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O Século das Revoluções

No documento relações internacionais (páginas 63-66)

A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário internacional. Apesar desse quadro de tranquilidade, o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas.

Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O período entre 1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de preços, ou seja, período de grande tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848, bem como as investidas contrarrevolucionárias, estão indicadas nos Mapas 13 a 15.

A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado. Propagou-se o sistema parlamentar (com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob monarquias constitucionais.

No Mapa 13, as estrelas em amarelo apontam as insurreições, as setas pretas a propagação da onda revolucionária, e as setas vermelhas os movimentos de repressão dessa onda.

Mapa 13: As revoluções de 1830

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html

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A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se formara com o movimento jacobino na época da Revolução Francesa. Em 1830, também já era possível notar o aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e independente, que começava a reunir os jacobinos mais extremados. Já em 1848, a agitação popular tornava-se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”).

No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária francesa e, as setas verdes, a difusão da onda austríaca. As estrelas vermelhas e verdes apontam os centros revolucionários.

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix5.html

Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em desempenhar o papel de libertadores internacionais. Esse desapontamento, junto com o crescente nacionalismo da década de 1830 e a nova consciência das diferenças nos aspectos revolucionários de cada país, despedaçou o internacionalismo unificado (centrado na França) a que os revolucionários tinham aspirado durante a Restauração (o pós-1815). Em 1848, as nações de fato se sublevaram separadamente.

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Os radicais, os republicanos e os novos movimentos proletários se retiraram da aliança com os liberais, dado que o liberalismo moderado se tornara hostil em razão do seu maior medo, a república social e democrática (em oposição à monarquia constitucional), a qual era, nesse momento, o slogan da esquerda.

No Mapa 15, os quadrados indicam os centros de contrarrevolução e as setas o movimento da contrarrevolução. Mapa 15: A Contrarrevolução de 1848

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix6.html

De uma forma geral, as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de trabalhadores pobres. Quando se viram diante da revolução “vermelha” (ameaça à propriedade), os moderados liberais e os conservadores se uniram. Os trabalhadores ficaram isolados diante da união de forças conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliança, os regimes conservadores restaurados estavam preparados para fazer concessões ao liberalismo econômico. A década de 1850 viria a ser, de fato, um período de liberalização sistemática: fim da legislação de guildas e liberdade para se praticar qualquer forma de comércio; fim do severo controle estatal sobre a mineração; realização de uma série de tratados de livre-comércio etc. Nesse momento, a burguesia deixava de ser uma força revolucionária.

“Segunda Revolução Industrial”, para distingui-la do avanço industrial no século XVIII). Com a retirada da nobreza e a diversificação das formas de se fazer dinheiro (início da chamada haute finance – conjugação dos capitais comercial e financeiro), as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de incorporar os cidadãos instruídos ao mercado de trabalho.

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De 1850 até pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa Duroselle (1976, p. 21), a prosperidade, “interrompida por alguns recessos, rompe o ímpeto revolucionário. Este só voltará a ressurgir na França em 1869 aproximadamente. Com um nível de vida momentaneamente acrescido, as massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a impressão de que o poder favorece a expansão.”

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A Revolução Industrial modificou toda a sociedade europeia. Se na sociedade pré-industrial do século XVIII a agricultura ainda era o centro das atividades humanas, no século XIX a vida se deslocava progressivamente para as cidades e para as indústrias. Simultaneamente, o poder, a influência e os valores da aristocracia perderam força. Em seu lugar, ganharam importância o dinheiro e a capacidade individual. A modernização da sociedade colaborou, também, para a progressiva universalização do voto e para a secularização da sociedade. Por fim, a tecnologia ampliou a diferença entre o Ocidente e as demais regiões do mundo.

O Mapa 16 ilustra a Europa do século XIX sob plena efervescência da revolução industrial. O mapa destaca as minas de carvão (em marrom), em torno das quais se desenvolveram centros siderúrgicos (em vermelho) e industriais (em roxo). Também na base da revolução industrial estava a indústria têxtil, cujos centros são destacados em azul. O mapa registra, ainda, as principais cidades industriais e os centros financeiros (quadrados verdes).

Mapa 16: A Europa Industrial no Século XIX

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix3.html

Em termos gerais, em 1850, a ameaça revolucionária estava encerrada. Os partidários da ordem estabelecida saíram vitoriosos. Em parte, o fracasso revolucionário de 1848 se deveu ao “perigo vermelho”. Na França, Napoleão III ascendeu ao poder, criando o II Império.

A outra grande revolução europeia foi de natureza econômica, como já referido, com a Revolução Industrial. Após 1850, a economia europeia se expandiu com rapidez. Novas máquinas e novas tecnologias apareceram por toda parte.

