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CAPÍTULO II – A experiência com controles de capitais durante a abertura financeira no

2.4. A aplicação dos controles de capitais entre 1993 e 1999

2.4.4. O controle dos investimentos estrangeiros em portfólio

Em relação aos investimentos em portfólio, para além do objetivo primordial de evitar fluxos eminentemente especulativos, os controles de capitais foram também empregados com o propósito de conferir maior liquidez aos títulos públicos. Em 1993, foram tomadas medidas no sentido de constituir os “Fundos de Renda Fixa de Capital Estrangeiro”, visando torná-los o principal canal de ingresso dos investimentos estrangeiros, em detrimento de algumas modalidades previstas nos Anexos I a IV da Resolução n° 1.289.

Conforme a Circular n° 2.382, de novembro de 1993, que regulamentou os “Fundos de Renda Fixa de Capital Estrangeiro”, era exigido que esses fundos possuíssem o mínimo de 35% de títulos do Tesouro Nacional ou do Banco Central e, no máximo, 20% em títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras, debêntures ou quotas de “Fundos de Aplicação Financeira”.

Em conformidade com o objetivo de elevar o volume de recursos estrangeiros aos “Fundos de Renda Fixa de Capital Estrangeiro”, portanto, em agosto de 1993 foram proibidos investimentos estrangeiros oriundos dos anexos I a IV em títulos do BCB ou do Tesouro Nacional, por meio da Resolução n° 2.013. Por outro lado, ao concentrar os investimentos estrangeiros em um canal único de ingresso, era elevada a potência do IOF como instrumento de moderação dos fluxos de capitais. Assim, em novembro de 1993, por meio do Decreto n° 995 do Ministério da Fazenda, as captações destinadas aos “Fundos de Renda Fixa – Capital Estrangeiro” passaram a ser sujeitas a uma alíquota de IOF de 5%.

A partir de então, sob a vigência do IOF, os demais controles de capitais passaram a ser introduzidos com o objetivo de evitar que outras modalidades de investimento pudessem ser utilizadas para a evasão das restrições.

Naquele momento, o primeiro dos mecanismos identificados para a evasão dos controles eram as debêntures, fato apontado por Garcia e Barcinski (1998). Por isso, foi lançada a Circular n° 2.383 em novembro de 1993, vedando novos investimentos nesta modalidade e preservando somente os investimentos já realizados. Na mesma direção, a

Resolução n° 2.046 de 19 de janeiro de 1994 proibia os investimentos estrangeiros dos Anexos I a IV em debêntures de companhias de capital privado nacionais.

Em dezembro de 1993, a Resolução n° 2.034 e a Circular n° 2.389 vedavam também o direcionamento dos investimentos estrangeiros para a renda fixa e aos mercados de derivativos nas modalidades previstas nos Anexos I a IV da Resolução n° 1.289, procurando direcioná-los à aquisição de quotas nos recém-criados “Fundos de Renda Fixa de Capital Estrangeiro”.

Em junho de 1994, por meio da Resolução n° 2.079, são proibidos os investimentos estrangeiros dos Anexos I a IV em Certificados de Privatização e dívidas securitizadas no âmbito do PND, o que evitava que Notas do Tesouro Nacional (NTN) fossem adquiridas sob uma interpretação difusa da legislação. Em outubro de 1994 essa proibição se estendia também aos Fundos de Aplicação Financeira (FAF), por meio da Resolução n° 2.115. Ainda em outubro de 1994, o BCB proíbe o ingresso de novos recursos estrangeiros para operações de aumento futuro de capital e “investimento ponte”.

Também em outubro de 1994, a Portaria nº 534 do Ministério da Fazenda elevava o IOF de 5% para 9% para investimentos estrangeiros em Renda Fixa, junto à já mencionada taxa de 5% sobre as captações no exterior. Em março de 1995, no contexto da crise mexicana, o IOF para os investimentos em renda fixa é reduzido de 9% para 5% e, para as demais modalidades, reduzido a 0%, conforme estabelecia a Portaria nº 95 do Ministério da Fazenda. Em agosto de 1995, pela Resolução nº 2.188 do CMN, em um contexto de maior liquidez internacional, as restrições aos “anexos I a IV” são novamente ampliadas. Naquele momento, foram vedados os investimentos estrangeiros dos Anexos I a IV em bolsas de valores e mercadorias e futuros, pela Resolução do BCB nº 2.188. Em fevereiro de 1996, pela Resolução nº 2.246, é também proibida a manutenção de posições de recursos dos “Anexos I a IV” um amplo conjunto de ativos15.

15 O Art. 3º da Resolução nº 2.188 do CMN estabelece que “as posições detidas nesta data pelas

sociedades, fundos e carteiras referidos no art. 1º em Títulos da Dívida Agrária (TDA), Obrigações do Fundo Nacional de Desenvolvimento (OFND), debêntures de emissão da Siderúrgica Brasileira S.A. (SIDERBRÁS), Certificados de Privatização, outros títulos representativos de securitização de dívidas do governo federal, créditos cuja utilização for admitida para pagamento no âmbito do Programa Nacional de Desestatização (PND) e direitos e opções para aquisição de mencionados títulos, bem assim em operações realizadas nos mercados de liquidação futura administrados por bolsas de valores ou de mercadorias e de futuros, poderão permanecer nas respectivas carteiras até o seu vencimento ou utilização, conforme o caso, vedada a respectiva renovação ou transferência para outras sociedades, fundos e carteiras da espécie.”

Pela portaria do Ministério da Fazenda nº 28, de fevereiro de 1996, a incidência do IOF de 5% é ampliada aos “Fundos de Privatização”. Em março de 1996, a Circular n° 2.670 do BCB estabelecia também que os recursos ociosos captados por meio da Resolução n° 63 deveriam ser aplicados em modalidades específicas de depósitos no BCB16.

A partir de então, se encerrava o ciclo às restrições aos investimentos de portfólio. Com a crise na Ásia, é lançada a Portaria n.º 85 do Ministério da Fazenda, de abril de 1997, que reduzia o IOF para operações de câmbio para 2%, atingindo, portanto, todas as modalidades autorizadas pelos “Anexos I a IV”. Em dezembro de 1998, há uma nova regulação restritiva, elevando marginalmente o IOF a investimentos estrangeiros em renda fixa de 2% para 2,38, por meio da Portaria nº 348 do Ministério da Fazenda.

Sob os efeitos da crise na Rússia, do abandono do regime de bandas cambiais e da intensa desvalorização do real em 1999, a Portaria nº 56 do Ministério da Fazenda reduzia o IOF para as operações de câmbio a 0,5% no mês de março daquele ano. Em junho de 1999, pela Portaria nº 306, o IOF para operações de câmbio é reduzido a 0%, encerrando a experiência com este importante controle de capital.