de samurais (...) tomou o governo. A Restauração Meiji de 1867, como ficou conhecido esse episódio, devolveu o poder ao imperador” (PERRY, 1999, p. 473).

Inspirado por uma forte ideologia nacionalista, o governo Meiji iniciou um importante conjunto de reformas: os privilégios sociais foram eliminados, o serviço militar obrigatório foi implantado, uma Constituição foi elaborada, e passou a existir parlamento. Além disso, a economia foi rapidamente modernizada. Fábricas foram instaladas, tecnologia europeia foi comprada, ferrovias, portos, estradas e telégrafos instalados. Em menos de 20 anos, o novo poder japonês dava sinais de existência: em 1894, derrotava a China, e, em 1905, a Rússia.

Na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), pela primeira vez na era moderna uma Potência do Oriente derrotava um poderoso Estado europeu.

pág. 19

O Estado-nação

O Estado-nação é o resultado moderno da experiência de formação e construção do Estado desde Westfália e pressupõe a formação propriamente dita de uma burocracia (no sentido de separação dos meios administrativos dos patrimônios particulares dos agentes da administração). Testemunhou-se um processo de racionalização da atividade estatal. A relação entre poder político e território sofreu uma revolução, com uma completa transformação das relações do poder político central com as múltiplas tradições locais – o estabelecimento de uma única lei, uma única língua, uma única política fiscal e preceitos políticos uniformes para todo um território.

Havia razões políticas e econômicas por trás desse processo. De um lado, a necessidade de um contrato social voltado para a “coisa pública”, em que os “objetivos públicos” deixariam de ter nos corpos estamentais de privilégios os intermediários da ação político-administrativa estatal; e, de outro, a necessidade de facilitar a circulação dos bens num território, através da redução, simplificação e uniformização do sistema tributário (com a superação da fragmentação legislativa e do patrimonialismo fiscal), e de estimular o equilíbrio entre as regiões de um Estado e o aumento das trocas inter-regionais.

Uma das consequências desse processo foi a anulação sistemática das tradições locais de vários povos; ou seja, a partir das várias identidades dever-se-ia inventar uma identidade nacional que integrasse a população em novos referenciais de pertencimento, de associação. Assim, os vários Estados buscaram constituir internamente suas nações. A mesma demanda conjuntural ocorria nas grandes massas territoriais e étnicas do centro-leste europeu (Império Prussiano, Império Austro-Húngaro e Império Russo). Todos passaram a buscar pelo caráter de sua nação e a

igualmente se perguntar se de várias nações era possível formar um espírito comum. Enfim, construir um Estado-nação significou, do século XIX ao XX, não apenas desenvolver uma economia e uma organização econômico-político-militar viável, mas também agrupar vários grupos sociais localmente circunscritos com suas línguas, tradições, costumes e leis próprias num grande agrupamento social politicamente representado e juridicamente nivelado por um Estado laico regido por um conjunto geral de leis soberanas – a Constituição.

Estados constitucionais e não constitucionais aprenderam a avaliar a força política que era a capacidade de apelar para seus súditos na base da nacionalidade (o Czar da Rússia não apenas baseava seu governo nos princípios da autocracia e da ortodoxia como passou a apelar aos russos como russos na década de 1880). A escola primária passou a ser o meio de se ensinar às crianças a serem bons súditos e cidadãos. Os Estados criaram nações, ou seja, o patriotismo nacional, e cidadãos linguística e administrativamente homogeneizados (a Itália usou a escola e o serviço militar para fazer italianos, os EUA tornaram o conhecimento da língua inglesa condição para a cidadania americana, a Rússia tentou dar à língua russa o monopólio da educação, com o fim de “russificar” as nacionalidades menores). Esse processo auxiliava a definir as nacionalidades excluídas da nacionalidade oficial, que, caso contrário, poderiam vir a oferecer resistência e a se refugiar em algum partido socialista.

Esse era o pano de fundo para um século “de extremos”, o século XX, em que os principais Atores internacionais se confrontariam numa intensidade nunca antes vista na história da Sociedade Internacional.

pág. 20 Síntese

O período de 1815 a 1914, quando comparado aos séculos anteriores e ao século XX, foi de relativa paz para a Europa. Excetuando-se a Guerra da Crimeia (1854), não existiram grandes conflitos entre as principais potências. O sistema de equilíbrio de poder estabelecido no Congresso de Viena mostrou-se bastante bem-sucedido e só foi desarticulado a partir do momento em que Bismarck conseguiu unificar a Alemanha.

Após 1871 e especialmente após 1890, a Europa viveu tempos de incerteza. A guerra voltou a ser considerada alternativa cada vez mais provável. França e Alemanha não poderiam se reconciliar por causa da Alsácia-Lorena, território que a primeira perdera para a segunda na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871. França e Inglaterra estavam envolvidas em um grande processo de divisão colonial na África. A Inglaterra e a Rússia, por causa da Índia e da Ásia Central, encontravam-se em permanente estado de tensão. Na Ásia, uma nova Potência surgia: o Japão.

Além disso, a mais complexa das áreas de conflito não pode ser esquecida: os Bálcãs. Ali, os interesses contraditórios de Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia e Império Otomano fomentavam uma rivalidade crescente. Uma disputa de poder daria início à I Guerra Mundial (1914-1918), que, por sua vez, poria fim à “Era dos Impérios”.

Livro indicado

A Era dos Impérios, de Eric Hobsbawm (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988), é obra fundamental para a compreensão do período que antecede a I Guerra Mundial e no qual se consolida a hegemonia europeia no mundo. Avaliação Objetiva

Atividades de autoavaliação - Acesso pelo menu lateral "Avaliações - Objetivas".

Unidade 3 - A I Guerra Mundial e os Entre-Guerras

Aqui, na terceira unidade do Módulo II, além da Primeira Guerra Mundial, tema principal, serão abordados o período Entre-Guerras, o aparecimento de uma Nova Ordem Internacional e a Crise de 29.

Pág. 01

No documento relações internacionais (páginas 69-71)