Napoleão III (1808-1873) foi o criador do Segundo Império francês na metade do século XIX. Governou entre 1852 e 1870, até sua derrota na Guerra Franco-Prussiana. Carlos Luís

Napoleão Bonaparte era sobrinho de Napoleão I. Eleito presidente da nova República Francesa, deu um golpe de estado em 1851, que lhe permitiu assumir poderes ditatoriais

e transformar a Segunda República no Segundo Império. Entre as ações de política externa de Napoleão III estão a intervenção na Guerra da Crimeia, o apoio ao Piemonte nas

guerras que enfrentou como consequência da unificação italiana e a promoção e instalação de um efêmero Império no

México, na pessoa de seu sobrinho, Maximiliano da Áustria. Em 1870, por ocasião da Guerra Franco-Prussiana, a derrota

do Exército francês na batalha de Sedan provocou o aprisionamento do Imperador, cujo regime foi derrotado.

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Divisão da Europa – Nacionalidade X Legitimidade

A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar o continente de uma possível ameaça francesa. Assim, no redesenho do mapa continental, o princípio da nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem por isso, no entanto, inexistia a afirmação da nacionalidade.

O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade do século XIX. O nacionalismo se propagou a partir da classe média e teve nas escolas e nas universidades seus grandes defensores. Vários movimentos nacionalistas jovens começaram a se espalhar a partir das revoluções de 1830: a Jovem Itália, a Jovem Polônia, a Jovem Suíça, a Jovem Alemanha, a Jovem França e a Jovem Irlanda.

No restante da Europa, no entanto, apenas a Bélgica se tornou independente da Holanda, em 1830. Para isso, assumiu o caráter de nação neutra, com aval das Grandes Potências. A neutralidade belga, garantida pela Grã-Bretanha, seria violada em 1914 pelo avanço alemão contra a França e contribuiria para que Londres declarasse guerra a Berlim.

Outras tentativas de independência no continente europeu fracassaram. A Polônia não conseguiu a autonomia diante da Rússia (1830), e a Hungria alcançou uma semi-independência em relação à Áustria (1867). Dos movimentos nacionais de afirmação, os mais importantes foram os da Itália e da Alemanha, países que se unificaram a partir da segunda metade do século. De fato, a unificação da Itália e, sobretudo, a da Alemanha, seriam acontecimentos importantes para alterar o equilíbrio de poder na Europa estabelecido pelo Concerto Europeu, e afetariam diretamente as relações internacionais do período, culminando nos processos que levaram à I Guerra Mundial.

Os processos de unificação da Itália e da Alemanha podem ser percebidos no Mapa 17 (a seguir).

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A Unificação da Itália

Procure se informar mais sobre a Revolução Industrial, processo que alterou definitivamente os rumos da História e a partir do qual as relações internacionais seriam redefinidas, com o poder se concentrando cada vez mais nas nações ditas "industrializadas".

Livro indicado

Um livro interessante sobre o século XIX e a Revolução Industrial é Germinal, de Émile Zola. Amplamente considerada a obra máxima de Émile Zola, Germinal (1885) elevou a estética e a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. O romance é minucioso ao descrever as condições de vida subumanas de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França. Após ter contato com ideias socialistas que circulavam pela classe operária europeia, os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opressão e organizam uma greve geral, exigindo condições de vida e trabalho mais favoráveis. A manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto permanece viva a esperança de luta e conquista.

Parte da onda nacionalista vinha dos escombros do Império Otomano, o qual, nas palavras do Czar, era o ancião enfermo da Europa.

Progressivamente, o Império Otomano foi perdendo terras para austríacos, russos e para nações que iam surgindo de suas fraquezas. A primeira delas foi a Grécia, cuja independência foi tema de preocupação durante toda a década de 1820. Finalmente independente em 1830, serviu como exemplo para muitos outros: a Sérvia, alguns anos depois, conquistava autonomia, e, em 1856, Romênia e Bulgária se tornaram independentes.

O Império Otomano existiu aproximadamente de 1300 a 1922 e, no período de maior extensão territorial, abrangeu três continentes: da Hungria,

ao norte, até Aden, ao sul, e da Argélia, a oeste, até a fronteira iraniana, a leste, embora centrado na região da atual Turquia. Por meio do Estado vassalo do janato da Crimeia, o poder otomano também se expandiu na Ucrânia e no sul da Rússia.

Seu nome deriva de seu fundador, o guerreiro muçulmano turco Osman (ou Utman I Gazi), que fundou a dinastia que governou o império durante

sua história.

A unificação da Itália foi resultado de uma habilidosa política externa e do aproveitamento das oportunidades quando elas surgiram. O artífice desse processo foi Cavour, primeiro-ministro do Estado do Piemonte (norte da península itálica). Ele conseguiu, graças às alianças com Napoleão III, um aliado contra os austríacos que ocupavam o norte da

Camillo Benso, conde de Cavour (1810-1861), político italiano, foi Presidente do Conselho em 1852. Aliou-se a Napoleão III contra a Áustria,

porém este firmou a paz em 1859 sem consultá-lo. Cavour demitiu-se quando Victor

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