• Nenhum resultado encontrado

O imediato pós-guerra: 1945-

No documento relações internacionais (páginas 91-93)

O imediato pós-guerra: 1945-1947

A destruição atômica de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, simboliza o ocaso da velha ordem internacional do século XIX, o surgimento de um vácuo de poder na Europa, o fim dos sonhos de uma terceira Grande Potência (Alemanha) para substituir o antigo equilíbrio anglo-francês, o fim da condução europeia das relações internacionais e o surgimento de duas Superpotências com raios políticos de alcance planetário, EUA e URSS (SARAIVA, 1997).

Antes da definição da polaridade EUA-URSS, que só fica clara a partir de 1947, houve uma tentativa de concerto anglo-americano, em março de 1943, momento em que já se procurava por uma nova era das relações internacionais e em que foram discutidos, em Washington, o futuro da Alemanha e as reivindicações territoriais dos soviéticos. Na ocasião, Roosevelt propôs um diretório de quatro: EUA, Grã-Bretanha, URSS e China, ideia que lembrava o Concerto Europeu do século XIX e as ideias do Congresso de Viena de 1815. Surgiu também a ideia de um projeto federativo para a Europa, proposto pela Polônia, que Moscou prontamente recusou, temendo a reconstrução do “cordão sanitário” do período pós-1918 e já vislumbrando as possibilidades de projeção da URSS na região. De Gaulle reclamou da ausência da França no diretório.

As conferências internacionais de Moscou, Cairo e Teerã, no segundo semestre de 1943, mostraram a fragilidade da aliança entre as Potências ocidentais e a URSS: os EUA reapresentaram as teses idealistas wilsonianas de estabelecimento de um organismo internacional de segurança coletiva para resolver problemas territoriais; a Grã-Bretanha preocupava-se com a expansão soviética; e a França, com governo exilado em Londres, já não tinha voz.

A Declaração de Moscou não incluiu nada a respeito de renúncias a zonas de influência e se resumiu a três pontos: a capitulação total da Alemanha, a ocupação de seu território pelos três aliados e o desarmamento completo. A Declaração do Cairo adicionou o Japão, exigindo a devolução de todas as conquistas japonesas do projeto da Grande Ásia, especialmente dos territórios tirados da China, como a Manchúria e Taiwan.

Por fim, em Teerã, a Grã-Bretanha propôs a criação de três organizações regionalizadas (na América, na Europa e na Ásia), mas os EUA recusaram, pois insistiam numa instituição de raio mundial, que, por meio de um diretório composto entre os Quatro Grandes, atuaria como a “polícia do mundo”. Os EUA também recusaram a tese do federalismo europeu. Como se observa, EUA e URSS já ensaiavam, nessas discussões políticas, tornarem-se Superpotência.

pág. 13

A Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945, apenas consagrou todo esse quadro: o multilateralismo das negociações cedeu diante do unilateralismo do poder soviético na Europa Oriental. O Exército Vermelho já ocupava a maior parte da região, e sua chegada a Berlim era questão de dias. O tempo das relações internacionais já era outro: a política das áreas de influência na Europa se tornaria o modelo da política mundial nas décadas seguintes. Esse foi o primeiro grande legado da II Guerra Mundial. O segundo foi a materialização bipolarizada desse modelo, que será melhor explorada na Unidade seguinte.

Os aliados, nas reuniões de São Francisco, entre abril e junho de 1945, e em Potsdam, entre julho e outubro de 1945, tinham como projeto a criação de instrumentos para o gerenciamento da paz no pós-guerra. A lógica das alianças e da diplomacia secreta cederia lugar ao esforço de reconstrução das relações internacionais com base no compromisso e no diálogo.

As reuniões de São Francisco criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), materializando o sonho wilsoniano, e deixaram evidente a perda de importância da Europa no sistema internacional que então se delineava, apesar de ter sido garantida a participação da Grã-Bretanha e da França no Conselho de Segurança da Organização.

Interessante observar que, apesar de sua concepção idealista, o que se evidenciava na Assembleia Geral, onde cada membro tinha um voto, dentro do princípio da igualdade soberana entre os Estados, a ONU moldou-se em uma estrutura de poder realista, uma vez que tinha um Conselho de Segurança, o órgão legítimo para deliberar sobre o uso da força, no qual o poder concentrava-se na mão dos cinco grandes vitoriosos da II Guerra Mundial: EUA, Grã-Bretanha, URSS, França e China. Esses países tinham assento permanente no Conselho e poder de veto, mostrando a clara diferença entre eles e os demais Estados-membros da Organização e a desigual configuração de poder no Sistema Internacional.

