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Capítulo 3 Sobre Áreas Protegidas

3.3 Áreas protegidas no mundo

3.3.2 O estado da questão

Tal como referido no ponto anterior, a Assembleia Geral da ONU, na sua 16ª sessão, em 1962, adotou uma resolução para a criação da primeira lista de parques nacionais e reservas equivalentes, a United Nations List of National Parks and Equivalent Reserves. A partir desta data, a IUCN deu início à publicação periódica de uma lista das áreas protegidas do mundo.

Nos primeiros anos, a lista foi elaborada pela IUCN-WCPA. Desde 1982, é elaborada conjuntamente pela IUCN-WCPA e pelo UNEP-WCMC, e constitui um inventário global das áreas protegidas do mundo, bem como a lista oficial de áreas protegidas da ONU. Até ao momento, foram editadas 14 listas, tendo a última sido publicada em 2014, por ocasião do VI Congresso Mundial de Parques Nacionais e Áreas Protegidas, que se realizou em Sidney, na Austrália.

Os critérios de inclusão de áreas protegidas na lista foram-se modificando ao longo dos anos. No entanto, o critério de inclusão base que esteve na origem das últimas versões (a de

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2003 e a de 2014) foi a sua conformidade com a definição de área protegida da IUCN (a de 1994, entretanto atualizada em 2008).

A lista de 2014 abrangeu todas as áreas protegidas formalmente classificadas, ou seja, áreas protegidas que tenham sido criadas, reconhecidas e apoiadas por legislação nacional ou internacional, ou por autoridades nacionais ou internacionais, que se enquadrassem na definição de área protegida da IUCN (definição de 200868), independentemente da sua

dimensão69, e de lhe ter sido, ou não, atribuída uma categoria de gestão da IUCN. A informação dela constante foi facultada por autoridades nacionais, agências nacionais e internacionais, secretariados das convenções internacionais e organizações que fazem parte da World Database on Protected Areas (WDPA).

Assim, os critérios de inclusão de áreas protegidas na lista de 2014 são os seguintes (Deguignet et al., 2014):

 Todas as áreas protegidas, desde que em conformidade com a definição da IUCN;  Todas as áreas protegidas, independentemente de lhes ter sido atribuída, ou não, uma

categoria de gestão da IUCN;

 Todas as áreas protegidas, independentemente da sua dimensão;

 Todas as áreas protegidas, independentemente do seu tipo de governança;

 Todas as áreas protegidas formalmente classificadas por qualquer país ou território (por exemplo, áreas fora da jurisdição nacional ou áreas ultramarinas);

 Todas as áreas protegidas classificadas de acordo com as principais convenções internacionais – por exemplo, Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural (áreas protegidas incluídas na lista dos sítios naturais ou mistos), Convenção de Ramsar, Programa MaB70 – bem como todas as áreas protegidas classificadas através de outros acordos regionais – como a rede Natura 2000, ou a Declaração de Parques e Reservas do Património da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), etc.

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«A protected area is a clearly defined geographical space, recognized, dedicated and managed, through legal or other effective means, to achieve the long-term conservation of nature with associated ecosystem services and cultural values» (Dudley, 2008: 8).

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Nas edições de 1974 a 1997, apenas foram incluídas áreas protegidas com dimensão mínima de 10 km² (ou 1km² no caso de áreas protegidas situadas em ilhas, e que abrangessem a totalidade da ilha); no entanto, e como a definição de área protegida da IUCN não inclui uma restrição na dimensão das áreas protegidas, este critério foi eliminado (Chape et al., 2003).

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Apesar de enquadrarem a listas oficiais por país, as áreas protegidas criadas ao abrigo do Programa MaB não foram incluídas nos cálculos das estatísticas de cobertura globais, pelo facto de muitas das zonas “tampão” destas áreas protegidas não corresponderem à definição da IUCN.

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Tendo em conta estes critérios, em 2014, foram contabilizadas 209.429 áreas protegidas71, que cobriam 32.868,673 Km² (uma área superior ao Continente africano), representando 14% da superfície terrestre72 e 3,41% da superfície marinha do planeta.

Figura 8 – Áreas protegidas marinhas e terrestres classificadas (Agosto 2014)

Fonte: Deguignet et al., 2014

Tendo em conta a meta 11 dos Aichi Biodiversity Targets, e apesar de, a nível terrestre, estar prestes a ser atingida a meta de classificação de 17% da superfície mundial, no que diz respeito às zonas costeiras e marinhas, o seu valor continua muito aquém dos 10% acordados mundialmente.

Em termos gerais, e analisando os resultados disponibilizados a nível regional73, verifica-se que, na maioria das regiões, a percentagem de área terrestre protegida é superior à percentagem de área marinha e costeira protegida (a América Central e a América do Sul apresentam os valores mais elevados, 28,2% e 25%, respetivamente), com exceção da Oceânia74 onde se verifica o inverso (esta região tem 15,6% da sua superfície marinha protegida, ao passo que, nas restantes regiões, os valores estão muito abaixo dos 10%). A

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Para efeitos de comparação, em 1962 foram contabilizadas 9.214 áreas protegidas, em 1992, 48.388 e em 2003, 102.102.

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15,4%, excluindo a Antártida.

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Na lista de 2014, foram consideradas 11 regiões: Áreas fora da jurisdição nacional, América Central, América do Norte, América do Sul, África, Ásia, Caribe, Europa, Médio Oriente, Oceânia e Oceanos do Sul (incluindo a Antártida).

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Aliás, a Oceânia possui a maior área protegida do planeta, o Parc Naturel de la Mer de Corail situado na Nova Caledónia (parte integrante da França), com 1,292,967 Km².

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Europa constitui a região com maior proporção mundial de áreas protegidas (65,6%), seguida da América do Norte (14,6%). No entanto, a proporção de superfície terrestre europeia abrangida por áreas protegidas é bem mais reduzida quando comparada com a de outras regiões (12,9% contra os 24,2% da Oceânia e os 15,1% da América do Sul). Estas diferenças advêm em parte do facto de a Europa concentrar 3/4 das áreas protegidas com menos de 1 Km², as mais representadas no planeta (48,8%, contra as áreas com mais de 10.000 Km², que representam apenas 0,2%). Quanto à distribuição das áreas protegidas de acordo com as categorias da IUCN, a Europa, a América do Norte e a Oceânia, respetivamente, são as regiões que têm a maior proporção de áreas protegidas representadas nas diferentes categorias de gestão da IUCN. A América do Norte e, em menor escala, a Oceânia, têm a maior proporção de áreas protegidas da categoria II. Apesar de todas as regiões terem muitas áreas protegidas sem qualquer categoria de gestão da IUCN reportada, a Europa tem a maior proporção mundial (Deguignet et al., 2014).

Em síntese, do século XIX aos nossos dias, os princípios das ciências da conservação no que concerne a criação e a gestão de áreas protegidas desenvolveram-se significativamente. De uma perspetiva conceptual estrita de “parque nacional e reservas equivalentes” evoluiu-se para uma perspetiva conceptual mais vasta, em que o termo “áreas protegidas” foi adicionado ao léxico da conservação, e progressivamente especificado. Esta perspetiva conceptual inclui a formulação de categorias específicas de gestão das áreas protegidas; o mainstreaming das preocupações de conservação da natureza nas agendas de desenvolvimento; o reconhecimento da importância dos valores culturais e sociais para a conservação da natureza; e, por fim, o reconhecimento do papel das áreas protegidas como indicador-chave para avaliar o estado da biodiversidade global, e o cumprimento das metas para o desenvolvimento sustentável (Chape et al., 2003).