Vídeo

Há, ainda, alguns clássicos imperdíveis, como O mais longo dos dias, de Benhard Wicki, que trata do Dia “D”, o desembarque aliado de 6 de junho de 1944; e Uma Ponte Longe Demais, do diretor Richard Attenborough, sobre a Operação Market Garden, um plano ousado para obter um rápido final para a II Guerra por meio da invasão da Alemanha e destruição das indústrias de guerra do III Reich – esse ambicioso plano mostrou-se um dos grandes erros da guerra e causou mais baixas aos Aliados do que toda a invasão da Normandia.

Portanto, a Carta de São Francisco, assinada em 26 de junho de 1945, criou a ONU e tornou-se um dos grandes instrumentos de regulação da nova era das relações internacionais: firmava-se o primado do Realismo sobre o Idealismo que marcara a Sociedade das Nações. O sistema do veto do Conselho de Segurança, que substituía o sistema da unanimidade anterior, construía um diretório dos cinco grandes vencedores de 1945 (EUA, URSS, China, Grã- Bretanha e França), para garantir o congelamento do poder e um compromisso de controle da segurança mundial.

pág. 14

Em fevereiro de 1947, o Tratado de Paz de Paris encerrou simbolicamente os turbulentos anos nas relações internacionais iniciados em 1939. Desaparecia definitivamente o mundo eurocêntrico, e as relações internacionais teriam a paz garantida por um equilíbrio de poder baseado no duopólio EUA-URSS. O mundo seria divido entre as esferas de influência de Moscou e Washington e começaria um novo período no sistema internacional, que ficaria conhecido como “Guerra Fria”.

Na próxima Unidade, concentraremos nossa atenção no estudo do Sistema Internacional pós-II Guerra Mundial. Vamos lá!

Unidade 2 - O Sistema Internacional Pós-1945

Link

Sobre o Brasil na II Guerra Mundial, não deixe de ver.

A Revista Veja criou um sítio interessante sobre a II Guerra Mundial. Vale a pena conferir. A gama de livros sobre a II Guerra é significativa. Nesse sentido, sugerimos o sítio da Biblioteca do

Exército, com o catálogo de publicações da Editora, particularmente da Coleção General Benício.

Avaliação objetiva

Atividades de autoavaliação - Para efeito de sua própria autoavaliação, realize as atividades localizadas no menu lateral: "Avaliações - Objetivas".

Objetivos

Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a:

 assinalar as características principais do Sistema Internacional pós-Segunda Guerra Mundial  discorrer sobre os fatores da gestação da Guerra Fria;

 identificar os principais fatos e fases desse período.

Atenção

pág. 01

A GUERRA FRIA

Muitos autores defendem que, após o fim da II Guerra Mundial, não havia mais a ideia de uma Sociedade Internacional europeia, criada a partir de 1815. A instabilidade internacional no período de 1919 a 1939, que culminou na II Guerra, corroeu um estado de equilíbrio de quase 100 anos. A Europa entrou em uma profunda crise de valores e testemunhou o retorno dos egoísmos nacionais, como ocorrera no período pós-Westfália.

Um novo sistema jurídico-político-econômico internacional foi erigido ao final da II Guerra Mundial. Nascia a ONU, que procurava corrigir os erros de Versalhes e com a qual renascia o ideal da segurança coletiva. Nascia também o sistema de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BIRD) para reconstruir o mundo destruído pela guerra e fazer com que a ordem liberal-capitalista anterior retomasse seus passos.

O chamado “Sistema de Bretton Woods” foi um modelo de Ordem Econômica Internacional que vigorou entre 1944 e 1973. Baseava-se em um esquema de paridades cambiais fixas (mas ajustáveis), fundamentadas no ouro-dólar – o dólar tornara-se a moeda forte da economia mundial em virtude da posição dos EUA como hegemon no sistema. O sistema também incluía as políticas econômicas aplicadas pelo FMI e pelo BIRD (e que, na década de 1980, ficariam conhecidas como “consenso de Washington”), instituições que contribuiriam para auxiliar e orientar as políticas econômicas domésticas.

pág. 02

No âmbito político, o mundo pós-1945 foi marcado pela hegemonia dos EUA e da URSS e um novo modelo de política internacional: o sistema de zonas de influência de raio planetário, característico do novo tipo de Ator – a Superpotência. O mundo seria, portanto, dividido em zonas de influência soviética e estadunidense. O continente americano e o Ocidente Europeu constituíram-se em zona de influência dos EUA, e o Leste Europeu, da URSS. No Mapa 28, é possível identificar com clareza essa zona sob a hegemonia soviética.

Mapa 28: A Europa em 1946

efetivamente, demonstrar os conhecimentos que eles propõem!

Recorra ao material de estudo e busque solucionar suas dúvidas! Seu Professor-Tutor poderá auxiliá-lo nessa tarefa!

No documento relações internacionais (páginas 91-93)